sábado, 30 de março de 2024

TEMAS COMPLEXOS PARA CRISTÃOS CATÓLICOS - PARTE I

 

O texto abaixo trata de alguns temas complexos que podem interessar aos cristão católicos. Sem grande profundidade, são dadas algumas ideias básicas sobre cada tema tratado.

1.     CASTIDADE, CELIBATO E HOMOSSEXUALIDADE

 CASTIDADE:

            É um termo que significa “pureza”. Não é igual a virgindade. Virgindade significa o estado físico de um corpo que nunca teve relação sexual (completa). Já Castidade pode incluir a virgindade ou não. Os padres, por exemplo, e os não-casados devem manter a virgindade pois esta é um sinal de castidade (de pureza). Mas os casados, devem ser castos, embora não sendo mais virgens. A castidade dos casados está relacionada à fidelidade ao esposo, à esposa.

            Todos os cristãos devem cultivar tal virtude. Devemos ser puros nas intenções, nos pensamentos e nas ações. Só com a Graça de Deus se consegue essa virtude.

 CELIBATO:

            Significa um estado social de não-casamento. Os padres, na nossa Igreja Ocidental, devem ser celibatários. Isto significa: comprometem-se a viver o sacerdócio abrindo mão da possibilidade de casar-se. O celibato supõe a virgindade, uma vez que o sacerdote, especialmente, é chamado à castidade e à santidade. Não casando-se, ele deve manter-se virgem e casto. O Celibato não tem fundo teológico, mas pastoral: a Igreja, seguindo o exemplo de Cristo, e ouvindo suas palavras, “Há muitos que se fazem 'eunucos' por amor ao Reino de Deus”, propõe aos seus padres, na Igreja Ocidental, a vida “indivisa”, totalmente dedicada à família dos filhos de Deus. O padre abre mão de ter esposa e filhos e torna-se “esposo” da Igreja e “pai” da multidão de seus fiéis, de seus paroquianos.

 HOMOSSEXUALIDADE:

            Do ponto de vista da Igreja Católica, a homossexualidade é um desvio de comportamento que indica algum nível de desajuste nos processos educacional e de desenvolvimento da personalidade do indivíduo. “Os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados” e “são contrários à lei natural”, assim registra o Catecismo da Igreja Católica.[1] 2357 A pessoa homossexual fica como que “desorientada” em termos de sua sexualidade. Deve ser ajudada, desde os primeiros sintomas do desvio, a superar tal situação, que não é considerada “natural” para o ser humano.

            O “casamento” de pessoas homossexuais não é aceito pela Igreja, pois, diferentemente do casamento comumente entendido (heterossexual), não é frutífero e não pode ser proposto como um modelo para a sociedade (como é o casamento homem-mulher). No casamento normalmente aceito e vivido pela Sociedade, os pais podem gerar filhos, educá-los, amá-los e garantir um ambiente sexualmente equilibrado, com a presença do pai e da mãe, para o necessário desenvolvimento da personalidade e da sexualidade dos filhos. Já o dito “casamento homossexual” é, em si mesmo, infrutífero, já que não permite a geração de filhos. Ora, tal modelo não é natural pois, se fosse aceito pela humanidade, levaria ao fim da sociedade humana, justamente pela não-procriação inerentemente associada a ele. “Os atos de homossexualidade fecham o ato sexual ao dom da vida” e “não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira” [1] 2357

 2.     ABORTO, CÉLULAS-TRONCO

 ABORTO:

            O aborto é um verdadeiro crime! Pois embora a vítima possa estar escondida na barriga de sua mãe, e ter um tamanho de alguns milímetros ou centímetros, é um verdadeiro ser humano em potencial: se deixassem o embrião continuar a sua evolução (que só depende dele e da sua carga genética), ao final de apenas cinco (5) meses ele já estaria totalmente formado! Os 4 últimos meses são apenas necessários para o estágio final de amadurecimento da criança. A Igreja, e muitos cientistas, não têm dúvida: o momento da concepção (união do óvulo e do espermatozóide) marca o início da vida humana e o momento em que Deus cria a alma do novo ser humano, conforme acredita o cristão. Alguns cientistas, como o Dr. Drauzio Varella no programa Fantástico, da TV Globo), afirmam: “após quarenta (40) dias, a vida humana começa e existir...”, querendo fazer acreditar, de forma totalmente arbitrária e não-científica, que a vida só começa algum tempo depois da concepção... Alguns “cientistas” afirmam que é no décimo quarto (14º) dia, outros, que é com trinta (30) dias, e seguem outras afirmativas totalmente equivocadas, pois não há razão nenhuma para Deus criar a alma da pessoa na dependência de estar o cérebro ou o coração já formados ou com certo padrão de funcionamento... A verdade é uma só: abortar é assassinar um ser humano totalmente indefeso e anular a possibilidade de desabrochamento de toda uma vida humana única, original, irrepetível, inigualável: uma obra-prima de Deus! ([1], 2270-2274; [2], p.383-386)

 CÉLULAS-TRONCO:

            São células obtidas de um embrião, mas que podem, também, ser obtidas de outras partes do corpo humano, como do cordão umbilical. As diferenças existem, mas, potencialmente podem produzir os mesmos efeitos em termos de pesquisa científica. Por que usar o embrião, que é um ser humano em potencial? Embriões nunca deveriam ser produzidos, como têm sido, para obter gestações em mulheres com problemas de fertilidade! Com a vida humana não se deveria brincar! Produzir dois, três embriões para implantar apenas um é um comportamento não-ético, pois ignora que a vida humana, a alma humana, já esteja presente no embrião. A Lei que permite a utilização de embriões para fins científicos, embora com fins nobres, não é legítima, pois destrói a vida de um ser humano, mesmo que em potencial. O argumento de que os embriões estão congelados, e nunca serão implantados e, portanto, não poderão desenvolver-se como um ser humano completo, não se justifica, pois, ainda que minúsculos, são criaturas de Deus, têm uma alma, e se estão na situação de embriões congelados, já é uma situação que pecou contra a ética, contra a dignidade do ser humano, contra a vida sagrada, e que é dom de Deus! ([1], 2275-2295; [2], p.383-386)       

 3.     DROGAS, VÍCIOS, TATUAGEM, CULTO AO CORPO

 DROGAS:

