sábado, 31 de dezembro de 2016

EXPLOSÃO DE CELULAR – ALGUNS ESCLARECIMENTOS

Muitas pessoas têm se assustado diante de notícias de explosões de telefones celulares. No entanto, há mais alarmismo do que notícia verdadeira em torno do assunto. Para esclarecer os leitores, com base em minha experiência de professor de engenharia elétrica, passo a fazer algumas considerações sobre o assunto.

O celular, ou Smartphone, objeto de desejo da grande maioria das pessoas, especialmente neste período de Natal, é um aparelho que funciona com base em uma bateria elétrica diminuta, recarregável, e cuja duração é de um dia, mais ou menos até o momento em que o próprio aparelho se desligue automaticamente, para sua proteção.

SOBRE A SEGURANÇA DO APARELHO

É um aparelho muito seguro do ponto de vista elétrico, já que, em situações normais, não produz faíscas, é de tensão (voltagem) muito baixa e nem esquenta demais, a ponto de poder queimar alguém. Não tem contraindicação de uso, a não ser por questões de segurança, na aviação, e pela própria segurança do aparelho: não usar dentro d'água, por exemplo. Raríssimas são as situações anormais em que um aparelho celular e em função de algum problema ligado à bateria (sempre) explode ou pega fogo. Essas situações podem ser atribuídas a fatalidades, sem dúvida, quando não ligadas a algum produto novo ainda não totalmente testado (caso recente do aparelho Samsung Galaxy S7).

Há, ainda, a questão ligada à propagação de ondas eletromagnéticas, que são o meio pelo qual o aparelho funciona, tanto para o acesso à internet, quanto para a sua função básica de aparelho telefônico. Tais ondas eletromagnéticas, especialmente nos momentos em que ocorre a chamada telefônica, levantam suspeitas de que possam ser prejudiciais ao ser humano. No entanto, não há evidências científicas claras sobre tal prejuízo, já que é muito difícil testar possíveis efeitos das ondas eletromagnéticas sobre o corpo humano, por várias razões. Mesmo assim, para minimizar os riscos os celulares são confeccionados com precauções técnicas que reduzem ao mínimo o poder (a força) de tais ondas eletromagnéticas, de tal forma que sua exposição ao usuário não lhe venha a ser potencialmente perigosa.

RECOMENDAÇÕES DE USO NA AVIAÇÃO

Em função da presença de um grande número de celulares dentro de um avião, e por emitirem, tais aparelhos, ondas eletromagnéticas, por questão de prudência e segurança, recomenda-se que os aparelhos sejam utilizados no chamado "modo avião", isto é: o aparelho fica funcional, mas não funcionará como telefone e nem terá acesso à internet móvel (rede telefônica das concessionárias de telefonia); mas suas demais funções (incluindo o modo WiFi) estão preservadas e liberadas, tais como: jogos, leitura, escrita, filmes, música, etc., através do acesso aos canais de comunicação e entretenimento de aeronaves comerciais. A questão de possível explosão ou fogo é desconsiderada, já que é uma situação muito rara e que, se acontecesse, não teria consequências muito sérias, podendo ser combatida eficazmente pelo pessoal de bordo. Não sendo assim, tais aparelhos teriam de ser proibidos na aviação, não se podendo portá-los, nem ao menos desligados.

RECOMENDAÇÃO DE NÃO USO EM POSTOS DE GASOLINA

Apesar de as estatísticas confirmarem que são raríssimas as situações de explosão ou fogo associadas aos celulares, estas podem ocorrer. Portanto, o uso efetivo do celular em postos de gasolina, nas proximidades das bombas de combustível, não é recomendado, sendo mesmo proibido. Isto para prevenir que, embora rara, uma situação de explosão ou superaquecimento da bateria não venha a provocar fogo ou faíscas que possam, por sua vez, provocar um incêndio em presença do vapor da gasolina. É uma questão de prudência, apenas.

SUGESTÕES PARA MINIMIZAR OS RISCOS

Sobre o uso do celular, para minimizar possíveis riscos contra a saúde, tendo em vista que o aparelho emite ondas eletromagnéticas:

1) deixar na bolsa; e se no bolso, ou colado no corpo, por pouco tempo (máx 1/2 hora).
2) falar, com o aparelho na orelha,  no máx 2-3min.
3) Usar o viva voz para falar por mais tempo.
4) Em dias de tempestades, não usar o aparelho enquanto é carregado, ligado à  tomada elétrica.
5) Não deixar aparelho carregando (ligado na tomada) sobre superfícies combustíveis (papel, tecido, plástico), para evitar possibilidade de fogo, em caso de mau funcionamento da bateria.
6) Não deixar aparelho, ligado, sobre superfícies combustíveis.
7) Se o celular caiu, com pancada razoável, é aconselhável levar no técnico para verificação da condição da bateria: pode ter havido alteração interna perigosa.

Seguir tais recomendações é agir a favor da nossa segurança.

SOBRE VÍDEOS ALARMISTAS E FALSOS

Há vídeos muito tendenciosos circulando pela internet e por grupos de WhatsApp. Um deles, uma reportagem de um canal de TV, intitulado, "Celulares em postos de combustíveis..." é alarmista e falso. O vídeo mostra quatro episódios:

a) Um caminhão de combustível pegando fogo depois que um frentista abre a boca do tanque do caminhão e pega um celular: nesse momento, ocorre uma explosão e tudo pega fogo;
b) Uma Kombi, parada em frente à bomba de combustível, pega fogo no instante em que o motorista liga o motor;
c) Uma camionete, também parada em frente à bomba de combustível, mostra algo não identificado na carroceria, que, de repente, começa a pegar fogo.
d) Finalmente, apresentam um experimento em que um pedaço de papel-alumínio, amassado em forma de bola e embebido em gasolina, pega fogo ao se apertar o botão de chamada de um celular posicionado a uma distância de cerca de 15 centímetros.

 Podem ser feitos os seguintes esclarecimentos:

1) É o vapor de gasolina que explode, e só por meio de chama ou faísca, em presença de oxigênio.

2) O vídeo mostra acidentes que são comuns em postos de gasolina, quando não se levam a sério as adequadas medidas de prevenção e segurança.

3) O homem que subiu no caminhão e pegou o celular, provavelmente foi usá-lo como lanterna. Supondo que o celular não tenha pegado fogo naquele exato momento (por defeito interno da bateria), o frentista poderia estar com carga elétrica estática, e, ao tocar na ou aproximar-se da boca do tanque pode ter produzido uma faísca e, esta sim, ter provocado o acidente. O certo é que o celular não tem poder para produzir faísca que provoque tal acidente.

