quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

A DIFERENÇA ENTRE CRER E TER FÉ

 Neste artigo, pretendo mostrar, sem muita profundidade teológica, a diferença entre o crer e ter fé. Porque, por um lado, são confundidos como sendo a mesma coisa e, por outro lado, algumas pessoas creem em Deus, mas costumam não ter fé, especialmente nos aspectos práticos da sua vida. Esta já é uma diferença inicial: a crença parece ter uma dimensão mais teórica, enquanto a fé resvala na vida mais prática.

A gente aprende, em Teologia, que a diferença entre crer e ter fé está na acolhida que se dá ao objeto do crer. Pois sabe-se que o diabo crê em Deus..., mas não O acolhe. Ele tem certeza da existência e do poder de Deus, e que Ele é seu criador. Mas não aceita essa situação, por orgulho e por inveja da humanidade. Portanto, não tem fé: não O acolhe!

Ter fé em Deus, ou em nosso Senhor Jesus Cristo, é — para além de acreditar — acolhê-lo no coração; é ter um coração aberto para Ele. E se a fé é dom (como muitos reconhecem) e iniciativa de Deus, por outro lado é resposta daquele que crê; resposta que se dá na acolhida e na abertura do coração. É como aquela imagem da garrafa sob a chuva (o dom da fé): se estiver com tampa (fechada) a chuva não entra... Ou como aquela outra imagem da mercearia que tem tudo à disposição do pobre faminto, e de graça: mas se ele não fizer a sua parte, isto é, não se movimentar e entrar na mercearia, morrerá de fome... Esse “movimento” representa a nossa resposta ao dom da fé; a nossa abertura de coração; a nossa acolhida ao dom de Deus.

E o que é essa tal “abertura de coração”, na prática? É a “movimentação” do pobre que já crê na existência da mercearia. Aquele que já crê em Deus, precisa, portanto, superar o natural comodismo humano e dar seus passos em busca de aceitar o dom da fé. É aqui que entra a nossa Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana: ela (que é o próprio corpo místico de Cristo) nos oferece o “depósito da fé” deixado por Cristo — seus sacerdotes e seus Sacramentos. Acolher a Igreja e seus dons (os Sacramentos) é acolher o dom da fé. Os Sacramentos do batismo, da Eucaristia e da Crisma (ou confirmação) são os primeiros passos daquele que já crê, mas quer alcançar a fé. Infeliz do diabo que crê em Deus, até mais do que nós, mas rejeitou ter fé! Infeliz seremos nós se não nos movimentarmos para alcançar a fé.

E, a propósito, qual é o pecado que não tem perdão senão aquele contra o Espírito Santo? Que é, justamente, o fechar-se diante da possibilidade da fé. O coração fechado, orgulhoso e invejoso dos fariseus da época de Cristo ilustra o pecado contra o Espírito Santo: vendo as maravilhas realizadas por Cristo (crendo nelas, portanto) não foram capazes de abrirem-se à fé!

Que possam, todos os que já creem, esforçarem-se por fazer sua parte no sentido de buscar o dom da fé!

Uilso Aragono. (dez. de 2023).

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

A MÍSTICA DO NÚMERO 3 – PARTE II

 O número três (03) é um número muito interessante e curioso! Em termos da produção de textos ou discursos, encontram-se muitos exemplos que mostram sua divisão em três partes.  E muitas áreas da vida social encontram-se divididas em três partes. Como católico que sou, inicio com o exemplo da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. E esse Deus trino ou trindade talvez seja a origem da mística do número três. É como uma marca de Deus, ou uma assinatura dEle, deixada na natureza.

Dando continuidade aos exemplos iniciados na primeira parte deste blogue, apresento abaixo mais alguns bons exemplos de utilização do número três (03) em nossa vida cotidiana.

 Os exemplos abaixo estão divididos em três partes! Exemplos nos textos escritos, na sociedade humana e na natureza.

1. O número três nos textos

Quando são preparados textos (redação, discursos, relatórios, homilias, etc.), ocorre muitas vezes que tais escritos podem ser divididos em três partes suficientes (e não mais). Algumas homilias do Papa Francisco, proferidas nas missas na Casa Santa Marta, no Vaticano, e recolhidas em cinco volumes, como pode-se conferir na referência abaixo (livro: A Felicidade se aprende em casa), encontram-se esquematizadas em três partes.

 Na homilia “O Cristão sabe abaixar-se para anunciar o Senhor” o Papa afirma: Na solenidade de S. João Batista, há três expressões que definem as vocações de João Batista: 1) Preparar a vinda do Senhor; 2) Discernir que é o Senhor; e 3) Diminuir a si mesmo a fim de que o Senhor cresça.

 Em outra homilia, “Para conhecer Jesus é preciso rezá-lo, celebrá-lo e imitá-lo”, o Papa orienta que é preciso abrir três portas: 1) Rezar Jesus; 2) Celebrar Jesus; e 3) Imitar Jesus.

 Em mais uma homilia, para fechar esses novos três exemplos, intitulada “A saúde de um cristão se vê pela alegria”, ensina o Papa que que Jesus falou muitas coisas, mas se detinha sempre em “três palavras-chave”: 1) Paz; 2) Amor; e 3) Alegria.  – É muito interessante! E isso sirva de exemplo para aqueles que se aventurem a escrever textos: procurem, antes de escrever propriamente o texto, esquematizá-lo buscando, inicialmente, se o tema pode ser dividido em três partes (ou três capítulos, ou três aspectos, ou três momentos, etc.). Se aparecerem mais do que três, tudo bem. O importante é que, na tentativa de esquematizar o texto, podem surgir três tópicos que sejam totalmente suficientes para a explanação do conteúdo, conforme se pode verificar nas homilias do Papa acima explicitadas.

  2.  O número três na sociedade humana

Agora serão apresentadas várias situações na sociedade humana, em acréscimo ao que já foi apresentado na primeira parte deste blogue, em que o número três esgota totalmente as possibilidades associadas a cada uma delas. Estarão listados abaixo, sucintamente, vários exemplos:

1) Bandeira da Itália: verde, branco, vermelho.

2) Bandeira da França: azul, branco, vermelho.

3) Geografia: Água, terra e ar.

4) Aviação: decolagem, cruzeiro e aterrissagem.

5) Computador: cpu, teclado e vídeo.

6) Texto: introdução, desenvolvimento e conclusão.

7) Missa: ritos iniciais, liturgia da palavra e liturgia eucarística.

8) Hospital: médico, enfermeiro e paciente.

9) Universidade: professor, aluno e funcionário.

10) Restaurante: cozinheiro, garçom e cliente.

11) Hotel: recepção, hóspede e quartos.

12) Relacionamento: com Deus, consigo próprio e com o outro.

13) Mesa: Garfo, faca e colher.

14) Igreja: Tradição, Magistério e Bíblia.

15) Carro: rodas, chassi e carroceria. 

3.  O número três na natureza

Finalmente, em relação à natureza, podem ser identificadas as seguintes situações que também se dividem em três partes. Mais alguns exemplos, além daqueles da primeira parte, aos quais o leitor poderá ainda adicionar outros tantos:

1)   Árvore: tronco, galhos e folhas.

2)   Camadas da Terra: núcleo, manto e crosta.

3)   Terra: oceanos, mares e rios.

4)    Ano: primeiro trimestre, segundo trimestre e terceiro trimestre.

5)    Pré-história: período paleolítico, período neolítico e período dos metais.

