sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

CONHECIMENTO É SEGURANÇA


No campo da segurança contra acidentes envolvendo pessoas, pode-se afirmar que quanto maior o conhecimento geral de uma pessoa, mais segura ela estará. Dito de uma forma simplificada: conhecimento é segurança!

Para comprovar tal afirmação, ou constatação, alguns exemplos podem ser dados. Começando por meio de um exemplo banal e facilmente compreensível. Se um indígena brasileiro, sem experiência anterior, é trazido para a cidade grande e é deixado no centro da cidade, sujeito a carros, bicicletas, motos, ônibus e semáforos, não é difícil imaginar o enorme risco à sua integridade física em virtude de um iminente atropelamento. Esse mesmo indígena estará sujeito a ser eletrocutado se subir em algum poste de energia elétrica. E a queimar-se ao encostar a mão no reluzente e superaquecido cano de escapamento de uma moto recém parada.  Constata-se, claramente, a ligação entre conhecimento e segurança pessoal contra acidentes.

Muitos acidentes têm acontecido tendo como uma das causas o desconhecimento, por parte da vítima, acerca da situação em que vivia no momento do acidente. Duas mortes de jovens ocorreram, em intervalo de poucos meses, no mesmo Estado, Pernambuco, em virtude do desconhecimento diante do uso mais seguro de uma simples chapinha (equipamento eletrodoméstico para alisamento do cabelo). Se tivessem tido conhecimento anterior sobre a importância de não se usar um equipamento elétrico com os pés descalços e, ainda por cima, molhados, elas estariam mais seguras e, provavelmente, vivas... Outra jovem foi vítima de choque elétrico fatal, em Santa Catarina, agora envolvendo outro equipamento eletrodoméstico – o secador de cabelo – com o agravante de ter morrido, também, no mesmo acidente, seu bebê,  que estava ao seu colo no momento em que ela tirava o aparelho, molhado, de dentro da pia...

A verdade é que o conhecimento, em geral, torna as pessoas mais seguras. E esse conhecimento, de onde vem? Vem do berço. Vem da escola... , ou deveria vir. O conhecimento é uma parte do processo educacional. Portanto, quanto mais bem educada for uma pessoa, mais segura ela estará diante dos riscos da vida. Não é possível aceitar-se, passivamente, sem se fazer nada, o fato de um jovem de dezesseis anos – que não é mais uma criança! – invadir uma subestação de energia elétrica, para resgatar uma simples pipa, e receber uma descarga elétrica quase fatal!... Como se explicar que um jovem adolescente não tenha informação, conhecimento básico, sobre a eletricidade e seus sérios riscos? A esse respeito, parece que muitas pessoas pensam que “alta tensão” ou “alta voltagem” seja alta porque está lá em cima, nos fios desencapados do poste... Não têm conhecimento básico de que essa expressão significa, na verdade, uma tensão elétrica de enorme poder energético, capaz de torrar um corpo humano em caso de toque.

Quando é que a Sociedade vai se convencer de que o conhecimento básico é algo que precisa ser oferecido a todos os cidadãos, desde a tenra idade, como meio eficaz, como condição essencial, para a sua segurança? Quando será que a Escola aprenderá sobre a importância e a imperativa necessidade de orientar a aprendizagem de seus alunos no que tange aos conhecimentos básicos que afetem a segurança da vida no trânsito, dentro de casa, no trabalho e nas diversas dimensões da vida?

Que o ANO NOVO traga a todos os cidadãos preocupados com uma Sociedade mais segura e mais feliz, mais luzes sobre a consciência, para que esta perceba a necessidade de se buscar e de se multiplicar o conhecimento, em geral, como forma, também, de segurança para todos.

Uilso Aragono, dezembro de 2012

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

EDUCAÇÃO DA CONSCIÊNCIA (O mal dos maus exemplos)


Andar por um local de trabalho ou educacional e ver ambientes sujos, mal cuidados e feios pode influenciar a consciência e o comportamento de alguém? Esta é uma questão interessante de ser analisada e meditada.

Parece que a resposta mais correta é a afirmativa. Afinal de contas, há muito já se diz que “o homem é fruto do meio em que vive”. E como todos nós, cidadãos brasileiros da atualidade, estamos nos interessando, cada vez mais, pela educação da cidadania, não há como deixar de lado essa questão.

Embora o pensamento de que o homem seja um produto do meio onde vive não corresponda a uma verdade absoluta, há, no entanto, que se reconhecer a grande influência que o meio exerce sobre a consciência humana. Sendo assim, as autoridades e os responsáveis pelos ambientes que envolvem o cidadão – especialmente os mais jovens, ainda em idade de formação explícita da consciência – deveriam estar mais bem atentas às possíveis influências sobre seus concidadãos.

Uma universidade que apresente ambientes sujos, mal cuidados, e, por isso mesmo, feios – seria o caso da nossa UFES?... – não estaria trabalhando para o desenvolvimento, na mente de seus alunos, de uma consciência igualmente marcada por tais características? Não estariam sendo esses alunos “contaminados” pela visão cotidiana de um ambiente sujo, mal cuidado e feio? Não estariam eles se acostumando a situações como essas e achando-as “naturais”?

Essa reflexão aplica-se, igualmente, a ambientes de trabalho, nas áreas públicas e privadas. Aplicas-se, também, às cidades. E a pergunta que se faz é a mesma: não estarão, os trabalhadores, os cidadãos, sendo “contaminados” por ambientes feios, sujos e mal cuidados? não estará sua consciência sendo plasmada no sentido de considerar tais situações (de feiura, de sujeira) como naturais? E não irão eles reproduzir tais atitudes em sua vida pessoal, familiar, e em sociedade?

A consequência nefasta de situações como essas é que os cidadãos vão se acostumando com o feio, o sujo e o mal cuidado, como se fossem coisas naturais: sempre foi assim, e sempre será. Para que se preocupar em limpar, repintar, cuidar? Para que gastar dinheiro com essas coisas? Há coisas mais importantes com que se gastar o dinheiro...

Por que, em países ditos desenvolvidos, os laboratórios de suas escolas são tão bem organizados, limpos e bonitos? Por que pequenas cidades americanas são tão bonitas, com ruas arborizadas, limpas e com calçadas dignas? É uma questão de mentalidade, de consciência do povo e, particularmente, das autoridades. Como foi formada tal consciência?...

A verdade é que uma consciência educada para o exercício eficaz da cidadania, forma-se sob influências as mais variadas, incluindo-se entre essas, a visão do meio ambiente, que pode ser um bom ou um mal exemplo para as pessoas, especialmente, as mais jovens. Que nossas autoridades possam conscientizar-se de que o cuidado dos nossos espaços de educação, de trabalho e de vida social tem importância muito maior do que se lhe está sendo atribuída.

Uilso Aragono (novembro/2012)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

QUEM GANHA COM O INGLÊS?


Há uma ideia generalizada, entre nós brasileiros, de que o domínio do inglês seja um meio de afirmação profissional, inclusive, com ganhos financeiros. Ora, diante desse quadro de envolvimento com a questão da necessidade do estudo para o domínio do inglês, muita gente – especialmente os mais jovens – investe tempo e dinheiro nessa empreitada. Mas há que se esclarecer quem, de fato, ganha com esses investimentos de tempo, dinheiro e de esforços pessoais.

Uma resposta, talvez precipitada, fosse atribuir esse ganho às empresas que oferecem variados cursos de inglês, tanto presenciais, quanto virtuais (cursos a distância ou pela Internet). Ou, ainda, aos próprios interessados na aprendizagem da língua inglesa, que, afinal, obteriam “ganhos” financeiros após a conclusão e o domínio (?) do idioma. Mas será que, de fato, esses dois grupos de ganhadores esgotam a resposta?

Uma análise um pouco mais aprofundada demonstra que, na verdade, quem ganha, especialmente, e financeiramente, com a divulgação do inglês como língua internacional, são, justamente, os seus falantes nativos originais, isto é, a própria Grã Bretanha. Duas citações de documentos britânicos demostram, claramente, como os ingleses veem a divulgação universal da necessidade do estudo do inglês como uma ferramenta de imprescindíveis ganhos financeiros para a “Coroa britânica”.