4) A Kombi explodiu porque, ao se dar a partida, o motor deve ter produzido faísca, e ao lado da bomba, ambiente envolto por vapor de gasolina. E a tendenciosidade do vídeo/reportagem já aparece aqui: onde está o celular, que teria sido a causa do acidente? Não há celular e nem se fala nele...

5) Na carroceria da camionete o fogo surgiu de repente, mas, de novo, cadê o celular?... Foi um acidente, mas não dá pra identificar a causa...

6) Já o vídeo do celular é uma situação específica, que não existe em posto de gasolina: o papel de alumínio (metal) foi submetido a um pulso de ondas eletromagnéticas, na chamada do celular, o que provocou uma micro faísca (curto-circuito) no interior do papel junto com o vapor de gasolina. É semelhante ao que acontece quando se coloca metal no micro ondas: surgem faíscas! É um processo chamado de indução eletromagnética. Observe-se, ainda, neste caso, que se tivesse sido o celular o causador direto da chama que surgiu na bola de papel-alumínio, o fogo teria envolvido o celular, o que não acontece no vídeo.

Portanto, é um vídeo/reportagem alarmista e falso!

CONCLUSÕES

Apesar de os esclarecimentos acima tirarem a culpa do celular como causador de explosões em postos de gasolina, todos os cuidados de segurança devem ser tomados em um ambiente potencialmente perigoso e suscetível a explosões e fogo. A proibição de usar-se o celular próximo a bombas de gasolina faz sentido na medida em que há uma possibilidade, embora remota, de que tal aparelho venha a sofrer um superaquecimento (causado pela bateria interna) e provoque faíscas ou, mesmo, fogo. Isto, em presença do vapor de gasolina, comum no entorno das bombas de combustível, pode causar um acidente muito sério!

Todos os cuidados de segurança devem ser praticados em posto de gasolina, já que são ambientes imersos em vapor de gasolina e, portanto, muito suscetíveis a pegar fogo. Alguns tópicos de segurança sejam lembrados: para-raios bem projetados, sistemas de descarga estática para equipamentos e funcionários; avisos claros para não uso de celular nas proximidades das bombas; presença de extintores de incêndio facilmente acessíveis; treinamento eficaz para os funcionários frentistas, etc.

Uilso Aragono. (Dez. de 2016)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

A MISSA CATÓLICA É TOTALMENTE BÍBLICA

Algumas pessoas costumam dizer que a missa católica não é bíblica! É uma afirmação totalmente destituída de verdade, pois se há alguma celebração cristã mais bíblica do que a missa, está para ser criada! O artigo a seguir mostra cada parte da missa e sua ligação com os textos bíblicos.

1.       RITOS INICIAIS

1.1.    Bênção inicial

A missa católica se inicia pela benção "em Nome do Pai do Filho e do Espírito Santo", exatamente como as palavras de Cristo quando, ao final do Evangelho de Mateus, envia os discípulos: "Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28, 19).

1.2.    Ato penitencial

O ato penitencial é um momento em que os fiéis são convidados a reconhecerem-se pecadores e desejosos de conversão, exatamente como o início do Evangelho de Marcos apresenta Jesus clamando: "O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no Evangelho" (Mc 1, 15).

A assembleia, em resposta ao padre, repete, por três vezes, a expressão: Senhor, tende piedade de nós! Isto acontece a exemplo do que se vê na Bíblia, quando o fariseu e o cobrador de impostos estão rezando no Templo, e este último assim se expressa: "Senhor, tende piedade de mim porque sou pecador" (Lc 18,13).


1.3.    Hino de louvor

Estando os fiéis preparados para apresentarem-se diante do Senhor, após o ato penitencial, todos são convidados a cantar em alta voz, como o fizeram os anjos aos pastores proclamando as glórias do Senhor: "Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados" (Lc 2,14).

2.       LITURGIA DA PALAVRA

A liturgia da Palavra é a parte da missa em que os fiéis, já preparados e já tendo glorificado a Deus, juntamente com seus anjos, põem-se a escutar atentamente a proclamação das leituras bíblicas.

A primeira leitura bíblica a ser proclamada é, normalmente, extraída do Antigo Testamento, e os fiéis a escutam assentados.

A segunda leitura é a proclamação ou, preferencialmente, o canto de um dos Salmos bíblicos, em que um refrão é extraído e cantado entre as demais partes do salmo escolhido. A assembleia, assentada, acompanha o canto do salmo, cantando seu refrão.

A terceira leitura é, normalmente, extraída do Novo Testamento, sendo uma das cartas dos apóstolos, ou os atos dos apóstolos, ou o Apocalipse.

A quarta leitura é um texto dos Evangelhos, que é acompanhado pelos fiéis, agora, em pé – em atitude mais atenta e pronta a seguir a ordem do Senhor: "Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a todos os povos" (Mc 16,15). Esta leitura, feita pelo presidente da Celebração – normalmente, o padre – é precedida, sempre, com os fiéis já em pé, por um canto de aclamação que é, normalmente, um canto de Aleluia, o que significa: um canto de alegria e de ação de graças pelo qual se louva, se adora e se bendiz a Deus.

Após esta leitura, o padre faz a sua homilia, buscando esclarecer e orientar os fiéis em sua compreensão das leituras, que são, normalmente, escolhidas previamente, para toda a Igreja, e que mantêm uma relação entre si, no que tange à mensagem que se quer ressaltar.

3.       LITURGIA EUCARÍSTICA

A liturgia eucarística é a parte da missa em que o padre, seguindo uma oração eucarística previamente escolhida, dentre as várias possíveis, vai enunciando louvores, orações e petições a Deus, em nome de Jesus Cristo. A parte central é a chamada "consagração eucarística", em que o pão e o vinho ofertados, tornam-se o Corpo (a Hóstia = Vítima) e o Sangue (o vinho consagrado) de Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme a crença católica e seguindo as palavras estritamente bíblicas. Esta parte é retirada, dentre outros textos, do capítulo sexto de João: "Eis aqui o pão que desceu do céu: quem dele comer nunca morrerá" (Jo 6, 50).

Esta parte, que é central na missa, é constituída por muitos textos retirados da Bíblia. Eis alguns deles:

3.1.    Hosana nas alturas

Em dado momento a assembleia entoa o mesmo cântico que entoou para Jesus o povo na sua entrada em Jerusalém, antes de sua paixão e morte: "Hosana ao Filho de Davi! Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto do céu!" (Mt 21, 9).

3.2.    Consagração eucarística

Esta oração de consagração, em que os dons do pão e do vinho se tornam o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, está baseada nas palavras dos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas, além das epístolas de Paulo. Por exemplo: "Isto é o meu corpo que será entregue por vós. Fazei isto em minha memória" (Lc 22, 19); "Este cálice é a nova aliança do meu sangue, que é derramado por vós" (Lc 22, 20).