            As drogas são tudo aquilo que pode causar dependência com o seu uso regular. O álcool e o fumo, e alguns remédios, embora legais, de uso autorizado, não deixam de ser drogas. Mas o termo é especialmente utilizado para indicar substâncias como a maconha, a cocaína, o craque, o ecstasy, dentre outras. Tais drogas são consideradas ilegais e têm efeitos comprovadamente viciantes e altamente destrutivos para o corpo humano. E, por isto mesmo, são utilizadas de forma criminosa para obtenção de lucros ilícitos. Os jovens, especialmente, são vítimas das drogas, também, como fruto da desestruturação familiar do mundo de hoje. Com a educação familiar em crise e com menor influência na educação dos filhos, os pais acabam falhando na formação da personalidade dos filhos, que ficam mais expostos às influências, nem sempre saudáveis, do mundo: na rua, na escola, na televisão, no cinema, na Internet... Para proteger os filhos contra a atração das drogas, a Sociedade deveria investir maciçamente na educação básica de qualidade para todos, inclusive na dimensão religiosa, e no apoio à família estruturada. Pois a melhor proteção contra os descaminhos da vida sob a influência das drogas é o caminho do afeto familiar, da religião bem vivida, dos amigos bem cultivados e de uma educação universalmente eficaz! ([1], 2291)

 VÍCIOS:

            O contrário da virtude é o vício. Desenvolver virtudes, isto é, boas qualidades da personalidade, é um desafio que deve fazer parte da vida de toda pessoa humana. Pois são as virtudes, e não os vícios, que contribuem efetivamente para o bem comum. Vícios são desvios da personalidade, que, por não ter tido condições adequadas para o seu bom desenvolvimento – falhas educacionais –, enveredou por hábitos e costumes que não ajudam a colocar a pessoa no caminho da felicidade. Tais vícios são caracterizados, em geral, por um desequilíbrio no investimento do tempo e dos recursos da pessoa. Ela dedica, por exemplo, muito tempo à navegação na Internet (MSN, Orkut, jogos on-line, etc), ou a falar ao telefone com os amigos, ou aos bares da vida, ou à televisão, ou à assistência de filmes, ou à escuta de som... Tais hábitos acabam tornando-se vícios comportamentais e criam muitos problemas para a pessoa,  que perde o controle da sua própria vida, tem o seu poder de decisão afetado, ficando dependente dos vícios que foram cultivados por ela a partir do momento em que passou a dedicar tempo excessivo a tais ocupações. Este desequilíbrio pode vir a comprometer totalmente a vida futura, em todos os seus aspectos. ([1], 2290:  temperança.)

 TATUAGEM;

            A marcação do corpo por meio de figuras pintadas e de forma definitiva é muito parecida com a mutilação do corpo. Pois nesta, que pode acontecer por acidente ou por questões culturais, arranca-se parte de ou altera-se profundamente o corpo humano. Ora, tal corpo é um dom da Natureza, ou, para nós, cristãos, um dom maravilhoso dado por Deus para nosso benefício e da Sociedade. Do ponto de vista ético, não temos o direito de alterar essa “máquina”, tão bem feita e tão bem adaptada ao meio em que vivemos, por mera questão de capricho ou vaidade. A tatuagem marca definitivamente o corpo com símbolos que têm significados! Quais são estes? Significam uma filosofia de vida? Um compromisso? Se for para Deus, ainda se poderia aceitar. Mas para quem? Ou para quê?... A tatuagem, se não for muito bem pensada, ponderada, levando-se em conta que é para toda a vida, pode acarretar muito sofrimento moral depois que a pessoa se arrepende de tal decisão, tomada, às vezes, sem muita reflexão ou sem muita maturidade.

 CULTO AO CORPO:

            É a exagerada valorização do aspecto físico, do corpo humano, que leva a pessoa a dedicar tempo e recursos ao seu embelezamento, seja por ginástica, seja por operação plástica. Traduz um desequilíbrio de personalidade que se baseia numa vaidade desregrada, como se a beleza exterior fosse decisiva para a felicidade do ser humano. Ora, conforme um velho ditado popular, “beleza não põe mesa”, isto é: a beleza não é fundamental nem mesmo para um bom casamento, quanto mais para garantir a felicidade. Há beleza muito mais fundamental que deve ser cultivada: a beleza de um interior formado por valores tais como a simpatia, a fé, o amor a Deus e aos irmãos e a busca sincera da Verdade! É claro que o cuidado normal do corpo, a preocupação com sua saúde é um direito e um dever de todo ser humano, na medida em que o corpo é presente de Deus e deve, como forma de gratidão, ser cuidado e até amado, mas sem exagero, sem endeusamento, sem uma vaidade desequilibrada. O amor, o respeito e o cuidado do próprio corpo constituem um exercício saudável para que o ser humano se torne igualmente um cuidador, um zelador do corpo do seu próximo ([1], 2289)

 4.     SEITAS, ESPIRITISMO, REENCARNAÇÃO, HORÓSCOPO

 SEITAS:

            São “grupos religiosos” iniciados por pessoas ou grupos não ligados a qualquer denominação protestante (ou evangélica) e caracterizados por absoluto autoritarismo do líder e por total submissão do membro da seita. A Maranata é um exemplo de seita: fundada por uma pessoa que se diz iluminada, moradora de uma cidade do Brasil. Essas seitas distinguem-se das igrejas evangélicas tradicionais pelo fato de serem derivadas, oriundas, de outras igrejas protestantes anteriores, a partir de descontentamentos de uma parte de seus membros. Mas esse processo de surgimento de novas igreja evangélicas ocorreu desde o início da chamada Reforma Protestante, ocorrida em 1517, quando Martinho Lutero iniciou um cisma (ruptura) na Igreja Católica, fundando a igreja Luterana. Desta, por desdobramentos, vieram as igrejas Calvinista (presbiterianos), Anglicana, Zwingliana, Batista, Metodista, etc. (não, necessariamente, nessa ordem). A seita do Reverendo Moon é outro exemplo, mas de seita não-cristã, antiga e ainda atuante no mundo, tendo provocado o sofrimento de muitas famílias pela atração e lavagem cerebral realizadas sobre indivíduos dessas famílias que acabam abandonando-as.