6)    Terra: terra, mar e atmosfera.

 Conclusão:

A mística do número três é realmente interessante, curiosa e fascinante! É como que uma assinatura do Deus criador deixada na natureza, na sociedade humana e nos textos. Várias situações, sistemas, organismos, etc., podem ser divididos em três partes. Os exemplos acima não esgotam as possibilidades, que são muitas. O leitor poderá identificar vários outros exemplos mediante uma pequena reflexão.

Referência: BERGOGLIO, Jorge Mário (Papa Francisco). A felicidade se aprende a cada dia: homilias proferidas na Casa Santa Marta. Paulinas, 1ed. São Paulo, 2017.

Uilso Aragono (nov. de 2023)

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O SANTUÁRIO DA SAGRADA FACE: Cidade de Manoppello, Itália.

 

Neste blogue reproduzo, com tradução em português, um panfleto intitulado, em italiano, “Santuario del Volto Santo”. Trata-se de um verdadeiro milagre ou mistério, como se verá na descrição do surgimento dessa tela da Sagrada Face, como se pode ver, logo de início, na figura abaixo.


  (Rosto Santo, ou Sagrada Face de Cristo)

 Um véu admirável

Na colina Tarigni de Manoppello (PE), em Abruzzo, na Itália, ergue-se a Basílica da Sagrada Face (ou Basílica do Rosto Santo, ou ainda, “Volto Santo” em italiano), cuidada pelos Frades Menores Capuchinhos. Aqui, uma relíquia singular é zelosamente guardada num ostensório que reproduz, num tecido delicado, o rosto sofredor de Jesus Cristo. Encerrado entre dois vidros de 24x17,5 cm, há um véu muito fino, quase insubstancial, que, como se fosse uma pura aparição, mostra um rosto de testa ampla e olhar penetrante, vivo e doce.

 

(Basílica menor da Sagrada Face)

A boca entreaberta deixa ver alguns dentes e dá a sensação de alguém que quer conversar com você. Sua natureza tranquila e gentil realmente fala com você! A bochecha esquerda está inchada; um tufo de cabelo se expande na testa; alguns cabelos podem ser vistos no lábio superior; uma pequena barba adorna o queixo e uma modesta massa de cabelo nazareno emoldura o rosto.

 (Pequeno templo que acomoda a relíquia – ostensório com o Rosto Santo)

Em um centímetro quadrado do véu há 26 fios de urdidura e o mesmo número de fios de trama colocados a distâncias regulares. É um rosto não pintado por mão humana (acheropita): transparente, visível e igual na frente e atrás, como um slide colorido, a densidade da cor é forte, mas não é uma cor pictórica (isto é: não apresenta pigmentos de tinta). A uma curta distância, os objetos atrás podem ser claramente distinguidos. Apesar dos anos e do tempo, está preservado intacto, sem alterações. 

 (Relicário com o Rosto Santo)

 

(Sagrada Face e o Papa Bento XVI: com iluminação diferente, o semblante se modifica!)

A História

Num dia não especificado de 1506, um misterioso peregrino, trazendo consigo um precioso embrulho, chegou à igreja paroquial e convidou o Dr. Giacomantonio Leonelli, pessoa culta e de boa reputação, que conversava com amigos, a segui-lo para dentro da igreja. Ali ele lhe deu o presente. O médico abriu o pacote e viu um pano com a imagem impressa de Jesus.

Admirava com espanto a beleza delicada e quase divina do seu rosto, enquanto, em silêncio, ouvia as recomendações do benfeitor desconhecido: “Cuide dele, guarde-o como um presente do céu, venere-o, será fonte de graças e auxílio de proteção para você e sua família. Leonelli, saindo da igreja com o presente nas mãos, entrou em sua casa e colocou a imagem em local digno, onde foi venerada por mais de cem anos. Com a morte de Leonelli, o véu sagrado foi alvo de discórdia entre os herdeiros. Todos cobiçavam o legado dessa imagem.

Pela crônica do padre Donato da Bomba, frade capuchinho, sabemos como, em 1608, Pancrazio Petrucci, marido de uma das herdeiras, Marzia Leonelli, por meio da força bruta, tomou posse da imagem sagrada, para depois deixá-la abandonada. Petrucci, por algumas de suas muitas arrogâncias, acabou na prisão, e sua esposa, para libertá-lo, foi obrigada a vender a imagem ao doutor Donatantonio De Fabritiis, farmacêutico da cidade, que a comprou por quatro escudos. Encontrou a imagem em muito mau estado e recorreu aos capuchinhos, que estavam a construir o convento, para a repararem.

Padre Clemente da Castelvecchio e Frei Remigio da Rapino limparam-no, cortaram as bordas rasgadas e colocaram-no entre duas vidraças e fixaram-no com uma moldura de nogueira, que ainda hoje o protege.

Em 1638, De Fabritiis doou-o aos Capuchinhos. A partir de 1646, esses o expuseram à veneração dos fiéis. As graças e os milagres resultantes da veneração daquela Face atraíram a atenção da cidade e das localidades vizinhas. Em 1686 foi construída na igrejinha uma capela com altar e um pequeno templo para a conservação da relíquia. Começamos a celebrar a Sagrada Face no dia 6 de agosto, Transfiguração do Senhor. A partir de 1703 o terceiro domingo de maio foi definido como data das celebrações populares. Em 1718, o Papa Clemente XI concedeu indulgência plenária a todos os peregrinos que fossem visitar o santuário. Em 2005 o Papa Bento XVI também a concedeu e em 2006 visitou o Santuário como peregrino e o elevou a Basílica Menor.

Os Estudos

Nos últimos anos o Véu Sagrado de Manoppello tem sido objeto não só de devoção, mas também de estudo e pesquisa. Estavam interessados: estudiosos de história da arte, universidades, iconógrafos, escritores, poetas e muitos outros. Existe em todos o desejo de saber mais. Foi levantada a hipótese de que talvez seja "A Verônica", guardada até 1527 na Basílica de São Pedro em Roma, que poderia ser o Rosto impresso no "Sudário" que envolveu a cabeça de Jesus no túmulo (prof. Heinrich Pfeiffer).

Os estudiosos concordam em afirmar que a Sagrada Face seria a Acheropita original (= não feita por mãos humanas) que influenciou muitas imagens de Cristo ao longo dos séculos, pois as mesmas características são encontradas em todas elas: rosto oval assimétrico, cabelos longos, um tufo de cabelo acima da testa, a boca ligeiramente aberta e o olhar voltado para cima.

Ultimamente, estudos estão em andamento para descobrir de que fibra é feito o misterioso véu: linho, bisso ou outra.

A Exposição “Penuel”

Há algumas décadas que se defende a tese da semelhança da Sagrada Face com o Sudário de Turim.

Dentro da Basílica você pode admirar uma exposição fotográfica intitulada "Penuel", termo hebraico que significa: "o Rosto do Senhor". É composto por painéis nos quais estão expostas as fotos com as quais Irmã Blandina Paschalis Schlömer verificou a perfeita sobreposição da Sagrada Face de Manoppello com o Sudário de Turim e demonstrou como as duas relíquias referem-se ao mesmo rosto.

Peregrinações e devoção

Durante quatro séculos, a Basílica do Volto Santo foi destino de peregrinos vindos da Itália e de outras partes do mundo.

Estudiosos, teólogos, filósofos, escritores, artistas, homens eruditos, figuras eclesiásticas e políticas pararam diante da Sagrada Face. Como todos os Santuários, também este é “lugar de conversões, de reconciliação com Deus e oásis de paz” (João Paulo II), “estação e clínica do espírito” (Paulo VI).