O primeiro texto é uma citação do documento “A language policy for the European Community” (Uma política linguística para a Comunidade Europeia), de 1991, que afirma, sem rodeios: “O inglês de hoje é um dos maiores produtos de exportação da Grã Bretanha. E o inglês como língua estrangeira é uma indústria global com um faturamento anual de cerca de 6 bilhões de libras”. Esse valor corresponde, hoje, a cerca de 18 bilhões de reais!... Há dúvida sobre sobre quem ganha com o inglês?...

O segundo texto, mais antigo, é uma citação do Relatório do Conselho Britânico (1968-1969) que afirma, novamente com a clareza da luz do dia, que o “Inglês é uma ferramenta para os competidores da indústria britânica.” E ainda: “ Há um elemento comercial escondido em cada professor de inglês, em cada livro, cada revista e em cada filme e programa de televisão exportados”. Há, ainda, alguma dúvida sobre quem ganha com o inglês? [Esses textos acima estão citados no livro “Os custos da (não)comunicação linguística europeia” (ERA, 1997, editado em esperanto, inglês e italiano).]

E os brasileiros? Será que, de fato, ganham como inglês? Ou mais perdem?... Pelos esforços e dinheiro aplicados na tentativa de se aprender e dominar o inglês, parece que a batalha está sendo ganha pelos britânicos. Pois, segundo uma recente reportagem divulgada na revista Veja, que trata, justamente, do estudo do inglês entre nós, constata-se, ali, que o custo-benefício é muito alto; e que a aprendizagem – nessas mais de cinco décadas que o Brasil estuda inglês! – é muito baixa: pouquíssimos brasileiros, dominam, efetivamente, o inglês, a ponto de ganharem algo com ele. A maioria dos que gastam seu dinheiro, tempo e esforços, ficam pelo caminho, iludidos, frustrados, sem ganhos e com muitas perdas... Que pena, que somente poucos milhares (ou milhões?) de pessoas no mundo descobriram o esperanto: esse idioma planejado que é, verdadeiramente, língua internacional, em que o investimento (muito mais baixo), realmente, vale a pena! Mas um dia cai a ficha!...

Uilso Aragono (out/2012)

domingo, 30 de setembro de 2012

CAÇAR TALENTOS, EM VEZ DE BANDIDOS


Vivemos, no Brasil, uma neurose com relação à violência e à necessidade de se combatê-la. Fala-se, muito, na necessidade de se investir cada vez mais nos recursos humanos e materiais para o combate à criminalidade. E já se gasta muito com recursos tecnológicos de última geração, como os vant (veículo aéreo não tripulado) recém adquiridos pela polícia do Rio, com investimentos da ordem de 80 milhões de reais. Mas se esquece de que tão importante – ou  mais – seria a caça aos talentos humanos, isto é, às pessoas talentosas, em todas as áreas do conhecimento,  que possam contribuir para um Brasil maior! Quanto tem gasto nosso Governo nacional com relação a esta causa?...

Um caso exemplar é o do mineiro Nélio José Nicolai, que inventou o identificador de chamada (conhecido, também, como Bina) e nunca ganhou nada por isso. Nem mesmo reconhecimento nacional. Ele mesmo diz, numa reportagem de A Tribuna, em 11/set/2012: “Lutei praticamente sozinho. Não foram poucas as pessoas que, nesse período, diante da indiferença dos sucessivos governos brasileiros e das ameaças que recebi, me aconselharam a desistir”. Aqui aparece um aspecto importantíssimo, que precisa ser urgentemente revertido: “indiferença dos sucessivos governos brasileiros”. Ora, se nosso Governo tivesse a consciência da importância de ter uma agência, ou o que for, que se disponha a caçar os “talentos” brasileiros – como esse nosso mineirinho! – seriam encontradas muitas pessoas que, como ele, se fossem auxiliadas em sua luta, normalmente, solitária, renderiam, certamente, muitos frutos para nosso País, tanto financeiros quanto de prestígio internacional. Veja-se que a Bina foi inventada por um brasileiro e está sendo usada mundialmente, sem que tal fato seja reconhecido. E nosso próprio Governo não percebe o quanto está perdendo, também ele, por não dar nenhum apoio à luta do Inventor.

Muitos outros casos existem, tanto na história recente, quanto nos dias de hoje, de pessoas talentosas que poderiam ter recebido apoio de nossas autoridades e não o tiverem, para prejuízo de todos. Pode ser citado, dentre muitos casos, o do Padre Roberto Landel de Moura, que pode ser considerado o Pai brasileiro do rádio, e poderia ter sido reconhecido como o primeiro a utilizar as ondas eletromagnéticas para transmissão de voz, não lhe fosse a absoluta falta de apoio do Governo brasileiro e até dos jornais e do povo de sua época. Já Guilherme Marconi, inventor italiano, foi mais feliz no apoio de seu país, sendo hoje considerado o Pai da rádio comunicação.

Os Estados Unidos da América são um bom exemplo do que pode fazer um país que saiba reconhecer, caçar e incentivar seus bons talentos científicos. Do estrangeiro atraiu nomes como Wernher Von Braun (alemão, responsável pelo aperfeiçoamento das bombas voadoras V-2), Albert Einstein (outro nome alemão que não precisa de apresentação) e Enrico Fermi (prêmio Nobel italiano, inventor do reator nuclear), dentre muitos outros, em várias áreas do conhecimento. Por que não faz o mesmo nosso querido Brasil Varonil? Quando acordaremos para essa necessidade de identificar, valorizar e apoiar nossos talentos, nossos cérebros?

Já passou da hora de nossas autoridades nacionais darem a atenção devida aos solitários cérebros, inventores, talentos, artistas, etc., para que, apoiados em suas necessidades financeiras, possam evoluir em seus conhecimentos ou habilidades para o bem maior de nosso Brasil. Investir em talentos é investir no País! Quando aprenderemos esta lição tão básica e tão verdadeira? A Copa do mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 estão aí para desafiar o Governo brasileiro a mostrar sua capacidade de gerenciar tais eventos mundiais. Já se fala em um bilhão de reais para incentivar os atletas que se destaquem... Será que, depois da Olimpíada, acordarão para a necessidade de valorizar a meritocracia, também, em outras áreas tão ou mais importantes que a área do esporte?
Meritocracia: esta é a palavra. Há que se caçarem talentos, sem se descuidar, no entanto, dos que, ao contrário, apresentem necessidades especiais. Mas mais importante do que caçar bandidos é, sem dúvida, caçar os talentos, e isto terá como consequência um país mais inteligente, mais produtivo, mais rico e, provavelmente, com menos bandidos...

Uilso Aragono (setembro de 2012)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ciclistas e segurança no trânsito




No caso do convívio no trânsito, com ciclistas, a consciência segura exige de cada um que “procure” o ciclista; que cada agente no trânsito “busque”, proativamente, a presença do ciclista. Pois sendo menos disciplinados, eles têm comportamento altamente perigoso, para si mesmos e para todos os demais. Afinal – e isto é fato, não simples acusação! –, os ciclistas transitam pelas ruas, na mão e na contramão, nas calçadas, em velocidades pouco compatíveis com a segurança, passando muito próximos das pessoas, fazendo manobras arriscadíssimas, falando ao celular, e não tendo qualquer fonte de melhor visibilidade, isto é: quase não usam refletores, nem faroletes, nem buzinas, e não se preocupam em usar roupas claras...

Regra de ouro

A regra, portanto, para quem quer ficar mais protegido, mais seguro, no trânsito, convivendo com os ciclistas, deve ser a seguinte: “procure, busque, proativamente, o ciclista!”. Agindo de tal modo, isto é, tendo esta atitude ou vivenciando esta consciência segura, o cidadão estará mais seguro e contribuirá para um trânsito mais seguro e humano. E por que “procurar” o ciclista? Porque as pessoas estão acostumadas a enxergar, com certa facilidade, os veículos maiores: ônibus, caminhões e automóveis. As bicicletas ficam quase invisíveis no trânsito. Se elas não forem buscadas, proativamente procuradas, elas não serão facilmente percebidas, e um acidente será mais provável! Ilustrando essa “regra de ouro” podem ser citados os seguintes exemplos.