3.3.    Amém, Amém!

Finalizando a oração eucarística, o padre expõe aos olhos de todos a Eucaristia, o Cordeiro de Deus, a Vítima, a Hóstia, e todos proclamam em alta voz ou cantam: "Amém, Amém", a exemplo do que fazem os anjos diante do trono, para adorar a Deus: "Amém! O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus, para sempre. Amém!" (Ap 7, 13).

4.       COMUNHÃO

Na parte da comunhão eucarística, em que os fiéis recebem o corpo e o sangue de Cristo, cumpre-se o que está na Bíblia, como já visto acima: "Isto é o meu corpo que será entregue por vós. Fazei isto em minha memória" (Lc 22, 19).

4.1.    Oração do Pai-Nosso

Esta oração, ensinada pelo próprio Cristo, é rezada por toda a assembleia, em pé, e em uníssono, e está baseada no evangelho de Mateus: "Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal" (Mt 6, 9-13).

4.2.    Oração pela Paz

Após a oração do Senhor, o padre reza: "Senhor Jesus Cristo, dissestes aos vossos apóstolos: "Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz" (Jo 14,27). Não olheis os nossos pecados, mas a fé da vossa Igreja; dai-lhe, segundo o vosso desejo, a paz e a unidade. Vós que sois Deus, com o Pai e o Espírito Santo. E todos respondem: Amém!

4.3.    Cordeiro de Deus

Um pouco antes de receberem a Comunhão, os fiéis repetem, três vezes, a expressão: Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo tende piedade de nós. Esta repetição é bíblica, pois é feito o que nosso Senhor nos ensinou ao repetir, Ele mesmo, por três vezes, a mesma oração: "Se Te é possível afasta de mim este cálice. Mas não se faça a minha vontade, mas a Tua" (Mt 26,39). A repetição aparece no versículo 44: "Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras" (Mt 26,44).

Após a consagração, e apresentando a Hóstia Consagrada, o padre entoa as mesmas palavras ditas por João Batista ao anunciar o Messias: "Eis o cordeiro de Deus", Aquele que tira o pecado do mundo (Jo 1, 35). E a assembleia dos fiéis responde, em uníssono, e alta voz, conforme se encontra no evangelho: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo". Estas são as palavras do centurião de Cafarnaum diante do Senhor: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado" (Mt 8,8).


5.       RITOS FINAIS

Os ritos finais são constituídos, basicamente, pela benção final, que é dada a exemplo do que faziam os nossos Pais Abraão, Isaac e Jacó. A bênção de Abraão está em Gênesis: "Dê-te ele, como também à tua posteridade, a bênção de Abraão, a fim de que possuas a terra onde moras, e que Deus deu a Abraão" (Gen 28,4).

CONCLUSÃO:

Como alguém pode afirmar que a missa católica seja algo não bíblico? A profusão de citações bíblicas acima dissipa qualquer dúvida quanto às origens bíblicas da Santa Missa Católica. Amém!

Uilso Aragono.  (Novembro de 2016)

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O QUE É A VIDA – UMA VISÃO CRISTÃ

Costuma-se dizer que o planeta Terra é vivo, que possui uma dinâmica tal que o torna semelhante a um ser vivo. No entanto, a Terra não é um ser vivo, embora, de fato, possua uma Dinâmica Vital. Para aprofundar e esclarecer tal afirmação, vamos pensar sobre a Vida, seu significado, sua importância, seus limites.

A vida, do ponto de vista de alguém que crê em Deus, pode ser classificada em três categorias: Vida Animal-Vegetal, Vida Humana e Vida Espiritual. E a não-vida, associada à matéria físico-química, pode ser denominada Dinâmica Vital. Comecemos a reflexão por esta última.

DINÂMICA VITAL

A dinâmica vital é uma expressão que pode ser aplicada às criaturas não vivas – tais como o Sol e a Terra, por exemplo – que manifestam uma dinâmica semelhante à dos seres vivos, embora, de fato, não possam ser caracterizados como tais. A dinâmica vital não é vida, portanto, mas algo que se assemelha muito como que se entende por vida.

Esta dinâmica manifesta-se num comportamento não autônomo, não inteligente, mas que, ao longo do tempo, tem como resultado mudanças no estado da matéria de que é composto o ser considerado. Seja, como exemplo, o planeta Terra. Nosso Planeta, constituído por uma variedade enorme de tipos de matéria e de seres vivos, não tem autonomia e nem inteligência que o levem a sair da situação em que está: girando em volta do Sol. No entanto, possui uma dinâmica físico química que o caracteriza quase como um ser vivo, embora não tenha a característica fundamental de um ser vivo: a ocorrência da morte... Pois ao se dizer que uma estrela morre, está se afirmando, apenas, que, ao final de um longo tempo de atuação de uma certa dinâmica físico química, sua aparência e seu formato terão mudado substancialmente. A Terra, um dia, não terá o aspecto que hoje tem, e nem o conteúdo de vida que hoje possui. No entanto, ela não morrerá, mas, após um longo tempo, apresentará um outro aspecto e outro conteúdo.

VIDA ANIMAL (OU VEGETAL)

A Vida Animal é caracterizada por uma complexidade não encontrada nos seres que partilham a dinâmica vital. Essa complexidade é marcada pela existência do chamado DNA (ácido desoxirribonucleico): uma longa cadeia de aminoácidos que carregam em si códigos hereditários – estes, necessários à replicação do ser vivo, isto é, à sua capacidade de produzir descendentes.

A inteligência e autonomia são duas características intrínsecas e definidoras do ser vivo. De fato, cada ser vivo tem uma função autônoma e uma inteligência própria, embora instintiva esta última, que lhes dão condições de agir sobre a matéria e sobre outros seres vivos ao longo de sua própria vida, seguindo e dependendo de seu código genético herdado de seus antecedentes. 

Outra característica da Vida Animal é o seu fim, marcado pela morte do ser vivo. Este nasce, desenvolve-se, reproduz-se e, finalmente, morre. A morte é caracterizada pela total transformação do corpo desse animal, que já não é capaz de realizar sua ação sobre a matéria e sobre os outros seres vivos, como costuma fazer. Uma árvore morta, por exemplo, mantém, num primeiro momento, sua aparência anterior, mas já não absorve a seiva como o fazia antes, e não produz mais suas folhas e frutos como era capaz de fazê-lo enquanto vivia.

Uma última característica da vida animal é a sua capacidade e sua dependência de alimentar-se, e de aproveitar os nutrientes desses alimentos para a manutenção de seu corpo e de sua vida. A alimentação distingue o corpo vivo em confronto com o corpo morto, que volta a ser pura matéria (que, no entanto, continua a ter uma dinâmica vital).

