quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

ENSINO, APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO NA ENGENHARIA

O texto abaixo visa a refletir sobre o processo ensino-aprendizagem nos cursos de engenharia, particularmente. Mas aplica-se a estudos de nível superior em qualquer área de estudo. É fruto de minha experiência como professor de engenharia há mais de 35 anos.


INTRODUÇÃO

O processo ensino-aprendizagem é algo muito complexo e exige, portanto, estratégias, igualmente complexas em sua aplicação. Pode-se iniciar a reflexão sobre a melhor estratégia tendo-se em vista que o termo ensino-aprendizagem denota um processo integrado, onde não há ensino, propriamente dito, sem a correspondente aprendizagem: não se “ensina”, simplesmente, embora se possa “aprender”, simplesmente...

O QUE É ENSINO-APRENDIZAGEM?

Entendemos, como o fazem os professores da área didático-pedagógica, em sua maioria, que não se sabe, exatamente, o que seja o ensino e como ele possa ocorrer, nem o que seja e como se dá, efetivamente, a aprendizagem. Daí denominar-se tal processo de ensino-aprendizagem, pois não se sabe, exatamente, onde termina um e começa a outra. Conclui-se daqui, que, provavelmente, por envolver pessoas, seres humanos, seres complexos, tais processos não possam ser simples, matemáticos, exatos, inequívocos, automáticos ou objetivos. Mas, ao contrário, tenham de ser, necessariamente, complexos, ambíguos, aproximados, subjetivos e resultados de esforços sérios e sinceros de ambas as partes: professor e aluno.

NAS CIÊNCIAS EXATAS

Nas ciências exatas (engenharias), como é o nosso caso, os professores somos tentados a ensinar automaticamente (considerando-nos, às vezes, sem muita consciência, os donos da verdade, porque ela é exata como 2 + 2 = 4). Então, segue-se, como consequência natural que o professor ensina, explica, justifica, e o aluno, sem necessidade de qualquer questionamento, deve aceitar a verdade matemática. O professor, portanto, ensina, e espera-se que o aluno, ao final de uma aula de duas horas deva ter aprendido, isto é, aceito e entendido, tudo aquilo que o professor apresentou. Conclui-se que, nas engenharias, o professor seja aquele que detém o conhecimento exato da verdade científica, e o aluno deva aceitá-lo passivamente. Daqui seguem-se as metodologias tradicionais que se perpetuam nas salas de aula: o professor fala e o aluno, passivamente, escuta. Não se prepara, desse modo, o verdadeiro profissional, pois este deverá ser ativo, crítico, participativo, capaz de falar abertamente e de explicar suas ideias para um grupo de pessoas de forma firme e convicta. Nossos alunos terminam o curso de engenharia, após cerca de cinco a seis anos de estudos individuais, solitários, passivos e inseguros, e se espera que se tornem, logo após a formatura, profissionais seguros e competentes.

NAS CIÊNCIAS HUMANAS

No caso das ciências humanas, parte-se do pressuposto de que o conhecimento deva ser buscado como esforço conjunto, em grupos, pois ninguém detém o conhecimento, ou pode ser considerado o dono da verdade. Lá, a tendência, ao contrário do que ocorre nas ciências exatas, é considerar o ensino-aprendizagem como um verdadeiro processo partilhado, que deve ser enriquecido pela participação de todos os envolvidos.

SOBRE A AVALIAÇÃO

Quanto ao aspecto da avaliação do processo ensino-aprendizagem, que é muito mais ampla do que uma simples aplicação de prova escrita, acreditam, educadores como Hamilton Werneck Sodré e Paulo Freire, que, nela, tudo deva ser ponderado: não devem ser avaliados somente conhecimentos adquiridos, mas, especialmente, as mudanças de atitude diante da vida, que, possivelmente, tais conhecimentos tenham propiciado. É a pessoa que deve ser avaliada e não, simplesmente, as respostas corretas de um conjunto de questões arbitrária e subjetivamente escolhidas. Para tais pessoas serem avaliadas, elas devem ser conhecidas pelo professor. Para isto, elas teriam de se manifestar diante dele, o que raramente ocorre. Prefere-se, na nossa área das ciências exatas, simplificar o procedimento e resumir a avaliação a um processo pontual e binário: a prova escrita, com questões que somente estarão certas ou erradas (relativamente à verdade matemática e técnico-científica ensinada pelos doutos professores). A avaliação de uma prova, de forma binária, não é humana e se reveste de características computacionais, como se quem avalia fosse um computador.

