Este artigo
pretende apresentar a quinta parte (de um total de 5) dos milagres aqui
chamados “originais”, isto é, não repetidos, relatados nos 4 evangelhos de
Mateus, Marcos, Lucas e João. Escrevi vários outros artigos apresentando todos
os milagres descritos pelos 4 evangelistas, fazendo pequenos comentários e
ressaltando aqui e ali algumas comparações entre milagres que se repetiam com
versões ligeiramente ou bastante diferentes. Foram identificados 120 milagres
no total. Eliminando-se aqueles que se repetiam, mantendo-se apenas um
representante dos repetidos, resultaram 71 milagres ditos “originais” (não
repetidos).
44. JESUS CURA UMA MULHER ENCURVADA, EM DIA DE SÁBADO: Jesus estava
ensinando numa sinagoga em dia de sábado. Havia aí uma mulher que, fazia
dezoito anos estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e
incapaz de se endireitar. Vendo-a, Jesus dirigiu-se a ela e disse: “Mulher,
você está livre da sua doença”. Jesus colocou as mãos sobre ele, e
imediatamente a mulher se endireitou e começou a louvar a Deus. O chefe da
sinagoga ficou furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado. E
tomando a palavra começou a dizer à multidão: “Há seis dias para trabalhar.
Venham, então, nesses dias e sejam curados, e não em dia de sábado”. O Senhor
lhe respondeu: “Hipócritas! Cada um de vocês não solta do curral o boi ou o
jumento para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? Aqui está uma
filha de Abraão que Satanás amarrou durante dezoito anos. Será que não deveria
ser libertada dessa prisão em dia de sábado?” (Lc 13,10-15). – Esta
passagem, exclusiva de Lucas, nos mostra um Jesus misericordioso, bem diferente
da dureza de coração dos religiosos da época. Pode-se perguntar: Vem a Lei
antes da Misericórdia? Jesus responde que não. É o contrário. A Misericórdia é
o próprio Deus! Ele, portanto, vem antes da Lei. Precisamos, em tudo, sermos
misericordiosos como Jesus, e antes de toda e qualquer lei que possa estar
impedindo essa ação de amor.
45. CURA EM DIA DE SÁBADO: Num dia de
sábado, aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus que
o observavam. Havia um homem hidrópico diante de Jesus. Tomando a palavra,
Jesus falou aos especialistas em leis e aos fariseus: “A Lei permite ou não
permite curar em dia de sábado?”. Mas eles ficaram em silêncio. Então Jesus
tomou o homem pela mão, curou-o e o despediu. Depois disse a eles: “Se alguém
de vocês tem um filho ou um boi que caiu num poço não o tiraria logo, mesmo em
dia de sábado?”. E eles não foram capazes de responder a isso (Lc 14, 1-6). – De
novo, como na passagem anterior, Lucas nos mostra Jesus curando um doente –
neste caso com uma doença bem definida: a hidropisia (excesso de líquido em
alguma parte do corpo). E era um dia de sábado, que, para os judeus, era (e
ainda é) um dia de descanso, onde qualquer ‘trabalho’ era proibido. Na passagem
anterior, Jesus lembrou que eles soltavam os animais para que fossem beber
água, mesmo em dia de sábado. E, agora, desafia-os com a possibilidade de um
filho ou um animal caído em um poço: não iriam eles logo tirá-lo do poço? Isto
lhes mostra – e a nós – que o dia do descanso (sábado) ou o dia do Senhor
(domingo, para nós, católicos) é, sobretudo, um dia dedicado ao Senhor. E o que
mais agrada ao nosso Deus do que a vivência da caridade, da misericórdia, do
amor concreto? Agir com misericórdia não infringe a Lei do sábado, mas agir sem
misericórdia, sim: infringe a Lei maior do Amor: Amar a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo...
46. JESUS CURA DEZ LEPROSOS: Caminhando para Jerusalém,
aconteceu que Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para
entrar num povoado, dez leprosos foram ao encontro dele. Pararam de longe e
gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”. Ao vê-los, Jesus disse: “Vão
apresentar-se aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram
curados. Ao perceber que estava curado, um deles voltou atrás dando glória a
Deus em alta voz. Jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu. E este
era um samaritano. Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? Não
houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?”. E
disse a ele; “Levante-se e vá. Sua fé o salvou” (Lc 17, 11-19). – Passagem
sem paralelo exato com os demais evangelhos, mostra-nos um Jesus que não se
negava a fazer curas milagrosas. Mas este texto mostra, sobretudo, que os
judeus, embora povo escolhido por Deus, estava falhando em dar lhe glória e
ações de graças pelos benefícios do Senhor. E, justamente, um samaritano, um
estrangeiro e objeto de todo desprezo e preconceito por parte dos judeus, é
quem vem agradecer e dar glória a Deus pelos seus benefícios! Não sejamos mal
agradecidos! Mas elevemos a Deus, em tudo, nossas mãos, em ação de graças pela
vida e por Seus dons e benefícios.
47. O CEGO DE JERICÓ: Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego
estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Ouvindo a multidão passar,
ele perguntou o que estava acontecendo. Disseram-lhe que Jesus Nazareno passava
por ali. Então o cego gritou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. As
pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse quieto, mas ele gritava mais
ainda: “Filho de Davi, tem piedade d mim!”. Jesus parou e mandou que levassem o
cego até ele. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: “O que quer que eu
faça por você?”. O cego respondeu: “Senhor, eu quero ver de novo!”. Jesus
disse: “Veja. A sua fé curou você”. No mesmo instante, o cego começou a ver e
seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo louvava a Deus (Lc
18, 35-43). – Este episódio tem
paralelo com Mateus (20,29-34) e com Marcos (10,46-52). Mais uma vez, Jesus tem
misericórdia e não se nega a curar o doente. E mais uma vez Ele, humildemente,
atribui à fé do doente a sua cura. Sabemos que Jesus pode curar, independentemente
da nossa fé. Mas Ele faz questão de ressaltar que a fé nos faz dóceis à ação do
Espírito de Deus. E, estando nessa situação de confiança, Deus nosso Pai não se
nega a dar-nos aquilo que nos fará bem ou que fará bem à comunidade dos Seus
filhos.