 ESPIRITISMO:

            Movimento iniciado nos Estados Unidos, a partir de fenômenos atribuídos a “espíritos” de pessoas mortas – hoje já declarados como de origem fraudulenta, pelas próprias irmãs que os divulgaram! Trata-se da crença na manifestação dos espíritos de pessoas mortas e na reencarnação de tais espíritos ditos “desencarnados” (isto é, mortos). O espiritismo foi “codificado”, isto é, descrito como um corpo teórico de doutrinas por Alan Kardec, um francês que se interessou pelos fenômenos (fraudulentos) divulgados a partir dos Estados Unidos. É uma doutrina confusa, pois apregoa a contínua reencarnação dos espíritos (ou das almas) sob o argumento básico de que não haveria justiça divina diante do nascimento de pessoas com deficiências físicas ou mentais, ou submetidas a grandes sofrimentos morais, a não ser que estejam pagando por “pecados” cometidos em vidas anteriores. Este argumento é totalmente falho por alguns motivos: 1) Há animais que também nascem com deficiências – estarão eles pagando por “pecados” cometidos em vidas anteriores?... 2) Não haveria justiça, na verdade, justamente no fato de uma pessoa estar pagando pecados de uma vida anterior da qual não tem qualquer lembrança! Ora, quem aceita ser castigado por um erro que não cometeu, sem se sentir tremendamente injustiçado?... 3) Teriam sido os primeiros seres humanos perfeitos e com uma vida sem sofrimentos morais? Pois eles não teriam tido “vidas anteriores” e, portanto, não poderiam estar pagando qualquer pecado... E assim, todas as demais almas criadas por Deus seriam seres humanos perfeitos e sem sofrimentos, e não teriam de pagar nada. Seguindo este raciocínio, nunca haveria qualquer necessidade de “reencarnação”... Mas qualquer um sabe que o ser humano é, por sua natureza, imperfeito e sujeito a todo o tipo de sofrimento. 4) Finalmente, a crença na reencarnação anula, por completo, os méritos do Sacrifício de Cristo, que morreu na Cruz para a remissão de nossos pecados... Se as pessoas, por meio de reencarnações sucessivas, podem alcançar a santidade, não há nenhuma necessidade da Salvação de Cristo.

 HORÓSCOPO:

            Acreditar em horóscopo é aceitar o fato de que os objetos materiais (planetas e outros astros) têm influência marcante sobre a vida e o futuro das pessoas. Ora, tal crença é antiquíssima e baseia-se em interpretação totalmente não-científica de fenômenos naturais ocorridos na Terra e suas relações com as órbitas e posições de planetas e estrelas. A Astronomia, verdadeira ciência, já constatou que, devido a um fenômeno hoje comprovado, denominado de precessão dos equinócios (lenta oscilação do eixo da terra), a posição das constelações que deram nome ao Zodíaco (12 famosas constelações) é hoje muito diferente daquela em que estavam há cerca de 3000 anos. Isto significa que a pessoa que hoje acredita ter nascido sob um determinado signo, nasceu, na verdade, sob outro... Que consequências teriam tal fato sobre as previsões astrológicas?... Elas seriam totalmente erradas!...

Referências:

[1] Catecismo da Igreja Católica. Edição típica vaticana, São Paulo, Loyola, 2000.

[2] MOSER, Antônio. Biotecnologia e Bioética: para onde vamos? Petrópolis, Vozes, 2004.

UILSO ARAGONO (Março de 2024)



quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

FAMÍLIA – CONVIVÊNCIA ENTRE PAIS E FILHOS

 Há certa classe de pessoas ou funções que são irreconciliáveis... Senão, vejamos: juiz de futebol e torcida; professor e alunos; genro e sogra; fazendeiro e posseiro... E pais e filhos! A solução nesses casos todos é uma só: respeito mútuo! E, para os cristãos, respeito baseado na fé e na oração. Para alcançar-se esse objetivo, no entanto, algumas reflexões e dicas são dadas a seguir.

 1. Conhecer a situação de cada parte

1.1 Os pais

            Os pais são aqueles que têm a responsabilidade e o desafio de gerar, educar e apoiar os filhos que lhe são concedidos pela natureza e pela graça de Deus.

    Acham que já têm a competência para exercer essa responsabilidade e enfrentar esse desafio! No entanto, a realidade é bem outra...

          As ansiedades próprias dos pais estão relacionadas, justamente, ao atingimento desses objetivos. Serão eles capazes?

1.2 Os filhos

           Os filhos são aqueles que, ao nascerem, dependem, totalmente dos pais, mas que, com o tempo e o crescimento físico, mental e espiritual, vão se tornando mais autônomos e, portanto, questionadores da autoridade dos pais sobre eles.

      Acham que, com a chegada, especialmente, da adolescência, podem autonomear-se “independentes” dos pais, considerando-se, então, quase adultos.

         As ansiedades próprias dos filhos relacionam-se ao fato de que eles, embora acreditem já estarem em condições de plena emancipação, veem seu presente e futuro como algo sombrio, ameaçador, o que lhes causa muito desconforto e os leva a buscar soluções junto aos seus “pares” e, nem sempre, juntos a seus “pais”.

2. Entender a “visão” de cada parte

2.1 Os pais

    Os pais veem os filhos como pessoas inocentes e expostas a um mundo ameaçador, perigoso, e assustador...

2.2 Os filhos

    Já os filhos veem os pais como gente maliciosa, que não é capaz de entender nem a cabeça nem o mundo dos filhos, que, para estes é excitante e animador...

3. Reconhecer outras diferenças

            A idade e a experiência dos pais devem ser vistas pelos filhos (mais jovens) como algo que merece ser valorizado e respeitado; algo que eles – os filhos – poderão, um dia, também reivindicar junto a seus próprios filhos.

            O conhecimento, adquirido pelos pais ao longo do tempo, por meio de muito esforço, dedicação e, às vezes, custos de tempo e dinheiro, é algo que, também, merece ser valorizado pelos filhos, que ainda não puderam adquirir esse patrimônio intelectual, moral, religioso e profissional.

            A animação e a energia dos filhos, que os leva a dedicar-se a esportes, estudos, amizades, viagens etc., e que os coloca, ao mesmo tempo, diante de perigos e riscos à sua saúde física, mental e espiritual.

            Os modelos comportamentais de pais e filhos, que são muito distintos e devem ser levados em conta nos desafios da boa convivência: temperamentos, talentos e limitações pessoais.

4.  O que há em comum entre os diferentes

            Certamente, o amor que une pais e filhos é algo que há em comum entre eles e deve ser usado a favor do bom relacionamento pais-filhos. O amor cristão, particularmente, é aquele que está associado às práticas da oração, do perdão, do acolhimento, da compreensão e da busca da santidade.

            Há também a dependência, ou melhor, a “interdependência” que envolve pais e filhos. Não somente os filhos dependem dos pais, mas estes, por outro lado, dependem dos filhos para sua realização, sua felicidade e para sua tranquilidade. Como diz um velho ditado popular: “Filho criado é trabalho dobrado” ...