O ALUNO SERÁ UM PROFISSIONAL

Sobre o argumento de que o aluno tenha de desenvolver a questão corretamente, pois “o engenheiro não poderá errar o seu projeto”, temos a dizer que é um aluno que está sendo avaliado, e não o profissional do futuro. Este será formado como resultado de médias iguais ou superiores ao valor definido pela instituição de ensino, como conhecimentos suficientes e supostamente adquiridos em cada disciplina. Como ilustração, seja citado o aluno que, nada sabendo de italiano, após estudar durante um mês e ser submetido a uma prova, tenha uma questão considerada totalmente errada (num sistema binário de correção) porque teria errado o tempo verbal de uma frase cujos demais elementos estariam corretos. Seria uma avaliação justa e humana? Não estaria o aluno conseguindo comunicar-se, mesmo que imperfeitamente, por meio da frase que escrevera?

Não se pode exigir ou avaliar um aluno como se ele tivesse que acertar suas questões como se espera que o profissional, já formado, acerte. Este estará numa situação totalmente diferente do aluno: estará trabalhando possivelmente com o apoio de uma equipe técnica, sem a pressão psicológica de uma prova, e com todos os mecanismos possíveis de verificação de suas soluções. Já o aluno, numa prova, estará totalmente solitário, isolado, psicologicamente pressionado, e sem possibilidades de testar suas soluções por meio de outros recursos, que não sua cabeça estressada... Avaliação é um processo complexo, que não deveria ser reduzido à simples e pura determinação de resultados numéricos de provas, intrinsecamente falhas, ou falhas pela própria natureza.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que ensino, aprendizagem e avaliação sejam processos complexos e que devam ser aplicados após profundas e repetidas reflexões da parte dos professores. O ensino não existe de forma independente e automática: não ocorre, necessariamente, após uma aula expositiva, por exemplo. A aprendizagem, sendo mais concreta, só ocorre após sérios e efetivos esforços da parte do aluno, nem sempre ligados, sequencialmente, às aulas, mas, costumeiramente, realizados antes das provas. Já a avaliação é um processo que, se não bem calibrado pelo docente, poderá ser fonte de muita injustiça, e traumas para o aprendiz, especialmente se for considerado um processo puramente numérico (valores das questões), binário (certo ou errado) e não levar em conta o real progresso do aluno desde o início do curso.

Uilso Aragono (dezembro de 2015)

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A QUALIDADE DO ENSINO E A QUALIDADE DO PROFESSOR

Falar da qualidade do ensino é discorrer sobre algo que envolve múltiplos elementos ligados ao processo ensino-aprendizagem. Um desses elementos é o professor, que, sendo uma peça importantíssima no processo tem papel também relevante na avaliação da sua qualidade. O texto a seguir, faz uma reflexão sobre a função e a importância do professor nesse processo de ensino-aprendizagem.

A FUNÇÃO DO PROFESSOR

 A função do professor, se bem entendida e vivenciada, contribuirá, sem dúvida, para o bom aproveitamento do aluno, que é o objetivo de todo processo de ensino-aprendizagem. Essa função, diferentemente do que se acredita, não é a de, simplesmente, “passar conhecimentos” ao aluno, mas, sobretudo, de apoiá-lo na sua própria busca do saber! E se o estudo se dá em três momentos, quais sejam: ler, refletir e exercitar-se, então aquele apoio deve dar-se, sobretudo, no segundo momento da aprendizagem de um tema, isto é, naquele momento da reflexão e do surgimento da dúvida, quando, então, se pode concluir: uma dúvida resolvida é matéria aprendida! ...

O QUE É O ENSINO?

Mas, o que é o ensino? Ensinar é um processo tão complexo que não pode ser reduzido à simplicidade de uma ação. Não se “ensina” algo simplesmente por meio de explicações, comparações ou exemplos, mesmo que se utilizem, para isso, dos mais modernos recursos didáticos. O ensinar pode estar ligado a muitos e variados aspectos, tais como: esclarecer, ilustrar, comparar, incentivar, avaliar, mostrar, demonstrar, visitar, construir, criar, dentre outros.