Exemplos de aplicação da consciência segura

Ao tentar atravessar uma rua (e melhor, diante da faixa de segurança!) o cidadão haverá de procurar identificar um ciclista que possa estar circulando nas proximidades; isto evitará que alguém se assuste ou mesmo seja atropelado por um ciclista que surja, de repente, em alta velocidade e na contramão de direção, tirando “um fino” do cidadão. É importante que cada um de nós esteja atento a essa possibilidade real!
O motorista haverá de estar muito atento a buscar ciclistas na contramão, nos cruzamentos, e procurará identificá-los à noite, quando, então, eles se tornam praticamente invisíveis. Ao dar marcha à ré, a consciência segura do motorista o fará procurar alguma bicicleta mal estacionada logo atrás do veículo, ou buscar algum ciclista passando por trás, tranquilamente, apesar de ver a luz de ré acesa. Infelizmente, o ciclista que não pratica a consciência segura, confia que todo motorista, ou mesmo pedestre, o está enxergando claramente...

Antes de se abrir a porta do carro, uma busca proativa deverá ser feita, seja pelo motorista, seja pelo passageiro, pois muitos ciclistas passam raspando nos automóveis, costumeiramente e em velocidades relativamente altas.

Enfim, esta é uma regra verdadeiramente “de ouro”: buscar, proativamente, os ciclistas no trânsito. Mas aplica-se, também, a motociclistas e aos demais veículos no trânsito. A verdade é que uma atitude de maior atenção aos riscos naturais do trânsito, expressa pela consciência segura, e adotada por todos os protagonistas do trânsito, só tem a contribuir para um trânsito mais seguro para todos.

Uilso Aragono,   (Agosto de 2012)

terça-feira, 31 de julho de 2012

O FIM DAS LÂMPADAS INCANDESCENTES?



O Governo brasileiro anunciou, recentemente, o fim da fabricação de lâmpadas incandescentes para o ano 2017. Isto é um grande erro contra a ecologia e a sustentabilidade, e esclareço, a seguir, as razões desta afirmação.


 

Lâmp. incandescente 
Lâmp. Fluorescente compacta

Reator de lâmp. Fluoresc. compacta
Não sei com que base nossas autoridades estão agindo de tal maneira, mas, como técnico da área – professor de engenharia elétrica –, devo manifestar uma opinião técnica, que se contrapõe a tal decisão, para o bem da sociedade brasileira e do nosso meio ambiente. Parece que utilizaram um único critério: o que constata que as lâmpadas fluorescentes compactas são mais eficientes, ou usam menos energia elétrica para fornecer o mesmo nível de iluminação, do que uma lâmpada incandescente. Ocorre que há outros critérios para a efetiva comparação entre essas lâmpadas, incluindo o custo econômico individual, em que as incandescentes ganham de longe, já que as fluorescentes compactas são, em média, cerca de cinco (5) vezes mais caras que as incandescentes! E é de se admirar que o Governo tenha ignorado esse critério!  Pois o custo econômico costuma ser o critério mais decisivo em todas as decisões técnico-econômicas sobre o uso ou a compra de equipamentos em geral.

USO PREFERENCIAL DAS LÂMPADAS

Inicialmente, devo esclarecer aos leigos, incluindo, especialmente, nossas autoridades da área de energia elétrica, que os diversos tipos de lâmpadas têm aplicações bem definidas. Focando apenas nas lâmpadas incandescentes e nas suas alternativas, as lâmpadas fluorescentes compactas (ou lâmpadas eletrônicas), pode-se definir o campo de aplicação ou uso de cada uma delas. As lâmpadas incandescentes, levando em conta todas as suas características funcionais e de fabricação, são indicadas para ambientes cuja iluminação seja temporária, isto é, por breves intervalos de tempo, podendo essas lâmpadas serem acendidas e apagadas (ou ligadas e desligadas) com frequência, sem que isto afete a vida útil (ou vida prevista) da lâmpada. Já as lâmpadas fluorescentes compactas (ou lâmpadas eletrônicas) são indicadas para ambientes cuja iluminação seja contínua, ou de longos intervalos de tempo, tendo em vista que esse tipo de lâmpada tem sua vida útil muito dependente da frequência do liga-desliga.
Dando-se exemplos residenciais, pode-se dizer que as lâmpadas incandescentes são indicadas para ambientes como: banheiros e lavabos, quartos de dormir, depósitos, despensas, varandas, hall de elevadores e de escadas, e escadarias de prédios. Ressalte-se a suposição de que tais ambientes não necessitem de iluminação contínua, mas apenas por breves momentos, durante os quais os usuários têm acesso aos mesmos. Quanto às lâmpadas fluorescentes compactas, essas são indicadas para ambientes como: salas de estar, cozinhas, corredores, salas de multimídia (onde ficam, normalmente, TV, som e biblioteca), garagem e quintal ou jardim (esses últimos, por motivos de segurança). Veja-se que tais ambientes estarão iluminados, a partir do anoitecer, de forma contínua, pois sempre haverá alguém – numa família média de três, quatro pessoas – circulando por eles. Uma cozinha, por exemplo, é um lugar em que sempre alguém estará acessando, portanto, uma lâmpada fluorescente é a mais indicada para esse ambiente.

PRIMEIRA CONCLUSÃO

Tendo em vista as aplicações discutidas, o uso errado de tais lâmpadas, conduz a dois grandes erros: usar as incandescentes em ambientes que exijam iluminação mais constante produzirá um grande custo de energia elétrica, já que essas lâmpadas têm baixa eficiência energética, exigindo muita energia elétrica para seu funcionamento; usar as fluorescentes compactas em ambientes de iluminação temporária produzirá um grande custo de reposição dessas lâmpadas, já que elas se queimarão mais rapidamente nesses ambientes, pela elevada frequência do liga-desliga, e terão de ser repostas muito antes do tempo previsto pelo fabricante, a um custo cinco a seis vezes maior do que uma correspondente lâmpada incandescente.  

CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS DAS LÂMPADAS

As aplicações ou usos que se devem fazer de certo tipo de lâmpada estarão baseados em suas características funcionais.

O fabricante de uma lâmpada incandescente afirma que tal lâmpada não é sensível à frequência do liga-desliga, podendo, portanto, ser utilizada em ambientes que não necessitem estar continuamente iluminados, mas apenas, temporariamente, por breves intervalos de tempo. Essas lâmpadas têm uma vida útil (vida prevista pelo fabricante, até queimar) de cerca de mil (1.000) horas, o que pode ser aproximado para um (1) ano. As potências normais de utilização em uma residência variam de 40 a 100 watts e o custo médio de uma lâmpada de 60 watts é cerca de dois reais. Essas lâmpadas devem ser testadas no momento da compra, e não há garantia explícita de tempo de duração, embora se diga que dure cerca de mil horas.

O fabricante de uma lâmpada fluorescente compacta afirma, implicitamente, que tal lâmpada é sensível à frequência do seu liga-desliga, já que não recomenda, explicitamente, que seja usada com minuterias ou sensores de presença: aqueles dispositivos que ligam e desligam automaticamente a lâmpada em hall de elevadores, escadas, corredores e similares, a partir da detecção da presença de um indivíduo. São lâmpadas recomendadas, portanto, para ambientes em que não ocorra esse liga-desliga com frequência e que devam permanecer acesas por longos períodos de tempo antes de serem, novamente, desligadas. Alguns fabricantes afirmam que o ciclo ideal é que permaneçam acesas por 2h45min e apagadas por 15min. Essas lâmpadas, usadas nas condições recomendadas, têm uma vida útil, prevista pelo fabricante, de cerca de cinco mil horas (5.000h), o que pode ser aproximado para cerca de cinco (5) anos. Veja-se a diferença em termos de duração para as incandescentes: essas lâmpadas compactas podem durar até cinco vezes mais que as incandescentes! As potências usuais de utilização em residências variam de 9 a 30 watts e o custo médio de uma lâmpada eletrônica de 20 watts é cerca de dez reais (o que dá cerca de cinco vezes mais cara que a incandescente correspondente). Os fabricantes costumam explicitar uma garantia de durabilidade muito longa, usando este argumento, inclusive, de forma mercadológica, para atrair o consumidor. Costumam dar de dois a oito anos de garantia de durabilidade (vida útil)!

