quinta-feira, 30 de setembro de 2021

MILAGRES ORIGINAIS DE JESUS NOS EVANGELHOS – PARTE IV

 Este artigo pretende apresentar a quarta parte (de um total de 5) dos milagres aqui chamados “originais”, isto é, não repetidos, relatados nos 4 evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Escrevi vários outros artigos apresentando todos os milagres descritos pelos 4 evangelistas, fazendo pequenos comentários e ressaltando aqui e ali algumas comparações entre milagres que se repetiam com versões ligeiramente ou bastante diferentes. Foram identificados 120 milagres no total. Eliminando-se aqueles que se repetiam, mantendo-se apenas um representante dos repetidos, resultaram 71 milagres ditos “originais” (não repetidos).

  43. JESUS EXPULSA UM DEMÔNIO MUDO: Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. Mas alguns disseram: “É por meio de Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios” (Lc 11, 14-15).Que observação mais absurda e preconceituosa e invejosa é essa que acusa Jesus de estar expulsando os demônios em nome de Belzebu! Pois aqueles que assim falaram poderiam ter, igualmente, reconhecido que havia sido pelo Poder de Deus que Ele expulsava os demônios. O fato de atribuir ao príncipe dos demônios o exorcismo realizado por Jesus mostra a inveja, a rejeição e a má vontade para aceitar o novo Profeta e suas curas. Que pecado horroroso esse de um coração fechado! É este pecado que Jesus, em outra parte do Evangelho, vai classificar como o pecado contra o Espírito Santo (um coração fechado a Ele).

 

    44. JESUS CURA UMA MULHER ENCURVADA, EM DIA DE SÁBADO: Jesus estava ensinando numa sinagoga em dia de sábado. Havia aí uma mulher que, fazia dezoito anos estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e incapaz de se endireitar. Vendo-a, Jesus dirigiu-se a ela e disse: “Mulher, você está livre da sua doença”. Jesus colocou as mãos sobre ele, e imediatamente a mulher se endireitou e começou a louvar a Deus. O chefe da sinagoga ficou furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado. E tomando a palavra começou a dizer à multidão: “Há seis dias para trabalhar. Venham, então, nesses dias e sejam curados, e não em dia de sábado”. O Senhor lhe respondeu: “Hipócritas! Cada um de vocês não solta do curral o boi ou o jumento para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? Aqui está uma filha de Abraão que Satanás amarrou durante dezoito anos. Será que não deveria ser libertada dessa prisão em dia de sábado?” (Lc 13,10-15). – Esta passagem, exclusiva de Lucas, nos mostra um Jesus misericordioso, bem diferente da dureza de coração dos religiosos da época. Pode-se perguntar: Vem a Lei antes da Misericórdia? Jesus responde que não. É o contrário. A Misericórdia é o próprio Deus! Ele, portanto, vem antes da Lei. Precisamos, em tudo, sermos misericordiosos como Jesus, e antes de toda e qualquer lei que possa estar impedindo essa ação de amor.

 

   45. CURA EM DIA DE SÁBADO: Num dia de sábado, aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus que o observavam. Havia um homem hidrópico diante de Jesus. Tomando a palavra, Jesus falou aos especialistas em leis e aos fariseus: “A Lei permite ou não permite curar em dia de sábado?”. Mas eles ficaram em silêncio. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e o despediu. Depois disse a eles: “Se alguém de vocês tem um filho ou um boi que caiu num poço não o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?”. E eles não foram capazes de responder a isso (Lc 14, 1-6). – De novo, como na passagem anterior, Lucas nos mostra Jesus curando um doente – neste caso com uma doença bem definida: a hidropisia (excesso de líquido em alguma parte do corpo. E era um dia de sábado, que, para os judeus, era (e ainda é) um dia de descanso, onde qualquer ‘trabalho’ era proibido. Na passagem anterior, Jesus lembrou que eles soltavam os animais para que fossem beber água, mesmo em dia de sábado. E, agora, desafia-os com a possibilidade de um filho ou um animal caído em um poço: não iriam eles logo tirá-lo do poço? Isto lhes mostra – e a nós – que o dia do descanso (sábado) ou o dia do Senhor (domingo, para nós, católicos) é, sobretudo, um dia dedicado ao Senhor. E o que mais agrada ao nosso Deus do que a vivência da caridade, da misericórdia, do amor concreto? Agir com misericórdia não infringe a Lei do sábado, mas agir sem misericórdia, sim: infringe a Lei maior do Amor: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo...