48. JESUS PREVÊ UM JUMENTINHO AMARRADO: Quando Jesus se aproximou de Betfagé e de Betânia, perto do chamado monte das Oliveiras, enviou dois discípulos, dizendo: “Vão até o povoado em frente. Quando vocês entrarem aí, vão encontrar, amarrado, um jumentinho que nunca foi montado. Desamarre o animal e o tragam. Se alguém lhes perguntar: ‘Por que vocês o estão desamarrando?’ vocês responderão: ‘Porque o Senhor precisa dele’”. Os discípulos foram e encontraram as coisas como Jesus havia dito (Lc 19, 29-32). – Este episódio, também narrado em Mateus (21,1-4), e em Marcos (11, 1-4), embora não seja um “milagre” como os anteriores, não deixa de ser uma manifestação quase milagrosa, na medida em que não é natural, pelo ser humano, a previsão de coisas futuras (mesmo de um futuro próximo, como é o caso). É mais uma manifestação sobrenatural (ou preternatural, no mínimo) do “Filho do Homem”, como Jesus gostava de se chamar. E demonstra, ainda, que Jesus era reconhecido como o “Senhor” – título normalmente atribuído a Deus – pelos moradores de Jerusalém.
49. JESUS PREVÊ ONDE COMERÁ A PÁSCOA: Chegou o dia dos Ázimos, em que se matavam os cordeiros para a Páscoa. Jesus mandou Pedro e João, dizendo: “Vão, e preparem tudo para comermos a Páscoa”. Eles perguntaram: “Onde queres que a preparemos?”. Jesus respondeu: “Quando vocês entrarem na cidade, um homem carregando um jarro de água virá ao encontro de vocês. Sigam-no até a casa onde ele entrar e digam ao dono da casa: “O Mestre manda dizer: ‘Onde é a sala em que eu e os meus discípulos vamos comer a Páscoa?’. Então ele mostrará para vocês, no andar de cima, uma sala grande, arrumada com almofadas. Preparem tudo aí”. Os discípulos foram e encontraram tudo como Jesus havia dito. E prepararam a Páscoa (Lc 22, 7-13). – Este episódio, como o anterior, também é narrado por Mateus (26,17-19) e Marcos (12-16). E como no episódio anterior, também pode ser considerado um ‘quase milagre’, já que não é natural, aos homens, prever o futuro (mesmo que próximo) com tanta precisão. É mais uma manifestação poderosa do Senhor, que é reconhecido pelos habitantes de Jerusalém como sendo o Mestre, pois o dono da casa, sem qualquer questionamento lhe cedeu a sala superior (normalmente conhecida pelos cristãos como Cenáculo) para a Sua Páscoa.
50. JESUS PREVÊ A NEGAÇÃO DE PEDRO: “Simão, Simão! Olhe que Satanás pediu permissão para peneirar você como trigo. Eu, porém, rezei por você para que a sua fé não desfaleça. E você, quanto tiver voltado para mim, fortaleça os seus irmãos.” Mas Simão falou: “Senhor, contigo estou pronto para ir até mesmo para a prisão e para a morte!”. Jesus, porém, respondeu: “Pedro, eu lhe digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes você negará que me conhece.” (Lc 22,31-34). – Este episódio tem paralelo com os evangelistas Mateus (26, 30-35), Marcos (14,26-31) e João (13, 36-38). Aqui, verifica-se, mais uma vez, que Jesus tem o poder da precognição (como se diz na Parapsicologia): Ele prediz a negação de Pedro, mesmo contra a contestação do próprio Pedro, que lhe garante sua fidelidade até a morte! E tudo acontece conforme a palavra de Jesus! É, praticamente, um milagre! Como pode alguém prever, com tanta precisão (“...antes que o galo cante, três vezes me negará...”) o futuro? Só acreditando numa manifestação sobrenatural, pois Deus conhece tudo!
51. JESUS CURA O ORELHA DE UM OFICIAL: Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus disseram: “Senhor, vamos atacar com a espada?”. E um deles feriu o empregado do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus ordenou: “Parem com isso!”. E tocando a orelha do homem, curou-o (Lc 22, 49-51). – Em paralelo a este episódio encontram-se os textos de Mateus (26-51-52), Marcos (14,47) e João (18, 10-11) – sendo que os dois últimos não citam a cura da orelha, realizada por Jesus. Mas Lucas e Mateus declaram a cura imediata da orelha decepada pela espada de um dos discípulos. Se tal evento ocorreu, a cura, então, mais uma vez, Jesus exerceu sua misericórdia costumeira e curou até mesmo um de seus algozes. Qual terá sido a reação desse soldado ao ter uma orelha decepada e, imediatamente, tê-la de volta, curada? Certamente Jesus sabia que nem o próprio beneficiado e nem os que o acompanhavam, testemunhas oculares, estariam em condições de qualquer conversão à fé no Filho do Homem. Porque eram soldados ou funcionários totalmente submetidos à autoridade do Sumo Sacerdote e dos doutores da Lei. Não eram, provavelmente, pessoas do povo, que tinham a oportunidade de seguir um rabino, um profeta ou um líder qualquer.