O QUE É A APRENDIZAGEM?

Por outro lado, o que é aprender? O ensinar corresponde necessariamente e diretamente a um aprender? São processos simultâneos, ou podem ser assíncronos? Estas e outras questões podem ser levantadas na tentativa de se chegar a uma conclusão acertada sobre o processo ensino-aprendizagem.
Aprender não parece ser uma situação imediatamente decorrente do esforço de ensinar. Muitas vezes a explicação de um professor, mesmo de forma individualizada, não obtém a adequada resposta do aluno, isto é: ele não “capta a mensagem”... No entanto, isto acontecerá no momento certo, no tempo oportuno, após o esforço de busca da compreensão do assunto, quando, então, o aluno poderá dizer que “caiu a ficha”... Há, de fato, o tempo certo da aprendizagem, que não está, necessariamente, ligado ao tempo do ensino. Podemos dizer que somente há ensino instantâneo em relação a assuntos muito elementares, em que a inteligência do aprendiz é suficientemente apta para a apreensão imediata. Fora isto, é sempre um processo de esforço individual, constante e até solitário, aquele que conduz, efetivamente, à aprendizagem.

CONCLUSÃO


Ter consciência destas relações que envolvem o processo de aprendizagem pode fazer do professor um agente mais efetivo no auxílio ao aluno que trilha seu caminho em busca do saber. Buscar novas e ousadas metodologias a serem aplicadas na sala de aula deveria ser, sempre, o desafio motivador do professor que, realmente, se interessa pela aprendizagem do aluno. A qualidade do ensino estará, então, fortemente ligada à qualificação didático-pedagógica do professor, que, quando não atrapalha o processo, já ajuda...

Uilso Aragono. (nov;2015)

sábado, 31 de outubro de 2015

CATEQUESE SOBRE A BÍBLIA CATÓLICA

A história da Bíblia é a história da Bíblica Católica, uma vez que a Religião Cristã tem sua origem com o Catolicismo vivido pelos primeiros cristãos até o fim do primeiro milênio, quando ocorre o cisma com a Igreja Oriental (em 1954). E naqueles primeiros mil anos do Cristianismo, a Bíblia foi sendo copiada pelos monges nos muitos conventos e mantida com todo o zelo pela Igreja Católica.

O QUE É A BÍBLIA

A Bíblia, ou também denominada a Palavra de Deus, ou a Sagrada Escritura ou a História Sagrada é o livro mais lido e mais traduzido de toda a história humana. Dizem que já foi traduzido em mais de 2300 línguas! ...

A Bíblia, na verdade, é o conjunto dos livros que começaram a ser escritos por volta de 1200 anos antes de Cristo e tiveram a sua conclusão no primeiro século da Era Cristão (cerca de 94 DC). Eram escritos atribuídos a cerca de quarenta (40) autores sagrados (ou autores inspirados por Deus) e que foram inicialmente registrados em papiros (um papel vegetal bem primitivo) e em pergaminhos (material feito com couro de animais). Tais escritos têm por base toda uma antiga tradição oral que os precedeu.

ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS

É constituída pelos assim denominados Antigo Testamento (AT) e Novo Testamento (NT). O AT é constituído por um total de 46 livros, enquanto o NT apresenta 27 livros, num total de 73 livros. Para os evangélicos (que, em 1517, com a Reforma Luterana rejeitos 7 livros), A Bíblia tem apenas 66 livros. Já para a Igreja Católica Oriental (ou Ortodoxa) são um total de 78 livros.
Pode-se, a título de memorização lúdica dos números de livros da Bíblia, fazer-se a seguinte associação. Os 46 livros do AT são iguais a “4 + 6 = 10” – de fato, o AT é nota 10! Já os 27 livros do NT dão somente 9, isto é: 2 + 7 = 9! ...  No entanto, com o leitor cristão dá 10! – de fato, “2 + 7 + você, leitor cristão = 10”. O NT, então, também é nota 10!