Desde 1906, é impresso pelos frades capuchinhos um boletim no qual são narrados acontecimentos, histórias de graças e curas, como evidenciam as ofertas votivas expostas na Sala do Tesouro; também são divulgados os estudos e pesquisas feitos sobre o misterioso Véu.

*Texto retirado e traduzido de um panfleto obtido em visita a Manoppello, set./2023.

Uilso Aragono (set. de 2023).

sábado, 26 de agosto de 2023

RISCOS DE INCÊNDIO EM INSTALAÇÕES ELÉTRICAS PREDIAIS (parte II)

 Dando continuidade ao assunto “Riscos de incêndio em instalações elétricas”, vamos abordar, abaixo, alguns tópicos muito importantes e que, em geral, são mal avaliados até mesmo por técnicos da área.

A SEGURANÇA ASSOCIADA AO PROJETO DE UMA INSTALAÇÃO ELÉTRICA

O projeto de uma instalação elétrica é feito com base na suposição de um fator elevado de segurança contra incêndios – basicamente –, mas também contra choques elétricos. Por isso, desde de 1997, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) já prevê e, em virtude da Lei do Consumidor, até obriga as IE a incorporarem o acima comentado disjuntor Diferencial-Residual (DR) nas instalações elétricas prediais, que objetiva tanto proteger contra choques elétricos quanto evitar que a qualidade da instalação caia a níveis perigosos de correntes de fuga, denunciadoras de possíveis problemas associados à falta de ou à baixa manutenção do sistema (IE).

Esse fator de segurança está subentendido em todas as tabelas e equações matemáticas utilizadas no projeto de uma IE. Isso significa, por exemplo, que um condutor (fio rígido ou cabinho) de um circuito para tomadas, que é obrigatoriamente de seção transversal (área do condutor visto de frente) de 2,5mm2 (milímetros quadrados), possa conduzir, no máximo, entre 20 e 24A (amperes), dependendo de outros fatores de projeto, e conduza, normalmente, correntes muito mais baixas nas situações cotidianas de uso da instalação: cerca de 7 a 10A! Isso corresponde a menos da metade da capacidade máxima de condução de corrente do fio!...

USO DE FIAÇÃO MAIS FINA DO QUE A PREVISTA PELAS NORMAS TÉCNICAS

O uso, normalmente por erro de projeto, mas também, às vezes, por má fé, de uma fiação de circuito de tomadas (para não generalizar e complicar muito a explicação) de uma fiação irregular, isto é, de um fio com bitola inferior à definida pelas normas técnicas, é fonte de insegurança e de maior risco para a IE. Mas não deverá ser um fator de grande preocupação, por si só, tendo em vista o elevado fator de segurança de uma IE, como analisado acima, embora algumas providências de compensação devam ser tomadas, como será estudado à frente.

E é importante ressaltar que alguns laudos, que analisam fios fabricados com bitola menor do que deveria ser, assustam o usuário da IE com afirmações um tanto quanto equivocadas, como mostrarei abaixo. Normalmente o cenário é o seguinte: o fabricante forneceu fios que deveriam ser de 2,5mm2 (para circuitos de tomadas) mas que apresentam, na verdade, um valor menor de área transversal (por exemplo, 1,75mm2, cerca de 20% a menos de cobre).

A afirmação do laudo técnico, conforme divulgado nos meios de comunicação (portal g1.globo.com, de 10/08/21), para o caso de fios elétricos, supostamente fraudados, da empresa Luzzano, é como o seguinte:

De acordo com laudos do Ipem, os fios e cabos produzidos pela empresa eram fabricados com uma quantidade menor de matéria-prima que o necessário. Isso fazia que o consumo de energia aumentasse, o que poderia gerar riscos de aquecimento, curtos-circuitos e até incêndios”.

Comentarei os termos usados nesse laudo: “consumo de energia”, “curtos-circuitos” e “incêndios”.

AUMENTO DE “CONSUMO DE ENERGIA” DE FIAÇÃO NÃO É CAUSA INCÊNDIO

Iniciando pela afirmação de que o “consumo de energia... poderia gerar riscos de aquecimento”, pode-se afirmar que o aumento do consumo de energia é mínimo e incapaz de provocar algum aquecimento perigoso. Não apresentarei aqui os cálculos detalhados, porque é um artigo para leigos, para usuários de IE, mas pode-se afirmar que, partindo-se da suposição (pois não tenho os dados completos desse laudo) de que a redução na seção transversal (“grossura”) do fio elétrico de cobre, de 2,5 mm2 (o usado nos circuitos de tomadas), tenha sido de 20%, o fio fraudado passaria a ser o equivalente a um fio mais fino (não padronizado) de 1,75mm2. E, levando-se em conta que a resistividade do cobre é de 0,0172 Ω.mm2/m, tem-se o seguinte aumento de potência de consumo de energia elétrica por esse fio mais fino, submetido a uma corrente de 10A (como exemplo), em relação ao fio de 2,5mm2, para um comprimento total de fiação de 30 metros: cerca de 9W (watts). Essa potência de consumo, multiplicada pelo tempo de funcionamento do circuito, daria o tal “consumo de energia” a mais do cabo fraudado (ou também chamado “desbitolado”), em relação ao consumo do cabo regular.

Observe-se que essa potência (correspondente ao “consumo de energia” a mais, do cabo fraudado) não é nem 1% de uma carga normal de um circuito predial de tomadas (um computador e uma impressora, por exemplo), e chegaria a cerca de 2% para a carga máxima do circuito de tomadas (2500W)! Esse acréscimo de “consumo de energia” do cabo elétrico irregular é, portanto, risivelmente mínimo para causar, por si só, algum aquecimento “perigoso” do fio que, normalmente, é de PVC e tem capacidade de temperatura de 70°C. É importante observar, ainda, que os pontos de aquecimento mais perigosos não estão ao longo do condutor (fio), mas nos pontos de conexão dos fios entre si e desses com os pontos de ligação de tomadas, disjuntores, etc. (normalmente, conexões aparafusadas). Nesses pontos, a resistência do fio é acrescida pela chamada resistência de contato, aumentando o aquecimento pontual, como se verifica quando um fio de chuveiro, por exemplo, derrete justamente no ponto de conexão: em virtude não só da corrente elevada, mas, possivelmente, e principalmente, por uma conexão mal feita (pois, para uma conexão bem feita, o aquecimento não deverá provocar qualquer derretimento da capa isolante do fio). Isso vale também para o caso de pontos de ligação derretidos em disjuntores.

 AQUECIMENTO DE FIAÇÃO NÃO É CAUSA DE CURTOS-CIRCUITOS

A afirmação de que esse “consumo de energia” a mais pudesse causar “curtos-circuitos” na instalação ainda é menos plausível, de acordo com o que já foi explicado na 1ª parte deste artigo: um curto-circuito não acontece como consequência de um sobreaquecimento de fiação e nem mesmo de um sobreaquecimento de uma conexão mal feita. E se viesse a acontecer um curto-circuito, por qualquer outra razão plausível, o circuito seria imediatamente desligado pelo disjuntor de proteção, e o risco de incêndio, nesse caso, estaria totalmente eliminado.