52. A CORTINA DO SANTUÁRIO RASGA-SE AO MEIO: Já era mais ou menos
meio-dia, e uma escuridão cobriu toda a região até as três horas da tarde, pois
o sol parou de brilhar. A cortina do santuário rasgou-se pelo meio. Então Jesus
deu um forte grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.”. Dizendo isso,
expirou. O oficial do exército viu o que tinha acontecido e glorificou a Deus,
dizendo: “De fato! Este homem era justo!”. E todas as multidões que estavam aí,
e que tinham vindo para assistir, viram o que havia acontecido e voltaram para
casa batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, assim como as mulheres que
o acompanhavam desde a Galileia, ficaram a distância, olhando essas coisas (Lc
23, 44-49). – Escuridão, cortina
rasgando-se ao meio... Sinais maravilhosos que acompanharam a morte do Filho de
Deus! A escuridão pode ser interpretada como uma manifestação da natureza
contra a injustiça e a maldade humana, que não quis aceitar o Justo, o
Redentor. A cortina rasgada do Templo, que separava os sacerdotes do Santo dos
Santos (onde só entrava um único sacerdote, por sorteio, como aconteceu com
Zacarias; cf. Ex 26, 31s) pode significar que a separação existente entre os
homens e Deus – em função dos grandes pecados de toda a humanidade! – já não
mais existia: a expiação dos pecados do mundo já terá acontecido; o mundo
estava redimido diante de Deus. Deus se humanizara para que o homem se
divinizasse!... Além disso, pode-se entender que o velho culto mosaico
estivesse sendo superado: nascia uma nova era cristã.
53. A PEDRA DO TÚMULO FOI REMOVIDA: No primeiro dia da semana, bem de
madrugada, as mulheres foram ao túmulo de Jesus levando os perfumes que haviam
preparado. Encontraram a pedra do túmulo removida. Mas, ao entrar, não
encontraram o corpo do Senhor Jesus e ficaram sem saber o que estava
acontecendo. Nisso, dois homens, com roupas brilhantes pararam perto delas.
Cheias de medo, elas olhavam para o chão. No entanto, os dois homens disseram:
“Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não
está aqui! Ressuscitou! (Lc 24, 1-6a). – Quem teria retirado a grande pedra
que fora posta à entrada do túmulo de Jesus? Teriam sido esses dois “anjos” que
apareceram às mulheres e que lhes anunciaram que Jesus ressuscitara? É
possível. O fato é que não havia mais pedra tampando a entrada do túmulo e nem
mais o corpo do Senhor! Mais um milagre
“post-mortem” do Senhor! Para quem é o Filho de Deus, nada é impossível! Não
somente Jesus ressuscitou, deixando o túmulo aberto, como deixou, também, os
panos que o enfaixavam: o grande lençol, em peça única, de mais de 4 metros,
que envolveu o corpo do Senhor e que hoje é venerado e chamado de Santa Síndone
ou Santo Sudário! Mais um milagre: pois é o objeto cristão mais estudado
cientificamente e continua encantando e provocando admiração nos cientistas,
que não conseguem explicar a origem da imagem lá presente, como em um negativo
de filme fotográfico.
54. JESUS SE OCULTA E SE MOSTRA AOS DISCÍPULOS DE EMAÚS: Quando
chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais
adiante. Eles, porém, insistiram com Jesus, dizendo: “Fica conosco pois já é
tarde e a noite vem chegando”. Então Jesus entrou para ficar com eles.
Sentou-se à mesa com os dois, tomou o pão e abençoou-o, depois o partiu e deu a
eles. Nisso os olhos dos discípulos se abriram, e eles reconheceram Jesus.
Jesus, porém, desapareceu da frente deles (Lc 24, 28-31). – Jesus, algumas
vezes, depois da sua Ressurreição, aparece aos discípulos sob forma humana, mas
com aparência diversa daquela conhecida por eles. Neste episódio, acontece o
mesmo: os discípulos de Emaús conversavam com uma pessoa desconhecida. Esta já
é uma manifestação miraculosa do Senhor. E ele se mostra a eles fazendo mais um
milagre: abrindo-lhes os olhos durante a “Fração do Pão” (que é a Eucaristia).
Podemos tirar uma importante lição: o Senhor nos abre os olhos da fé – se
estivermos preparados ouvindo-o, adorando-o, louvando-o! – diante de toda a
Eucaristia! Procuremos, sempre, “ver” Jesus ao ajoelharmo-nos, com fé e bem
preparados espiritualmente, diante do milagre eucarístico de cada Missa!
55. JESUS APARECE NO MEIO DOS DISCÍPULOS: Então os dois discípulos
contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus
quando ele partiu o pão. Ainda estavam falando, quando Jesus apareceu no meio
deles e disse: “A paz esteja com vocês”. Espantados e cheios de medo, pensavam
estar vendo um espírito. Então Jesus disse: “Por que vocês estão perturbados, e
por que o coração de vocês está cheio de dúvidas? Vejam minhas mãos e meus pés:
sou eu mesmo. Toquem-me e vejam: um espírito não tem carne e ossos, como vocês
podem ver que eu tenho.”. E dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés.
E como eles ainda não estivessem acreditando, por causa da alegria e porque
estivessem espantados, Jesus disse: “Vocês têm aqui alguma coisa para comer?”.