A palavra Testamento não tem o mesmo significado atual, no sentido de um texto em que se deixa registrada a intenção de distribuição das riquezas do morto entre os herdeiros. O sentido original está mais associado a Aliança e a Contrato. De fato, a Antiga Aliança é aquela união (ou aquela promessa, aquele contrato), entre Deus e seu Povo, estabelecida por meio de Abraão, o Pai da Fé. E a Nova Aliança é aquela estabelecida, de novo, entre Deus e seu Povo, por meio de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se encarna e dá sua vida pela remissão do pecado da humanidade. Pode-se falar, ainda em um “casamento” (daí a palavra “aliança”) entre Deus e seu Povo. E mais tarde, entre Cristo e sua Igreja.

INSPIRAÇÃO DIVINA DO AUTOR SAGRADO

Para que bem se entendam e se aceitem bem certas marcas muito fortes de aparentes injustiça, violência, crueldade e até maldade de Deus nas histórias contadas nos livros do AT, é importante que se compreenda que a inspiração do autor sagrado não significa que este seja “guiado”, como um robô, por uma voz vinda do Céu. Na verdade, a inspiração é uma suave brisa que Deus envia ao coração do autor sagrado, que se sente confiante em escrever e contar histórias, cuja moral, é sempre, uma verdade. Mas a cultura, as crenças humanas e os mitos do autor sagrado – características profundamente humanas! – não são alteradas por Deus, a fonte da inspiração. Deus respeita totalmente a liberdade da consciência humana, sendo a inspiração divina uma marca sutil que leva o autor a escrever suas histórias como as parábolas do NT: a história pode não ter acontecido, de fato, mas a conclusão moral é pura verdade religiosa, inspirada por Deus! Portanto, as descrições de histórias de matança de mulheres, crianças e velhos, e até de animais, encontradas em livros históricos do AT, não são, verdadeiramente, desejos nem ordens de Deus, mas frutos da crença dos homens daquela época, que acreditavam, por exemplo, que tais mortes fossem necessárias para que não houvesse “contaminação” do Povo de Deus por conta do contato com pessoas ou animais dos povos vencidos...

CONTEÚDO DA BÍBLIA

A Bíblia tem livros que contam histórias (com moral verdadeira), mostram orações (os Salmos), falam de profecias (que são “palavras” de Deus) e falam das Leis de Deus. Os assuntos cobrem, ainda, guerras de conquista, vinganças, assassinatos, fé, escravidão e libertação, pecado, virtudes e santidade. Por conta das características culturais do autor sagrado, respeitadas pela inspiração divina, como comentado acima, há tanto histórias macabras quanto lindas e emocionantes!

A história de José do Egito é um exemplo de uma linda e emocionante história do Povo de Deus, em que a moral passada é marcada pelas verdades do perdão, e da realização dos planos de Deus, mesmo contra a maldade humana.

COMPARAÇÃO ENTRE AT E NT

Uma comparação básica entre os livros do Antigo Testamento e do Novo Testamento pode ser a seguinte:

ANTIGO TESTAMENTO
NOVO TESTAMENTO
Antes de Cristo (AC)
Depois de Cristo (DC)
46 Livros
27 Livros
Temor de Deus
Amor de Deus
Povo de Deus
Igreja
Uma mulher: Ester
Uma mulher: Maria
Um homem: Moisés
Um homem: Cristo
Batismo na água
Batismo no Espirito (Sacramento da Crisma)

PARA COMEÇAR A LER A BÍBLIA

A recomendação para o jovem leitor, ou para o iniciante, é que se comece pelas Cartas de S. João, passando-se, em seguida, pelo Evangelho de S. Lucas e pelos Atos dos Apóstolos (também de S. Lucas).

Essas leituras estão mais de acordo com a cultura atual, já cristianizada e marcada pelos valores humanos, hoje já contemplados pelos chamados Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Após essas leituras iniciais, podem-se ler algumas histórias bonitas do Antigo Testamento, como a citada acima (História de José do Egito, de Moisés, etc.).

Ler sempre a Bíblia – especialmente os Evangelhos – faz crescerem os valores cristãos da fé, do Amor a Deus e ao próximo, da esperança de um mundo sempre e cada vez melhor, e caminhando para a realização plena na segunda vinda de Cristo (“Maranata” = “Vem senhor Jesus!”).

APLICATIVOS NOS SMARTFONES

Há muitos bons aplicativos em smartfones, que podem ser baixados de forma gratuita, e que devem fazer parte dos aplicativos do jovem cristão. Um deles é a Bíblia da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que permite uma proveitosa leitura, em qualquer lugar e a qualquer hora.

