sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

UMA HOMILIA DE NATAL - 2022

 

(Reflexão baseada nos textos da liturgia do dia: Is 52 7-10; Sl 96(97); Hb 1, 1-6; Jo 1, 1-18.)

A celebração do nascimento de Jesus é um momento marcado por fortíssimos significados e consequências nas dimensões religiosa, humana, social e política. 

Uma visita importantíssima

O Natal do Senhor Jesus é o momento em que se dá a “plenitude dos tempos”, em que os anjos descem do Céu para cantar glórias e louvores ao Senhor, pelo Seu nascimento, que nos causa, a todos, muita alegria. Devemos, sim, também nós, cantar ao Senhor por tão grande benefício concedido a nós, pobres mortais, humanos e tão inclinados ao pecado!

Para tornar mais concreta essa visita – que hoje tem somente a dimensão espiritual – os cristãos, em geral, preparam-se espiritualmente e preparam um local em sua casa, ou na igreja, onde seja representado o “Presépio” de Jesus. Essa representação artística – iniciada, conforme as informações históricas, pelo nosso querido S. Francisco de Assis – tem o objetivo de tornar mais palpável, mais sensível, mais próxima a realidade do nascimento de Jesus, que, embora tenha acontecido há mais de 2000 anos, continua a lançar seus reflexos até hoje nos corações e mentes cristãos.

Já a ceia natalina, realizada na noite da véspera do dia de Natal (que antigamente ocorria depois da meia-noite), é o momento em que os cristãos se encontram em família, para celebrar e comemorar, como irmãos de fé e de caminhada, aquele momento mágico, sublime e histórico em que Jesus, nascendo de forma milagrosa, da Virgem Maria, concretiza a promessa de Deus: faz-se menino, humanizando-se, para que nos sentíssemos mais amados por Ele, porque agora nossa humanidade era santificada e como que “divinizada”.

Uma visita que traz dons preciosos

Essa visita do Deus que se faz menino traz consigo o dom do consolo. Sim, por meio da vinda do Deus-feito-homem, a humanidade recebe o “consolo” diante de tantas barbaridades e injustiças comuns no meio dos povos. Por meio do povo de Deus do antigo Testamento – o povo judeu – o Senhor se aproxima de cada um de nós (e não somente de cada um daqueles do tempo histórico do nascimento de Jesus) e nos consola: uma nova era de amor, de verdadeiro relacionamento com Deus e entre os homens, está se avizinhando! É o Sol nascente que nos veio visitar!    

O “Principe da Paz”, Jesus, nosso Senhor, profetizado por Simeão na sua apresentação no Templo de Jerusalém, traz consigo o dom da verdadeira paz. Aquela paz que Ele explicará quando adulto: “Eu vos deixo a paz; Eu vos dou a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo”. Os cristãos irão aprender e vivenciar esse tipo de paz, que, de fato, não é a paz conhecida do mundo, mas uma paz completa, verdadeira e divina.

O Natal nos traz um bem que supera todos os bens do mundo! É o bem maior da presença real de Deus no meio dos homens. É o bem maior da fé no mundo celestial, no mundo dos reconciliados com Deus. É o bem maior do amor verdadeiro, agora sendo testemunhado por um menino que cresce entre nós; e já como adolescente encanta os doutores da Lei com sua sabedoria divina que os deixa embasbacados. É o bem maior da esperança renovada em um mundo, aqui e agora, que pode ser marcado pela bondade, pela simplicidade, pela verdade e, sobretudo, pela esperança de um mundo ainda melhor e mais pleno: a vida eterna em Deus!

 E o Natal nos traz, ainda, e, principalmente, o resgate de toda a humanidade, que estava escrava do pecado e do Tentador, e, agora, pode acreditar na certeza de que, livre das ameaças do pecado e da morte eterna, pode caminhar reconciliada com Deus, com a natureza e com consigo própria. O Natal é a celebração do Deus que se humaniza para que a humanidade como que se divinize. 