AQUECIMENTO DE FIAÇÃO NÃO É CAUSA DE INCÊNDIOS PREDIAIS

Sobre a afirmação de que esse “consumo de energia” a mais do fio irregular causaria também “incêndios”, pode-se considerá-la totalmente despropositada! O sobreaquecimento, em função do aumento da resistência total da fiação do circuito, ao longo do fio, como já visto, é mínimo e, por si só, não pode ser considerado causa de qualquer incêndio. A propósito, o que, normalmente, é identificado como possíveis causas de incêndio em IE, na atualidade, está associado aos seguintes eventos:

a)     pontos de conexão com alto grau de elevação de temperatura, causada por má conexão (frouxa, por exemplo), e próximos a materiais combustíveis e sensíveis a altas temperaturas, podendo, então, acontecer o início de um incêndio (ponto de autoignição);

b)     curtos-circuitos que não sejam prontamente desligados pelos dispositivos de proteção (disjuntores de proteção) e que provoquem muita faísca e aquecimento localizados;

c)     falhas de disjuntores DR que, não protegendo contra elevadas e contínuas fugas de corrente, possam permitir o surgimento de aquecimentos pontuais, ao longo do tempo, vindo a ser causa de fogo em materiais combustíveis vizinhos.

Enfim, se quisermos identificar alguns fatores básicos para a irrupção de um incêndio de uma IE predial, poderíamos dizer que são pontos de elevada temperatura (não ao longo dos fios) e proximidade de materiais combustíveis (papel, madeira, tecidos, plásticos, etc.). No entanto, se o sistema de proteção (sobrecargas, curtos-circuitos, correntes de fuga, basicamente) estiver bem dimensionado, o risco de acontecer algum incêndio é muito baixo.

PROVIDÊNCIAS PARA COMPENSAR O USO DE FIOS IRREGULARES

Tendo em vista tudo o que foi apresentado acima – definições, exemplos, considerações, argumentações – podem-se indicar algumas providências para a superação dos problemas que o uso de fios irregulares possa causar.

A primeira providência, diante da descoberta do uso de fio irregular na IE, é verificar se, pelo menos, a isolação (a capa isolante do fio) é de bom material: PVC, 70°C de temperatura máxima e não propagador de chama. Para testar esse último ponto é só aplicar uma chama num ponto de uma pequena amostra do fio e verificar se a chama se espalha ou não pelo condutor. Não se espalhando, tem-se a certeza de que o fio segue a norma, nesse quesito. Se o fio se queimar e transmitir a chama, a necessidade de troca da fiação torna-se mais imperiosa.

A segunda providência é trocar os disjuntores existentes no quadro de distribuição de energia da IE (apartamento, prédio, etc.), de acordo com a “nova” capacidade dos fios da instalação. Como exemplo, tomando os fios dos circuitos de tomadas, que deveriam ser da bitola 2,5mm2, e são, na verdade, de 1,75mm2 (hipoteticamente), uma bitola não padronizada, os disjuntores originais de 20A deveriam ser trocados por equivalentes, mas de 15A ou 16A. Dessa forma, os fios irregulares estarão protegidos adequadamente contra sobrecargas e curtos-circuitos. E assim deve ser feito para todos os demais disjuntores, de acordo com a nova bitola do fio irregular. Para os circuitos de iluminação, que normalmente são protegidos por disjuntores de 15A, deveriam passar a ser protegidos por disjuntores de 10A ou 12A. Esta providência cancela o risco do uso de um fio irregular, e é mais econômica do que a simples substituição de toda a fiação da IE. Essa substituição, além de cara, poderia vir a ser fonte de outros problemas, se não for muito bem feita e se não seguir o projeto original.

A terceira providência é garantir o uso adequado do disjuntor ou interruptor Diferencial-Residual, o DR, como foi explicado na 1ª parte deste artigo. E esse uso adequado significa: testar o seu funcionamento, mensalmente, por meio do seu botão de teste, conforme recomenda o fabricante. Ao apertar o botão, o disjuntor deve atuar, desligando o circuito associado a ele. Se o disjuntor não atuar, deverá ser imediatamente trocado.

A quarta providência tem a ver com as tomadas específicas: chuveiros e condicionadores de ar. No caso do chuveiro, se os pontos de conexão estiverem esquentando demais, a ponto de provocar derretimento no fio, recomenda-se trocá-lo para 220V, adaptando-se a proteção de monopolar para bipolar. O fio mais fino, portanto, estará conduzindo agora, cerca de metade da corrente original em 127V! Portanto, mantém-se a fiação, mas agora o chuveiro estará drenando uma corrente bem menor (de acordo com o fio também de menor seção) e a proteção estará de acordo com essa fiação. Se esse fio irregular for equivalente a 4mm2, o disjuntor recomendado será aquele de 28 a 32A. No caso do aparelho de ar-condicionado, se ele estiver funcionando bem, sem maiores aquecimentos nas conexões dos fios, basta que o disjuntor seja adaptado, conforme já explicado acima, para o caso dos circuitos de tomadas.

CONCLUSÃO

As instalações elétricas prediais (residenciais e comerciais) são projetadas com base em fatores de segurança elevados (fios mais grossos do que o estritamente necessário, por exemplo) e sistemas de proteção cuidadosamente calculados para garantir a integridade da fiação e a proteção contra choques elétricos e correntes de fuga, denunciadoras de instalação com baixa qualidade na execução ou na manutenção.  

As IE são projetadas com base, ainda, em circuitos separados para iluminação (em geral, disjuntores de 15A e fio de 1,5mm2), tomadas de uso geral (disjuntores de 20A e fio de 2,5mm2) e tomadas de uso específico (chuveiros e aparelhos de ar-condicionado, entre outros). O quadro de distribuição contará com dispositivos de proteção da fiação contra sobrecarga e curto-circuito (disjuntores termomagnéticos), com dispositivos de proteção da instalação contra correntes de fuga elevadas e proteção dos usuários contra choques elétricos (disjuntor Diferencial-Residual – DR) bem como, mas não obrigatoriamente, com dispositivos para proteção contra surtos de tensão, popularmente conhecidos como “picos de tensão” (dispositivos de proteção contra surtos – DPS).

As normas da ABNT preveem condutores (ou fios) de dimensões superiores às estritamente necessárias para os diversos circuitos da IE. E em virtude da Lei do Consumidor, essas normas têm força de lei, obrigando os projetistas a seguirem as orientações técnicas das diversas normas relacionadas a instalações elétricas prediais. No caso de um descumprimento dessas normas – como seria o caso de uso de condutores fora das normas (“desbitolados”) – o direito do consumidor, uma vez constatada tal infração, é processar o construtor do prédio, que por sua vez, teria o direito de processar o fornecedor (comerciante ou fabricante) dessa hipotética fiação fora dos padrões.  

No entanto, como visto acima, e com base numa análise de uma hipotética fiação com bitola inferior à prevista pelas normas, há a possibilidade de o consumidor, ou usuário da IE, abrir mão de processo judicial e colocar em prática as orientações acima apresentadas, o que garantiria, igualmente, a segurança da IE, mesmo com fiação irregular, pois essa não é o único, nem o mais importante fator de segurança, como visto acima, para a existência de uma adequada instalação elétrica predial.