CONCLUSÃO

A Bíblia é um conjunto de 73 livros, escritos por cerca de 40 autores sagrados, cuja inspiração significa que escreviam e contavam histórias (ou parábolas) que passam verdadeiras lições de moral divina. Não significa, no entanto, que suas histórias sejam relatos fiéis de acontecimentos reais da história do Povo de Deus, especialmente no que tange a assassinatos, violências e genocídios que teriam sido ordenados por Deus. É claro que Deus, sendo um Deus de Amor, não ordenaria tais fatos, os quais devem ser entendidos como força de expressão cultural e frutos das crenças humanas e sociais dos próprios autores sagrados. 

Uilso Aragono. (outubro de 2015)

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

ORATÓRIA, COMUNICAÇÃO E LEITURA LITÚRGICA

Dada a importância da boa oratória em palestras e da boa leitura em cerimônias litúrgicas (Missa, por exemplo), compartilho com todos os leitores um texto em que apresento dicas e orientações para uma boa e efetiva comunicação.

PARTE I - DICAS PARA UMA BOA ORATÓRIA

A boa oratória somente se adquire efetivamente com a prática frequente, iluminada pela autocrítica, observação crítica de palestrantes e alguma leitura sobre o assunto. No entanto, podem ser apontados alguns cuidados ou dicas sobre como falar bem em público.

Os seguintes aspectos podem ser destacados:

1.      ATITUDE
1.1.   A atitude demonstrada pelo orador deve ser a mais positiva possível. A plateia deseja o sucesso do orador! E o orador, enquanto está com a palavra, é a autoridade no assunto, pois foi convidado para falar sobre ele.
1.2.    Se o nervosismo existe, deve ser encarado como normal: todo orador pode ficar ansioso e nervoso; o que não pode acontecer é que tal nervosismo atrapalhe o seu desempenho. Somente a prática dará a segurança ao orador para que assim aconteça.
2.      POSTURA
2.1.   A postura deve ser a mais ereta possível, mas sem afetação. Evitar tronco arqueado e cabeça baixa.
2.2.   O olhar do orador deve ser firme e seguro, encarando e percorrendo toda a plateia com um leve sorriso.
2.3.   Usar vestimenta adequada: discreta e razoavelmente elegante, compatível com o ambiente social.
3.      GESTOS
3.1.   Os gestos devem ser naturais e acompanhar o conteúdo da palestra.
3.2.   Evitar (mulheres) ficar abaixando a minissaia ou a mini blusa, se for o caso.
3.3.   Escolher a melhor roupa e não procurar ajustes durante a oratória é o mais indicado.
3.4.   Evitar ficar segurando um paletó ou uma blusa com uma das mãos.
3.5.   Evitar gestos que não combinem com o que está sendo dito.
3.6.   Evitar deixar os braços caídos ao lado do corpo enquanto se fala.
3.7.   Preferir uma posição de braços levemente dobrados, com as mãos próximas, como base para a gesticulação.
3.8.   Cuidar para não serem feitos gestos obscenos ao apontar para algo.
3.9.   Segurar uma ficha com o esquema da palestra, com uma das mãos, não é proibido. A outra mão fará a gesticulação necessária.

4.      MOVIMENTAÇÃO
4.1.   Evitar movimentação pendular, isto é, de um lado para o outro, preferindo-se permanecer no mesmo lugar com variações suaves de posição.
4.2.   Evitar adentrar a plateia para que não ocorra ficar o orador de costas para uma parte da plateia, que ficará constrangida por não poder ver o orador.
4.3.   Procurar colocar-se numa posição tal que toda a plateia possa estar vendo o orador.

5.      VOZ
5.1.   A voz é importantíssima na comunicação oral. Cuidar para que seja emitida com volume e dicção adequados.
5.2.   Evitar a voz monótona, isto é, sem inflexão, sendo emitida com a mesma força todo o tempo.
5.3.   Evitar a voz muito grave, pois dificulta a audição.
5.4.   Atentar para a dicção clara, o que se consegue articulando claramente os maxilares
enquanto se fala.
5.5.   Evitar falar com a boca quase fechada.
5.6.   Grave a própria voz e ouça-a para corrigir possíveis problemas.
5.7.   Corrija a voz nasal, a voz fraca, a voz monótona, a voz estridente.