SEGUNDA CONCLUSÃO

Tendo em vista as considerações acima, pode-se concluir que o uso inadequado de uma lâmpada fluorescente compacta (em vez de uma incandescente) num ambiente que não necessita estar iluminado por longos períodos de tempo, fará com que essa lâmpada se queime em tempo muito menor do que aquele previsto pelo fabricante: em cerca de um ano, quando poderia durar até cinco anos! Isto tem como consequência desastrosa – e não levada em conta pelas autoridades governamentais! – um elevado custo ambiental associado ao fato de se jogar no lixo um equipamento que poderia estar ainda em funcionamento, por muitos anos, se estivesse sendo utilizado no ambiente correto e de forma correta. 

Esclareça-se, ainda, que tais lâmpadas, diferentemente das incandescentes, são constituídas por pequenos “reatores eletrônicos”, com muitos e variados componentes eletrônicos que contêm metais, plásticos, cerâmicas, além dos vidros e substâncias químicas (fósforo, fenol, naftaleno, estireno, mercúrio, dentre outras) nos bulbos: tudo isto indo para lixões, e muito antes do que o esperado e o possível. Um desperdício enorme de material, recursos e dinheiro, e poluição desnecessária!

QUADRO COMPARATIVO COMPLETO

O erro do Governo, ao propor o fim da fabricação das tradicionais lâmpadas incandescentes, baseia-se no pressuposto, apressado e superficial, de que as lâmpadas fluorescentes compactas por serem mais eficientes e, portanto, mais econômicas energeticamente, possam substituir diretamente as incandescentes, com todos os benefícios possíveis. Ora, tal conclusão é totalmente equivocada por ser, tecnicamente, incorreta e parcial a comparação entre as lâmpadas. Listo, no quadro abaixo, as comparações que deveriam nortear uma decisão tão importante para o presente e o futuro de nosso País.

Lâmpada incandescente
Lâmpada fluorescente compacta
1.       Baixa eficiência energética
Alta eficiência energética
2.       Baixo custo de aquisição
Elevado custo de aquisição (5 vezes +)
3.       Duração não depende do liga-desliga
Duração depende do liga-desliga
4.       Tecnologia simples
Tecnologia complexa (com reator eletr.)
5.       Não polui o meio-ambiente
Polui o meio-ambiente
6.       Garantia inexistente
Garantia enorme, mas não verificada#
7.       População acostumada a usar
População não sabe como usar**
8.       Elevado fator de potência (1,0)*
Baixíssimo fator de potência (0,5)
9.       Não polui a rede elétrica
Polui a rede elétrica (distorções)
10.   Não interfere em aparelhos eletrônicos
Interfere em aparelhos eletrônicos##
11.   Funcionamento estável
Funcionamento instável (oscilações e pisca-pisca ocasionais)
*Fator de potência é um índice de qualidade da corrente elétrica drenada pela lâmpada da rede elétrica.
# A garantia não é facilmente verificada pelo usuário, pois este teria de relacionar cada lâmpada à sua nota fiscal e guardá-la muito bem por muitos anos, o que raramente é feito.
** A população tem o hábito de apagar, constantemente, a lâmpada (incandescente) logo após tê-la usado. No caso da lâmpada fluorescente, esta teria de ser mantida ligada, nos ambientes em que estivesse corretamente instalada, e somente desligada após um longo período de tempo (ciclo longo de funcionamento).
##Exemplo: Interferência sobre controles remotos de TVs; os usuários das lâmpadas não têm consciência de tal interferência, e ficam incomodados e sem saber o que fazer...

No quadro comparativo aparecem, em negrito, os pontos positivos (vantagens) de uma sobre a outra. Verifica-se que a lâmpada incandescente ganha em nove (9) pontos contra dois (2) da lâmpada fluorescente.

Como podem ser desconsideradas tantas vantagens da lâmpada incandescente frente à fluorescente compacta? É uma conclusão realmente precipitada, que tem de ser revista urgentemente para que um grande prejuízo não decorra de tão infeliz decisão.

TERCEIRA CONCLUSÃO

A lâmpada fluorescente compacta somente poderá substituir a lâmpada incandescente, em todas as aplicações possíveis, se aquela apresentar – para além da melhor eficiência energética! – um reator eletrônico que não seja sensível à frequência do liga-desliga, e que dure, de fato, como consequência dessa nova robustez, pelo menos cinco (5) vezes mais que uma lâmpada incandescente, portanto, cerca de cinco anos, antes de ir para o lixo.

No entanto o desenvolvimento e a fabricação e comercialização de tal reator de alta robustez e, também, de elevado fator de potência, não é um processo simples nem barato. Isto exigirá tempo e pesquisa dos fabricantes e redundará, certamente, em reatores ainda mais caros, num primeiro momento, o que exigiria, para compensar, durabilidades (em  anos) muito maiores.

COMPORTAMENTO DO USUÁRIO

Um grande equívoco que se pode associar à aparente superioridade da lâmpada fluorescente compacta é a desconsideração do comportamento habitual dos usuários das lâmpadas incandescentes: tais usuários foram acostumados a uma regrinha muito prática e adequada ao não desperdício de energia dessas lâmpadas, qual seja, “apagar a lâmpada sempre que sair do ambiente”, mesmo que necessite retornar alguns minutos depois. Ora, esse comportamento, adquirido já há décadas de intimidade com as lâmpadas incandescentes, torna-se totalmente desastroso quando se aplica às lâmpadas fluorescentes, porque estas, ao contrário das incandescentes, têm sua vida útil (durabilidade) muito dependente dessa frequência de liga-desliga.

QUARTA CONCLUSÃO

Como é muito difícil impor-se um novo comportamento à população, na eventual substituição universal das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes compactas, o resultado de tal troca será totalmente infeliz e acarretará enormes prejuízos financeiros e ambientais. Financeiros, porque, embora o País deixe de gastar tanta energia elétrica, por conta da maior eficiência da fluorescente compacta, cada cidadão, no entanto, terá de gastar muito mais dinheiro na reposição das lâmpadas eletrônicas, que não durarão o quanto deveriam. Ambientais, porque tais lâmpadas, queimando-se antes da hora prevista pelos fabricantes, vão poluir o meio ambiente muitos anos antes do que deveriam.

CONCLUSÃO GERAL

Tendo em vista o acima exposto, é de se lamentar uma decisão governamental – que deveria esta pautada em um estudo aprofundado e muito bem realizado! – de troca universal das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes compactas. A proibição da fabricação das lâmpadas incandescentes levará ao uso das fluorescentes compactas em situações para as quais não foram e não são previstas, redundando em sérios prejuízos para o cidadão, para o meio ambiente e para o País.

A solução mais adequada, tendo em vista a melhoria da eficiência no uso da energia elétrica para iluminação, e enquanto não forem produzidas lâmpadas eletrônicas robustas, de alta durabilidade e de custos compatíveis, seria a definição, clara e inequívoca, dos usos mais adequados de cada tipo de lâmpada. Caberia aos órgãos responsáveis tais definições – como analisadas no texto, acima – que deveriam acompanhar as embalagens, de forma clara e inequívoca, sobre a aplicação de uma ou outra lâmpada. As embalagens das lâmpadas eletrônicas deveriam estampar, de forma claríssima, a PROIBIÇÃO (não uma simples recomendação!) do uso dessas lâmpadas com sensores de presença e o seu frequente liga-desliga. E nessas mesmas embalagens, o fabricante RECOMENDARIA, para essas situações, o uso de lâmpadas incandescentes de potência adequada. Com o tempo, a população criaria um novo hábito de compra e uso das lâmpadas fluorescentes compactas, para o seu benefício e o do meio ambiente.