Eles ofereceram a Jesus um pedaço de peixe grelhado. Jesus pegou o peixe e o
comeu diante deles (Lc 24, 35 – 42). – É maravilhoso como o Senhor tem
misericórdia de nossa humanidade tão incrédula! Aparece, desta vez, como era
conhecido pelos discípulos, mostra-lhes as mãos e os pés e constata, ainda, a
sua incredulidade! Diante disso, resolve pedir algo para comer! Pois,
definitivamente, um espírito não pode comer algo tão material como comida: e
Ele come o peixe diante deles! Que milagre! Jesus fora morto, aparece vivo, e
come diante dos discípulos para lhes abrir os olhos da fé, de forma muito
humana. Além disso, não deixará de lhes enviar o Espírito Santo para lhes
abrir, definitivamente, a mente, o coração e a fé para as realidades
espirituais, que são muito mais poderosas do que todas as realidades
mundanas...
56. O ESPÍRITO SANTO DESCE SOBRE JESUS: E João testemunhou: “Eu vi o
Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre ele. Eu também não o
conhecia. Aquele que me enviou para batizar com água, foi ele quem me disse:
‘Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e pousar, esse é quem batiza com
o Espírito Santo’. E eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus” (Jo
1, 32-34). – A descida do Espírito Santo, de forma visível, sobre Jesus, e
testemunhada por João Batista, não deixa de ser um verdadeiro milagre: João
fora avisado e esperava que isso fosse acontecer; e ocorreu como ele esperava!
E não teve dúvidas de que a pomba que desceu e pousou sobre Jesus, após este
ser batizado, estivesse representando a presença real do próprio Espírito
Santo! E também não teve dúvidas em
proclamar: “Este é o Filho de Deus!”. Este episódio é citado, de forma
diferente, pelos evangelistas Mateus (3, 16-17), Marcos (1, 9-11) e Lucas (3,
21-22); nesses últimos, uma voz é ouvida pelos presentes: “Tu és meu Filho
amado! Em ti encontro o meu agrado!”. Essas variações, ou diferenças, entre os
evangelhos, para além de colocar em dúvida o episódio realmente acontecido, na
verdade o valoriza, pois mostra que não são cópias uns dos outros, mas
testemunhos autênticos de autores diversos, narrando o acontecimento conforme
cada um teve a oportunidade de recebê-lo das fontes (orais ou escritas)
disponíveis à sua época. E mostra também com o Autor Sagrado é iluminado pelo
Espírito de Deus, mas sua memória, sua mentalidade é respeitada, na medida em
que a realidade essencial seja preservada.
57. JESUS MUDA A ÁGUA EM VINHO: No terceiro dia, houve uma festa de
casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava aí. Jesus também tinha
sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos. Faltou
vinho e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho!”. Jesus respondeu:
“Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou”. A mãe de Jesus
disse aos que estavam servindo: “Façam o que ele mandar”. Havia aí seis potes
de pedra de uns cem litros cada um, que serviam para os ritos de purificação
dos judeus. Jesus disse aos que serviam: “Encham de água esses potes”. Eles
encheram os potes até a boca. Depois Jesus disse: “Agora tirem e levem ao
mestre-sala”. Então levaram ao mestre-sala. Este provou a água transformada em
vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam estavam sabendo, pois foram eles
que tiraram a água. Então o mestre-sala chamou o noivo e disse: “Todos servem
primeiro o vinho bom e quando os convidados estão bêbados servem o pior. Você,
porém, guardou o vinho bom até agora!” (Jo 2, 1-10). – Este é considerado o
primeiro milagre de Jesus ou também chamado a autorrevelação de Jesus nas bodas
de Caná. É considerado o primeiro também porque a descida do Espírito Santo
(milagre anterior) não é considerada um evento portentoso e que tenha afetado a
vida das pessoas, como é o caso de Caná. Seja como for, é a primeira
manifestação pública de poder de Jesus e que fez com que seus discípulos
“acreditassem nele” (Jo 2, 11c). Aqui aparece, claramente, o poder de Maria,
Mãe de Jesus, como intercessora junto a Seu Filho: foi Ela quem se interessou
pelo problema dos anfitriões, surgido pela falta do vinho, e quem pediu a Jesus
que tomasse uma providência, confiante, no poder que Jesus tinha para resolver
tal problema. E se Jesus, aparentemente, a trata com desprezo (“Mulher, o que
existe entre nós”(Jo 2,4) ou “... o que queres de mim, mulher?”, numa outra
versão), chamando-a de “mulher” e não de “mãe”, como seria de se esperar,
muitos exegetas (intérpretes dos textos bíblicos) já interpretaram o uso deste
termo “mulher”, pelo autor do texto, como se referindo, simbolicamente, à nova
Eva: se pela primeira mulher veio o pecado original para toda a humanidade,
pela nova “mulher”, a nova Eva, vieram a graça e a salvação para todos. Este
termo, portanto, tem um alcance profético muito maior do que teria se Jesus a
chamasse de “mãe”. E o autor vai utilizá-lo, novamente, quanto Jesus, na cruz,
se refere a Maria: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19, 26b).
58. JESUS SE REVELA À SAMARITANA: Jesus disse à samaritana: “Vá chamar
o seu marido e volte aqui”. A mulher respondeu: “Eu não tenho marido”. Jesus
disse: “Você tem razão ao dizer que não tem marido. De fato, você teve cinco
maridos. E o homem que você tem agora, não é seu marido. Nisso você falou a
verdade”. A mulher então disse a Jesus: “Senhor, vejo que és um profeta!” (Jo
4, 16-19). – No Evangelho de João, Jesus é apresentado como alguém que tem,
claramente, a clarividência e o poder sobrenatural de conhecer os pensamentos e
detalhes da vida das pessoas. E, de fato, sendo o Verbo encarnado, a Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade, Jesus tem o poder de conhecer as pessoas, seus
pensamentos e os acontecimentos presentes e futuros. Este poder Ele usava,
comumente, para demonstrar ao povo quem Ele era: alguém diferente, enviado por
Deus e com poderes divinos. Era para lhes facilitar a crença nEle, já que isto
era importante para que fossem curados e salvos. Que nós aceitemos Jesus como
nosso Mestre e Senhor, nosso Deus e nosso Amigo, que nos conhece e quer o nosso
bem: quer nos curar, nos fortalecer na Fé e nos salvar para a Vida Eterna em
Deus. Amém.