 

 46. JESUS CURA DEZ LEPROSOS: Caminhando para Jerusalém, aconteceu que Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos foram ao encontro dele. Pararam de longe e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”. Ao vê-los, Jesus disse: “Vão apresentar-se aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. Ao perceber que estava curado, um deles voltou atrás dando glória a Deus em alta voz. Jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu. E este era um samaritano. Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?”. E disse a ele; “Levante-se e vá. Sua fé o salvou” (Lc 17, 11-19). – Passagem sem paralelo exato com os demais evangelhos, mostra-nos um Jesus que não se negava a fazer curas milagrosas. Mas este texto mostra, sobretudo, que os judeus, embora povo escolhido por Deus, estava falhando em dar lhe glória e ações de graças pelos benefícios do Senhor. E, justamente, um samaritano, um estrangeiro e objeto de todo desprezo e preconceito por parte dos judeus, é quem vem agradecer e dar glória a Deus pelos seus benefícios! Não sejamos mal agradecidos! Mas elevemos a Deus, em tudo, nossas mãos, em ação de graças pela vida e por Seus dons e benefícios.

 

47. O CEGO DE GERICÓ: Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava acontecendo. Disseram-lhe que Jesus Nazareno passava por ali. Então o cego gritou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse quieto, mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade d mim!”. Jesus parou e mandou que levassem o cego até ele. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: “O que quer que eu faça por você?”. O cego respondeu: “Senhor, eu quero ver de novo!”. Jesus disse: “Veja. A sua fé curou você”. No mesmo instante, o cego começou a ver e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo louvava a Deus (Lc 18, 35-43). – Este episódio tem paralelo com Mateus (20,29-34) e com Marcos (10,46-52). Mais uma vez, Jesus tem misericórdia e não se nega a curar o doente. E mais uma vez Ele, humildemente, atribui à fé do doente a sua cura. Sabemos que Jesus pode curar, independentemente da nossa fé. Mas Ele faz questão de ressaltar que a fé nos faz dóceis à ação do Espírito de Deus. E, estando nessa situação de confiança, Deus nosso Pai não se nega a dar-nos aquilo que nos fará bem ou que fará bem à comunidade dos Seus filhos.

 

48. JESUS PREVÊ UM JUMENTINHO AMARRADO: Quando Jesus se aproximou de Betfagé e de Betânia, perto do chamado monte das Oliveiras, enviou dois discípulos, dizendo: “Vão até o povoado em frente. Quando vocês entrarem aí, vão encontrar, amarrado, um jumentinho que nunca foi montado. Desamarre o animal e o tragam. Se alguém lhes perguntar: ‘Por que vocês o estão desamarrando?’ vocês responderão: ‘Porque o Senhor precisa dele’”. Os discípulos foram e encontraram as coisas como Jesus havia dito (Lc 19, 29-32). – Este episódio, também narrado em Mateus (21,1-4), e em Marcos (11, 1-4), embora não seja um “milagre” como os anteriores, não deixa de ser uma manifestação quase milagrosa, na medida em que não é natural, pelo ser humano, a previsão de coisas futuras (mesmo de um futuro próximo, como é o caso). É mais uma manifestação sobrenatural (ou preternatural, no mínimo) do “Filho do Homem”, como Jesus gostava de se chamar. E demonstra, ainda, que Jesus era reconhecido como o “Senhor” – título normalmente atribuído a Deus – pelos moradores de Jerusalém.

  

