Minha experiência de professor
convenceu-me: só existe aprendizagem! Há trinta e cinco anos acreditando que a dupla ensino-aprendizagem exista e, finalmente, encontrei a verdade: o ensino
não existe; só existe a aprendizagem. Todo ser humano é autodidata, por
natureza. Ou deveria sê-lo. O professor nada ensina: ele não tem esse poder tão
propalado, tão acreditado, tão introjetado nos alunos e nos próprios
professores!...
Se não existe o ensino, o que
existe? A aprendizagem, eis a resposta. Há muitos argumentos para mostrar que o
ensino é algo “virtual”, enquanto a aprendizagem é algo “concreto”. O cérebro
humano foi desenhado para aprender o tempo inteiro. Deixado na natureza qualquer
ser humano, depois dos cuidados básicos, aprenderá por si só: descobrirá a vida
à sua volta, seus perigos, seus prazeres, seus encantos! O homem só deixa de
aprender quando, finalmente, parte desta vida.
Há muitos exemplos, também, que
nos ilustram o quanto aparente é o ensino e o quanto real é a aprendizagem. É
só perguntar aos alunos – especialmente os jovens e adultos –, quando estudam,
durante um curso que estejam fazendo, e a resposta honesta será: alguns dias ou
algumas horas antes das provas. Não
há alunos que aprendam como consequência do esforço de ensino do professor. Se
assim fosse, não haveria a necessidade da dedicação de estudo intensivo,
imediatamente antes das provas, por parte dos alunos, sem exceção. Por mais bem
preparadas e bem dadas que sejam as aulas, não há perguntas pertinentes, como
fruto de dúvidas verdadeiras durante uma aula: os alunos, simplesmente, assistem
às aulas. Essas verdadeira perguntas só aparecem antes das provas. Se o
professor der tempo, um pouco antes da aplicação da prova, para esclarecimentos
de dúvidas, muitas perguntas aparecerão, pois houve estudo, alguma aprendizagem,
e restaram dúvidas. Ao esclarecê-las o professor estará realizando uma dimensão
de seu papel: a de orientador, auxiliador da aprendizagem. Muitas são as
dimensões do papel do professor, menos a do “ensino”. A não ser que esclarecer
uma dúvida, surgida como esforço pessoal do aluno, seja definido como ensino.
Mas até mesmo um colega poderia ter esclarecido a dúvida do aluno. Ou um livro
melhor que não fora consultado, ou um aluno mais avançado...
Qual é a missão, então, do professor
se ele não tem o poder de ensinar, se o ensino é virtual e a aprendizagem, sim,
é concreta? A resposta é simples e passa pela constatação de que o professor,
historicamente, foi, sempre, um “orientador” da aprendizagem. Basicamente, esta
é a missão e a função do professor: ser um orientador da aprendizagem.
Complementarmente, ele é – ou deveria ser! – um incentivador dos alunos quanto
ao valor do estudo, um avaliador de seu progresso, um esclarecedor de suas
dúvidas, um planejador da sistemática do processo de aprendizagem, enfim, um “ajudador”
nesse processo que, em vez de ser chamado – como tem sido, pelo pessoal da área
pedagógica – de processo “ensino-aprendizagem”, deveria ser designado de processo
de “orientação para a aprendizagem”.
Tomar consciência de que o ensino
é aparente e que a aprendizagem é real é algo que fará com que os alunos
abandonem uma histórica posição de passividade diante de um curso, quando
acreditam que sua simples presença às aulas – aliás, como enfatiza a Lei –
garanta a aprendizagem. Essa mesma tomada de consciência fará com que os
professores passem a valorizar muito mais as atividades do aluno na busca da
aprendizagem, por meio de projetos, exercícios, e práticas, do que basear-se em
suas aulas e mais aulas exageradamente expositivas. Já passou da hora de nossa
Escola antiquada e ineficaz dar um salto de qualidade, mudar de rumo, mudar de
paradigma, e passar a orientar os
alunos em sua busca da aprendizagem, em sua busca do conhecimento e de suas
competências profissionais. Que, especialmente, os alunos, passem a ser os
verdadeiros protagonistas desse processo de construção do seu conhecimento, de
busca da aprendizagem real, deixando, finalmente, para trás o ensino aparente.
Uilso Aragono (fev. de 2013)
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