domingo, 30 de março de 2014

O QUE GANHA A SOCIEDADE COM A VIOLÊNCIA NOS JORNAIS?

Os jornais impressos publicam, quase que obrigatoriamente, as piores notícias de violência e crimes na primeira página! E dedicam uma significativa parte do jornal à descrição dos detalhes dessa violência e desses crimes! Por que tem de ser assim? Por que a Sociedade organizada não questiona tal realidade cultural dos jornais? Pode-se e se deve perguntar o que ganha a Sociedade com a divulgação e a descrição tão detalhadas de tudo o que há de pior na vida social: roubos, assaltos, assassinatos, estupros, suicídios, violência policial, violência doméstica, violência contra crianças, adolescentes, mulheres e idosos. Por que essa divulgação?  Enfim, o que a Sociedade ganha com essas “reportagens”?

O QUE GANHAMOS? – NADA.


Mesmo sem fazermos uma pesquisa científica aprofundada, baseando-nos, tão somente, naquilo que constatamos e sentimos, podemos afirmar que a exploração da violência pela mídia – particularmente pelos jornais impressos – não contribui, positivamente, para que tenhamos uma sociedade mais pacífica, mais harmoniosa, mais humana.

A descrição detalhada de como ocorreu este ou aquele crime, esta ou aquela ação violenta, não pode ser “educativa” para a mente, especialmente, da infância, da adolescência e da juventude, para ficar apenas nessa parte da Sociedade que está na fase do desenvolvimento educacional. O que ganha um jovem ao ler os detalhes (às vezes, macabros) de um assassinato? Se o jovem quiser ver violência, ele que procure um filme violento, mas que lhe esteja dentro da sua faixa de idade recomendada. Mas a violência expressa nos jornais, não está associada a qualquer recomendação de faixa etária adequada. Qualquer criança está exposta a dar curso à sua curiosidade diante de jornais impressos deixados livremente à sua disposição... É a violência entrando na mente da criança e tornando-a, no mínimo, algo natural, enquanto deveria ser, para qualquer cidadão, algo totalmente antinatural, aberrante, e condenável!

O QUE PERDEMOS? – MUITO.


A Sociedade só tem a perder com a descrição detalhada dos eventos violentos vividos em seu interior. As seguintes consequências podem ser listadas, sem muito esforço:

1)      O cidadão acostuma-se com a ideia da violência, em todas as suas variedades, encarando-a como “natural”;
2)      O cidadão desenvolve certa psicose do medo, o que o atrapalha a viver a sua vida social, levando-o, muitas vezes a ter sérios problemas psicológicos, como depressão, fobias, angústias, etc.;
3)      O jovem menos amparado educacionalmente pode sucumbir, mais facilmente, às tentações das facilidades que o crime oferece e seguir as “orientações” que os mais experientes passam por meio da descrição detalhada das “páginas policiais”;
4)      O cidadão que sofra de qualquer mínima tendência ao desenvolvimento de aspectos de psicopatia encontra, na violência expressa pelos jornais, “incentivos” a exercitar esses aspectos doentios da personalidade. Alguns cientistas já perceberam que alguns psicopatas cometem crimes para, dentre outras razões, “aparecerem” como “heróis” – em sua mente distorcida –, e tornarem-se famosos, nas páginas dos jornais;
5)      O cidadão que esteja envolvido com problemas familiares, financeiros, dentre outros, fica estimulado por certos exemplos de violência, como é o caso do suicídio, que é uma violência contra si próprio. É o caso, já cientificamente constatado, de que a divulgação de suicídios (em seus detalhes), pelos jornais, tem efeito contagiante sobre pessoas com tais tendências ou sob forte estresse emocional. Não é à toa que já se estabeleceu, no âmbito de mídia impressa, uma espécie de “compromisso” não escrito quanto a não divulgação, em seus detalhes, de casos de suicídio. Sabe-se que, em Vitória – ES, não se divulgam nos jornais, senão excepcionalmente, os casos de suicídio ocorridos na Terceira Ponte, justamente para que outros casos não sejam “incentivados”. Por que não estender tais conclusões, e tais compromissos, a todos os outros casos de violência social?

O QUE FAZER?


A Sociedade deveria, em primeiro lugar, tomar consciência quanto aos males, acima apontados, em relação à violência diariamente divulgada pelos jornais impressos. Tomada esta consciência, algumas alternativas mais produtivas e educativas, à violência jornalística diária, poderiam ser pensadas por nossas autoridades, testadas e tornadas prática constante. Algumas ideias podem ser listadas a seguir, embora os jornalistas sejam aqueles que têm  toda a capacidade de identificar, criativa e eficazmente, as melhores opões.

1)      Divulgar na primeira página, no lugar das antigas e superadas notícias sobre violências, chamativas e alarmantes, totalmente ao contrário, notícias sobre ações positivas, pacíficas e pacificadoras ocorridas nas comunidades locais;
2)      Divulgar notícias sobre violência social, apenas naquilo que interesse ao conhecimento da Sociedade, e de maneira absolutamente sumária, não revelando nomes de pessoas nem de instituições envolvidas, na forma, talvez, de indicações estatísticas. Estas poderiam ajudar à Sociedade a tomar providências quanto aos índices que insistam em permanecer ruins;
3)      Divulgar ações humanitárias e educativas, de iniciativa de indivíduos, de associações e de ONGs das comunidades locais, com descrição detalhada, aqui sim, sobre o que tem sido e como têm sido feitas tais ações pró cidadania;
4)      Divulgar os índices positivos relativos à saúde, à educação e à qualidade de vida da população ou, não existindo tais, divulgar os desafios a serem alcançados nessas áreas de interesse maior da população;
5)      Divulgar as atividades, que surgem constantemente, e que busquem oferecer aos cidadãos oportunidades de melhoria de suas competências profissionais, de sua qualidade de vida, de sua participação política, etc.;

CONCLUSÕES


Reconhecer que a violência costumeiramente divulgada pela mídia, particularmente pelos jornais impressos – que ficam mais à disposição livre de qualquer pessoa, independentemente da idade – tem sido, em vez de bênçãos, ocasião de grandes males para a Sociedade e seus cidadãos, especialmente para aqueles que estejam em idade de formação educacional (crianças, adolescentes e jovens), é uma das primeiras atitudes que todos nós deveríamos tomar no sentido de superar a exploração da violência pelos jornais impressos.

Buscar alternativas à costumeira publicação de notícias de violência social é perfeitamente possível, e muitas opções criativas existem e podem ser exploradas positivamente, tanto para os jornais, quanto para a Sociedade. Se num primeiro momento cair a tiragem dos jornais, há que se ter a paciência histórica para reconhecer que toda mudança carece de algum tempo para ser digerida e aceita pela população.

Um mundo novo pode abrir-se para a Sociedade cujos meios de comunicação impressos vençam a tentação da exploração da violência social, para a venda fácil. Os cidadãos devem conscientizar-se da sua própria avidez em relação ao interesse e ao consumo de notícias sobre violência e passar a valorizar, para o bem, em especial, das futuras gerações, notícias mais positivas, instrutivas, educativas, formativas e culturais.
 

Vencer o círculo vicioso de divulgação jornalística de violência, que gera mais violência, não só é possível, mas absolutamente necessário a uma Sociedade que queira tornar-se, realmente, madura e com elevada qualidade de vida.

Uilso Aragono. (março de 2014)

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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