   49. JESUS PREVÊ ONDE COMERÁ A PÁSCOA: Chegou o dia dos Ázimos, em que se matavam os cordeiros para a Páscoa. Jesus mandou Pedro e João, dizendo: “Vão, e preparem tudo para comermos a Páscoa”. Eles perguntaram: “Onde queres que a preparemos?”. Jesus respondeu: “Quando vocês entrarem na cidade, um homem carregando um jarro de água virá ao encontro de vocês. Sigam-no até a casa onde ele entrar e digam ao dono da casa: “O Mestre manda dizer: ‘Onde é a sala em que eu e os meus discípulos vamos comer a Páscoa?’. Então ele mostrará para vocês, no andar de cima, uma sala grande, arrumada com almofadas. Preparem tudo aí”. Os discípulos foram e encontraram tudo como Jesus havia dito. E prepararam a Páscoa (Lc 22, 7-13). –  Este episódio, como o anterior, também é narrado por Mateus (26,17-19) e Marcos (12-16). E como no episódio anterior, também pode ser considerado um ‘quase milagre’, já que não é natural, aos homens, prever o futuro (mesmo que próximo) com tanta precisão. É mais uma manifestação poderosa do Senhor, que é reconhecido pelos habitantes de Jerusalém como sendo o Mestre, pois o dono da casa, sem qualquer questionamento lhe cedeu a sala superior (normalmente conhecida pelos cristãos como Cenáculo) para a Sua Páscoa.

 

50. JESUS PREVÊ A NEGAÇÃO DE PEDRO: “Simão, Simão! Olhe que Satanás pediu permissão para peneirar você como trigo. Eu, porém, rezei por você para que a sua fé não desfaleça. E você, quanto tiver voltado para mim, fortaleça os seus irmãos.” Mas Simão falou: “Senhor, contigo estou pronto para ir até mesmo para a prisão e para a morte!”. Jesus, porém, respondeu: “Pedro, eu lhe digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes você negará que me conhece.” (Lc 22,31-34). – Este episódio tem paralelo com os evangelistas Mateus (26, 30-35), Marcos (14,26-31) e João (13, 36-38). Aqui, verifica-se, mais uma vez, que Jesus tem o poder da precognição (como se diz na Parapsicologia): Ele prediz a negação de Pedro, mesmo contra a contestação do próprio Pedro, que lhe garante sua fidelidade até a morte! E tudo acontece conforme a palavra de Jesus! É, praticamente, um milagre! Como pode alguém prever, com tanta precisão (“...antes que o galo cante, três vezes me negará...”) o futuro? Só acreditando numa manifestação sobrenatural, pois Deus conhece tudo!

 

 51. JESUS CURA O ORELHA DE UM OFICIAL: Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus disseram: “Senhor, vamos atacar com a espada?”. E um deles feriu o empregado do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus ordenou: “Parem com isso!”. E tocando a orelha do homem, curou-o (Lc 22, 49-51). – Em paralelo a este episódio encontram-se os textos de Mateus (26-51-52), Marcos (14,47) e João (18, 10-11) – sendo que os dois últimos não citam a cura da orelha, realizada por Jesus. Mas Lucas e Mateus declaram a cura imediata da orelha decepada pela espada de um dos discípulos. Se tal evento ocorreu, a cura, então, mais uma vez, Jesus exerceu sua misericórdia costumeira e curou até mesmo um de seus algozes. Qual terá sido a reação desse soldado ao ter uma orelha decepada e, imediatamente, tê-la de volta, curada? Certamente Jesus sabia que nem o próprio beneficiado e nem os que o acompanhavam, testemunhas oculares, estariam em condições de qualquer conversão à fé no Filho do Homem. Porque eram soldados ou funcionários totalmente submetidos à autoridade do Sumo Sacerdote e dos doutores da Lei. Não eram, provavelmente, pessoas do povo, que tinham a oportunidade de seguir um rabino, um profeta ou um líder qualquer.

 

   52. A CORTINA DO SANTUÁRIO RASGA-SE AO MEIO: Já era mais ou menos meio-dia, e uma escuridão cobriu toda a região até as três horas da tarde, pois o sol parou de brilhar. A cortina do santuário rasgou-se pelo meio. Então Jesus deu um forte grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.”. Dizendo isso, expirou. O oficial do exército viu o que tinha acontecido e glorificou a Deus, dizendo: “De fato! Este homem era justo!”. E todas as multidões que estavam aí, e que tinham vindo para assistir, viram o que havia acontecido e voltaram para casa batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, assim como as mulheres que o acompanhavam desde a Galileia, ficaram a distância, olhando essas coisas (Lc 23, 44-49).  Escuridão, cortina rasgando-se ao meio... Sinais maravilhosos que acompanharam a morte do Filho de Deus! A escuridão pode ser interpretada como uma manifestação da natureza contra a injustiça e a maldade humana, que não quis aceitar o Justo, o Redentor. A cortina rasgada do Templo, que separava os sacerdotes do Santo dos Santos (onde só entrava um único sacerdote, por sorteio, como aconteceu com Zacarias; cf. Ex 26, 31s) pode significar que a separação existente entre os homens e Deus – em função dos grandes pecados de toda a humanidade! – já não mais existia: a expiação dos pecados do mundo já terá acontecido; o mundo estava redimido diante de Deus. Deus se humanizara para que o homem se divinizasse!... Além disso, pode-se entender que o velho culto mosaico estivesse sendo superado: nascia uma nova era cristã.