Uilso Aragono (agosto/2023).

segunda-feira, 31 de julho de 2023

RISCOS DE INCÊNDIO EM INSTALAÇÕES ELÉTRICAS PREDIAIS (parte I)

 Há muito desconhecimento e até mitos em relação aos riscos de incêndio nas instalações elétricas prediais, em geral. Como professor aposentado de engenharia elétrica, tendo ensinado por muitos anos a cadeira de Instalações Elétricas (IE), pretendo fazer, abaixo, minhas considerações sobre tais desinformações, mostrando que o coração de uma IE é o seu sistema de proteção, isto é: os disjuntores que ficam nos quadros de distribuição e também na entrada da instalação, e cujos objetivos são a proteção da fiação contra sobrecargas e curtos-circuitos e contra choques elétricos e fugas de corrente. O texto visa a esclarecer o usuário leigo de uma IE.

SOBRECARGAS E CURTOS-CIRCUITOS

Incialmente, é importante definir o que sejam sobrecarga e curtos-circuitos. Uma sobrecarga é uma situação em que a corrente elétrica do circuito (entendido este como os fios que alimentam as tomadas ou as lâmpadas ligadas e protegidas por um disjuntor termomagnético) está num valor acima da corrente nominal (indicada no disjuntor correspondente), até, no máximo, três (3) vezes acima dessa corrente. Já um curto-circuito é uma corrente que está muito acima da corrente nominal do circuito, partindo de cerca de três (3) vezes até cerca de 5, 10 vezes, ou mais, acima daquela corrente. O disjuntor (elemento com tecla que se encontra no quadro de distribuição dos circuitos) deverá desligar o circuito em questão de alguns minutos para o caso de sobrecarga; e deverá fazê-lo em tempo praticamente instantâneo no caso dos curtos-circuitos.

EXEMPLOS DE SOBRECARGA E DE CURTO-CIRCUITO

Para que o leigo possa entender, na prática, o que seja aquela corrente de sobrecarga, pode-se exemplificar: vários equipamentos (televisão, computador, ventiladores, condicionadores de ar portáteis, etc.) ligados, ao mesmo tempo, nas tomadas de um determinado circuito, fazendo com que a corrente total do circuito atinja e supere um pouco o valor da corrente anotada no disjuntor. Essa é uma situação pouco comum nas instalações residenciais, mas que é possível de acontecer; e sendo o caso, como dito acima, o disjuntor irá desligar o circuito em questão de minutos.

O caso de curto-circuito é ainda mais raro, estando associado não tanto ao uso comum dos aparelhos elétricos, mas a acidentes que acontecem com os eletricistas que estejam manuseando o circuito “vivo”, isto é, energizado. Nesse caso, o contato acidental do fio fase (aquele que dá choque) com o fio neutro (azul, que não dá choque, em geral) ou com o fio terra (normalmente, de cor verde) provoca a circulação de uma corrente muito elevada (curto-circuito) que deve ser imediatamente eliminada pela proteção (disjuntor). O valor da corrente vai depender da tensão (127V ou 220V) e da resistência total dos fios e da resistência do sistema de aterramento. Normalmente, nas instalações elétricas residenciais, essa corrente estará na casa dos 100 a 300A (ampères), mas que circulará pela fiação em tempo praticamente nulo, pois a proteção é dimensionada para eliminar tal corrente quase que instantaneamente, visto que os efeitos da circulação desse nível de corrente na fiação, seriam destruidores. Na prática, ouve-se um forte estalo de origem elétrica, acompanhado de faíscas e aquecimento no ponto de contato do curto-circuito. Outra situação provocadora de curto-circuito estaria associada ao uso de um aparelho elétrico já bastante usado, por exemplo, uma torradeira, em que, por falta de manutenção, haja o contato interno dos fios fase e neutro ou do fio fase com a carcaça aterrada do equipamento. É uma situação também não muito comum.

O QUE É UM DISJUNTOR

Um disjuntor é um interruptor automático sensível a correntes de sobrecarga e de curto-circuito. No caso de sobrecargas, o elemento térmico constituinte do disjuntor sentirá aquela corrente acima da nominal (como explicado acima) e desligará o circuito em tempos inversamente proporcionais ao valor da corrente: tanto mais acima da corrente nominal (lida na tecla do disjuntor, normalmente) tanto menor o tempo (em minutos) para a atuação da proteção (desligamento). No caso de curtos-circuitos, o elemento magnético constituinte do disjuntor sentirá a forte corrente de curto-circuito e desligará o circuito instantaneamente, na casa dos milissegundos (milésimos de segundo): tempo que também segue a proporcionalidade inversa ao valor da corrente.

O disjuntor poderá ser monopolar (ligado à fase do circuito), protegendo um circuito de 127V (fios fase, neutro e terra), ou poderá ser bipolar (Iigado a duas fases), protegendo um circuito de 220V (duas fases e o fio terra). O tripolar (monitorando três fases) será, normalmente, usado para motores elétricos trifásicos ou colocado na entrada da instalação que requeira as três fases (instalações que possuem grande quantidade de circuitos e alta carga elétrica instalada). Cada disjuntor estará monitorando (protegendo) um único circuito elétrico, existindo, no entanto, um disjuntor geral na entrada da IE.

DESCRIÇÃO DE UM CIRCUITO ELÉTRICO PREDIAL

Um circuito elétrico deverá ser constituído por um elemento de proteção da fiação (o disjuntor), por um elemento de proteção – muito importante! – contra choques elétricos e contra correntes de fuga (o DR: disjuntor Diferencial-Residual), pela fiação necessária, e pelas tomadas (pontos de conexão com os aparelhos elétricos do usuário da instalação). Pode-se, ainda, incluir uma proteção contra surtos de tensão (picos de voltagem provocados por raios nas redondezas da IE), que é conhecido como DPS (Dispositivo de Proteção contra Surtos): protegerá os equipamentos ligados às tomadas da IE, limitando o valor de pico da tensão que possa estar entrando na IE a partir da rede elétrica da concessionária de energia.

Pode-se afirmar que o sistema de PROTEÇÃO é o coração da IE. Se ele estiver bem dimensionado e com manutenção ao longo do tempo, a IE estará, de fato, protegida contra incêndios, choques elétricos, correntes de fuga anormais, sobretensões (surtos) e curtos-circuitos acidentais.

A IMPORTÂNCIA DA FIAÇÃO ELÉTRICA

A fiação elétrica deverá ter uma camada isolante (a isolação de cores variadas) de boa qualidade e “não-propagadora da chama”. Isso quer dizer: se a isolação for submetida ao fogo, tal chama não se propagará e será extinta assim que a fonte de calor cessar. No entanto, a isolação sofrerá os efeitos da chama, queimando-se e derretendo, conforme o tempo de exposição à fonte de calor. A bitola (dimensão transversal do fio – também chamado “condutor”) deverá ser proporcional à corrente nominal prevista pelo projetista para aquele circuito.