6.      MICROFONE
6.1.   Se o microfone for fixo, evitar segurá-lo, pois é totalmente desnecessário e provoca irritação na plateia.
6.2.   Se for microfone de segurar, segurá-lo com uma das mãos enquanto se gesticula com a outra. Após algum tempo, a mão do microfone pode ser alternada, sem que se o faça com muita frequência.
6.3.   Manter o microfone sempre próximo à boca, mesmo que a cabeça se movimente, estando atento para o fato de ele estar ligado e com bom volume. Tentar ouvir a própria voz amplificada!
6.4.   Se houver microfone disponível, e o ambiente for relativamente grande, deve-se dar preferência a usá-lo, para conforto dos ouvintes.
6.5.   Ao se falar sem microfone, ter certeza de que os ouvintes mais afastados estejam ouvindo o orador. Isto se consegue perguntando a tais ouvintes se eles estão ouvindo o orador.

7.      LINGUAGEM
7.1.   Quem fala em público deve cuidar mais do vocabulário, da nossa língua portuguesa!
7.2.   Acostumar-se a procurar palavras novas ou pouco conhecidas no dicionário.
7.3.   Estar atentos aos erros mais comuns (vide à frente: Problemas do nosso português).
7.4.   Séculos e capítulos de 1 a 10 são lidos/ditos de forma ordinal: séc. II (segundo), capítulo III (terceiro), etc.
7.5.   Reis, papas, etc. seguem o mesmo esquema: João Paulo II (segundo), Henrique VIII (oitavo), etc.
7.6.   Evitar vícios de linguagem e perguntas desnecessárias: "tá entendendo?", “né?”, etc.
7.7.   Falar no ritmo certo: nem rápido demais, nem lento demais.

8.      ESQUEMA
8.1.   O orador seguirá, sempre, um esquema mental do que irá falar.
8.2.   Introdução, desenvolvimento e conclusão (pelo menos estas três partes) são obrigatórias.
8.3.   Exercitar o esquema de tópicos: delimitar o assunto; para quem se vai falar; a ordem do que
falar; as principais ideias; frase de impacto na introdução e frase conclusiva ao final.

9.      PROJETOR MULTIMÍDIA
9.1.   Os slides não são a "cola" do orador!
9.2.   Os slides existem para ajudar a plateia a acompanhar a palestra.
9.3.   O orador continua a ser a peça mais importante.
9.4.   O orador deve ficar numa posição em que olhe a plateia e a tela sem movimentar muito a cabeça.

10.  EXPRESSÃO FACIAL
10.1.     Orador deve mostrar-se simpático à plateia: ninguém gosta de olhar para um orador carrancudo!
10.2.     Alternar entre um leve sorriso e expressão mais séria conforme o que se diz.
10.3.     Orador comunica com o corpo todo: é um artista da voz, dos gestos e da expressão facial!

10.4.     O tom, a inflexão de voz e a expressão facial são responsáveis por 93% da comunicação! (http://www.dicasprofissionais.com.br)

PARTE II - ALGUMAS TÉCNICAS PARA A BOA LEITURA

1.         Treinar a leitura de frases, e não de palavras. – O olho deve focalizar acima da linha escrita e tentar abarcar o maior número possível de palavras da frase. Desta forma, a leitura mental se antecipa à leitura verbal, podendo-se, então, prever sinais de pontuação e dar a entonação correta à frase sendo lida.  

2.         Focalizar a frase por cima, nas entrelinhas. – Para o sucesso da dica número 1, há que se verificar que a leitura de um texto deve ser feita de tal forma que a visão focalize acima da frase, e não diretamente sobre cada palavra. Olhando por cima consegue-se uma amplitude maior na leitura, o que possibilita ler-se (mentalmente) mais de uma palavra ao mesmo tempo. Prova-se, facilmente, que a metade superior de uma frase tem mais significado do que a parte inferior, isto é: consegue-se ler e entender uma frase pela sua metade superior apenas, mas não se consegue lê-la pela sua metade inferior. 