 

   53. A PEDRA DO TÚMULO FOI REMOVIDA: No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo de Jesus levando os perfumes que haviam preparado. Encontraram a pedra do túmulo removida. Mas, ao entrar, não encontraram o corpo do Senhor Jesus e ficaram sem saber o que estava acontecendo. Nisso, dois homens, com roupas brilhantes pararam perto delas. Cheias de medo, elas olhavam para o chão. No entanto, os dois homens disseram: “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou! (Lc 24, 1-6a). – Quem teria retirado a grande pedra que fora posta à entrada do túmulo de Jesus? Teriam sido esses dois “anjos” que apareceram às mulheres e que lhes anunciaram que Jesus ressuscitara? É possível. O fato é que não havia mais pedra tampando a entrada do túmulo e nem mais o corpo do Senhor!  Mais um milagre “post-mortem” do Senhor! Para quem é o Filho de Deus, nada é impossível! Não somente Jesus ressuscitou, deixando o túmulo aberto, como deixou, também, os panos que o enfaixavam: o grande lençol, em peça única, de mais de 4 metros, que envolveu o corpo do Senhor e que hoje é venerado e chamado de Santa Síndone ou Santo Sudário! Mais um milagre: pois é o objeto cristão mais estudado cientificamente e continua encantando e provocando admiração nos cientistas, que não conseguem explicar a origem da imagem lá presente, como em um negativo de filme fotográfico.

 

    54. JESUS SE OCULTA E SE MOSTRA AOS DISCÍPULOS DE EMAÚS: Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram com Jesus, dizendo: “Fica conosco pois já é tarde e a noite vem chegando”. Então Jesus entrou para ficar com eles. Sentou-se à mesa com os dois, tomou o pão e abençoou-o, depois o partiu e deu a eles. Nisso os olhos dos discípulos se abriram, e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles (Lc 24, 28-31). – Jesus, algumas vezes, depois da sua Ressurreição, aparece aos discípulos sob forma humana, mas com aparência diversa daquela conhecida por eles. Neste episódio, acontece o mesmo: os discípulos de Emaús conversavam com uma pessoa desconhecida. Esta já é uma manifestação miraculosa do Senhor. E ele se mostra a eles fazendo mais um milagre: abrindo-lhes os olhos durante a “Fração do Pão” (que é a Eucaristia). Podemos tirar uma importante lição: o Senhor nos abre os olhos da fé – se estivermos preparados ouvindo-o, adorando-o, louvando-o! – diante de toda a Eucaristia! Procuremos, sempre, “ver” Jesus ao ajoelharmo-nos, com fé e bem preparados espiritualmente, diante do milagre eucarístico de cada Missa!

 

   55. JESUS APARECE NO MEIO DOS DISCÍPULOS: Então os dois discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o pão. Ainda estavam falando, quando Jesus apareceu no meio deles e disse: “A paz esteja com vocês”. Espantados e cheios de medo, pensavam estar vendo um espírito. Então Jesus disse: “Por que vocês estão perturbados, e por que o coração de vocês está cheio de dúvidas? Vejam minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo. Toquem-me e vejam: um espírito não tem carne e ossos, como vocês podem ver que eu tenho.”. E dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles ainda não estivessem acreditando, por causa da alegria e porque estivessem espantados, Jesus disse: “Vocês têm aqui alguma coisa para comer?”. Eles ofereceram a Jesus um pedaço de peixe grelhado. Jesus pegou o peixe e o comeu diante deles (Lc 24, 35 – 42). – É maravilhoso como o Senhor tem misericórdia de nossa humanidade tão incrédula! Aparece, desta vez, como era conhecido pelos discípulos, mostra-lhes as mãos e os pés e constata, ainda, a sua incredulidade! Diante disso, resolve pedir algo para comer! Pois, definitivamente, um espírito não pode comer algo tão material como comida: e Ele come o peixe diante deles! Que milagre! Jesus fora morto, aparece vivo, e come diante dos discípulos para lhes abrir os olhos da fé, de forma muito humana. Além disso, não deixará de lhes enviar o Espírito Santo para lhes abrir, definitivamente, a mente, o coração e a fé para as realidades espirituais, que são muito mais poderosas do que todas as realidades mundanas...