59. JESUS CURA O FUNCIONÁRIO DO REI: Jesus voltou para Caná da Galileia,
onde havia transformado a água em vinho. Ora, em Cafarnaum havia um funcionário
do rei que tinha um filho doente. Ele ouviu dizer que Jesus tinha ido da Judeia
para a Galileia. Sai ao encontre de Jesus e lhe pediu que fosse a Cafarnaum
curar seu filho que estava morrendo.
Jesus disse-lhe: “Se vocês não veem sinais e prodígios, vocês não
acreditam”. O funcionário do rei disse: “Senhor, desce, antes que meu filho
morra!”. Jesus disse-lhe: “Pode ir, seu filho está vivo”. O homem acreditou na
palavra de Jesus e foi embora. Enquanto descia para Cafarnaum seus empregados
foram ao seu encontre e disseram: “Seu filho está vivo”. O funcionário
perguntou a que horas o menino tinha melhorado. Eles responderam: “A febre
desapareceu ontem pela uma hora da tarde”. O pai percebeu que tinha sido
exatamente na mesma hora que Jesus havia dito: “Seu filho está vivo”. Então ele
acreditou, juntamente com toda a sua família (Jo 4, 46-53). – O funcionário
do rei “acreditou na palavra de Jesus”. Este episódio deveria ser acolhido por
cada um de nós como um exemplo de que podemos e devemos acreditar na palavra de
Jesus, que é Deus e nos ama infinitamente. Veio para nos curar de todas as
doenças, mentais, físicas e espirituais, e nos libertar das opressões e
possessões dos demônios, muito comuns naquela época, e ainda hoje. Ora, o
Evangelho está cheio das promessas de Cristo; promessas de cura, libertação e
santificação. Por que não acreditarmos, como o funcionário do rei? Jesus nos
diz ainda hoje – porque sua Palavra é viva e eficaz, e válida para todos os
tempos: “Pode ir seu filho está vivo”. Ele está dizendo isto, e tantas outras
coisas, para nós! Precisamos acreditar! Como o funcionário! E assim,
receberemos os frutos das benditas e eficazes palavras do Senhor! Só precisamos
ter Fé; só precisamos acreditar!
60. JESUS CURA UM PARALÍTICO: Aí ficava um homem que estava doente
havia trinta e oito anos. Jesus viu o homem deitado e ficou sabendo que estava
doente há tanto tempo. Então lhe perguntou: “Você quer ficar curado?”. O doente
respondeu: “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina quando a água está
se movendo. Quando vou chegando, outro já entrou na minha frente”. Jesus disse:
“Levante-se, pegue sua cama e ande”. No mesmo instante, o homem ficou curado,
pegou sua cama e começou a andar (Jo 5, 5 – 9). – Neste episódio, Jesus
mostra, mais uma vez, toda a sua misericórdia e o seu amor pelas pessoas,
especialmente as mais necessitadas. Mas é interessante notar que Jesus não
impôs a cura ao homem. Perguntou-lhe se queria ser curado e, só depois da
confirmação do desejo é que Jesus o cura. Também nós devemos manifestar diante
de nosso Senhor o nosso desejo de sermos curados! Pois mesmo que Ele veja
nossas mazelas e nossas doenças, sem a manifestação expressa de nosso desejo,
Ele não nos poderá curar! Aqui vemos um grande exemplo da humildade que deve
acompanhar toda pessoa doente. Pois, como diz o ditado: “O pior cego é aquele que
não quer ver”. Se, mesmo cheio de pecados, doenças, fragilidades, não pedirmos,
com humildade, ao Senhor que nos cure, a cura não virá automaticamente! É por
isto que a única oração que o Senhor nos ensinou é constituída por petições.
Sim, são sete os pedidos que apresentamos ao Senhor quando rezamos o Pai-Nosso.
É um exercício de humildade diante de Deus, que muito nos ajuda a crescermos no
amor a Deus e aos irmãos.
61. MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES: Estava próxima a Páscoa, festa dos
judeus. Jesus ergueu os olhos e viu uma grande multidão que vinha ao seu
encontro. Então disse Jesus a Filipe: “Onde vamos comprar pão para eles
comerem?”. (...) Um discípulo de Jesus, André, o irmão de Simão Pedro disse:
“Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isto
para tanta gente?”. Então Jesus disse: “Falem para o povo sentar”. Havia muita
grama nesse lugar e todos se sentaram. Estavam aí cinco mil pessoas, mais ou
menos. Jesus pegou os pães, agradeceu a Deus e distribuiu aos que estavam
sentados. Fez a mesma coisa com os peixes. E todos comeram o quanto quiseram.