Não visita só nossa casa, mas toda a vizinhança

A Encarnação do Deus Filho em Jesus de Nazaré, não é uma visita apenas ao povo judeu – o Povo da Aliança –, mas a toda a humanidade! Ele não nos visita apenas a nós, em nossa casa, durante o Natal, mas visita também toda a vizinhança! Embora Deus-menino tenha nascido para todos nós, nem todos o aceitaram naquele momento histórico e nem todos o aceitam ainda hoje. “O Verbo estava no mundo – e o mundo foi feito por meio dele – mas o mundo não quis conhecê-lo. Veio para o que era seu, e os seus não o acolheram. Mas a todos os que o receberam, deu-lhes a capacidade de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 10-12a). A chave da felicidade está nisto: aceitar que Jesus seja o verdadeiro Filho de Deus que veio ao mundo para nos resgatar do pecado e da morte eterna. 

Deus mostra seu rosto humano: de paizinho, de mãe, de amigo

No Menino Jesus, Deus já nos mostra seu rosto humano. Um rosto que se revelará, na vida adulta, um rosto divino-humano cheio de carinho, um rosto de “paizinho”, um rosto de “mãe”, sempre preocupada com seus filhos, um rosto de amigo: “Já não voz chamo servos, mas meus amigos”. Mas já na infância, na adolescência e na juventude Jesus terá mostrado para José e Maria e para todos os que tiveram a graça de conviver com Ele, um rosto delicadamente e suavemente iluminado, a ponto, pelo menos, de que aqueles que tivessem um coração aberto a Deus perceberiam a manifestação divina no meio de deles, como fizeram os magos que O visitaram logo depois de seu nascimento na gruta de Belém. 

Jesus se mostra como a Palavra de Deus e a Luz do mundo

O Apóstolo João Evangelista declara em seu Evangelho: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). O Verbo também é traduzido como Palavra: A Palavra de Deus de fez carne... Jesus nascendo em Belém, o Natal do Senhor, é um grande mistério e um grande milagre que nos trazem a certeza de Deus nos ama e nos quer bem. Na vida adulta Jesus nos ensinará tantas verdades desconhecidas sobre Deus. E uma delas é que Ele quis fazer-se gente como nós, para nos ensinar a viver fraternalmente e para iluminar nossos caminhos a cada dia: “Eu sou a Luz do mundo” dirá mais tarde. Quem viver iluminado pela Luz que é Jesus, não andará nas trevas, mas “terá a luz da vida”. 

Quem aceita o Deus encarnado, aceita a vida plena.

Finalmente, quem aceita o Deus encarnado em Jesus, aceita a promessa da vida plena! Acolhe seus ensinamentos, sua pessoa, suas promessas, sua ressurreição. Passa a viver sob sua Luz e nos seus caminhos, cheio de esperança e animado pelos dons celestiais (graças) que dEle advêm, especialmente se se une a todos os que também o aceitam e querem viver em assembleia ou comunidade de cristãos (em Igreja), pois como Ele mesmo ensinou: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, lá estarei Eu no meio deles”.  

Conclusão:

A celebração do Natal nos faz relembrar e reviver uma visita única e maravilhosa: a visita de nosso Deus sob forma de um menino que, quando crescido, nos mostra a face do próprio Deus: uma face de paizinho de mãe e de amigo. Além de nos trazer muitos dons – consolo diante de tantos males, a paz verdadeira (que é Ele próprio), os bens espirituais do amor, da fé e da esperança, e o resgate de nossa escravidão do pecado – Ele se apresenta como a palavra definitiva do Pai, que nos orienta como verdadeira luz para a humanidade. Quem aceita acolher esse Deus humanado em sua vida, em seu coração, não tem como não se tornar uma pessoa iluminada, consolada e cheia de esperança numa vida plena, já aqui, em comunidade de fé, embora, sobretudo, na vida celestial, na vida que não tem fim, junto d’Ele, na casa do Pai.

Uilso Aragono. (dez. de 2022)

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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