O CIRCUITO ELÉTRICO DE TOMADAS

Para não aprofundar demais os detalhes de uma IE, tomemos, como exemplo, a existência de um circuito de tomadas, muito comum nas IE de um apartamento ou de uma casa. Várias tomadas estarão associadas a um determinado circuito de tomadas (também chamado de circuito de “força”), espalhadas pelas paredes de um ou dois quartos (um circuito), ou pelas paredes da sala (outro circuito), ou ainda pelas paredes da cozinha e da área de serviço (um ou dois circuitos). A fiação padrão para esses circuitos de tomadas é, no mínimo, o fio (ou condutor ou cabinho) com seção transversal de número 2,5mm2 (dois e meio milímetros quadrados), cuja capacidade de condução de corrente, ao ar livre, é de 24A, aproximadamente. Estando contido, esse fio, dentro de um eletroduto (ou conduíte), embutido na parede, e acompanhado de outros fios (2, 4, 6 ou mais), o valor efetivo da corrente que poderá percorrer tal condutor deverá ser menor do que esse valor acima: é o que é chamado “modo de instalação” do condutor. Normalmente, pode-se associar uma corrente de 20A (portanto, disjuntor de proteção de 20A) a esses condutores de bitola 2,5mm2 que constituem os circuitos de tomada de uma IE, o que daria uma carga instalada de cerca de 2.500W (watts), para um circuito de 127V, e de cerca de 4.400W, para um circuito bipolar de 220V. Portanto, um circuito de tomadas de 127V (o mais comum nas residências) poderá ter 12 tomadas de, por exemplo, 200W cada uma, de acordo com o critério do projetista. Isso não significa que só se possa ligar um equipamento ou aparelho elétrico de no máximo 200W em uma dessas tomadas! Isso é apenas para efeito de projeto. O importante é que o total de potência ligado nessas tomadas (desse circuito) não passe de 2.500W, o que daria a tal corrente nominal (máxima) do circuito. Ligando-se mais potência do que os 2.500W previstos para o circuito, o disjuntor sentirá como uma sobrecarga, e o circuito será desligado em questão de minutos.

FIM DA 1ª PARTE

Uilso Aragono (julho de 2023)

sexta-feira, 30 de junho de 2023

TODOS SOMOS DEFICIENTES E TALENTOSOS

 A questão da deficiência e dos talentos é uma questão ligada à natural “desigualdade” entre as pessoas humanas. Podemos afirmar que todos somos, em grau maior ou menor, deficientes e talentosos, ao mesmo tempo. Deficiências e talentos que podem ser naturais ou adquiridos. Uma deficiência pode surgir de um acidente, enquanto um talento pode ser desenvolvido por meio de um curso específico. Vamos refletir um pouco sobre essa questão.

Todos somos deficientes

Sobre a PCD (Pessoa Com Deficiência), gostaria de lembrar aqui uma reflexão que fazia com meus alunos. Dizia-lhes que, na verdade, todos nós somos deficientes, em grau maior ou menor. Uns, como eu, enxergam mal e usam óculos. Outros (como muitos) têm deficiência auditiva parcial; outros ainda não conseguem cantar afinados. Uns não cresceram o suficiente, enquanto outros cresceram demais (espécie de gigantismo). Muitos são gordos, e muitos outros são magérrimos. Há aqueles que não conseguem ler ou falar em público. Muitos não conseguem tirar carteira de motorista, porque têm dificuldades de visão espacial ou controle motor. Muitos outros não identificam as cores corretamente (o daltônico, em alto grau) e nesse pormenor, dizem que as mulheres enxergam milhares de cores, enquanto os homens, somente as cores básicas... E há aqueles que sofrem de mais de uma dessas “deficiências”. (Aliás, antes, o “politicamente correto” indicava o termo PNE — Portador de Necessidades Especiais—, para evitar o termo “deficiência”, e, agora, voltamos a usá-lo: tentativa de “controle social”?... ).

Todos somos talentosos

Por outro lado, todos somos “talentosos”, em maior ou menor grau. Senão, vejamos. Uns conseguem tocar um instrumento musical, ou vários, com facilidade, enquanto outros—não, necessariamente os mesmos —, conseguem cantar com facilidade. Alguns têm o talento da pintura, enquanto outros desenham com perfeição. Alguns leem ou falam em público, fotografam ou escrevem bem, sem qualquer curso específico. Outros aprendem idiomas com muita facilidade e tornam-se poliglotas, enquanto outros, ainda, embora não falem várias línguas (intérpretes) têm grande facilidade para fazerem excelentes traduções (os tradutores). Muitos têm uma natural  facilidade para cozinhar bem, e outros tornam-se especialistas em apreciar e identificar bons vinhos. As boas e más fragrâncias são facilmente identificadas por alguns, enquanto outros tornam-se excelentes artistas das cores e seus matizes.

O talento como compensação de uma deficiência

E há aqueles que apresentam uma deficiência grande em uma área (por exemplo, na intelectual) mas foram dotados, pela natureza, de um talento enorme para tocar um instrumento musical (o piano, por exemplo). Outros, ainda, vivenciam uma deficiência visual séria, mas desenvolvem uma acuidade auditiva invejável! Alguns sofrem de gagueira em sua língua nativa, mas falam fluentemente em uma língua estrangeira (sem gagueira) ou cantam sem problemas. Outros não têm mãos, mas desenvolvem uma capacidade maravilhosa de ”pintar com os pés”. Há alguns que nunca foram bons nos estudos de matemática na escola, mas descobriram-se talentosos nos cálculos de cabeça, para espanto dos matemáticos.

Conclusão

Podemos concluir essa reflexão sobre deficiências e talentos, naturais ou adquiridos, reconhecendo que, de fato, todos nós, humanos, somos PCD (ou PNE) em graus variados. E que uma marca intrínseca dos seres humanos é a sua fundamental originalidade: ninguém é igual a nenhum outro; todos somos, naturalmente, desiguais. Mas é claro que, para aqueles que apresentam deficiências em alto grau, a Sociedade deve ter, por uma questão de caridade e justiça, uma atenção especial para compensar as suas dificuldades inerentemente maiores. O mesmo aplicando-se aos talentosos em alto grau.

Uilso Aragono. (jun./2023)

quarta-feira, 31 de maio de 2023

UMA BOA TRADUÇÃO DE LAUDATE DOMINUM E AVE VERUM CORPUS

 Os textos mencionados no título são duas letras, em latim, de lindas músicas cantadas em coral. A “Laudate Dominum” é um texto de S. Tomás de Aquino, baseado no Salmo 117, já a “Ave Verum Corpus” é um canto eucarístico  do século 13, registrado pela primeira vez em um manuscrito franciscano italiano central (Chicago, Newberry Library, 24). Um manuscrito de Reichenau do século 14 o atribui ao Papa Inocêncio (identificado como Inocêncio III, Inocêncio IV, Inocêncio V ou Inocêncio VI). Durante a Idade Média, era cantado na elevação da Eucaristia durante a consagração na Missa. Também era usado com frequência durante a Bênção do Santíssimo Sacramento. A oração é uma meditação sobre a Presença Real de Jesus no Santíssimo Sacramento, e a liga ao significado redentor do sofrimento na vida de todos os crentes. (Wikipédia.)

Ambos os textos foram musicados pelo compositor alemão Wolfgang Amadeus Mozart.

Pesquisei várias traduções e fiz a minha melhor tradução, que faz sentido em cada frase. Eis abaixo a tradução de “Laudate Dominum” e de “Ave Verum Corpus”.

LAUDATE DOMINUM

(S. Tomás de Aquino)

Laudate Dominum omnes gentes,

Louvai ao Senhor todas as nações,

Laudate eum omnes populi.

Louvai-o todos os povos.

Quoniam confirmata est super nos misericordia ejus,

Porque a sua misericórdia é grande sobre nós,

Et veritas Domini manet in eternum.

E a verdade do Senhor permanece para sempre.

Amen, amen, amen.

Amém, amém, amém.

 

Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.

            Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo

Sicut erat in principio, et nunc, et semper,

Como era no princípio, agora e sempre,

Et in saecula saeculorum.

E em todos os séculos dos séculos.

Amen.

Amém.

 

AVE VERUM CORPUS

(Wolfgang Amadeus Mozart)

Ave verum corpus natum de Maria virgine,

Salve, ó verdadeiro corpo nascido da Virgem Maria

Vere passum, imolatum cruce pro homine.