Não basta, então, reconhecer que as lâmpadas fluorescentes compactas sejam mais eficientes e, que, portanto, possam substituir universalmente as lâmpadas incandescentes. É obrigatório, também, o reconhecimento de que o modo de uso (frequência de liga-desliga) e o lugar do uso das fluorescentes compactas (longos períodos de funcionamento) são importantíssimos para a decisão final quanto a uma possível substituição universal das lâmpadas incandescentes e a proibição definitiva de sua fabricação.

Uilso Aragono (Julho de 2012)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O FIM DO MODO SUBJUNTIVO


São tantos os erros cometidos contra o bom uso do modo subjuntivo, seja na linguagem escrita, seja na falada, que me parece que esse modo verbal está morrendo!...

Abaixo, exemplos tirados de livros, jornais, revistas, etc., com alguns comentários.

  • Ele também acreditava que os judeus eram (fossem) inimigos.
A partícula (conjunção) ‘que’, normalmente, pede o verbo no subjuntivo. E o sentido da frase é, conforme a definição de modo subjuntivo, uma opinião (subjetiva, daí o nome do modo verbal) uma ideia, uma hipótese, uma crença, enfim uma afirmação com certo grau de incerteza. O modo indicativo, ao contrário, normalmente expressa ideias claramente afirmativas.

  • Não há dúvida de que realmente acreditava (acreditasse) no Nacional-Socialismo e que foi (fosse, ou tivesse sido) completamente devotado a Hitler.
  • O lugar deveria servir de retiro, um lugar onde ele poderia (pudesse) meditar com absoluta privacidade.
Aqui o modo futuro do pretérito (poderia) é totalmente inapropriado, pois a ideia é que “ele supostamente, pudesse meditar”. O uso do futuro do pretérito leva o leitor a acreditar que, naquele lugar, ele não pôde, efetivamente, meditar: ele poderia, mas não pôde, de fato... Mas a ideia não é esta, ao contrário, é claramente um plano (com alguma incerteza) para que “ele pudesse meditar no local”.
  • Os relatórios médicos fazem crer que ele não tinha (tivesse) problemas físicos ou psicológicos sérios.
Se os relatórios fossem afirmativos, então, sim, o modo indicativo (tinha) estaria correto. Seria o caso de se escrever: “Os relatórios médicos fazem crer: ele não tinha problemas”. Observe-se que a conjunção “que” é a principal responsável  pelo uso do subjuntivo (tivesse), passando a ideia de uma hipótese e não de uma afirmação clara. Será por causa disso que a gente aprende os verbos no modo presente do subjuntivo precedendo-os dessa partícula? “Que eu faça, que tu faças, etc.” Não só esta partícula, mas duas outras são utilizadas na memorização do modo subjuntivo: “se”, para o imperfeito (ou condicional), e “quando” (e ‘se’, novamente), para o futuro do subjuntivo: “Quando eu for, quando tu fores, ou, se eu for, se tu fores,...

  • Acredita-se que ele queria (quisesse) matar o embaixador alemão para protestar.
  • Acredita-se que R. iniciou (tenha iniciado) os tumultos com a aprovação do chefe.
Aqui é até mesmo uma questão de “ouvido”. A frase original (com o ‘iniciou’) é horrível de se ouvir; parece claramente errada! E a forma subjuntiva composta, formada com o verbo auxiliar ‘ter’, parece, claramente e auditivamente, a melhor. Mais uma vez, a conjunção ‘que’ pede, quase exige, essa formação de verbo composto no modo subjuntivo. Ainda: o modo indicativo no passado, só poderia ser  usado se fosse uma frase afirmativa: “R. iniciou os tumultos com a aprovação do chefe”.

  • Eles acreditavam sinceramente que a Alemanha poderia (pudesse) derrotar a União Soviética.
  • Ele acreditava que os soviéticos estavam (estivessem) nas últimas.
  • O sucesso foi tão grande que parecia confirmar a crença de Hitler de que os Estados  Unidos estavam (estivessem) totalmente despreparados para a guerra.
  • Imagine que cada aeroporto da Europa ou na América possui (possua) um conjunto de 30 a 40 cartas de pouso.
O verbo ‘imaginar’ passa, claramente, a ideia de uma hipótese, algo imaginário, incerto, por isso o uso obrigatório do modo subjuntivo (exatamente para ideias subjetivas). “O aeroporto X possui 30 cartas de pouso”. Esta é uma frase afirmativa em que cabe o modo indicativo. Mas não a frase original, acima.
  • Escravas também tinham direito: se um homem casava (casasse) com uma de suas servas, só poderia se divorciar se vendesse a mulher.
Será que o autor desse texto decorou o imperfeito do subjuntivo na sequência: se eu casava, se tu casavas, se ele casava?... Mas por que, então, ele utilizou corretamente o modo subjuntivo no final da mesma frase? Veja: “... se vendesse a mulher”. Se ele fosse coerente com o seu mau português, ele teria escrito: “... se vendia a mulher”.

É incrível como têm sido constantes e universais esses erros de uso do modo indicativo em lugar do correto modo subjuntivo! E se a gente acreditar, como defendem muitos linguistas, que a língua evolui pelo uso do seu povo falante, então, podemos concluir que o modo subjuntivo está acabando, está morrendo, está no fim.

Interessante observar, finalmente, que esse modo subjuntivo, se estiver (não ‘está’) morrendo, é porque, também, é muito difícil de ser assimilado, mesmo para escritores e pessoas de curso superior. E é por isso que eu admiro e divulgo a língua internacional – o Esperanto –: dentre muitos outros aspectos de maior facilidade que qualquer língua nacional, nesse caso específico do modo verbal  subjuntivo, verifica-se que tal modo não existe explicitamente no Esperanto, sendo substituído pelo modo imperativo, o que, dentro da dinâmica dos modos verbais do Esperanto,  faz todo o sentido e simplifica o idioma internacional. Simplicidade que todo falante gostaria de encontrar em sua língua nacional e que nem sempre encontra, mas que acaba sendo imposta pela Academia, quando esta é pressionada pela universalização de usos populares, ou até eruditos, mesmo que esses não se coadunem exatamente com a boa gramática. Será que um dia a Academia irá confirmar o fim do modo subjuntivo? Será que o uso universal do modo indicativo no lugar do modo subjuntivo vai se impor?

Uilso Aragono, junho de 2012.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

UM NOVO SIMULADOR PARA VOO ESPACIAL


Para mim foi agradável surpresa descobrir na Internet, pesquisando pelo Google, um novo simulador espacial (space flight simulator) denominado Orbiter! Para aqueles aficionados por astronomia e coisas afins e que, como eu, conheceram em 1994 um software chamado Microsoft Space Simulator (for DOS = para o DOS), ficando, no entanto, sem condições de continuar a usá-lo nos novos sistemas operacionais, por ter sido abandonado pela Microsoft, eis uma nova possibilidade de “jogar” e “brincar” com as coisas do espaço!

Neste novo software o amante de astronomia, exploração espacial, satélites e naves espaciais, terá, de novo – como havia no antigo MS Space Simulator – a chance de se realizar, divertindo-se e aprendendo por meio de um software de alta qualidade gráfica (imagens 3D), leve e, muito importante!, gratuito! Pode ser baixado a partir do endereço na Internet: http://orbit.medphys.ucl.ac.uk/index.html.
Além do manual oficial (baixável em: http://orbit.medphys.ucl.ac.uk/download/Orbiter.pdf ) existem dois outros recursos eletrônicos muito bons e bem ilustrados que podem ser encontrados em: http://www.amcsorley.dsl.pipex.com/pdfs/GoPlayInSpace2dEd_060504.zip (livro em pdf) e http://www.amcsorley.dsl.pipex.com/pdfs/GoLearnInSpace_v2.pdf  (apresentação em ppt).