5. Solução para o entendimento mútuo

            A compreensão é a primeira dimensão para o entendimento mútuo, pais-filhos. Compreender que ninguém é melhor do que o outro, mas que são todos muito diferentes, mesmo entre os filhos de um mesmo casal! Compreender que “cada um é um”, embora convivendo em uma mesma comunidade familiar de valores bem conhecidos. Compreender que cada um dos filhos absorverá esses valores conforme a sua própria cabeça e o seu próprio coração. Compreender que os pais têm uma responsabilidade grande diante dos filhos, da sociedade e de Deus.

            O respeito mútuo é o maior desafio entre pais e filhos. Para os pais, respeitar é aceitar que o outro seja, de fato, “um outro”, e não uma extensão de seu corpo ou de sua mente ou de seu espírito. Para os filhos, respeitar é aceitar o fato de que os pais não são seus “pares”, isto é, seus coleguinhas, mas têm grande responsabilidade sobre eles. Respeitar, enfim, é uma importante dimensão do “amor cristão”, que nos leva a valorizar o outro, que, como nós, é uma pessoa que merece toda a compreensão e todo o respeito de nossa parte.

6. Dicas práticas para exercer o respeito

            Consideração: praticar a consideração em relação ao outro (pais ou filhos ou irmãos), entendendo que a “consideração” é levar em conta a existência do outro em minha vida, em minha comunidade familiar. Dizer, então, para onde se vai, quando se pretende voltar, com quem se vai etc. é um importante exemplo da prática da consideração, que muito ajuda na convivência familiar.

            Diálogo: praticar o diálogo não deve ser confundido com dizer “todas as verdades” ao outro; mas colocar diante do outro sua vida, suas ansiedades, seus projetos: é falar com amor, com desejo de construir o outro.

            Amizades comuns: pais e filhos podem e devem ter amizades comuns! Os pais dos amigos dos filhos, por exemplo. Essas amizades ajudarão a estabelecer relacionamentos saudáveis envolvendo pais e filhos.

            Cooperação: pais e filhos devem dar-se as mãos nas tarefas da casa, nos desafios familiares. Praticar a cooperação nas dimensões das compras, da limpeza e da ordem da casa, nos estudos etc.

            Oração em comum: finalmente, mas não menos importante, vem a oração em comum, envolvendo todos os membros da família. Os pais não deveriam obrigar – com força bruta! –, por exemplo, que os filhos os acompanhem à Missa ou a um culto religioso; mas deveriam, sim, convidar sempre, e até com insistência, seus filhos a os acompanharem. E os filhos, por seu lado, não deveriam deixar de acompanhar os pais – mesmo que nem sempre o façam – a essas funções religiosas, que eles tanto valorizam. E, de preferência, que os pais – o marido e a mulher – estejam de acordo com essa prática de participação em assembleias religiosas, para que possam ter mais força diante dos filhos.

Conclusão

Pais e filhos, embora bem diferentes entre si, têm a base do amor e da interdependência para alcançarem o bom relacionamento familiar, que pode ser incrementado se os dois lados procurarem, sinceramente, a convivência baseada na compreensão e no respeito, e suportados pela fé, pela oração e pela prática religiosa.

Uilso Aragono. (fev. de 2024)

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

INTERRUPTOR DR DESLIGANDO CONTINUAMENTE

 

Diante do problema de desligamento contínuo do Interruptor DR de uma instalação elétrica residencial, o que fazer? Como identificar a causa desse problema, que impede que a residência fique energizada? O método abaixo é eficaz para tal identificação.

1. O QUE É UM INTERRUPTOR DR

               Um interruptor DR (existe também a versão Disjuntor DR) é um dispositivo de proteção contra excesso de correntes de fuga, visando à segurança da instalação elétrica e, ao mesmo tempo, à proteção contra choque elétrico em seres humanos e animais. Pode ser do tipo monopolar (fase-neutro) ou tetra-polar (fase-fase-fase-neutro), servindo esse último para circuitos alimentados por duas ou três fases na entrada da instalação.

               Seu funcionamento se baseia na identificação de correntes de fuga, isto é, correntes muito baixas (alguns miliamperes = milésimos de ampere) que escapam dos fios energizados, por falhas na sua isolação, e dos pontos de conexão (emendas) circulando, portanto, de fios energizados (fios fase) para a terra (sistema aterrado, com presença do fio “verde” de aterramento).

               Como exemplo, seja um circuito fase-neutro (dois fios) que alimenta um certo aparelho elétrico. A corrente, uma vez o aparelho ligado e em situação normal, circulará da fase para o neutro atravessando a circuitaria interna do aparelho. O DR monitora tal corrente e verifica se a corrente de retorno (pelo neutro, isolado do fio de aterramento) é igual àquela que passou pela fase em direção ao aparelho. Normalmente, haverá uma diferença mínima (de alguns miliamperes ou menos) entre a corrente de ida (pela fase) e a corrente de retorno (pelo neutro), que estará circulando, essencialmente, da circuitaria para o aterramento, caracterizando uma corrente de fuga de valor normal e aceitável. Se, no entanto, essa corrente de fuga, por motivos ligados, por exemplo, a algum defeito na isolação do aparelho (talvez associado ao fato de ser um aparelho antigo), poderá ser de valor elevado o suficiente para provocar a atuação (desligamento) do interruptor DR (este suporta, como valores aceitáveis, até cerca de 15 miliamperes de corrente de fuga).

               Importantíssimo lembrar aqui que na situação de um possível contato da mão de uma pessoa com o fio fase (energizado) da instalação, circulará uma corrente de choque elétrico (considerada de fuga) para a terra, que, normalmente será maior do que o limite aceitável pelo DR, provocando o seu desligamento e preservando a vida da pessoa. Portanto, o DR é, nos sistemas elétricos aterrados, o melhor meio de proteção contra choques elétricos e preservação da vida humana ou animal.

2. DR COLOCADO NA ENTRADA DO QUADRO DE DISTRIBUIÇÃO

               A análise em foco referir-se-á a uma instalação elétrica residencial em que o interruptor (ou o disjuntor) esteja colocado na entrada do Quadro de Distribuição (interruptor geral), protegendo todos os circuitos da residência.

Na hipótese de que o DR desligue a instalação e, ao ser ligado novamente, continue a desligar imediatamente, impedindo que a instalação seja energizada, há que se seguir os procedimentos do método a seguir descrito. Constata-se, inicialmente, que há excesso de corrente de fuga na instalação, devendo o método levar a identificar a causa do problema (corrente de fuga muito elevada, causando a atuação do DR).