Quando ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: Recolham os pedaços que
sobraram, para não se desperdiçar nada”. Eles recolheram os pedaços e encheram
doze cestos com as sobras dos cinco pães que haviam comido (Jo 6,4-5.8-13). – Este
episódio, como já refletido em relação aos outros semelhantes, mostra que
existiu de fato, uma multiplicação miraculosa de pães e peixes para uma grande
multidão. E isto se verifica pela constatação de Filipe, após averiguar a
situação da multidão, de que só tinha encontrado um rapaz com “cinco pães de
cevada e dois peixes”. Ora, a multidão, atraída pelo magnetismo espiritual de
Cristo, foi ficando sem alimentos ao longo dos dias. E somente uma intervenção
milagrosa poderia lhes fornecer alimentação a partir de tão poucos pães e
peixes! Este capítulo, por este milagre, introduz o grande discurso de Jesus
sobre o “Pão da Vida”, que é Ele mesmo!
62. JESUS CAMINHA SOBRE AS ÁGUAS: Ao cair da tarde, os discípulos de
Jesus desceram ao mar. Entraram na barca e foram em direção a Cafarnaum, do
outro lado do mar. Já era noite, e Jesus ainda não tinha ido ao encontro deles.
Soprava vento forte e o mar estava agitado. Os discípulos tinham remado mais ou
menos cinco ou seis quilômetros, quando viram Jesus andando sobre as águas e
aproximando-se da barca. Então ficaram com medo, mas Jesus disse: “Sou eu. Não
tenham medo”. Eles quiseram recolher Jesus na barca, mas nesse instante a barca
chegou à margem para onde estavam indo (Jo 6, 16-21). – Este milagre é
contado também em Mateus (14, 22-33) e em Marcos (6, 45-52). Embora com
detalhes variáveis, pois os Evangelhos não são simples cópias uns dos outros,
verifica-se o poder de Cristo sobre a natureza! Jesus andou sobre as águas para
chegar até seus discípulos. Fez isto para aparecer diante deles? Certamente que
não! Mas o fez para acender neles a fé, a certeza de que estavam seguindo o
verdadeiro Messias, o Filho de Deus. Seus discípulos eram consolados por esses
milagres, e tantos outros não descritos nos Evangelhos, que Jesus lhes fazia
por amor e para lhes aumentar a confiança nele.
63. JESUS CURA UM CEGO DE NASCENÇA: Ao passar, Jesus viu um cego de
nascença. Os discípulos perguntaram: “Mestre, quem foi que pecou, para que ele
nascesse cego? Foi ele ou seus pais?”. Jesus respondeu: “Não foi ele que pecou,
nem seus pais, mas ele é cego para que nele se manifestem as obras de Deus. Nós
temos que realizar as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. Está
chegando a noite, e ninguém poderá trabalhar. Enquanto estou no mundo eu sou a
luz do mundo”. Dizendo isso, Jesus cuspiu no chão, fez barro com saliva e com o
barro ungiu os olhos do cego. E disse: “Vá se lavar na piscina de Siloé”. (Esta
palavra quer dizer “O Enviado”). O cego foi, lavou-se, e voltou enxergando (Jo
9, 1-7). – Nesta passagem do Evangelho, Jesus quer nos mostrar que as
doenças que nos atingem não são resultado, necessariamente, de nossos pecados
(embora em alguns casos, estes contribuam com as doenças – as chamadas doenças
psicossomáticas e as “doenças espirituais”). Portanto, se alguém estiver
doente, não seja visto como mais pecador do que os que estejam sãos. Mas nosso
Deus, como explica Jesus, utiliza essas situações resultantes da própria
natureza humana para “manifestar as obras de Deus”. É por isso que em muitas
provações por que passam algumas famílias, elas saem fortalecidas na fé;
conversões ocorrem em situações de doença e outros males (acidentes) que
atinjam as pessoas. Porque “Deus faz das pedras (males) filhos de Abraão
(pessoas renovadas na fé)”.
64. JESUS ESCAPA DAS MÃOS DAS AUTORIDADES: Por que vocês me acusam de blasfêmia,
se eu digo que sou Filho de Deus? Se não faço as obras do meu Pai, vocês não
precisam acreditar em mim. Mas se eu as faço, mesmo que vocês não queiram
acreditar em mim, acreditem pelo menos em minhas obras. Assim vocês conhecerão,
de uma vez por todas, que o Pai está presente em mim, e eu no Pai”. Eles
tentaram outra vez prender Jesus, mas ele escapou das mãos deles (Jo 10,
36b-39). – Este episódio, sem paralelo nos outros evangelhos, mostra como um
coração fechado à graça de Deus pode ser tão duro! Afinal, Jesus lhes lembra
(aos judeus) que ele fizera muitas obras miraculosas e, mesmo assim, não querem
aceitar a possibilidade de que Ele seja ao menos um grande profeta!... Mas
fixam-se na afirmação de Jesus de que é o Filho de Deus, de que Deus seja seu
Pai, e o consideram um blasfemo. Mas isto foi só mais uma desculpa para
justificar o apedrejamento de Jesus, visto que também já tinham atribuído a
Belzebu (o Diabo) o poder que Ele (Jesus) demonstrara em suas curas. É incrível
o que um coração duro, fechado à ação da graça de Deus, pode fazer: resistir ao
Espírito Santo e não aceitar nem mesmo os milagres com que Deus lhe quer
presentear!
65. JESUS FAZ LÁZARO REVIVER: Jesus, contendo-se de novo, chegou
ao túmulo. Era uma gruta, fechada com uma pedra. Jesus falou: “Tirem a pedra”.
