sexta-feira, 30 de julho de 2021

MILAGRES ORIGINAIS DE JESUS NOS EVANGELHOS – PARTE II

 Este artigo pretende apresentar a segunda parte (de um total de 5) dos milagres aqui chamados “originais”, isto é, não repetidos, relatados nos 4 evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Escrevi vários outros artigos apresentando todos os milagres descritos pelos 4 evangelistas, fazendo pequenos comentários e ressaltando aqui e ali algumas comparações entre milagres que se repetiam com versões ligeiramente ou bastante diferentes. Foram identificados 120 milagres no total. Eliminando-se aqueles que se repetiam, mantendo-se apenas um representante dos repetidos, resultaram 71 milagres ditos “originais” (não repetidos).


15. JESUS ACALMA O MAR E O VENTO: Começou a soprar um vento muito forte, e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já estava se enchendo de água. Jesus estava na parte de trás da barca, dormindo com a cabeça num travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, não te importas que nós morramos?”. Então Jesus se levantou e ameaçou o vento e disse ao mar: “Cale-se! Acalme-se!”. O vento parou e tudo ficou calmo. Depois Jesus perguntou aos discípulos: “Por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?”. Os discípulos ficaram muito cheios de medo e diziam uns aos outros: “Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4, 37-40). – Diante de um tal portento, admiraram-se os discípulos diante de Jesus: “Quem é esse homem?”. No Evangelho de Mateus (14, 32-33), uma passagem correlata, os discípulos não somente se admiram, mas confessam: “De fato, tu és o Filho de Deus.”. Interessante observar como os evangelhos não são simplesmente cópias idênticas uns dos outros, mas revelam aspectos ligeiramente diferentes ou complementares, de acordo com aquilo que o escritor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, lembrava ou desejava ressaltar como verdade a ser testemunhada.


16. JESUS CURA POUCOS DOENTES EM NAZARÉ: Jesus foi para Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. Quando chegou o sábado, Jesus começou a ensinar na sinagoga. (...) E ficaram escandalizados por causa de Jesus. Então Jesus dizia para eles que um profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e em sua família. E Jesus não pôde fazer milagres em Nazaré. Apenas curou alguns doentes, pondo as mãos sobre eles. E Jesus ficou admirado com a falta de fé deles (Mc 6, 1.2.3c-6). – Neste episódio, Jesus nos chama a atenção para não desvalorizarmos aqueles que, entre nós, possam estar manifestando algum dom de Deus para o serviço da comunidade. Não é porque alguém vem de fora que, por isso, terá mais poder ou sabedoria do que aqueles que convivem conosco. Deus não discrimina ninguém negativamente! Qualquer pessoa, próxima, ou distante de nós, pode manifestar dons do Espírito Santo para o serviço da comunidade! Que sejam, sempre, bem-vindos!


17. JESUS CURA ATRAVÉS DE SEUS DISCÍPULOS: Então os discípulos partiram e pregaram para que as pessoas se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes, ungindo-os com óleo (Mc 6, 12.13). – Jesus deu aos seus discípulos o poder de curar os doentes e expulsar os demônios. E isto, de fato, aconteceu! Que poder é este que uma pessoa (Jesus) pode passar para outras pessoas? Se isto é verdade – e nós acreditamos que sim! – também nós temos, em menor escala, a capacidade de passar para nossos irmãos, amigos e parentes algumas virtudes poderosas: o amor, a amizade, o consolo, o perdão, a alegria, etc. E veja-se, ainda, a importância de um sacramental: a unção com óleo! Unidos à fé e à oração, milagres podem ser feitos pela unção com óleo bento...