VIDA HUMANA

A Vida Humana é, essencialmente, vida animal (ou vegetal), distinguindo-se desta, no entanto, e sobretudo, pela consciência da morte! Enquanto um chimpanzé fêmea, diante de um filhote recém morto, continua a carregá-lo para cima e para baixo, sem se dar conta de que seu descendente está morto, o ser humano percebe, claramente, o fim da vida – não somente sua, mas, também, dos seus pares. E ao perceber a realidade da morte, procura entender, justificar esse acontecimento, enchendo-o de significado.

Outra característica da vida humana é, que, diferentemente do animal não-racional, é constituída por corpo e espírito. Há na vida humana algo mais do que, simplesmente, um corpo material. Há uma realidade super material que se costuma denominar Alma humana. Esta está intrinsecamente unida à mente, ao cérebro humano, e é a fonte da consciência, e, particularmente, da consciência da morte.

Uma vez morto um ser humano, diz-se que ocorre a separação da alma e do corpo: enquanto este morre, de fato, decompondo-se, a alma é entendida como um ser que não encontra a morte, permanecendo vivo após a morte. A alma poderia ser entendida como o DNA espiritual do ser humano! Enquanto a inteligência de um animal é puramente instintiva, a inteligência humana é altamente criadora, adaptativa e expansível.

VIDA ESPIRITUAL

A vida espiritual pode ser, inicialmente, identificada com a alma humana! Esta é espiritual, pois foi criada por Deus: "E Deus o fez à sua imagem e semelhança; como homem e mulher os criou" (Gen 5, 1-2). Para que o homem seja considerado à imagem de Deus, sendo, Este, Espírito puro, há que se considerar a existência de algo espiritual no homem para que seja semelhante a Deus: é a alma espiritual!

Mas a vida espiritual transcende a alma humana... É constituída, sobretudo, pela vida angelical. A crença no mundo espiritual é bíblica e faz parte da crença cristã. Vivemos, portanto, em um mundo multidimensional: matéria não viva, matéria viva (corpos dos seres vivos) e seres espirituais.

A Criação, constituída por todas as criaturas de Deus, é algo que espanta pela sua grandiosidade e sua variedade. A Natureza, nada mais é do que o conjunto da dinâmica vital da matéria físico-química, dos corpos vivos, não-racionais e racionais (humanos), e do mundo espiritual. Toda a criação, criada por Deus por Amor, canta os louvores do Senhor! A importância da vida, especialmente a humana, está, justamente, na realização do plano de Deus: encher a Terra de vida, de alegria, de amor!

CONCLUSÃO


A vida por ser, então, entendida como marcada pelas características de autonomia, inteligência, procriação, alimentação e nascimento-morte. Se há um DNA que caracteriza toda forma de vida, racional ou não, há, igualmente, um DNA que caracteriza a vida espiritual humana: é a alma humana. Esta é como se fosse o DNA espiritual do ser humano. E se as criaturas não vivas já são fonte de admiração para nós, seres humanos, muito mais o são as criaturas vivas! E dentre essas, a própria vida humana é fonte inesgotável de admiração e de louvor a Deus, pelas suas incríveis capacidades de procriação, de inventividade, de intervenção (respeitosa) na natureza material-animal-vegetal, e de intervenção, também, no mundo espiritual. Esta última, acontecendo por meio da natural religiosidade do ser humano, que o leva a reconhecer e louvar o Criador de todas essas belezas e maravilhas da natureza.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

HISTÓRIA RESUMIDA DA BÍBLIA CRISTÃ

Este artigo visa a dar, de uma forma bem resumida, mas bem verdadeira, uma visão da origem histórica do livro mais lido e traduzido no mundo: a Bíblia Cristã. Pois a Bíblia, embora sendo considerada pelos cristãos como sendo Palavra de Deus, não caiu do Céu, mas foi escrita por homens mortais, limitados ... mas inspirados por Deus, segundo as crenças judaicas e cristãs. Esta "inspiração" não é considerada uma imposição divina sobre a mente humana do escritor sagrado, mas como que uma miraculosa orientação divina que levava o autor sagrado a escrever as verdades reveladas por Deus sob uma forma totalmente humana e inculturada (isto é, seguindo a mentalidade e a cultura da época).

O QUE É A BÍBLIA CRISTÃ

A Bíblia é um conjunto de livros (Byblos, do grego = biblioteca) que foi estruturado a partir das escrituras sagradas dos Judeus – tais livros constituindo o denominado Antigo Testamento – e das escrituras sagradas dos cristãos – tais livros constituindo o denominado Novo Testamento. Esses últimos livros foram escritos a partir do ano 50 da era cristã (Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses), quando o Apóstolo, depois de anos pregando (oralmente) o Evangelho de Cristo e fundando comunidades, pelas cidades do Império Romano de então, passou a escrever aos fiéis dessas mesmas comunidades para lhes confirmar a Fé.

A PREGAÇÃO DOS APÓSTOLOS

Após a vinda do Espírito Santo os apóstolos, cheios desse mesmo Espírito, sentiram-se fortalecidos e encorajados a cumprirem a missão que o Senhor lhes dera: "Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15). A Igreja de Cristo, fundada sobre Pedro, conforme as palavras do próprio Cristo ("Tu és Pedro e sobre esta Pedra erguerei a minha Igreja") começava a existir e a atuar na evangelização por meio da pregação dos apóstolos.

Observe-se, no entanto, que a pregação inicial dos apóstolos não se baseava na Bíblia, pois esta, simplesmente, não existia como definida acima. Existiam, tão somente, as escrituras sagradas dos judeus, citadas pelos apóstolos, que, ainda, se consideravam, também, eles judeus. Mas não existiam, ainda, os escritos do Novo Testamento. Estes, como visto acima, só começaram a serem escritos, pelos apóstolos e seus discípulos, a partir do ano 50 da era Cristã: a primeira carta de S. Paulo aos Tessalonissenses. Antes dessa data, o Evangelho já vinha sendo pregado desde Pentecostes, portanto, já há cerca de dezessete anos ...