3.         Ler o texto sem deixar de olhar para a plateia. – A plateia deseja ter contato visual com o leitor... É uma necessidade natural, já que não é uma leitura eletrônica, mas feita por uma pessoa, com quem, normalmente, se faz contato visual durante qualquer comunicação direta. Exercitar-se lendo diante do espelho levantando a cabeça e encarando sua imagem durante aqueles momentos em que a leitura mental se torna leitura verbal.

4.         Ler previamente o texto. – A leitura em público só deverá acontecer como “segunda” ou “terceira” leitura, exigindo, portanto, que uma primeira leitura do texto seja feita, silenciosamente, antes da leitura de fato. Isto ajudará a prever e superar qualquer surpresa diante de alguma palavra de pronúncia menos conhecida. Além disso, a correta pontuação será verificada, para que se lhe dê a entonação adequada, especialmente quando uma frase interrogativa e longa não se inicia por um pronome interrogativo, o que provoca, muitas vezes, erros sérios de leitura.

5.         Articular claramente a boca na pronúncia das palavras. – Treinar a leitura de textos por meio da articulação até exagerada das palavras, para que a leitura em público ocorra com articulação adequada das palavras. Um erro comum de leitura é a pouca articulação da boca na emissão das palavras: pronunciar as palavras com a boca quase fechada...

6.         Pronunciar com clareza os finais das palavras. – Atentar para o fato de que todas as palavras sejam pronunciadas em toda a sua extensão, especialmente em seus finais. Isto evitará, por exemplo, que não sejam pronunciados os “s” dos plurais das palavras.

7.         Variar o timbre ou o tom da voz. – A leitura eficaz deve ser como que teatralizada, isto é, os “personagens” que possam estar presentes na leitura devem ser lidos com pequena variação na entonação ou no timbre da voz, de tal forma que a audiência possa entender bem o diálogo que esteja sendo lido.

8.         A leitura deve ser VIVA! – O leitor deverá ler de tal forma que o ouvinte receba a mensagem com naturalidade, isto é, a entonação não deve ser afetada, mas de acordo com a maneira com que a comunicação verbal ocorre na vida prática.  Sendo uma entonação diferente do costumeiro, por exemplo, uma entonação de interrogação exclamativa quando, na realidade, deveria ser uma simples interrogação expressando dúvida normal, provoca estranheza no ouvinte e pode, inclusive, desviar sua atenção do conteúdo da mensagem sendo lida.

9.         Ler no ritmo certo, nem com pressa e nem devagar demais. – A leitura deve ser feita no ritmo da conversação normal das pessoas. Uma leitura muito pausada, entremeada por trechos de silêncio desnecessários é cansativa e desrespeita a capacidade mental do ouvinte, que é capaz de entender uma mensagem verbal sendo emitida com velocidade normal. Já a leitura muito rápida demonstra nervosismo do leitor – que parece desejar terminar sua tarefa o quanto antes! – e compromete a compreensão do ouvinte por ser uma mensagem emitida em velocidade pouco natural.

10.     Ler sem preconceito! – Ler o texto estando atento a pronunciar as palavras que estão, de fato escritas, e não aquelas que vêm à mente preconceituosamente. Isto acontece quanto o leitor lê uma palavra que é parecida, na pronúncia ou na escrita, com a palavra verdadeiramente impressa, mas que pode ser totalmente diferente no sentido, comprometendo totalmente a compreensão do texto lido. Exemplos: está escrito “estrado” e se lê “estrago”; “epístola” e se lê “a pistola”; “Palavra de Deus” e se lê: “PalavraS de Deus”.
 
PARTE III - EXERCÍCIOS DE ENTONAÇÃO PARA A BOA LEITURA

1.     "Você vai para casa agora?"          (Interrogação normal, expressando dúvida.)
2.      "Você vai para casa agora?!"        (Interrogação exclamativa, expressando dúvida e espanto.)
3.      "Você vai para casa agora!"          (Exclamação normal, expressando surpresa.)
4.      "Você vai para casa agora.”          (Afirmação normal.)
5.      "Você vai para casa agora.         (Afirmação enfatizando o momento.)
6.      "Você vai para casa agora.”         (Afirmação enfatizando o local.)
7.      "Você vai para casa agora.”          (Afirmação enfatizando a pessoa.)