18. JESUS CURAVA A TODOS, EM GENESARÉ: Logo que desceram da barca, as pessoas imediatamente reconheceram Jesus. (...) E aonde ele chegava, tanto nos povoados como nas cidades ou nos campos, colocavam os doentes nas praças e pediam que pudessem ao menos tocar a barra da roupa de Jesus. E todos os que tocavam, ficavam curados (Mc 6, 54.56). – Como na passagem paralela de Mateus (14, 35b-36), Jesus se deixa tocar, enquanto os doentes passam diante dele, desejos de serem curados. Certamente, Jesus estava orando e intercedendo ao Pai por cada um desses doentes. É interessante notar que Jesus “curava a todos”, não exigindo, aqui, que manifestassem mais fé do que aquela revelada pelo simples buscar e tocar a barra da roupa do Senhor! Que também nós, aprendamos a buscar Jesus, com fé, para, ao menos, tocar em sua roupa. Hoje, podemos tocar na barra da roupa de Jesus ao tocarmos na Eucaristia! Quantos milagres de curas o Senhor não deseja fazer ainda hoje, por nós?


19. JESUS CURA UMA MULHER PAGÃ: Então Jesus saiu daí e foi para a região de Tiro e Sidônia. Uma mulher que tinha uma filha com um espírito mau, ouviu fala de Jesus. A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. Jesus disse: “Deixe que primeiro os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-los aos cachorrinhos.”. A mulher respondeu: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos ficam debaixo da mesa e comem as migalhas que as crianças deixam cair”. Então Jesus disse: “Por causa disso que você acaba de dizer, pode voltar para casa; o demônio já saiu da sua filha.”. Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já tinha saído dela (Mc 7, 24a.25a.26-30). – É um episódio semelhante ao do Evangelho de Mateus (15,21-28), em que uma criança – filha de uma mulher pagã (ou cananeia) – é beneficiada pela fé de sua mãe e tem o demônio expulso a distância por Jesus. Jesus atribui à fé da mãe, que se reconhece uma pessoa indigna (um “cachorrinho”), mas confia na misericórdia do Senhor, a cura de libertação realizada. Libertação, nos Evangelhos, tem, normalmente o significado de: libertação dos pecados ou da ação dos demônios.


20. JESUS CURA UM SURDO-MUDO: Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. Levaram então a Jesus um homem surdo e que falava com dificuldade, e pediram que Jesus pusesse a mão sobre ele. Jesus se afastou com o homem para longe da multidão; em seguida, pôs os dedos no ouvido do homem, cuspiu e com a sua saliva tocou a língua dele. Depois, olhou para o céu, suspirou e disse: “Efatá”, que quer dizer: “Abra-se!”. Imediatamente os ouvidos do homem se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém (Mc 7, 31-36a). – Neste milagre de Jesus, não lhe pediram a cura do doente, mas que “pusesse a mão sobre ele”. Daqui vemos não só o poder de curar os doentes que Senhor quis demonstrar, mas que este poder estava associado a impor as mãos sobre alguém. Tão associado que os discípulos lhe pediram – depois de terem visto, certamente muitas vezes, o Senhor colocar as mãos e curar – que “pusesse a mão sobre ele”, isto é, que o curasse. Portanto: o impor as mãos de Jesus é igual a curar alguém, na experiência dos discípulos contemporâneos do Senhor. Mas com o tempo, passou a ser, também, para além de uma expressão de bênção, expressão de cura entre todos os discípulos de Jesus, por meio da Fé.


21. SEGUNDA MULTIPLICAÇÃO DE PÃES E PEIXES: Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinham o que comer. (...) Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois, pegou os sete pães, agradeceu, partiu-os e ia dando aos discípulos, para que os distribuíssem. Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre eles, mandou que os distribuíssem também. Comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos dos pedaços que sobraram. Eram mais ou menos quatro mil. E Jesus os despediu (Mc 8, 1. 6-9). – Este segundo episódio do milagre da multiplicação dos alimentos – muito semelhante à primeira multiplicação (vide número 17, acima) – indica que, possivelmente, várias vezes tenha ocorrido essa situação de carência de alimentos no meio da multidão de pessoas que acompanham o Senhor. Naquele tempo, não havia a abundância de mercearias, supermercados, padarias e lanchonetes, como temos hoje. E as multidões reuniam-se em lugares afastados e silenciosos, para que pudessem ouvir bem o Enviado do Senhor. E tendo abençoado os alimentos, Jesus os distribuía aos discípulos, e estes às pessoas esfomeadas. E todos ficavam satisfeitos. Ainda hoje, Jesus quer nos alimentar por meio de seu próprio corpo e de seu sangue, como ocorre na Eucaristia (Missa ou Celebração Eucarística). Nesta, o sacerdote cristão oferece a Deus a renovação do sacrifício redentor de Cristo, e os pães (partículas de pão ázimo ou hóstias) são transformados em Seu Corpo e Seu Sangue, para nossa alimentação corporal e espiritual, e para que nos tornemos, cada um de nós, comungantes, um outro Cristo para o irmão.