ORIGEM DO ANTIGO TESTAMENTO

A primeira parte da Bíblia Cristã – o Antigo Testamento – é constituída pelos escritos sagrados dos judeus que foram reconhecidos, pela Igreja Católica, desde os primeiros séculos da Era Cristã: o Pentatêuco (ou a Torá, como é conhecida no meio judaico), os livros Proféticos e os livros chamados de Escritos. A Igreja Católica, desde suas origens aceitou todos os livros sagrados reconhecidos pelos judeus (escritos em hebraico) e, além desses, aqueles escritos em grego: cerca de sete: Baruc, Eclesciástico, Judite, I e II Macabeus, Tobias e Sabedoria, além de trechos de Ester e Daniel (escritos em aramaico). Estes, por terem sido alvos de alguns questionamentos sobre sua origem divina, isto é, se teriam sido inspirados por Deus, só passaram a fazer parte do Cânon Bíblico Cristão mais tarde que os demais. Foram, assim, denominados de dêutero-canônicos, o que significa: canônicos tardiamente. Mas foram reconhecidos como canônicos, de qualquer forma, pela Igreja Cristã Católica, desde os primeiros séculos da Era Cristã.

ORIGEM DO NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento é a parte da Bíblia constituída por livros sobre a história e a doutrina cristã. Foram escritos, como já dito acimo, a partir do ano 50 da Era Cristã, isto é: a partir de cerca de duas décadas após a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Os Evangelhos foram escritos a partir do ano 64 – quando foi escrito o Evangelho de Marcos –, sendo os demais, escritos até o ano 70, embora possa ser aceito que tenham sido escritos até, no máximo, no final do primeiro século (Ano 100 DC). Os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse, também, são aceitos como tendo sido escritos até essa data.

É, em geral, aceito, portanto, que todos os livros do Novo Testamento tenham sido escritos durante a segunda metade do primeiro século da Era Cristã. Verifica-se, assim, que os Apóstolos e os Evangelistas – autores sagrados do Novo Testamento – não tenham conhecido a Bíblia Cristã, como a conhecemos desde o fim do primeiro século da Era Cristã. O anúncio (o Kérigma) da doutrina cristã, portanto, foi feito, inicialmente, de forma oral, e somente depois de cerca de 20 anos é que essa pregação passou a ser, lentamente, colocada por escrita pelos próprios apóstolos ou seus discípulos.

Quanto aos Evangelhos – que são aceitos por todos os cristãos, bem como o Novo Testamento, em geral – esses foram escritos por Mateus, Marcos (discípulo de Pedro), Lucas (discípulo de Paulo) e João. No entanto, pelo segundo século da Era Cristão foram aparecendo outros evangelhos, que, no entanto, não foram aceitos pela Igreja Cristã. Acredita-se que sejam mais de 50. Alguns desses, denominados evangelhos apócrifos, são: Natividade de Maria, Proto-Evangelho de Tiago, Evangelho Copto de Tomé, Evangelho apócrifo de João, Evangelho de Pedro, Evangelho de Maria Madalena, Evangelho de Felipe, Evangelho de Judas e Evangelho da infância de Jesus (54 perguntas sobre Jesus Cristo, Universidade de Navarra).

CÂNON DA BÍBLICA CRISTÃ

Como visto acima, a Bíblia Cristã é constituída por livros judeus (Antigo Testamento) e por livros cristãos (Novo Testamento). Mas a definição de quais são esses livros foi sendo elaborada, em meio a questionamentos, legítimos ou não, ao longo da vida mesma da Igreja Cristã. Assim, já no final do segundo século (Séc. II, Era Cristã) o Bispo Ireneu de Lyon, em seu livro Contra os Hereges (Adversus Haraeses 3.11.8-9). Nessa época havia muitos escritos que se propunham como evangelhos cristãos, que, no entanto, desde cedo foram rejeitados como sendo inspirados. Suas principais características rejeitadas eram: fantasiosos, com revelações secretas de Jesus, com doutrinas claramente heréticas, etc. Já naquela época, o cristão Orígenes de Alexandria  (245) escrevia: " A Igreja tem quatro evangelhos, os hereges, muitíssimos" (54 perguntas sobre Jesus Cristo, Universidade de Navarra).

Até a Reforma Protestante, o Cânon oficialmente aceito pela Igreja Católica para os livros que compunham a Bíblia Cristã era constituído de 66 livros do Antigo Testamento (incluídos os denominados dêutero-canônicos, acima citados) e 27 livros do Novo Testamento, totalizando 73 livros sagrados. Essa lista completa (Cânon) de livros do Novo Testamento (livros cristãos) somente foi definitivamente finalizada no II Concílio de Cartago (417 DC)

Logo após a Reforma Protestante, que procurava eliminar os livros dêutero-canônicos (e até mesmo alguns do Novo Testamento, como Lutero desejava, em relação à Carta de S. Tiago), a Igreja Católica se reuniu no Concílio de Trento (1545-1563) e ratificou o Cânon tradicional da Bíblia Cristã Católica.

CONCLUSÃO

A origem da Bíblia Cristã está associada ao nascimento e ao florescimento da Igreja Cristã dos Apóstolos. A Igreja nascente, formando-se por meio da pregação oral dos apóstolos, tanto na Palestina, quanto na Ásia Menor e em Roma, não possuía a Bíblia, ainda. Os únicos escritos sagrados, citados pelos apóstolos (e até por Cristo) na sua pregação, eram aqueles do Antigo Testamento: livros judaicos. A Bíblia, conforme definida acima, ainda não existia. Os livros do Novo Testamento foram aparecendo à medida que a pregação e a formação de comunidades cristãs ia espalhando-se. O primeiro escrito do Novo Testamento, isto é, da Era Cristã, foi produzido pelo Apóstolo Paulo, em cerca do ano 50 DC. A Bíblia Cristã, como existe hoje, só tomou corpo definitivo, nos primeiros séculos da Era Cristã, quando então, todos os livros reconhecidos como sagrados e inspirados por Deus foram combinados e listados no Cânon Oficial da Igreja Católica, deixando para trás muitos outros escritos, propostos como sagrados pelos seus autores, que foram considerados como escritos apócrifos, isto é: não-autênticos ou, até mesmo, heréticos.

Uilso Aragono (Setembro de 2016)

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

IMPEACHMENT DE DILMA: VITÓRIA DA DEMOCRACIA

Neste dia, 29 de agosto de 2016, está acontecendo o julgamento da presidente Dilma Roussef, num processo legítimo e democrático, pelo Senado Federal do Brasil. As perspectivas são de que haja a condenação da Presidente, e ela deixe o cargo, imediatamente. Em sua fala inicial, na abertura dos trabalhos do dia, a Presidente se fez de vítima e acusou – para espanto de muitos! – o processo de impeachment de ser um "golpe parlamentar". 

O QUE É DEMOCRACIA

Democracia é o governo do povo para o povo, através de seus representantes legais, eleitos pelo critério da maioria dos votantes. Mas, diferentemente do que ressalta a Presidente e seus defensores, a Democracia não é um processo pontual, restrito aos momentos solenes das votações, mas, na verdade, é um processo contínuo, que inclui a possibilidade de impedimentos por parte das câmaras parlamentares, em função de aspectos políticos e jurídicos. Portanto, as manifestações do povo, contra um governante, são expressões igualmente democráticas, isto é: tão democráticas quanto os momentos das eleições.