 

  56. O ESPÍRITO SANTO DESCE SOBRE JESUS: E João testemunhou: “Eu vi o Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre ele. Eu também não o conhecia. Aquele que me enviou para batizar com água, foi ele quem me disse: ‘Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e pousar, esse é quem batiza com o Espírito Santo’. E eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus” (Jo 1, 32-34). – A descida do Espírito Santo, de forma visível, sobre Jesus, e testemunhada por João Batista, não deixa de ser um verdadeiro milagre: João fora avisado e esperava que isso fosse acontecer; e ocorreu como ele esperava! E não teve dúvidas de que a pomba que desceu e pousou sobre Jesus, após este ser batizado, estivesse representando a presença real do próprio Espírito Santo!  E também não teve dúvidas em proclamar: “Este é o Filho de Deus!”. Este episódio é citado, de forma diferente, pelos evangelistas Mateus (3, 16-17), Marcos (1, 9-11) e Lucas (3, 21-22); nesses últimos, uma voz é ouvida pelos presentes: “Tu és meu Filho amado! Em ti encontro o meu agrado!”. Essas variações, ou diferenças, entre os evangelhos, para além de colocar em dúvida o episódio realmente acontecido, na verdade o valoriza, pois mostra que não são cópias uns dos outros, mas testemunhos autênticos de autores diversos, narrando o acontecimento conforme cada um teve a oportunidade de recebê-lo das fontes (orais ou escritas) disponíveis à sua época. E mostra também com o Autor Sagrado é iluminado pelo Espírito de Deus, mas sua memória, sua mentalidade é respeitada, na medida em que a realidade essencial seja preservada.


   57. JESUS MUDA A ÁGUA EM VINHO: No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava aí. Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos. Faltou vinho e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho!”. Jesus respondeu: “Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou”. A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo: “Façam o que ele mandar”. Havia aí seis potes de pedra de uns cem litros cada um, que serviam para os ritos de purificação dos judeus. Jesus disse aos que serviam: “Encham de água esses potes”. Eles encheram os potes até a boca. Depois Jesus disse: “Agora tirem e levem ao mestre-sala”. Então levaram ao mestre-sala. Este provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água. Então o mestre-sala chamou o noivo e disse: “Todos servem primeiro o vinho bom e quando os convidados estão bêbados servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora!” (Jo 2, 1-10). – Este é considerado o primeiro milagre de Jesus ou também chamado a autorrevelação de Jesus nas bodas de Caná. É considerado o primeiro também porque a descida do Espírito Santo (milagre anterior) não é considerada um evento portentoso e que tenha afetado a vida das pessoas, como é o caso de Caná. Seja como for, é a primeira manifestação pública de poder de Jesus e que fez com que seus discípulos “acreditassem nele” (Jo 2, 11c). Aqui aparece, claramente, o poder de Maria, Mãe de Jesus, como intercessora junto a Seu Filho: foi Ela quem se interessou pelo problema dos anfitriões, surgido pela falta do vinho, e quem pediu a Jesus que tomasse uma providência, confiante, no poder que Jesus tinha para resolver tal problema. E se Jesus, aparentemente, a trata com desprezo (“Mulher, o que existe entre nós”(Jo 2,4) ou “... o que queres de mim, mulher?”, numa outra versão), chamando-a de “mulher” e não de “mãe”, como seria de se esperar, muitos exegetas (intérpretes dos textos bíblicos) já interpretaram o uso deste termo “mulher”, pelo autor do texto, como se referindo, simbolicamente, à nova Eva: se pela primeira mulher veio o pecado original para toda a humanidade, pela nova “mulher”, a nova Eva, vieram a graça e a salvação para todos. Este termo, portanto, tem um alcance profético muito maior do que teria se Jesus a chamasse de “mãe”. E o autor vai utilizá-lo, novamente, quando Jesus, na cruz, se refere a Maria: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19, 26b).

Uilso Aragono (Set./2021).

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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