O novo software foi criado para PC (for Windows) pelo Dr.  Martin Schweiger, inglês, originalmente com propósitos educacionais. Os estudantes poderiam demonstrar e experimentar vários aspectos da física envolvida nos voos espaciais. Diferentemente, portanto, de jogos espaciais que não se preocupam em seguir as leis da física, o Orbiter é um software que nos permite sentir como é realmente um voo espacial: é realista nos mínimos detalhes. E, apesar disto, não é um simulador “pesado”, podendo ser rodado em computadores de configuração relativamente simples.

A página eletrônica do jogo/simulador incentiva: a) lance o ônibus espacial do Centro Espacial Kennedy e promova seu acoplamento com a estação espacial internacional (ISS); b) recrie voos espaciais históricos por meio de módulos adicionais de naves espaciais tais como, Mercury, Gemini, Apollo, Vostok e outras; c) planeje e realize voos intergalácticos e faça turismo no sistema solar com espaçonaves futurísticas; d) projete seus próprios foguetes ou baixe módulos adicionais criados por outros usuários; e, finalmente, e) aprenda sobre voo espacial e mecânica orbital divertindo-se e experimentando.

Embora tenha sido criado pelo Dr. Schweiger, sua política foi de abertura total para a contribuição dos usuários, desde o início, no ano 2000, e atualmente existe uma grande comunidade de programadores que produzem os chamados módulos adicionais (addons) que incrementam o software por meio de incríveis melhoramentos!

O jogo (sim, pode ser visto como um jogo, embora não se trate de pontuação, níveis, armas, etc) está ainda em língua inglesa, o que pode ser empecilho para alguns, mas nada que não possa ser superado pelas ferramentas de tradução disponíveis hoje na grande rede. Mas logo a versão em português deverá estar disponível.

No mais é desejar que a grande comunidade que se reuniu em torno desse projeto se mantenha viva e animada, até para que o programa se aperfeiçoe sempre, para o bem daqueles que amam a astronomia e a realidade e ficção dos voos espaciais.

Para matar a curiosidade do leitor, abaixo algumas fotos de telas geradas pelo simulador.

Uilso Aragono, maio de 2012.








segunda-feira, 30 de abril de 2012

Dicas para uma boa leitura em público


Para uma boa leitura em público, como em igrejas ou em outras cerimônias públicas, algumas dicas podem ser dadas.

Em primeiro lugar, deve-se notar que a leitura em público é uma dimensão da oratória. Quem consegue fazer uma boa leitura num púlpito, ou diante de uma grande assembleia, já está meio caminho andado para que desenvolva uma boa e eficaz oratória.

E em termos de orientações para uma oratória eficaz pode-se afirmar que o público deseja o sucesso do orador! A assembleia “torce” pelo sucesso do orador! Isto se deve a uma identificação psicológica das pessoas no auditório com o conferencista ou orador. E porque quem se decidiu a assistir a uma palestra ou conferência não deseja, sinceramente, que tal evento revele-se como um fracasso, pois seria para ele, também, igual fracasso, pela perda de tempo. Tendo isto em vista, o orador se sentirá mais seguro para controlar todo e qualquer  sentimento de nervosismo e ansiedade que o possa estar incomodando.

As dicas, portanto, para uma boa e eficaz leitura em público podem ser as seguintes.

  1.  Treinar a leitura de frases, e não de palavras. – O olho deve focalizar acima da linha escrita e tentar abarcar o maior número possível de palavras da frase. Desta forma, a leitura mental se antecipa à leitura verbal, podendo-se, então, prever sinais de pontuação e dar a entonação correta à frase sendo lida.
  2.  Focalizar a frase por cima, nas entrelinhas. – Para o sucesso da dica número 1, há que se verificar que a leitura de um texto deve ser feita de tal forma que a visão focalize acima da frase, e não diretamente sobre cada palavra. Olhando por cima consegue-se uma amplitude maior na leitura, o que possibilita ler-se (mentalmente) mais de uma palavra ao mesmo tempo. Prova-se, facilmente, que a metade superior de uma frase tem mais significado do que a parte inferior, isto é: consegue-se ler e entender uma frase pela sua metade superior apenas, mas não se consegue lê-la pela sua metade inferior.
  3.  Ler o texto sem deixar de olhar para a plateia. – A plateia deseja ter contato visual com o leitor... É uma necessidade natural, já que não é uma leitura eletrônica, mas feita por uma pessoa, com quem, normalmente, se faz contato visual durante qualquer comunicação direta. Exercitar-se lendo diante do espelho levantando a cabeça e encarando sua imagem durante aqueles momentos em que a leitura mental se torna leitura verbal.
  4.  Ler previamente o texto. – A leitura em público só deverá acontecer como “segunda” ou “terceira” leitura, exigindo, portanto, que uma primeira leitura do texto seja feita, silenciosamente, antes da leitura de fato. Isto ajudará a prever e superar qualquer surpresa diante de alguma palavra de pronúncia menos conhecida. Além disso, a correta pontuação será verificada, para que se lhe dê a entonação adequada, especialmente quando uma frase interrogativa e longa não se inicia por um pronome interrogativo, o que provoca, muitas vezes, erros sérios de leitura.
  5.   Articular claramente a boca na pronúncia das palavras. – Treinar a leitura de textos por meio da articulação até exagerada das palavras, para que a leitura em público ocorra com articulação adequada das palavras. Um erro comum de leitura é a pouca articulação da boca na emissão das palavras: pronunciar as palavras com a boca quase fechada...
  6.  Pronunciar com clareza os finais das palavras. – Atentar para o fato de que todas as palavras sejam pronunciadas em toda a sua extensão, especialmente em seus finais. Isto evitará, por exemplo, que não sejam pronunciados os “s” dos plurais das palavras.
  7.  Variar o timbre ou o tom da voz. – A leitura eficaz deve ser como que teatralizada, isto é, os “personagens” que possam estar presentes na leitura devem ser lidos com pequena variação na entonação ou no timbre da voz, de tal forma que a audiência possa entender bem o diálogo que esteja sendo lido.
  8.  A leitura deve ser VIVA! – O leitor deverá ler de tal forma que o ouvinte receba a mensagem com naturalidade, isto é, a entonação não deve ser afetada, mas de acordo com a maneira com que a comunicação verbal ocorre na vida prática.  Sendo uma entonação diferente do costumeiro, por exemplo, uma entonação de interrogação exclamativa quando, na realidade, deveria ser uma simples interrogação expressando dúvida normal, provoca estranheza no ouvinte e pode, inclusive, desviar sua atenção do conteúdo da mensagem sendo lida.
  9.  Ler no ritmo certo, nem com pressa e nem devagar demais. – A leitura deve ser feita no ritmo da conversação normal das pessoas. Uma leitura muito pausada, entremeada por trechos de silêncio desnecessários é cansativa e desrespeita a capacidade mental do ouvinte, que é capaz de entender uma mensagem verbal sendo emitida com velocidade normal. Já a leitura muito rápida demonstra nervosismo do leitor – que parece desejar terminar sua tarefa o quanto antes! – e compromete a compreensão do ouvinte por ser uma mensagem emitida em velocidade pouco natural.
  10.  Ler sem preconceito! – Ler o texto estando atento a pronunciar as palavras que estão, de fato escritas, e não aquelas que vêm à mente preconceituosamente. Isto acontece quanto o leitor lê uma palavra que é parecida, na pronúncia ou na escrita, com a palavra verdadeiramente impressa, mas que pode ser totalmente diferente no sentido, comprometendo totalmente a compreensão do texto lido. Exemplos: está escrito “estrado” e se lê “estrago”; “epístola” e se lê “e pistola”...

Tendo-se em conta essas dicas e dispondo-se a exercitar a leitura como sugerido, e fazendo-se, sempre, uma leitura prévia bem atenta, buscando-se o verdadeiro sentido do texto e de suas palavras, e a entonação correta das frases, a leitura em público resultará de qualidade muito superior à média das leituras feitas sem esses cuidados. Qualquer um pode-se tornar um bom leitor. Tudo é questão de uma boa orientação (como as dicas acima), de seriedade no seu seguimento, e de aproveitamento de toda oportunidade para a vivência prática da leitura.