SITUAÇÃO DA PRESIDENTE DILMA

A situação da presidente Dilma tem dois aspectos de expressão democrática. O primeiro corresponde aos seus tão falados cinquenta e quatro milhões de votos obtidos nas eleições, o que a capacitou como presidente para o período de 2015 a 2018. O segundo aspecto são as manifestações populares, democráticas e majoritárias, contrárias ao seu governo, que começaram com manifestações de rua contra aumentos tarifários, em São Paulo, e contra a corrupção, e se fortaleceram a partir de fevereiro de 2015 – início de seu segundo mandato.

Os dois aspectos democráticos citados, são expressões de uma verdadeira democracia: eleições e manifestações populares nas ruas. E ambas, por serem democráticas, devem ser marcadas por critérios de maioria. Se as eleições, por uma pequena maioria de três por cento, definiram a reeleição da candidata do Partido dos Trabalhadores, as várias manifestações populares ocorridas no País, nesses dois anos iniciais do segundo governo Dilma, foram-lhe claramente contrárias e favoráveis ao seu impeachment, além de majoritárias, se confrontadas com as manifestações que lhe davam apoio. – Isto não é expressão democrática?

Sendo um processo contínuo, as manifestações populares fazem eco no Congresso Nacional, que é formado por seus representantes eleitos. Sendo assim, o Congresso, num país democrático, não pode ficar alheio ou dar as costas aos sentimentos populares expressos pelo povo em suas várias manifestações, especialmente quando vai para as ruas.

O que provavelmente tenha acontecido foi que, embora o povo tenha escolhido a presidente Dilma durante as eleições, logo após, e tendo em vista o desgoverno da Presidente, passou a manifestar-se contra, e a pedir o seu impeachment. Se o povo continuasse a dar apoio à Presidente, teríamos manifestações populares majoritariamente favoráveis a seu governo, puxadas não só pelo PT, mas por todos aqueles que votaram em Dilma para o seu segundo mandato! Mas o que se viu foi o povo indo para as ruas por meio de manifestações majoritariamente favoráveis ao impeachment – e isto não é difícil de se verificar!

TESE DE GOLPE PARLAMENTAR

A tese de golpe parlamentar é uma verdadeira farsa, e seus defensores sabem muito bem disto. Ignoram, ou escondem, que o processo de impeachment é de dupla natureza: jurídica e política. Ao se defender, a presidente Dilma enfatiza que o processo de impeachment, sem uma fundamentação jurídica, isto é, sem crime de responsabilidade, é um golpe parlamentar! Estaria com a razão se o processo de impeachment fosse, apenas, de natureza jurídica. Mas não o é: é de natureza, sobretudo, política; tanto é, que ocorre no Congresso Nacional. Se fosse de natureza apenas jurídica, ocorreria logicamente, no Supremo Tribunal Federal.  E esta natureza dupla se concretiza pela presença do presidente do STF no comando dos trabalhos do Senado, na fase final de julgamento da Presidente.

HÁ CRIME DE RESPONSABILIDADE OU NÃO?

Sobre esta questão, há que se reconhecer que os especialistas divergem. Para alguns, o crime de responsabilidade é caracterizado, enquanto para outros, não. Havendo dúvida, nos julgamentos puramente jurídicos, aplica-se a conhecida máxima latina: "in dubio pro reo" – na dúvida, inocenta-se o réu.

APLIQUE-SE O CRITÉRIO POLÍTICO!

No entanto, sendo o processo de natureza dupla, como já visto, e havendo dúvida quanto à natureza jurídica, há que se recorrer ao critério político, em que as expressões democráticas do povo nas ruas devem ser ouvidas. E é o que está ocorrendo. De fato, não se pode ter certeza sobre se as pedaladas fiscais ou os créditos complementes não aprovados pelo Congresso constituem ou não crime de responsabilidade. Mas o desejo majoritário do povo nas ruas é claramente contrário à continuidade do governo Dilma, por muitas razões. E não teria o povo, numa verdadeira democracia, o direito de se arrepender de uma escolha eleitoral mal feita?...

CONCLUSÃO

Tudo indica que o julgamento final da presidente Dilma, que começa hoje (29/08/2016), no Senado Federal, sob a presidência do ministro lewandowski, do STF, terá como conclusão a condenação da ré, que perderá o mandato definitivamente por soberana vontade popular manifestada por suas manifestações de rua, dentre outras, e ouvidas pelos seus representantes legais. E viva a Democracia no Brasil!

Uilso Aragono, agosto de 2016.

domingo, 31 de julho de 2016

IDEOLOGIA DE GÊNERO: UMA GRANDE FARSA

A já tão falada "ideologia de gênero" apresenta-se à sociedade como uma proposta aparentemente boa, verdadeira e justa, pregando a igualdade, a democracia e a liberdade, mas é, na verdade um conjunto de esforços para impor uma sociedade sem Deus, antidemocrática e libertina.

CONCEITOS BÁSICOS

           Ideologia:

É um conjunto de ideias e crenças de um grupo de pessoas que sustenta sua ação política. Segundo D. D. Raphael, é geralmente um termo utilizado para significar uma doutrina normativa não suportada por argumentos racionais. (D. D. Raphael, "Problems of Political Philosophy, 1979")

        Pode-se já notar aqui, que há algo de irracional nessas ideias, segundo um filósofo, pessoa dada a analisar o pensamento humano.

           Veja-se, ainda, que o conceito de ideologia está na base de ações políticas que buscam certos objetivos, nem todos, claramente, explicitados ou identificados.

          Exemplos: ideologia fascista, ideologia conservadora, ideologia anarquista, ideologia de gênero, etc. Aliás, a ideologia de gênero é uma espécie de ideologia anarquista...

Gênero:

É um termo normalmente utilizado na linguística, na gramática, significando a diferença de "sexo", isto é, masculino ou feminino, entre os objetos. Uma mesa é de gênero masculino, um quadro negro é de gênero masculino. Utiliza-se esta expressão – gênero – porque, a rigor, os objetos não têm sexo, havendo necessidade, no entanto, em alguns idiomas, de se designar por artigo masculino ou feminino certos objetos. Em italiano, por exemplo, o quadro negro é de gênero feminino: "la lavagna". 

Como será visto à frente (estratégias), a ideologia de gênero se apropria de certos termos e lhes dá um novo significado para ser utilizado nas suas ações políticas. Além de criar novos termos, como será visto.