Que verdadeiramente padeceu e foi imolado na cruz pelo homem.

Cujus latus perforatum unda fluxit et sanguine.

De cujo lado transpassado fluíram água e sangue.

Esto nobis praegustatum in mortis examine.

Sê para nós remédio na hora tremenda da morte.

O Iesu dulcis, o Iesu pie, o Iesu fili Mariae.

Ó doce Jesus, ó piedoso Jesus, ó Jesus filho de Maria.

 

Uilso Aragono (maio de 2023).

sábado, 29 de abril de 2023

PANIS ANGELICUS – UMA BOA TRADUÇÃO

 O hino "PANIS ANGELICUS" (O pão dos anjos) é um cântico católico dedicado à Sagrada Eucaristia. "Panis angelicus" é a penúltima estrofe do hino “Sacris Solemniis”, escrito por Santo Tomás de Aquino para a Festa de Corpus Christi, como parte de uma liturgia completa da Festa, incluindo orações para a Missa e a Liturgia da Horas (Wikipédia: Panis Angelicus).

Pesquisei várias traduções e compus a minha melhor, que faz sentido em cada frase. Eis abaixo uma boa tradução de Panis Angelicus:

    

        Panis angelicus fit panis hominum.

O pão dos Anjos torna-se o pão dos homens.

       Dat panis coelicus figuris terminum.

O pão do céu dá fim às prefigurações (do Antigo Testamento).

        O res mirabilis!

Ó coisa admirável!

        Manducat dominum pauper servus et humilis.

Alimentam-se de Deus o pobre, o servo e o humilde (na Missa).

        Te trina deitas una que poscimus,

Tu és o Deus único e trino, e te pedimos,

        Sic nos tu visita, sicut te colimus.

Que nos visites enquanto te adoramos.

        Per tua semitas duc nos quo tendimus.

Pelos teus caminhos guia-nos para que possamos ir

        Ad lucem quam in habitas.

À luz em que habitas.

 

Uilso Aragono. (abr. de 2023)

sexta-feira, 31 de março de 2023

BOLSONARISTAS CRISTÃOS REJEITANDO AMIGOS LULISTAS?

Quem é cristão e apoiou o Bolsonaro e os valores cristãos que ele defende, deverá, como muitos estão fazendo e propondo, rejeitar amigos e parentes por esses terem votado no Lula? Alguns argumentos contrários a essa tese podem ser lidos e ponderados, a seguir.

1) Jesus nos ensina que devemos amar-nos uns aos outros e, inclusive, aos “inimigos”. Ele explica que não tem valor moral se somente amarmos aqueles que nos amam. E que Deus “faz chover sobre bons e maus”: não discrimina negativamente pessoas. E é isso que faz quem se distancia de alguém de quem não gosta ou de quem tem posicionamento político/moral/religioso oposto. Jesus nos ensina a “amarmos” os inimigos. Observe-se que um tal Sullivan, em seu vídeo, chama aqueles que votaram no Lula e apoiaram o lulopetismo de “inimigos”, no final do vídeo. Ora, amar os inimigos significa: rezar por eles, ter consideração por eles, querer o bem deles, ajudá-los, se preciso for, etc. E ao afastarmo-nos de alguém, de um “inimigo”, não poderíamos ajudá-lo quando for necessário. E equivale a “matá-lo”, ao erradicá-lo de nossa vida, de nosso relacionamento.

2) Pensemos no comportamento de Jesus. a) Ele convivia com os fariseus, deixava que esses o seguissem e até conversava com eles, fazendo perguntas e respondendo-lhes. Jesus até os xingava de “hipócritas”, mas não se “afastava” deles e nem os repelia e, portanto, não os “matava”. b) Atendeu Nicodemos (fariseu), à noite, para conversar. c) Atendeu um oficial romano e curou seu empregado, embora esse fosse um “inimigo” dos judeus, pois ali estava para garantir as ordens e os interesses do Imperador romano. d) Até Judas foi tratado como amigo, por Jesus, embora se tenha tornado seu inimigo ao traí-lo: “Amigo, com um beijo entregas o Filho do Homem?”. Portanto, quem defende a rejeição dos amigos, em função do seu posicionamento político-eleitoral, passando a tratá-los como “inimigos”, está errado! Não é uma atitude cristã, porque o cristão verdadeiro é um imitador de Jesus Cristo.

3) Se for para nos afastarmos daqueles conhecidos, amigos e parentes por razão de eles terem votado no Lula e apoiado o lulopetismo, então teremos de ser coerentes e agir assim em relação a todos eles. Portanto, não podemos nos afastar, por exemplo, de nosso irmão de sangue, por ser petista/lulista sem que também nos afastemos de todos os conhecidos e amigos que tenham igualmente apoiado o Lula. Há que se fazer uma reflexão séria nesse sentido: todos os meus conhecidos, amigos e parentes que votaram em Lula foram excluídos de minha vida? Isto é: matei-os (moralmente) todos? excluindo-os da minha vida? Suicidei-me diante deles, privando-os de minha convivência? Para sermos coerentes teríamos que ter esse gesto em relação a todos eles. Portanto, serei obrigado a verificar e procurar saber os votos de meus conhecidos, amigos e parentes para identificar todos aqueles dos quais terei de me afastar. Deixar de fazer isso é ser injusto com alguns que foram “condenados” porque fiquei sabendo do seu voto. E aqueles dos quais não soube como votaram?...  E como saber isso? Perguntando a cada um como ele votou? E se a pessoa não quiser responder?... E se desconfiarmos de alguém que tenha apoiado o Lula, mas não tenhamos certeza? Como fica?

4) Pensemos agora nas palavras de Jesus: “Não julgueis, porque com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos”. Julgar é um ato de buscar a inocência ou a culpa, e uma vez identificada a culpa, o réu é condenado a uma pena. E São Paulo nos ensina: “Avaliai tudo e ficai com o que é bom” (interpreta-se como ideias, pensamentos, doutrinas). Aplicando-se essas santas orientações aos nossos relacionamentos, vamos concluir que podemos avaliar o posicionamento moral de algum conhecido, amigo ou parente e acolhê-lo (o posicionamento) ou rejeitá-lo, mas não a pessoa; e não poderemos “julgar” o comportamento da pessoa, no sentido de “inocentá-la” ou “condená-la”. No caso em foco, afastarmo-nos de um conhecido, amigo ou parente em função de seu posicionamento político eleitoral (mesmo que moralmente condenável do nosso ponto de vista) equivale a julgá-lo e a condená-lo ao nosso afastamento dele. E é esse um gesto cristão? Jesus aprovaria tal gesto? Como nos podemos considerar cristãos e condenar o outro como não cristão (pelo seu apoio a valores não cristãos) se nós, igualmente, não estamos seguindo a orientação do próprio Cristo: “Não julgueis...”? Mereceríamos de nosso Senhor Jesus Cristo o mesmo xingamento lançado contra os fariseus e doutores da Lei da sua época: “hipócritas!”. E estaríamos na mesma situação daqueles que por nós foram “condenados”: hereges, não-cristãos.  