PARTE IV - PROBLEMAS DO NOSSO PORTUGUÊS (alguns erros comuns)

1.   “A maioria dos estudantes é inteligente.” – e não, são inteligentes. PARA EVITAR ESTE
ERRO, USAR: Os estudantes são, em sua maioria, inteligentes!
2.      “Até pouco tempo eu lia pouco!” – e não, há pouco tempo atrás. (Há: sentido de passado.)
3.      “Estava entretido com a propaganda.” – e não, enTERtido. Vem de ENTRETENIMENTO.
4.      “Temos de ter muita discrição em relação ao fato.” – e não, discrEção. Discrição (ato de ser DISCRETO) distingue-se de Descrição (ato de DESCREVER).
5.      “Eu era um dos que estavam lá.” – e não, um dos que estava lá. Explicação: Um dos que
estavam lá era eu. Ou, dos que estavam lá, eu era um.
6.      “A sua ideia vem ao encontro da minha.” Significa: se coaduna, combina com a minha.
7.      “A sua ideia vem de encontro à minha.” Significa: se opõe, é contrária à minha.
8.      “Para eu fazer. Para eu comprar.” – e não, para mim fazer, comprar.
9.      “Para mim, comer muito é gulodice.” – Para mim = em minha opinião.
10.  “A água é um fluido precioso.” – Pronuncia-se “flúido” e não, fldo.
11.  “O circuito elétrico pegou fogo.” – Pronuncia-se “circúito” e não, “cirqüito”.
12.  Não se fala: “Aquilo se adéqua bem com minha proposta”. Prefira-se: Aquilo combina bem, cai bem, se adapta bem etc.
13. “70% dos entrevistados não sabiam o que dizer.” (“70%” exige verbo no plural.)
14. “Vamos a uma festa beneficente.” - e não, beneficiente.

PARTE V – PRONÚNCIA OU ESCRITA ERRADA DE CERTAS PALAVRAS
                   (Tente descobrir a forma correta! ...)


1.      ADEVOGADO     ______________
2.      AGAPE                ______________
3.      ALCOOLATRA   ______________
4.      ALGARÁVIA      ______________
5.      ALIBI                   ______________
6.      AMALGAMA      ______________
7.      ANATEMA          ______________
8.      ANTIDOTO         ______________
9.      ARIETE                ______________
10.  ARQUETIPO        ______________
11.  ÁVARO               ______________
12.  BICEPS                ______________
13.  BOEMIA              ______________
14.  CARTOMÂNCIA ______________
15.  CIRCUÍTO           ______________
16.  CÔLDRE              ______________
17.  CONJUGE            ______________
18.  CORTEX              ______________
19.  CRISANTEMO     ______________
20.  DEGLADIAR       ______________
21.  DESIGUINAR      ______________
22.  ENTITULAR        ______________

23.  EPIFÂNIA            ______________
24.  EXÉGESE            ______________
25.  FILÂNTROPO      ______________
26.  FLUÍDO               ______________
27.  FORTUÍTO          ______________
28.  GRATUÍTO          ______________
29.  HABITÁT            ______________
30.  ÍBERO                  ______________
31.  ÍBIDEM                ______________
32.  IMPECILHO         ______________
33.  INTERIM             ______________
34.  JÚNIORES           ______________
35.  MEIADOS            ______________
36.  MENDINGO        ______________
37.  MÍSTER               ______________
38.  PRAZEIROSAMENTE     ______________
39.  PROTOTIPO                    ______________
40.  RÚBRICA                        ______________
41.  DIBRAR                          ______________
42.  DEUTERONOMIO          ______________
43.  RÉCEM                            ______________
44.  INCADERNAÇÃO       ______________


CONCLUSÃO

A preocupação com a perfeita comunicação, seja escrita seja oral, é totalmente válida, pois levará a uma perfeita compreensão da ideia sendo transmitida. Refletir sobre as orientações aqui apresentadas pode contribuir muito para que o leitor aperfeiçoe suas habilidades de oratória e comunicação pública. A boa, efetiva e viva leitura litúrgica, por outro lado, se justifica em função da grande dignidade do conteúdo da Palavra de Deus sendo proclamada: a forma e a maneira de se ler devem ser compatíveis com a dignidade do conteúdo proclamado!

Uilso Aragono.   (set. de 2015)









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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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