Marta, irmã do falecido, disse: “Senhor, já está cheirando mal. Faz quatro
dias”. Jesus disse: “Eu não lhe disse que, se você acreditar, verá a glória de
Deus?”. Então tiraram a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse:
“Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves. Mas eu
falo por causa das pessoas que me rodeiam, para que acreditem que tu me
enviaste”. Dizendo isso, gritou bem forte: “Lázaro, sai para fora!”. O morto
saiu. Tinha os braços e as pernas amarrados com panos e o rosto coberto com um
sudário. Jesus disse aos presentes: “Desamarrem e deixem que ele ande” (Jo 11,
38-44) – Este milagre, conhecido como a Ressurreição de Lázaro, deve ser
entendido como um reavivamento do corpo físico, e não como uma verdadeira
“ressurreição”, como foi a do próprio Cristo. Esta foi uma verdadeira
ressurreição porque não é uma simples volta à vida, neste mundo, como foi a de
Lázaro, mas é o ressurgir da vida humana em um corpo glorioso, destinado à vida
no Céu e não neste mundo. Jesus ressuscitou e, depois de ter ficado algum tempo
aqui na Terra, com os apóstolos, subiu definitivamente ao Céu, com seu corpo
glorioso, como teremos também o nosso, na futura ressurreição dos mortos, no
fim dos tempos!
66. UMA VOZ DO CÉU FALA AO POVO: Agora estou muito perturbado. E o
que vou dizer? Pai, livra-me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora
que eu vim. Pai, manifesta a glória do teu nome! Então veio uma voz do Céu: “Eu
manifestei a glória do meu nome e vou manifestá-la de novo”. A multidão que aí
estava ouviu a voz e dizia que tinha sido um trovão. Outros diziam: “Foi um
anjo que falou com ele”. Jesus disse: “Essa voz não falou por causa de mim, mas
por causa de vocês. Agora é o julgamento deste mundo. Agora o príncipe deste
mundo vai ser expulso e, quando eu for levantado da terra, atrairei todos a
mim”. Jesus assim falava para indicar com que morte ia morrer (Jo 12, 27-33). –
Este relato do Evangelho de João mostra, não um milagre propriamente dito,
mas uma manifestação sobrenatural de Deus-Pai, já que uma voz é ouvida por
todos os presentes. E Jesus observa que aquela voz se manifestou para o bem dos
que ali estavam. Jesus já estava preparando o povo para a “sua hora”, a hora da
sua “glorificação”, pela paixão e pela morte na cruz. Os que ouviram a voz com
coração aberto, sem preconceitos, podem ter recebido o benefício (como disse
Jesus), a graça, de terem compreendido que Jesus, de fato, era o Messias
enviado por Deus, mas não como o messias guerreiro que eles esperavam. Este
episódio marca a terceira vez que o Pai se manifesta por uma voz poderosa vinda
do alto: as outras duas vezes foram durante o Batismo no Jordão e durante a
Transfiguração no Tabor.
67. OS SOLDADOS CAEM POR TERRA. Então Jesus, sabendo tudo o que lhe ia
acontecer, saiu e perguntou a eles: “Quem é que vocês estão procurando?”. Eles
responderam: “Jesus de Nazaré”. Jesus disse: “Sou eu”. Judas, que estava
traindo Jesus, também estava com eles. Quando Jesus disse: “Sou eu”, eles
recuaram e caíram no chão. Então Jesus perguntou de novo: “Quem é que vocês
estão procurando?”. Eles responderam: “Jesus de Nazaré”. Jesus falou: “Já lhes
disse que sou eu. Se vocês estão me procurando, deixem os outros ir embora”.
Era para se cumprir a Escritura que diz: “Não perdi nenhum daqueles que me
deste” (Jo 18, 4-9). – Este episódio nos choca ao percebermos que, mesmo
diante de um fenômeno totalmente miraculoso como este, o fato de, pela resposta
de Jesus, terem os soldados caídos por terra, não ter havido qualquer reação
positiva deles, de entender que Jesus, com aquele poder, não poderia ser um
malfeitor! Judas, conhecendo os milagres de Cristo, talvez não tenha estranhado
aquele portento e possa ter acreditado que Jesus viesse a salvar-se fazendo
alguma manifestação como essa. Ao perceber, depois, que Jesus não mais
manifestou qualquer poder em sua defesa, caiu em si sobre o erro de sua decisão
de entregar Jesus. Arrependeu-se, mas não teve a humildade de pedir perdão,
pois já estava totalmente entregue ao Diabo.
68. JESUS APARECE A MARIA MADALENA: Maria tinha ficado fora chorando
junto ao túmulo. Enquanto ainda chorava, inclinou-se e olhou para dentro do
túmulo. Viu então dois anjos vestidos de branco, sentados onde o corpo de Jesus
tinha sido colocado, um na cabeceira e outro nos pés. Então os anjos
perguntaram: “Mulher, por que você está chorando?”. Ela respondeu: “Porque
levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”. Depois de dizer isso, Maria virou-se e viu
Jesus de pé; mas não sabia que era Jesus. E Jesus perguntou: “Mulher, por que
você está chorando?” Quem é que você está procurando?”. Maria pensou que fosse
o jardineiro e disse: “Se foi o senhor que levou Jesus, diga-me onde o colocou,
e eu irei buscá-lo”. Então Jesus disse: “Maria”. Ela virou-se e exclamou em
hebraico: “Rabuni!” (que quer dizer: Mestre). Jesus disse: “Não me segure,
porque ainda não voltei para o Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: ‘Subo para
junto do meu Pai, que é Pai de vocês, do meu Deus, que é o Deus de vocês’”.