5) Imaginemos, agora, o caso de um pai com alguns filhos. Se um deles revela seu voto em favor do PT e de Lula, ficará o pai – que é cristão e não concorda com a ideologia e nem com os crimes do Lula – contra o filho? Expulsá-lo-á de casa? Certamente, não. Como cristãos e como pais, procuraríamos manter a convivência familiar, amorosa e afetiva, embora condenando a “escolha” política do filho. Igualmente, aplicando-se ao caso de irmãos, ainda jovens e morando na mesma casa: se um deles declara seu voto em Lula (e o apoio a tudo o que ele representa), os demais (com posição política oposta) o expulsarão de casa? Ou, mais uma vez, terão compreensão e o respeitarão em sua posição, mas condenando-a? E, finamente, considerando-se agora os irmãos já casados, cada um em sua casa, mas ainda relacionando-se como irmãos que se amam, a descoberta do voto de algum deles num partido não-cristão (como o de Lula) fará com que os demais irmãos se afastem definitivamente desse irmão que votou contrariamente ao seu posicionamento cristão? Não haverá mais relacionamento, visitas, convivência fraterna? Será ele condenado a não ter mais a presença dos irmãos? Esses irmãos estariam sendo cristãos de verdade? Certamente que não, como já vimos acima. A solução cristã, então, é a convivência no amor, na fraternidade, e em tudo o que une os irmãos, mas sem tocar na questão política, que será fonte de divisão. Quem sabe, com o tempo, não haja a conversão do irmão? Ou não. A vida é assim.

Uilso Aragono. (Março, 2023.)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

ORIENTAÇÕES PARA LEITURA EM PÚBLICO E ORATÓRIA

 A leitura em voz alta, em público, ou em um púlpito, ou em um ambão, como nas igrejas católicas, pode e deve ser bem feita! E para tal, existem regras (ou orientações ou dicas) que devem ser seguidas para que se alcance o objetivo da leitura: comunicar uma mensagem oral de forma clara e compreensível.

A boa oratória, igualmente, pode e deve ser bem executada ao seguirem-se algumas orientações. E o objetivo de comunicar oralmente alguma mensagem será mais fácil e eficazmente atingido por meio da reflexão e observação prática dessas regras.

Tanto para a leitura em público, quanto para a oratória, algumas orientações (dentre muitas possíveis e úteis) estão dadas a seguir.

1. Sobre a leitura em público

               A leitura em voz alta, feita em público, deve parecer aos ouvintes como algo natural. Embora a mensagem esteja sendo lida, deve ser feita de tal forma que não fuja das entonações e naturalidades da conversa do dia a dia das pessoas. Portanto, deve ser feita sem artificialismos na entonação ou na empostação da voz. Ocorrendo esse artificialismo, a leitura soará estranha e provocará dificuldades no seu acompanhamento, tanto pela estranheza – que dispersa a atenção do ouvinte – quanto pela dificuldade de acompanhar uma “fala” que não é comum aos ouvidos e ao cérebro das pessoas.

     Uma leitura bem feita, exigirá que o leitor domine bem a língua que está sendo usada, ou melhor, domine bem o “código linguístico” pelo qual a mensagem está sendo transmitida. Portanto, no nosso caso, do português, esse não deve ser negligenciado. Um estudo contínuo durante toda a vida do indivíduo, chamado às vezes de “aprendizagem contínua ou continuada”, o capacitará a comunicar-se bem e a comunicar bem suas mensagens, tanto escritas como orais. A boa leitura em público sem dúvida se beneficiará do domínio do código linguístico pelo leitor, ocorrendo o contrário no caso de um fraco domínio da língua. Erros de pronúncia, troca de palavras, pontuação mal feita, etc., tudo isso comprometerá a transmissão da mensagem sendo lida.

     O texto a ser lido em público deve ser objeto de várias leituras silenciosas prévias. O texto deve ser quase que “memorizado”, para que a leitura saia fluente, natural e sem tropeços, algo muito comum quando o leitor não se prepara prévia e seriamente. Além disso, não esquecer o leitor de “interpretar” o texto, buscando o esclarecimento prévio de quaisquer palavras que lhe sejam estanhas. Somente a boa interpretação do texto a ser lido permitirá ao leitor um bom desempenho oral em sua leitura, pois poderá exatamente o sentido do texto por meio de apropriadas entonações e pontuações.

    4ª Essas entonações citadas devem ser objeto de estudo e reflexão da parte do bom leitor. Porque há muitos erros de entonação (ou entoação) em leituras em público: erros de entonação relativos às corretas interrogação, exclamação e pontuações. Quanto a este último item, um bom ouvinte perceberá quando um ponto final é colocado pelo leitor, indevidamente, no lugar de uma vírgula: são entonações bem diferentes! E esse erro de leitura provocará estranheza, dispersão e dificuldade no acompanhamento da mensagem do texto.

 

2. Sobre a oratória

               A boa oratória se beneficiará dos esforços feitos pelo bom leitor: aquele que faz uma boa e eficaz leitura em público estará em melhores condições para executar uma boa oratória do que aquele que não consegue ler bem. Portanto, um primeiro passo para o bom orador é a prática da leitura bem feita, seguindo, por exemplo, as orientações dadas acima (além de outras, igualmente pertinentes, que possam ser encontradas).

           O bom orador estará atento a seus próprios erros, identificados por autocrítica, pela observação crítica de outros oradores, ou por meio da crítica dos verdadeiros amigos: vícios de linguagem (Né?... Entendeu?... Exatamente...), vícios de gestos e posturas corporais (ficar puxando a manga da camisa...), não olhar para toda a extensão da plateia, fixar o olhar em alguma pessoa da plateia, etc.

               Uma oratória eficaz (aquela que atinge o seu objetivo de comunicar uma mensagem) deverá buscar atingir pelo menos três objetivos (cid): cativar o ouvinte, pela simpatia, pela voz agradável, pela ausência de vícios de oratória; ilustrar a mensagem por meio de exemplos, historietas e fatos ocorridos na experiência do orador; despertar o ouvinte para o interesse em aprofundar a questão tratada na palestra, em dar continuidade ao assunto ventilado, para que o tema não acabe pura e simplesmente ao término do encontro.

               O conteúdo da oratória (da palestra, da conferência, da aula) deverá se objeto de séria e profunda reflexão e esquematização da parte do orador. Não basta ter-se o domínio do assunto, mas é igualmente importante que um esquema textual seja elaborado ativamente pelo orador: objetivo claramente descrito (para auto orientação do orador), introdução bem elaborada (frase de impacto ao início), capítulos, do desenvolvimento do assunto, bem estabelecidos, em ordem lógica e cronológica e, sobretudo, uma conclusão em que sejam resgatados todos os principais tópicos abordados na exposição oral (ou, pelo menos, aqueles mais relevantes).

3. Conclusão

A leitura em público e a oratória podem beneficiar-se positivamente pelo seguimento das orientações acima dadas. Embora tais orientações não esgotem o assunto relativo a técnicas e à arte da boa leitura oral e da boa oratória, podem elas efetivamente contribuir para que surjam melhores leitores e oradores dentre aqueles que, ao lerem este artigo, buscarem colocar em prática o que aqui está proposto. O bom leitor é aquele que lê com naturalidade, com apropriadas entonação e pontuação, e que, com humildade, prepara-se previamente pela leitura repetitiva e interpretativa do texto a ser lido. O bom orador é aquele que não se furta a praticar a boa leitura em público, desenvolve a autocrítica em busca da superação de eventuais vícios de linguagem e outros, prepara seriamente o assunto e esquematiza o texto a ser falado,  e se conscientiza de que o bom orador deve cativar, ilustrar e despertar o ouvinte para o assunto tratado.

 

Uilso Aragono (fev. de 2023)

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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