3. MÉTODO PARA IDENTIFICAÇÃO DA ORIGEM DA CORRENTE DE FUGA

               3.1. Desligar todas as cargas (aparelhos) das tomadas

               Inicialmente, devem ser desligadas (desconectadas da tomada) todas as cargas da instalação, isto é, todos os aparelhos que possam ser desligados: aparelhos condicionadores de ar do tipo janela, computadores, TVs etc. No entanto, o chuveiro, que é ligado diretamente à sua caixa de ligação, deveria ser desligado como primeiro (desconectá-lo da caixa de ligação) e testado para ver se o problema estará resolvido, visto que os chuveiros são, em geral, fontes de correntes de fuga significativas. Continuando o DR a desligar o circuito apesar de esse estar sem o chuveiro (inicialmente) e, em seguida, “em vazio”, isto é, sem qualquer carga em suas tomadas, deve-se passar ao procedimento seguinte.

               3.2. Desligar todos os disjuntores dos circuitos da instalação

               Neste segundo procedimento, todos os disjuntores devem ser desligados (tecla de ligação para baixo). Ao se realizar o teste de tentar religar o interruptor geral (DR), e esse continuar caindo, não permitindo a religação da instalação, então, provavelmente, o próprio DR estará com defeito, devendo ser trocado.

               No entanto, se o DR aceitar a religação da instalação, deve-se passar ao procedimento seguinte, pois o dispositivo DR não estará com defeito, devendo seguir-se com os testes.

               3.3. Religar, um por um, os disjuntores da instalação

               Agora, com o DR ligado, cada disjuntor da instalação deverá ser ligado, um por vez. Deve-se dar um tempo de cerca de 20 segundos para que todas as correntes de fuga relativas ao carregamento de capacitâncias parasitas da fiação sejam estabilizadas (atinjam o seu máximo). Se o primeiro disjuntor passou no teste, não provocando o desligamento do DR, passa-se, então, ao disjuntor seguinte. No entanto, se o DR, durante esse tempo de 20 segundos, cair, esse circuito, provavelmente estará sendo o causador da corrente de fuga elevada e causando o desligamento do DR. Tal circuito deverá ser objeto, então, de verificação para a identificação de possível descascamento de fiação, conexão mal isolada ou qualquer outra imperfeição que o eletricista possa identificar, o que será a provável fonte de elevada corrente de fuga da instalação. É aqui que se verifica a função do DR como “vigilante” da boa qualidade da instalação: se houver tais imperfeições, o DR desligará a instalação para protegê-la, visto que, tais correntes de fuga, permanecendo na instalação por muito tempo, podem levar a uma grande deterioração da fiação e provocar algum tipo de aquecimento indevido e, até mesmo, um princípio de incêndio.

               Após ter sido ligado o primeiro disjuntor, e tendo passado no teste, desliga-se esse e liga-se o próximo, repetindo-se o teste nesse último.

               3.4. Religar, um por um, os aparelhos da instalação

               Se todos os circuitos da instalação passaram no teste, não provocando o desligamento do DR, devem ser testados, agora, cada aparelho da instalação: cada um por sua vez, deve ser religado à tomada. Deixando-se passar, pelo menos, os 20 segundos do carregamento das capacitâncias parasitas do aparelho, e o DR não desligando, esse aparelho terá passado no teste. Todos os aparelhos, em sequência, um por um, devem ser adicionados ao teste, não havendo necessidade de desconectar o último aparelho testado, pois a corrente de fuga a ser acumulada não deverá fazer o DR atuar, a não ser que o aparelho sob teste, recém ligado, tenha, de fato, uma elevada corrente de fuga.

               Normalmente, pelo menos um desses aparelhos (talvez o mais antigo) não seja aprovado no teste, provocando o desligamento do DR, o que o elegerá a ser o causador da elevada corrente de fuga e do desligamento contínuo do DR. Desconectando-o da tomada, o DR deverá manter-se ligado, permitindo a continuidade do teste até o último aparelho a ser conectado.

Tendo-se concluído o teste, aqueles aparelhos que provocaram o desligamento do DR devem ser trocados por um novo ou levados à manutenção elétrica.

CONCLUSÃO

Como visto acima, o método é uma aplicação lógica e simples de um sequenciamento de ligação-desligamento de circuitos e aparelhos da instalação, com vistas a identificar a principal origem (ou principais) da corrente de fuga que está fazendo atuar o dispositivo DR. Inevitavelmente, se o DR em si não estiver com defeito, aparecerá claramente o circuito ou o aparelho causador de tal problema, pois nesse momento – da ligação (conexão) do circuito ou do aparelho – o DR desligará a instalação. A eliminação momentânea do circuito causador da corrente de fuga, ou do aparelho, permitirá que o DR não se desligue, sustentando a instalação.

Uilso Aragono. (jan. de 2024)

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

A DIFERENÇA ENTRE CRER E TER FÉ

 Neste artigo, pretendo mostrar, sem muita profundidade teológica, a diferença entre o crer e ter fé. Porque, por um lado, são confundidos como sendo a mesma coisa e, por outro lado, algumas pessoas creem em Deus, mas costumam não ter fé, especialmente nos aspectos práticos da sua vida. Esta já é uma diferença inicial: a crença parece ter uma dimensão mais teórica, enquanto a fé resvala na vida mais prática.

A gente aprende, em Teologia, que a diferença entre crer e ter fé está na acolhida que se dá ao objeto do crer. Pois sabe-se que o diabo crê em Deus..., mas não O acolhe. Ele tem certeza da existência e do poder de Deus, e que Ele é seu criador. Mas não aceita essa situação, por orgulho e por inveja da humanidade. Portanto, não tem fé: não O acolhe!

Ter fé em Deus, ou em nosso Senhor Jesus Cristo, é — para além de acreditar — acolhê-lo no coração; é ter um coração aberto para Ele. E se a fé é dom (como muitos reconhecem) e iniciativa de Deus, por outro lado é resposta daquele que crê; resposta que se dá na acolhida e na abertura do coração. É como aquela imagem da garrafa sob a chuva (o dom da fé): se estiver com tampa (fechada) a chuva não entra... Ou como aquela outra imagem da mercearia que tem tudo à disposição do pobre faminto, e de graça: mas se ele não fizer a sua parte, isto é, não se movimentar e entrar na mercearia, morrerá de fome... Esse “movimento” representa a nossa resposta ao dom da fé; a nossa abertura de coração; a nossa acolhida ao dom de Deus.

E o que é essa tal “abertura de coração”, na prática? É a “movimentação” do pobre que já crê na existência da mercearia. Aquele que já crê em Deus, precisa, portanto, superar o natural comodismo humano e dar seus passos em busca de aceitar o dom da fé. É aqui que entra a nossa Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana: ela (que é o próprio corpo místico de Cristo) nos oferece o “depósito da fé” deixado por Cristo — seus sacerdotes e seus Sacramentos. Acolher a Igreja e seus dons (os Sacramentos) é acolher o dom da fé. Os Sacramentos do batismo, da Eucaristia e da Crisma (ou confirmação) são os primeiros passos daquele que já crê, mas quer alcançar a fé. Infeliz do diabo que crê em Deus, até mais do que nós, mas rejeitou ter fé! Infeliz seremos nós se não nos movimentarmos para alcançar a fé.