                PROPOSTA DA IDEOLOGIA

                               Não há diferenças entre os sexos

                               A ideologia de gênero, também conhecida como ideologia da ausência de gênero", propõe o termo "gênero", para substituir o termo "sexo", com base em sua crença (e sua proposta para a sociedade) de que não haja, efetivamente, diferença entre os sexos; que os seres humanos, apesar das diferenças biológicas, objetivas, nascem "neutros" e poderiam, ao longo da vida, escolher seu gênero: masculino ou feminino, dentre outros...

                               A ideologia de gênero acredita e propõe à sociedade que sexualidade humana seja parte de "construções sociais e culturais", e não um fator biológico. (Vide: www.significado.com.br/ideologia; acesso em 29/07/16.) Isto faz parte da crença de que tudo na vida seja fruto do trabalho e das decisões do homem, do ser humano. Aqui já se verifica que o ateísmo – que acredita no homem, mas não em Deus – é a melhor opção para o homem moderno.

                               Liberdade de escolha pessoal

                            A ideologia divulga que agindo assim, a sociedade estaria garantindo a tão desejada liberdade pessoal. Isto é entendido pelos propositores da ideologia como uma maneira bem egocêntrica de viver, embora não reconheçam claramente isso. Por exemplo, a mulher poderia, tranquilamente, como fruto de sua "liberdade de escolha", decidir viver uma vida a dois com outra mulher, garantindo, assim: seu prazer sexual, sua liberdade para trabalhar sem ter filhos (inesperados), e sua liberdade para tê-los (por inseminação artificial ou adoção).

 No caso de uma mulher casada com um homem sua liberdade estaria garantida pelo fato de, ficando grávida, inesperadamente, o aborto ser a saída "natural", para garantir sua liberdade (egocêntrica). Este último exemplo se baseia na crença (ou ideologia) que admite (sem qualquer prova científica mais cabal) que seja o homem (o ser humano) o responsável por tudo o que aconteça com a sociedade e, mesmo, com a natureza, como será visto mais à frente. A quantidade de filhos, portanto, é uma escolha absoluta do "casal", seja este de qualquer formato: homem-mulher, homem-homem, mulher-mulher, etc.

Liberdade sexual

A proposta de liberdade – tão atraente para o cidadão ocidental, particularmente – é apresentada com muita ênfase, mas não é a verdadeira liberdade, pois esta, tem limites! A ideologia de gênero propõe, na verdade, uma liberdade sobretudo sexual! A liberdade é tanta que a pessoa poderia – de acordo com sua liberdade de escolha – decidir por mudar de papel sexual: de homem, passar a ser mulher, por exemplo! A prática de relações sexuais estaria totalmente liberada: alguns defendem até mesmo entre parentes, com crianças e com animais!... É uma verdadeira libertinagem!

Observe-se que a crença em Deus e nos valores éticos e morais daí decorrentes é totalmente oposta a tais propostas. Portanto, conclui-se que o ateísmo prático, está, de fato, por trás e na base da ideologia de gênero. Sem Deus, tudo é livre, tudo se torna relativo, tudo é aceito, tolera-se tudo!

CRENÇAS NA BASE DA IDEOLOGIA

Igualdade sexual e em geral (igualdade absoluta)

Os propositores da ideologia de gênero partem da aparentemente correta ideia de que a igualdade – no seguimento do lema da revolução francesa: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" – seja um valor aceito por todas as pessoas. No entanto, há que se chamar a atenção para o fato de que, na verdade, a igualdade absoluta não é um valor cristão! A igualdade cristã é aplicada à dignidade da pessoa humana! No mais, como será visto adiante, a desigualdade entre as pessoas é a marca de nossa realidade: fomos feitos por Deus sob a marca da originalidade!

Propondo, ou melhor, impondo a crença da igualdade absoluta, os defensores de tal ideologia fazem crer aos desavisados que somos todos iguais, inclusive no sexo! Não haveria, portanto, diferença biológica essencial entre os seres humanos. E qualquer opção sexual pessoal seria válida, abrindo-se, assim, caminho para uma tolerância total e completa entre as pessoas, que não estariam mais sujeitas às discriminações injustas dos tempos atuais.

Ateísmo prático e nova moral

Essa crença na igualdade absoluta faz eco – não deixemos de perceber! – ao movimento anticlerical ou anticatólico que, já na Revolução Francesa, propunha um mundo leigo, isto é, antirreligioso, ateu... E hoje, com o pensamento pós-moderno, busca-se, justamente, e mais uma vez, atacar a religiosidade e a crença em Deus (e em Jesus Cristo) para a implantação de uma nova moral não-cristã!

Esta é a crença (não-religiosa, mas crença!) dos apoiadores e divulgadores da ideologia em foco: criar, ou recriar, um mundo novo, onde reinem a igualdade (absoluta), a liberdade (ou, melhor, libertinagem) e a democracia (que, com o tempo, se fará autocracia...).

O homem é que "cria" o mundo

Acreditam, os ideólogos do gênero – ou melhor, "fingem" que acreditam! – que o homem seja o grande responsável por tudo, de bom e de ruim, que existe no mundo. Defendem que tudo seja de responsabilidade do homem. Portanto, tudo o que a sociedade ocidental aceitou como valores até aqui pode ser questionado, desse ponto de vista, propondo-se uma revisão das "arbitrariedades" impostas pela moral cristã ocidental. Entram aqui as "arbitrariedades": ser humano como homem e mulher; casamento como homem-mulher; mãe como papel da mulher; pai como papel do homem; etc.

ESTRATÉGIA DA IDEOLOGIA

Manipular a linguagem (novos termos)

Esta, talvez, seja a estratégia mais forte e marcante dos ideologistas do gênero. O próprio nome da ideologia é tirado de um termo "fabricado" para passar sua nova visão do homem: não tem sexo definido; mas "gênero" a ser escolhido!

Mas, além desse primeiro termo, escolhido para divulgar a ideologia, outros foram sendo arquitetados para constituírem-se vetores de disseminação de suas ideias e propostas à sociedade. Considerem-se os seguintes.

"Igualdade", tomado num sentido absoluto, como já discutido acima.

"Homossexualismo", criado para representar um conjunto de atos e comportamentos que, já há muitos anos, descreviam desvios de comportamento sexual, não aceitáveis como "normais" para a moral cristã. Alguns desses termos (alguns de baixo calão): pederastia, "viadagem", incesto, pedofilia, lesbianismo, etc.

Tendo divulgado o termo homossexualismo – como algo "natural" e possível dentro do contexto da "liberdade" humana, impõem um novo termo, oposto, que nunca foi necessário utilizar-se: o "Heterossexualismo". Estabelece-se, então, que duas possibilidades naturais e moralmente aceitáveis de comportamento sexual são, tanto o "homossexual" como o "heterossexual".