Então Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: “Eu vi o Senhor”. E contou
o que Jesus tinha dito (Jo 20, 11 – 18) –
Este episódio é relatado também em Mateus (28, 9-10), com profusão de
detalhes, e em Marcos (16, 9-11), embora, neste, de forma muito suscinta. Em
Mateus, diferentemente de João e Marcos, Maria Madalena está acompanhada da
“outra Maria”. É interessante notar que, antes de um grande acontecimento, os anjos
costumam aparecer para prepará-lo. Aqui, os anjos aparecem a Maria Madalena
antes que ela visse o Senhor, como que preparando-a para o grande encontro! Mas
somente quando Jesus a chama por seu nome (“Maria”) é que ela é capaz de
reconhecer o Senhor. No entanto, para que Jesus a chamasse pelo nome, ela teve
a iniciativa de “procurar” o Senhor. Que nós tenhamos, também, esta iniciativa
de procurar o Senhor e que possamos ouvir de sua boca o nosso nome... e, assim,
possamos reconhecer claramente o Senhor Jesus!
69. JESUS ENTRA COM AS PORTAS TRANCADAS: Era o primeiro dia da semana. Ao anoitecer
desse dia, estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos
por medo das autoridades dos judeus, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse:
“A paz esteja com vocês”. Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os
discípulos ficaram contentes por ver o Senhor (Jo 20, 19 – 20) – Este
episódio, como o acima, é relatado também em Marcos (16, 14) e em Lucas (24, 36
– 43). A primeira palavra que Jesus dirige aos discípulos, depois de sua
Ressurreição, é um desejo de que a “paz esteja” com eles. Por que esta
preocupação de Jesus? Certamente porque todos os acontecimentos negativos
vividos por eles lhes arrancaram a paz, que precisava ser restituída. Isto mostra
como o Senhor sabe identificar nossas mais profundas necessidades. Eles
precisavam de paz, para anular todas as angústias, os medos e as desilusões. A
presença do Cristo Ressuscitado é a garantia de sua paz. Ao desejar aos
discípulos a paz, Jesus, na verdade, deseja que eles (e nós, hoje) o acolham
com fé e amor: Ele é a nossa Paz!
70. MUITOS ACREDITARAM ANTES DE TOMÉ: Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos
Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos disseram para
ele: “Nós vimos o Senhor”. Tomé disse: “Se eu não vir a marca dos pregos nas
mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não
colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei”. Uma semana depois, os
discípulos estavam reunidos de novo. Desta vez, Tomé estava com eles. Estando
fechadas as portas, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: “A paz esteja
com vocês”. Depois, disse a Tomé: “Estenda aqui o seu dedo e veja as minhas
mãos. Estenda a sua mão e toque o meu lado. Não seja incrédulo, mas tenha fé”.
Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!”. Jesus disse: “Você acreditou porque
viu? Felizes os que acreditaram sem terem visto” (Jo 20, 24 – 29) – Este
episódio, somente narrado por João, é um testemunho magnífico de um discípulo
que, como nós, talvez, teve dúvidas sobre a realidade da Ressurreição de Jesus.
E ao ser confrontado com o Ressuscitado e ter visto e, provavelmente, colocado
os dedos nas chagas de Jesus, cai de joelhos e reconhece sua incredulidade
transformada em fé: “Meu Senhor e meu Deus!”. Tomé duvidou por nós! Que nós
creiamos com Tomé e testemunhemos como ele: “Meu Senhor e meu Deus!”. E as
palavras de Jesus, citando aqueles que “acreditaram sem terem visto”, devem
referir-se àqueles discípulos que acolheram Jesus no Domingo de Ramos, cheios
de alegria e esperança, mas que foram surpreendidos pela prisão, pela
flagelação e pela morte na cruz daquele que “vem em nome do Senhor”. Estes,
também entristecidos, ao terem recebido dos apóstolos, durante uma semana, o
testemunho de que Jesus estava vivo, certamente “acreditaram”, e mereceram ser
lembrados por Jesus: “Felizes os que acreditaram sem terem visto”.
71. A PESCA MILAGROSA: Quando amanheceu, Jesus estava na
margem. Mas os discípulos não sabiam que era Jesus. Então Jesus disse:
“Rapazes, vocês têm alguma coisa para comer?”. Eles responderam: “Não”. Então
Jesus falou: “Joguem a rede do lado direito da barca, e vocês acharão peixe”.
Eles jogaram a rede e não conseguiam puxá-la para fora, de tanto peixe que
pegaram. Então o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor”. Simão
Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu a roupa, pois estava nu, e pulou
dentro d’água. Os outros discípulos foram na barca que estava a uns cem metros
da margem. Eles arrastavam a rede com os peixes. Logo que pisaram em terra
firme, viram um peixe na brasa e pão. Jesus disse: “Tragam alguns peixes que
vocês acabaram de pescar”. Então Simão Pedro subiu na barca e arrastou a rede
para a praia. Estava cheia de cento e cinquenta e três peixes grandes. Apesar
de tantos peixes, a rede não se arrebentou. Jesus disse para eles: “Vamos,
comam”. Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam
que era o Senhor. Jesus se aproximou, tomou o pão e distribuiu para eles. Fez a
mesma coisa com o peixe (Jo 21, 4 – 13) – Este episódio, também exclusivo do
evangelista João, mostra Jesus que, novamente sem a aparência conhecida pelos
discípulos, procura desafiar a sua fé, desejando ser identificado apenas pelos
“sinais” realizados no meio deles: a pesca milagrosa; a rede que não se
arrebenta e a própria aparência diferente de Jesus. Esta, podendo significar
que, depois da Ressurreição de Jesus, seu rosto não terá tanta importância
quanto a fé na sua Ressurreição e na sua presença conosco “até o fim dos
tempos”. Por isso, o rosto de Jesus, representado por tantas e variadas
pinturas e obras de arte, ao longo da história, embora diferentes entre si, são
imediatamente reconhecidas pelos crentes como o Cristo Ressuscitado!
Uilso Aragono (Outubro, 2021)