E, a propósito, qual é o pecado que não tem perdão senão aquele contra o Espírito Santo? Que é, justamente, o fechar-se diante da possibilidade da fé. O coração fechado, orgulhoso e invejoso dos fariseus da época de Cristo ilustra o pecado contra o Espírito Santo: vendo as maravilhas realizadas por Cristo (crendo nelas, portanto) não foram capazes de abrirem-se à fé!

Que possam, todos os que já creem, esforçarem-se por fazer sua parte no sentido de buscar o dom da fé!

Uilso Aragono. (dez. de 2023).

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

A MÍSTICA DO NÚMERO 3 – PARTE II

 O número três (03) é um número muito interessante e curioso! Em termos da produção de textos ou discursos, encontram-se muitos exemplos que mostram sua divisão em três partes.  E muitas áreas da vida social encontram-se divididas em três partes. Como católico que sou, inicio com o exemplo da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. E esse Deus trino ou trindade talvez seja a origem da mística do número três. É como uma marca de Deus, ou uma assinatura dEle, deixada na natureza.

Dando continuidade aos exemplos iniciados na primeira parte deste blogue, apresento abaixo mais alguns bons exemplos de utilização do número três (03) em nossa vida cotidiana.

 Os exemplos abaixo estão divididos em três partes! Exemplos nos textos escritos, na sociedade humana e na natureza.

1. O número três nos textos

Quando são preparados textos (redação, discursos, relatórios, homilias, etc.), ocorre muitas vezes que tais escritos podem ser divididos em três partes suficientes (e não mais). Algumas homilias do Papa Francisco, proferidas nas missas na Casa Santa Marta, no Vaticano, e recolhidas em cinco volumes, como pode-se conferir na referência abaixo (livro: A Felicidade se aprende em casa), encontram-se esquematizadas em três partes.

 Na homilia “O Cristão sabe abaixar-se para anunciar o Senhor” o Papa afirma: Na solenidade de S. João Batista, há três expressões que definem as vocações de João Batista: 1) Preparar a vinda do Senhor; 2) Discernir que é o Senhor; e 3) Diminuir a si mesmo a fim de que o Senhor cresça.

 Em outra homilia, “Para conhecer Jesus é preciso rezá-lo, celebrá-lo e imitá-lo”, o Papa orienta que é preciso abrir três portas: 1) Rezar Jesus; 2) Celebrar Jesus; e 3) Imitar Jesus.

 Em mais uma homilia, para fechar esses novos três exemplos, intitulada “A saúde de um cristão se vê pela alegria”, ensina o Papa que que Jesus falou muitas coisas, mas se detinha sempre em “três palavras-chave”: 1) Paz; 2) Amor; e 3) Alegria.  – É muito interessante! E isso sirva de exemplo para aqueles que se aventurem a escrever textos: procurem, antes de escrever propriamente o texto, esquematizá-lo buscando, inicialmente, se o tema pode ser dividido em três partes (ou três capítulos, ou três aspectos, ou três momentos, etc.). Se aparecerem mais do que três, tudo bem. O importante é que, na tentativa de esquematizar o texto, podem surgir três tópicos que sejam totalmente suficientes para a explanação do conteúdo, conforme se pode verificar nas homilias do Papa acima explicitadas.

  2.  O número três na sociedade humana

Agora serão apresentadas várias situações na sociedade humana, em acréscimo ao que já foi apresentado na primeira parte deste blogue, em que o número três esgota totalmente as possibilidades associadas a cada uma delas. Estarão listados abaixo, sucintamente, vários exemplos:

1) Bandeira da Itália: verde, branco, vermelho.

2) Bandeira da França: azul, branco, vermelho.

3) Geografia: Água, terra e ar.

4) Aviação: decolagem, cruzeiro e aterrissagem.

5) Computador: cpu, teclado e vídeo.

6) Texto: introdução, desenvolvimento e conclusão.

7) Missa: ritos iniciais, liturgia da palavra e liturgia eucarística.

8) Hospital: médico, enfermeiro e paciente.

9) Universidade: professor, aluno e funcionário.

10) Restaurante: cozinheiro, garçom e cliente.

11) Hotel: recepção, hóspede e quartos.

12) Relacionamento: com Deus, consigo próprio e com o outro.

13) Mesa: Garfo, faca e colher.

14) Igreja: Tradição, Magistério e Bíblia.

15) Carro: rodas, chassi e carroceria. 

3.  O número três na natureza

Finalmente, em relação à natureza, podem ser identificadas as seguintes situações que também se dividem em três partes. Mais alguns exemplos, além daqueles da primeira parte, aos quais o leitor poderá ainda adicionar outros tantos:

1)   Árvore: tronco, galhos e folhas.

2)   Camadas da Terra: núcleo, manto e crosta.

3)   Terra: oceanos, mares e rios.

4)    Ano: primeiro trimestre, segundo trimestre e terceiro trimestre.

5)    Pré-história: período paleolítico, período neolítico e período dos metais.

6)    Terra: terra, mar e atmosfera.

 Conclusão:

A mística do número três é realmente interessante, curiosa e fascinante! É como que uma assinatura do Deus criador deixada na natureza, na sociedade humana e nos textos. Várias situações, sistemas, organismos, etc., podem ser divididos em três partes. Os exemplos acima não esgotam as possibilidades, que são muitas. O leitor poderá identificar vários outros exemplos mediante uma pequena reflexão.

Referência: BERGOGLIO, Jorge Mário (Papa Francisco). A felicidade se aprende a cada dia: homilias proferidas na Casa Santa Marta. Paulinas, 1ed. São Paulo, 2017.

Uilso Aragono (nov. de 2023)

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O SANTUÁRIO DA SAGRADA FACE: Cidade de Manoppello, Itália.

 

Neste blogue reproduzo, com tradução em português, um panfleto intitulado, em italiano, “Santuario del Volto Santo”. Trata-se de um verdadeiro milagre ou mistério, como se verá na descrição do surgimento dessa tela da Sagrada Face, como se pode ver, logo de início, na figura abaixo.