22. JESUS CURA UM CEGO: Chegaram a Betsaida. Algumas pessoas levaram um cego e pediram que Jesus tocasse nele. Jesus pegou o cego pela mão levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele, pôs as mãos sobre ele e perguntou: “Você está vendo alguma coisa?”. O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo homens; parecem arvores que andam.”. Então Jesus pôs de novo as mãos sobre os olhos dele, e ele enxergou claramente. Ficou curado e enxergava todas as coisas com nitidez, mesmo de longe. Jesus mandou o homem ir para casa, dizendo: “Não entre no povoado.” (Mc 8, 22-26). – Uma pergunta surge, naturalmente: por que Jesus não curou o cego imediatamente, mas em dois tempos? Talvez possamos entender desse episódio que Jesus, como um novo Moisés, que bateu nas pedras três vezes para que a água jorrasse para o povo, no deserto, quis identificar-se com ele e com todos os seus futuros discípulos, que, ao pedirem uma cura a Deus, viessem a ter a humildade de pedir repetidamente, com fé e insistência, até que a cura viesse a acontecer. Ou talvez possamos entender, simplesmente, que Jesus tem misericórdia e paciência até com a natureza morta (nosso corpo) que pode insistir em permanecer em seu estado doentio...


23. A FIGUEIRA ESTÉRIL: No dia seguinte, quando voltavam de Betânia, Jesus sentiu fome. Viu de longe uma figueira coberta de folhas e foi até lá ver se encontrava algum fruto. Quando chegou perto, encontrou somente folhas, pois não era tempo de figos. Então Jesus disse à figueira: “Que ninguém mais coma de seus figos”. E os discípulos escutaram o que ele disse. (...) Na manhã seguinte, Jesus e os discípulos, passando, viram a figueira que tinha secado até a raiz. Pedro lembrou-se e disse a Jesus: “Olha, Mestre: a figueira que amaldiçoastes secou”. Jesus disse para eles: “Tenham fé em Deus. Eu garanto a vocês: se alguém disser a esta montanha: ‘Levante-se e jogue-se no mar, e não duvidar no seu coração, mas acreditar que isso vai acontecer, assim acontecerá’” (Mc 11, 12-14.20-23). – Neste episódio, tudo indica que Jesus tenha desejado criar as condições para o ensino sobre a fé. Ao amaldiçoar a figueira que tinha folhas, mas não frutos (uma alusão à sociedade da época, tão cheia de aparente esplendor, mas sem os frutos da solidariedade?), ela acaba por, de fato, secar “até a raiz”, como é encontrada na manhã seguinte. E Jesus lhes ensina: “Tenham fé em Deus”. A fé, então, confiança sem qualquer dúvida, mas baseada – como diz mais à frente – na prática do perdão.

24. JESUS É TENTADO NO DESERTO: Repleto do Espírito Santo, Jesus voltou do rio Jordão e era conduzido pelo Espírito através do deserto. Aí ele foi tentado pelo diabo durante quarenta dias. Não comeu nada nesses dias e, depois, sentiu fome. Então o diabo disse a Jesus: “Se tu és o Filho de Deus, manda que essa pedra se torne pão”. Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem’.” (Lc 4, 1-4). – Outras duas tentações são descritas: a relativa à riqueza e a relativa ao poder (político e religioso). Mais uma vez, notam-se as diferenças entre os três relatos sinóticos. Aqui (Lucas), “Jesus foi tentado pelo diabo durante quarenta dias”! Em Mateus, Jesus “jejua” por quarenta dias e quarenta noites, e o tentador é um diabo de nome Satanás. E em Marcos, é Satanás quem tenta Jesus durante quarenta dias. E Jesus vivia entre os animais selvagens e os anjos o serviam. Estes anjos, em Mateus, só aparecem depois das tentações. Essas diferenças servem para manifestar a verdade da mensagem evangélica, com as variações dos detalhes, mas, na essência, uma única mensagem: Jesus afastou-se no deserto, deve ter jejuado bastante e foi tentado pelos maus espíritos. E com a fé firme em Deus, rejeita todas as tentações. Que imitemos nosso Senhor na firmeza da fé!