Uilso Aragono, abril de 2012.

sexta-feira, 30 de março de 2012

QUARESMA – UM TEMPO LITÚRGICO MÓVEL E SEU SIGNIFICADO


A Quaresma é um período de quarenta dias em que os católicos são incentivados e orientados pela Igreja a fazerem, com mais dedicação, três exercícios espirituais – esmola, jejum e oração – em preparação à grande festa da Páscoa cristã.

ORIGEM DA QUARESMA

Esse tempo propício à conversão e à penitência é baseado no número quarenta por estar este número associado a alguns eventos muito significativos na história sagrada. O povo hebreu, guiado por Moisés, passou quarenta anos em peregrinação no deserto, em direção e de volta à terra prometida. Moisés ficou quarenta dias e quarenta noites no monte Sinai, quando então, recebeu as tábuas da Lei diretamente das mãos de Deus. Jesus passou quarenta dias e quarenta noites no deserto, como experiência espiritual na sua preparação para o início da sua vida pública, tendo sido tentado pelo diabo no momento em que sentia fome e sede. Outros eventos ligados ao número quarenta ainda existem e podem ser conferidos na Bíblia. Particularmente esse período de quarenta dias de Jesus no deserto, com significado de retiro espiritual, com muito jejum e oração, pode ser considerado como a origem litúrgica da Quaresma.

ORIGEM DA PÁSCOA

Os hebreus, depois que retornaram à terra prometida, a Palestina, começaram a celebrar a grande festa da Páscoa, que significa “passagem”: da vida de opressão e morte no Egito à vida de liberdade na sua própria terra. Eles escolheram o início do ano no seu calendário lunar, que coincide, também, com o início da primavera no hemisfério norte, o que correspondia ao dia 14 do mês de Nissan. Esse dia corresponde, também, ao chamado equinócio da primavera, quando o dia, que durava menos do que a noite durante o inverno, agora igualava a noite e, a partir de então, cresceria até tornar-se bem maior que a noite, durante o verão. Ora, este simbolismo remetia à consciência de que as trevas foram superadas pela luz, que a vida em liberdade vencera a morte na escravidão do Egito. Nesse dia, ainda, ocorria, sempre, a Lua cheia, já que o calendário hebraico era e continua a ser um calendário lunar, isto é, cada mês é de 28 dias, correspondente aos 28 dias de rotação da Lua em torno da Terra. O dia 14 de Nissan era, portanto, pleno de significado religioso para o povo hebreu, que a partir desse dia comemorava aquela importante festa da Páscoa, num período de Lua cheia e luminosidade noturna bem maior que noutros dias, e com dias cada vez mais longos que as noites.

Os católicos, tendo em vista todo o simbolismo e toda a tradição do povo hebreu na celebração de sua Páscoa, aproveitaram esse mesmo simbolismo para aplicá-lo à Páscoa cristã. Afinal, à semelhança da Páscoa judaica, a ressurreição de Jesus marca para nós a Páscoa cristã, isto é, a passagem de Jesus da escravidão da morte para a liberdade da vida gloriosa, tendo a morte sido definitivamente derrotada pela Sua ressurreição.

DATA MÓVEL PARA A PÁSCOA

O aproveitamento da data dos hebreus (14 de Nissan) não era viável, visto que o calendário ocidental é solar e não seria possível, portanto, ter-se um dia fixo para a Páscoa cristã. No entanto, o período simbólico do equinócio da primavera, quando o dia iguala-se à noite e começa a tornar-se gradativamente maior que esta, foi aproveitado e a Lua cheia passou a ser uma referência importante para a determinação do dia do domingo da Páscoa. Este ficou determinado como sendo o primeiro domingo logo depois da primeira Lua cheia do início da primavera no hemisfério norte (ou do outono no hemisfério sul), ou o próprio domingo, se a primeira Lua cheia caísse num domingo.

Já tendo o domingo como o Dia do Senhor, isto é, todo domingo é, teologicamente falando, o domingo da ressurreição, a Igreja houve por bem determinar a Quaresma – período que precede o domingo da Páscoa – como sendo constituída pelos quarenta dias anteriores, mas sem contar os domingos. Estes, por si só, são sempre domingos de alegria e festa: domingos de ressurreição. Ora, seis semanas antes do domingo da Páscoa, sem contar os domingos, dão trinta e seis dias, contando ainda, para trás, o sábado, a sexta e a quinta, chega-se à quarta-feira de cinzas, completando-se quarenta dias. O Carnaval, outra festa móvel, resulta no dia anterior, a terça-feira.

Se este cálculo procede, então a Quaresma é o período de quarenta dias (sem contar os domingos) que vai da quarta-feira de cinzas até o sábado de aleluia, o dia anterior ao domingo da Páscoa. Portanto, argumentos que dizem que a Quaresma termina ou no domingo de ramos ou na quinta-feira santa, não fazem sentido.

PARA BEM VIVER A QUARESMA

Quando a Igreja propõe aos seus fiéis um período mais propício a um retiro espiritual, marcado por jejum, oração e esmola, não está tanto querendo colocar ênfase no sofrimento como meio de purificação e perdão de pecados. Está, sim, mais preocupada com o fato de que os cristãos precisam, dada a própria condição humana – marcada pelo sofrimento nas várias dimensões da vida – exercitar a solidariedade com aqueles irmãos mais sofridos em nossa sociedade. Pelo jejum, o cristão se volta para si mesmo, buscando o seu autodomínio; pela oração, ele se volta humildemente para seu Deus; pela esmola, o cristão se volta para o seu semelhante, para o seu próximo, num exercício mais prático de solidariedade e partilha. A Igreja acredita que tais exercícios têm muito a contribuir para o crescimento espiritual dos fiéis. E este crescimento terá como consequências a santificação da própria Igreja e, por seu intermédio, a santificação do mundo.

Os fieis, para bem viverem esse riquíssimo retiro quaresmal, devem conscientizar-se de que os exercícios propostos valem a pena e não devem ser vividos somente durante a Quaresma, mas, especialmente, nesse período. Os exercícios quaresmais devem fortalecer os cristãos para os desafios da própria vida cristã ao longo de todo o ano, não se limitando apenas ao período da Quaresma. Esse período litúrgico, finalmente, visa a colocar o cristão, uma vez por ano, em sintonia fina com o seu Mestre, Senhor e Salvador, Jesus Cristo, especialmente naquilo em que consistiu sua Missão: a redenção dos pecados pela sua paixão, sua morte e sua gloriosa ressurreição.

Uilso Aragono, março/2012

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Aborto, absurdo aborto!


É impressionante como os defensores do aborto conseguem defender algo indefensável, do ponto de visto ético! Eles defendem a matança generalizada de bebês – ou de fetos ou de embriões, como eles preferem dizer –, apenas com base na “vontade da gestante até a 12ª semana da gestação”, conforme se pode ler na indecente proposta de alteração do Código Penal que ora é encaminhada pelos abortistas.

Enquanto o sábio Código Penal ainda em vigor expressa, em seu artigo 128, que “não se pune o aborto praticado por médico...” (o grifo é nosso) nos casos excepcionais de risco à vida da gestante e estupro, a proposta dos defensores da descriminalização do aborto, no seu correspondente artigo 128, utiliza a expressão “Não há crime se...” envolvendo, além dos dois casos citados, a anencefalia e a “vontade da gestante”!... Uma coisa é não se punir algo que é crime, mas por uma justificativa aceitável pela sociedade não deve ser “punido”; outra coisa é querer, simplesmente, dizer que não é crime o que na própria proposta deles é associado a crime e punição (ver os artigos 125 a 127). Não há qualquer sabedoria nisto, ao contrário, apenas insanidade, já que ora o aborto é crime, ora não é crime em função de algumas circunstâncias particulares. É como se a Lei pudesse afirmar que assassinato é crime, num artigo, e no seguinte dizer que assassinato não é crime se for cometido contra um “bandido perigoso”... Ora, assassinato é ou não é crime! Mas pode haver situação em que um crime não acarrete punição por uma ou outra razão, como prevê o Código Penal ainda em vigor. Um outro exemplo dessa não punição é o roubo praticado por uma pessoa em relação a seus pais. Diz a Lei que tal crime (roubo) não é passível de punição nesse caso, o que faz todo o sentido, uma vez que o que pertence aos pais, de certa forma, pertence aos filhos – na medida em que pais e filhos convivem e se beneficiam dos recursos financeiros da família –, ou lhes pertencerá como herança.