  (Rosto Santo, ou Sagrada Face de Cristo)

 Um véu admirável

Na colina Tarigni de Manoppello (PE), em Abruzzo, na Itália, ergue-se a Basílica da Sagrada Face (ou Basílica do Rosto Santo, ou ainda, “Volto Santo” em italiano), cuidada pelos Frades Menores Capuchinhos. Aqui, uma relíquia singular é zelosamente guardada num ostensório que reproduz, num tecido delicado, o rosto sofredor de Jesus Cristo. Encerrado entre dois vidros de 24x17,5 cm, há um véu muito fino, quase insubstancial, que, como se fosse uma pura aparição, mostra um rosto de testa ampla e olhar penetrante, vivo e doce.

 

(Basílica menor da Sagrada Face)

A boca entreaberta deixa ver alguns dentes e dá a sensação de alguém que quer conversar com você. Sua natureza tranquila e gentil realmente fala com você! A bochecha esquerda está inchada; um tufo de cabelo se expande na testa; alguns cabelos podem ser vistos no lábio superior; uma pequena barba adorna o queixo e uma modesta massa de cabelo nazareno emoldura o rosto.

 (Pequeno templo que acomoda a relíquia – ostensório com o Rosto Santo)

Em um centímetro quadrado do véu há 26 fios de urdidura e o mesmo número de fios de trama colocados a distâncias regulares. É um rosto não pintado por mão humana (acheropita): transparente, visível e igual na frente e atrás, como um slide colorido, a densidade da cor é forte, mas não é uma cor pictórica (isto é: não apresenta pigmentos de tinta). A uma curta distância, os objetos atrás podem ser claramente distinguidos. Apesar dos anos e do tempo, está preservado intacto, sem alterações. 

 (Relicário com o Rosto Santo)

 

(Sagrada Face e o Papa Bento XVI: com iluminação diferente, o semblante se modifica!)

A História

Num dia não especificado de 1506, um misterioso peregrino, trazendo consigo um precioso embrulho, chegou à igreja paroquial e convidou o Dr. Giacomantonio Leonelli, pessoa culta e de boa reputação, que conversava com amigos, a segui-lo para dentro da igreja. Ali ele lhe deu o presente. O médico abriu o pacote e viu um pano com a imagem impressa de Jesus.

Admirava com espanto a beleza delicada e quase divina do seu rosto, enquanto, em silêncio, ouvia as recomendações do benfeitor desconhecido: “Cuide dele, guarde-o como um presente do céu, venere-o, será fonte de graças e auxílio de proteção para você e sua família. Leonelli, saindo da igreja com o presente nas mãos, entrou em sua casa e colocou a imagem em local digno, onde foi venerada por mais de cem anos. Com a morte de Leonelli, o véu sagrado foi alvo de discórdia entre os herdeiros. Todos cobiçavam o legado dessa imagem.

Pela crônica do padre Donato da Bomba, frade capuchinho, sabemos como, em 1608, Pancrazio Petrucci, marido de uma das herdeiras, Marzia Leonelli, por meio da força bruta, tomou posse da imagem sagrada, para depois deixá-la abandonada. Petrucci, por algumas de suas muitas arrogâncias, acabou na prisão, e sua esposa, para libertá-lo, foi obrigada a vender a imagem ao doutor Donatantonio De Fabritiis, farmacêutico da cidade, que a comprou por quatro escudos. Encontrou a imagem em muito mau estado e recorreu aos capuchinhos, que estavam a construir o convento, para a repararem.

Padre Clemente da Castelvecchio e Frei Remigio da Rapino limparam-no, cortaram as bordas rasgadas e colocaram-no entre duas vidraças e fixaram-no com uma moldura de nogueira, que ainda hoje o protege.

Em 1638, De Fabritiis doou-o aos Capuchinhos. A partir de 1646, esses o expuseram à veneração dos fiéis. As graças e os milagres resultantes da veneração daquela Face atraíram a atenção da cidade e das localidades vizinhas. Em 1686 foi construída na igrejinha uma capela com altar e um pequeno templo para a conservação da relíquia. Começamos a celebrar a Sagrada Face no dia 6 de agosto, Transfiguração do Senhor. A partir de 1703 o terceiro domingo de maio foi definido como data das celebrações populares. Em 1718, o Papa Clemente XI concedeu indulgência plenária a todos os peregrinos que fossem visitar o santuário. Em 2005 o Papa Bento XVI também a concedeu e em 2006 visitou o Santuário como peregrino e o elevou a Basílica Menor.

Os Estudos

Nos últimos anos o Véu Sagrado de Manoppello tem sido objeto não só de devoção, mas também de estudo e pesquisa. Estavam interessados: estudiosos de história da arte, universidades, iconógrafos, escritores, poetas e muitos outros. Existe em todos o desejo de saber mais. Foi levantada a hipótese de que talvez seja "A Verônica", guardada até 1527 na Basílica de São Pedro em Roma, que poderia ser o Rosto impresso no "Sudário" que envolveu a cabeça de Jesus no túmulo (prof. Heinrich Pfeiffer).

Os estudiosos concordam em afirmar que a Sagrada Face seria a Acheropita original (= não feita por mãos humanas) que influenciou muitas imagens de Cristo ao longo dos séculos, pois as mesmas características são encontradas em todas elas: rosto oval assimétrico, cabelos longos, um tufo de cabelo acima da testa, a boca ligeiramente aberta e o olhar voltado para cima.

Ultimamente, estudos estão em andamento para descobrir de que fibra é feito o misterioso véu: linho, bisso ou outra.

A Exposição “Penuel”

Há algumas décadas que se defende a tese da semelhança da Sagrada Face com o Sudário de Turim.

Dentro da Basílica você pode admirar uma exposição fotográfica intitulada "Penuel", termo hebraico que significa: "o Rosto do Senhor". É composto por painéis nos quais estão expostas as fotos com as quais Irmã Blandina Paschalis Schlömer verificou a perfeita sobreposição da Sagrada Face de Manoppello com o Sudário de Turim e demonstrou como as duas relíquias referem-se ao mesmo rosto.

Peregrinações e devoção

Durante quatro séculos, a Basílica do Volto Santo foi destino de peregrinos vindos da Itália e de outras partes do mundo.

Estudiosos, teólogos, filósofos, escritores, artistas, homens eruditos, figuras eclesiásticas e políticas pararam diante da Sagrada Face. Como todos os Santuários, também este é “lugar de conversões, de reconciliação com Deus e oásis de paz” (João Paulo II), “estação e clínica do espírito” (Paulo VI).

Desde 1906, é impresso pelos frades capuchinhos um boletim no qual são narrados acontecimentos, histórias de graças e curas, como evidenciam as ofertas votivas expostas na Sala do Tesouro; também são divulgados os estudos e pesquisas feitos sobre o misterioso Véu.