25. JESUS LÊ AS ESCRITURAS SOBRE O MESSIAS: Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. (...) Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito: “O Espirito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”. (...) Então Jesus começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura que vocês acabam de ouvir.” (Lc 4, 16a.17-19.21). – Não deixa de ser um milagre o fato de que Jesus recebe o livro de Isaías (na verdade, um rolo de pergaminho) das mãos de um ajudante do Templo. Ele apenas busca a passagem (como a encontrou?) e a lê. E essa passagem fala, justamente, da manifestação do Messias, do Ungido do Senhor. O texto lido fala também das obras que já estavam sendo realizadas por Jesus: curas e libertações espirituais. Mas os seus não o receberam e até o rejeitaram...


26. JESUS LIVRA-SE DO PRECIPÍCIO: Quando ouviram essas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. Levantaram-se e expulsaram Jesus da cidade. E o levaram até o alto do monte, sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. Mas Jesus, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho (Lc 428-30). – Esta passagem mostra como Jesus, sendo verdadeiro homem, era, igualmente, verdadeiro Deus! Pois estando para ser empurrado precipício abaixo por uma multidão enfurecida, em dado momento, ele simplesmente como que hipnotiza a turba e passa pelo meio dela, deixando todos para trás e seguindo seu caminho. Quem conseguiria fazer isto? Não há quem!... Mas Jesus é o Filho do Homem, é o Filho de Deus! E o mundo espiritual é mais forte do que o mundo material! Observe-se que, na passagem paralela do evangelho de Marcos, só se fala na rejeição dos seus concidadãos. A referência ao precipício é omitida.


27. A CURA DE UM ENDEMONIADO: Na sinagoga havia um homem possuído pelo espírito de um demônio mau, que gritou em alta voz: “O que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!”. Jesus o ameaçou dizendo: “Cale-se, e saia dele!”. Então o demônio jogou o homem no chão, saiu dele, e não lhe fez mal nenhum (Lc 4, 33-35). – Este episódio também está registrado no evangelho de Marcos (1, 23-27), não, porém, no de Mateus. E são, essencialmente idênticos. É um milagre de libertação da possessão demoníaca. E neste caso, como o próprio endemoniado diz, eles são muitos: “O que queres de nós, Jesus de Nazaré?”. E Jesus, com uma simples palavra de poder, os manda sair. E, imediatamente, o homem é libertado das garras demoníacas. Ainda hoje há casos de possessão, de influência demoníaca, de vexação (violência física sobre uma pessoa), etc. Exorcistas ainda são bem-vindos ao mundo cristão!


28. JESUS CURA A SOGRA DE PEDRO: Jesus saiu da sinagoga e foi para a casa de Simão. A Sogra de Simão estava com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela. Inclinando-se para ela, Jesus ameaçou a febre, e esta deixou a mulher. Então, no mesmo instante, ela se levantou e começou a servi-los (Lc 4, 38-39). – Este milagre é relatado no Evangelho de Mateus (8, 14-15) e também no de Marcos (1, 29-31). A diferença aqui, em relação aos demais, é que Jesus “ameaça” a febre, e ela se vai. Nos outros, Jesus toca a mão da sogra de Pedro (ou Simão) ou a segura pela mão. Em comum: a febre desaparece instantaneamente e a senhora se levanta e começa a servi-los. Sabe-se que uma dona de casa não se deixa abater por uma febre qualquer. Se ela estava com febre “alta” e deitada, é porque a situação era grave. Um toque na mão dela e Jesus a cura totalmente!

Uilso Aragono (Julho, 2021)


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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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