A defesa do aborto é um absurdo, visto que é matar um ser humano em potencial, numa situação totalmente vulnerável e de dependência absoluta de um outro corpo humano que lhe serve de lugar de gestação, como ocorreu para todo o ser humano vivente. Ninguém deixou de passar por essa fase que foi, ao mesmo tempo, fundamento essencial para o desenvolvimento de todo o nosso corpo atual, como, também, uma fase maravilhosa e quase milagrosa, na medida em que habitávamos o corpo da mãe e essa não precisava fazer praticamente nada de especial para que nosso corpo seguisse seu caminho de desenvolvimento vital. O corpo do bebê é apenas um hóspede no corpo feminino. Assim a Mãe Natureza decidiu.

Os abortistas, em nome de um falso feminismo, vêm propor que o aborto seja um “direito da mulher”: ela teria direito a decidir o que fazer com o seu corpo. Sim, com o seu corpo, até certo ponto, tudo bem! Mas não com o corpo de uma outra pessoa humana (mesmo que em potencial) apenas habitando, por um breve tempo, o interior do seu corpo feminino, porque assim acontece com todos nós! O bom senso nos leva a questionar, até mesmo, se uma mulher – ou qualquer pessoa – tenha o direito de fazer o que quiser com seu corpo. Sabe-se que a Lei não permite que um cidadão venda partes de seu corpo, um rim, por exemplo. Entende-se, facilmente, que ninguém deixaria uma pessoa em desespero se matar: qualquer amigo ou parente interviria, naquele momento, para impedir que a pessoa fizesse tal loucura. Portanto, que história mal contada é essa de que a mulher tem direito a fazer com o seu corpo o que quiser?... É uma falácia, isto é, uma mentira com aparência, com casca, com fantasia de verdade! E muito menos verdade será a afirmativa de que tal direito inclua a decisão de matar um corpo humano – por menor que seja o embrião, ele é verdadeiramente um ser humano em vias de tornar-se um bebê!

O verdadeiro feminismo é aquele que defende a dignidade da mulher nas suas relações de trabalho, afetivas e políticas em meio a uma sociedade predominantemente machista e, por isso, cerceadora das liberdades e dos direitos femininos. Este feminismo verdadeiro jamais defenderá o aborto, até mesmo porque o desejo de ser mãe é algo tão natural e tão profundo e realizador para a mulher, que esta, somente enganada em sua consciência e manipulada em seu possível desespero social, admitiria o assassinato daquele seu futuro bebê. E estudos científicos têm sugerido que mulheres que se submeteram a aborto passam a sofrer de sérios problemas psicológicos, antes inexistentes, a denominada síndrome pós-aborto. Isto significa: uma vida com menos saúde e menos equilíbrio emocional.

Voltando às particularidades da proposta de alteração do Código Penal, que visa a descriminalizar o aborto, algumas considerações devem ser feitas.

1º) Enquanto a atual Lei fala, em seu artigo 128, que “Não se pune o aborto praticado por médico: I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante”, o artigo 128 da nova proposta expressa que “Não há crime: I – se houver risco à vida ou à saúde da gestante”. Ora, vê-se que há uma diferença enorme entre falar em salvaguardar a vida da gestante e apontar para “risco à vida ou à saúde” da gestante. Riscos existem em tudo o que se faz na vida. Há apenas graduação de riscos: grandes, médios ou pequenos riscos. Os médicos costumam dizer que uma cirurgia apresenta um percentual de 10% de risco de vida, isto é: 10% de chances de que pessoa venha a óbito em virtude dos riscos próprios da cirurgia. Falar, portanto, no âmbito de uma Lei, em “risco à vida”, um termo tão genérico e ambíguo, é querer, maliciosamente, incluir uma válvula de escape para justificar todo aborto: como sempre haverá “risco” em qualquer situação vital – inclusive numa gestação – será fácil incluir todo e qualquer aborto nesse inciso: “se houver risco à vida ou à saúde da gestante”... E veja-se que a proposta indecente e maliciosa dos abortistas reconhece, nos seus artigos 125 a 127, que o aborto é crime. Este artigo 128, já no seu primeiro inciso vem, maliciosamente, permitir que o aborto, na prática, nunca seja crime!

2º) No inciso II do artigo 128, ainda sob consideração, enquanto o Código Penal expressa que “Não se pune o aborto praticado por médico: II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”, o correspondente inciso II da proposta abortista fala, de forma, mais uma vez, maliciosamente genérica, que “Não há crime: II – se a gravidez resulta de violação da dignidade sexual, ou do emprego não consentido de técnica de reprodução assistida”. Ora, deve-se perguntar: o que significa essa expressão, tão genérica e indefinida, dita “dignidade sexual”? O que é isto?... Dignidade humana, dignidade no agir, dignidade de um cargo, são expressões que fazem sentido. Mas “dignidade sexual”? Que conceito mais ambíguo e disparatado é este? para constituir uma lei!... Por que não usaram a expressão consagrada, “estupro”, como o faz a legislação em vigor?

3º) A nova proposta de alteração dos abortistas, não satisfeita com a amplidão de conceitos difusos – que é favorável, felizmente, aos que lutam pela vida e contra o aborto, pela sua completa estupidez jurídica – ainda inclui no inciso III, a polêmica “anencefalia” como fator permissível ao aborto. Ora, mesmo nesta situação aparentemente aceitável, muitos fatos já atestam que famílias que não abortaram fetos anencéfalos testemunharam, durante a breve vida do bebê, sentimentos de muita paz, de muita dignidade humana! Uma anencefalia pode caracterizar um bebê “portador de necessidade especial” – por que não? É apenas uma caso mais radical de necessidade, já que a criança tem necessidade de um cérebro que funcione normalmente, o que não acontecerá, e o levará à morte prematura e rapidamente.

4º) Finalmente, incluem ainda o inciso IV, já comentado brevemente no início deste artigo, que afirma: “Não há crime se: IV – por vontade da gestante até a 12ª semana da gestação, quando o médico constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas de arcar com a maternidade”. Tal inciso é total e duplamente descabido, primeiro pelo fato de atribuir à mulher o “poder” de decidir se um futuro ser humano (o embrião ou o feto) vai viver ou morrer – “por vontade da gestante” –, segundo pelo fato de atribuir a médicos um “poder” que incontestavelmente não têm – já que não são psicólogos – qual seja, a capacidade de avaliar as condições psicológicas da mulher, ainda mais em relação à “maternidade”, conceito que inclui aspectos os mais diversos, e para além do mero equilíbrio psicológico, tais como condições financeiras, familiares, educacionais, culturais etc. Que médico, por mais bem formado, e por mais conhecimentos psicológicos que tenha – e que, de fato, muitos têm – poderá fazer tal avaliação em relação a uma gestante? Mais uma vez, uma tentativa de relativar a questão, de tal forma que qualquer aborto seja justificado e, portanto, não seja crime.

O objetivo da proposta de alteração do Código Penal brasileiro é, sem dúvida, descriminalizar totalmente o aborto. Mas maliciosamente e para enganar os incautos, procura preservar três artigos que formalmente criminalizam o aborto, mas que são totalmente eliminados pela amplidão relativista do artigo 128. Que nossos juristas e legisladores tenham o mínimo de inteligência e de bom senso para perceber a armadilha em que cairão e em que levarão o Brasil se aprovarem tal proposta despudorada, maliciosa, falaciosa, escandalosa e, isto sim, um verdadeiro crime de lesa pátria!

Uilso Aragono (28/fev/2012)

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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