A palavra "discriminação" é utilizada, sem qualquer adjetivação, como sendo algo negativo e que deve ser rejeitado. Isto é feito para conquistar adeptos para suas ideias, como se os defensores da ideologia fossem pessoas muito preocupadas com a justiça nas relações humanas! Na verdade, sabe-se que a discriminação tanto pode ser justa como injusta. Há necessidade de adjetivação quando se usa tal termo, embora seja usado, de fato, no sentido mais negativo. Mas a discriminação positiva (ou justa) existe e é tão comum quanto a discriminação injusta. Exemplos de discriminação justa: meia entrada para estudantes; passe livre para anciãos no transporte público; assentos reservados e fila especial para idosos; banheiros masculino e feminino. Quanto a estes últimos, a ideologia de gênero prega que esta "discriminação" deva ser banida, e os banheiros transformados em banheiros de "gênero", onde entra cada um conforme sua própria identidade sexual assumida...

Unir-se a outras ideologias similares

Alinham-se, ainda, os ideólogos do gênero, às correntes de ambientalistas e de muita gente de má fé, que querem atribuir a responsabilidade pelas "mudanças climáticas" (que, na verdade, são variações naturais climáticas!), mais uma vez, ao ser humano. E faz sentido para eles: no contexto de uma igualdade absoluta, tudo é igual na natureza (inclusive o clima!), e qualquer mudança que esteja ocorrendo é de responsabilidade do homem! Ele é que provoca tais mudanças! Assim como faz na natureza, o homem também pode fazer nas relações e no comportamento humanos.

Esta visão eleva o homem quase à categoria de um "deus", que tem o poder de fazer o que quiser com o mundo e com a sua vida: ele tem o poder (que antes era da Natureza) de alterar o clima; ele tem o poder de alterar o sexo biológico pela liberdade de "opção sexual"; ele tem o poder de relativizar tudo o que queira, em função de seu "bem maior" (sua liberdade, sua individualidade, seus prazeres, etc.).

O conceito do Deus cristão desaparece, é desnecessário, porque cabe ao homem (ser humano) tudo decidir em função de suas crenças pessoais.

DESMONTANDO A IDEOLOGIA DE GÊNERO

A igualdade é uma utopia e uma impossibilidade

A crença tão disseminada pelos ideólogos de gênero, de uma "igualdade" absoluta, não se sustenta sob a ótica da fé cristã. Já no Gênesis, se lê: "E Deus criou o homem, e os criou homem e mulher" (Gn 1, 27). E não só os criou em dois sexos claramente distintos, sob o ponto de vista biológico – em que até suas células e cromossomos são distintos no homem e na mulher! –, como os criou cada um diferente do outro: são milhões de pessoas com características totalmente únicas e individualizadas, onde nem os gêmeos univitelinos (iguais entre si, na aparência) são, verdadeiramente, iguais! Embora possam ter muitas similaridades, cada um dos gêmeos tem sua própria personalidade e seu caráter, como nos demonstra, facilmente, a experiência.

Na natureza, nada mais bonito do que a variedade de objetos e de seres vivos! Um Deus que criasse tudo igual, seria um deusinho, um ídolo... A individualidade é uma marca que atinge a todas as criaturas: mesmo em uma certa espécie animal, por exemplo, cada indivíduo é único, é diferente! Somos todos iguais diante de Deus, e uns diante dos outros no que respeita ao direito a uma vida digna e à liberdade de consciência.  No mais, somos todos desiguais! E o respeito a essas desigualdades é fundamental para um Direito justo, para uma vida social com dignidade para todos. E incluem-se, inclusive, os mais "desiguais", isto é, aqueles que têm necessidades especiais! Num mundo igual, esses últimos seriam descartados...

Não é a proposta de uma igualdade absoluta que levará o ser humano a superar as intolerâncias injustas. É uma questão de educação, de respeito, de amor. E enquanto existir o homem na natureza, sua tendência ao egoísmo, à maldade, enfim, ao pecado, religiosamente falando, o levará a relações imperfeitas com o outro ser humano.

É uma ideologia claramente anticristã

Como já visto acima, trata-se de uma ideologia, além de irracional, por si mesma, totalmente anticristã. Seu propósito, não claramente enunciado – para não assustar as pessoas! –, é implantar uma sociedade com novos padrões morais, não cristãos.

Os cristãos devem ficar muito atentos à manipulação linguística utilizada pela ideologia para implantar seus novos "valores", que, na verdade, são verdadeiros atentados à ética e à moral cristãs.

Ler, discutir, rezar e viver santamente, além de agir politicamente no sentido de combater essa grande farsa, é dever de cada cristão.

O homem é colocado no lugar de Deus

Sendo uma ideologia de fundo ateísta, embora não se declare como tal, busca, na verdade, a implantação de uma sociedade totalmente "leiga", isto é, sem religião, sem fé, sem Deus: uma sociedade ateia. Na verdade, os ateus propositores dessa perniciosa e ideologia lutam contra a fé, mas eles mesmos, têm fé. Mas, fé no homem!...

CONCLUSÃO

Por tudo acima discutido vê-se que a chamada ideologia de gênero é, de fato, uma grande farsa, embora se apresente à sociedade como se fosse um conjunto de novas crenças e práticas totalmente democráticas e favoráveis à liberdade e à felicidade das pessoas. E, justamente por isto, constitui-se numa grande ameaça à própria sociedade cristã ocidental, pois se insinua como um verdadeiro lobo em pele de cordeiro. Estão ameaçados, não somente os valores cristãos e a fé cristã, mas, também, os próprios valores democráticos e de liberdade verdadeira. Sendo assumida pela Sociedade, tal ideologia terá criado, de fato, uma nova sociedade: libertina sexualmente, ateia e antidemocrática; tudo o contrário do que, falsamente, propugna. Fiquemos atentos! Especialmente os cristãos, lutemos contra tais propostas que visam, sobretudo, a eliminar Deus dos corações e a aposentar os valores cristãos da sociedade ocidental.

REFERÊNCIAS PROPOSTAS:

1.       SCALA, Jorge. Ideologia de gênero – O neototalitarismo e a morte da família. Katechesis e Artpress, São Paulo, 2011. (Este livro, em forma digital (pdf), pode ser baixado pelo link: http://migre.me/uwduUs.)
2.       SOLANO, Rafael (Pe). Ideologia de gênero – e a crise da identidade sexual. Canção Nova. São Paulo.
3.       BONNEWIJN, Olivier.  Gender, quem és tu? – sobre a ideologia de gênero. Ecclesiae. 1.ed. 2015.

                Uilso Aragono  (julho de 2016)

         uilso.arag@gmail.com

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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