*Texto retirado e traduzido de um panfleto obtido em visita a Manoppello, set./2023.

Uilso Aragono (set. de 2023).

sábado, 26 de agosto de 2023

RISCOS DE INCÊNDIO EM INSTALAÇÕES ELÉTRICAS PREDIAIS (parte II)

 Dando continuidade ao assunto “Riscos de incêndio em instalações elétricas”, vamos abordar, abaixo, alguns tópicos muito importantes e que, em geral, são mal avaliados até mesmo por técnicos da área.

A SEGURANÇA ASSOCIADA AO PROJETO DE UMA INSTALAÇÃO ELÉTRICA

O projeto de uma instalação elétrica é feito com base na suposição de um fator elevado de segurança contra incêndios – basicamente –, mas também contra choques elétricos. Por isso, desde de 1997, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) já prevê e, em virtude da Lei do Consumidor, até obriga as IE a incorporarem o acima comentado disjuntor Diferencial-Residual (DR) nas instalações elétricas prediais, que objetiva tanto proteger contra choques elétricos quanto evitar que a qualidade da instalação caia a níveis perigosos de correntes de fuga, denunciadoras de possíveis problemas associados à falta de ou à baixa manutenção do sistema (IE).

Esse fator de segurança está subentendido em todas as tabelas e equações matemáticas utilizadas no projeto de uma IE. Isso significa, por exemplo, que um condutor (fio rígido ou cabinho) de um circuito para tomadas, que é obrigatoriamente de seção transversal (área do condutor visto de frente) de 2,5mm2 (milímetros quadrados), possa conduzir, no máximo, entre 20 e 24A (amperes), dependendo de outros fatores de projeto, e conduza, normalmente, correntes muito mais baixas nas situações cotidianas de uso da instalação: cerca de 7 a 10A! Isso corresponde a menos da metade da capacidade máxima de condução de corrente do fio!...

USO DE FIAÇÃO MAIS FINA DO QUE A PREVISTA PELAS NORMAS TÉCNICAS

O uso, normalmente por erro de projeto, mas também, às vezes, por má fé, de uma fiação de circuito de tomadas (para não generalizar e complicar muito a explicação) de uma fiação irregular, isto é, de um fio com bitola inferior à definida pelas normas técnicas, é fonte de insegurança e de maior risco para a IE. Mas não deverá ser um fator de grande preocupação, por si só, tendo em vista o elevado fator de segurança de uma IE, como analisado acima, embora algumas providências de compensação devam ser tomadas, como será estudado à frente.

E é importante ressaltar que alguns laudos, que analisam fios fabricados com bitola menor do que deveria ser, assustam o usuário da IE com afirmações um tanto quanto equivocadas, como mostrarei abaixo. Normalmente o cenário é o seguinte: o fabricante forneceu fios que deveriam ser de 2,5mm2 (para circuitos de tomadas) mas que apresentam, na verdade, um valor menor de área transversal (por exemplo, 1,75mm2, cerca de 20% a menos de cobre).

A afirmação do laudo técnico, conforme divulgado nos meios de comunicação (portal g1.globo.com, de 10/08/21), para o caso de fios elétricos, supostamente fraudados, da empresa Luzzano, é como o seguinte:

De acordo com laudos do Ipem, os fios e cabos produzidos pela empresa eram fabricados com uma quantidade menor de matéria-prima que o necessário. Isso fazia que o consumo de energia aumentasse, o que poderia gerar riscos de aquecimento, curtos-circuitos e até incêndios”.

Comentarei os termos usados nesse laudo: “consumo de energia”, “curtos-circuitos” e “incêndios”.

AUMENTO DE “CONSUMO DE ENERGIA” DE FIAÇÃO NÃO É CAUSA INCÊNDIO

Iniciando pela afirmação de que o “consumo de energia... poderia gerar riscos de aquecimento”, pode-se afirmar que o aumento do consumo de energia é mínimo e incapaz de provocar algum aquecimento perigoso. Não apresentarei aqui os cálculos detalhados, porque é um artigo para leigos, para usuários de IE, mas pode-se afirmar que, partindo-se da suposição (pois não tenho os dados completos desse laudo) de que a redução na seção transversal (“grossura”) do fio elétrico de cobre, de 2,5 mm2 (o usado nos circuitos de tomadas), tenha sido de 20%, o fio fraudado passaria a ser o equivalente a um fio mais fino (não padronizado) de 1,75mm2. E, levando-se em conta que a resistividade do cobre é de 0,0172 Ω.mm2/m, tem-se o seguinte aumento de potência de consumo de energia elétrica por esse fio mais fino, submetido a uma corrente de 10A (como exemplo), em relação ao fio de 2,5mm2, para um comprimento total de fiação de 30 metros: cerca de 9W (watts). Essa potência de consumo, multiplicada pelo tempo de funcionamento do circuito, daria o tal “consumo de energia” a mais do cabo fraudado (ou também chamado “desbitolado”), em relação ao consumo do cabo regular.

Observe-se que essa potência (correspondente ao “consumo de energia” a mais, do cabo fraudado) não é nem 1% de uma carga normal de um circuito predial de tomadas (um computador e uma impressora, por exemplo), e chegaria a cerca de 2% para a carga máxima do circuito de tomadas (2500W)! Esse acréscimo de “consumo de energia” do cabo elétrico irregular é, portanto, risivelmente mínimo para causar, por si só, algum aquecimento “perigoso” do fio que, normalmente, é de PVC e tem capacidade de temperatura de 70°C. É importante observar, ainda, que os pontos de aquecimento mais perigosos não estão ao longo do condutor (fio), mas nos pontos de conexão dos fios entre si e desses com os pontos de ligação de tomadas, disjuntores, etc. (normalmente, conexões aparafusadas). Nesses pontos, a resistência do fio é acrescida pela chamada resistência de contato, aumentando o aquecimento pontual, como se verifica quando um fio de chuveiro, por exemplo, derrete justamente no ponto de conexão: em virtude não só da corrente elevada, mas, possivelmente, e principalmente, por uma conexão mal feita (pois, para uma conexão bem feita, o aquecimento não deverá provocar qualquer derretimento da capa isolante do fio). Isso vale também para o caso de pontos de ligação derretidos em disjuntores.

 AQUECIMENTO DE FIAÇÃO NÃO É CAUSA DE CURTOS-CIRCUITOS

A afirmação de que esse “consumo de energia” a mais pudesse causar “curtos-circuitos” na instalação ainda é menos plausível, de acordo com o que já foi explicado na 1ª parte deste artigo: um curto-circuito não acontece como consequência de um sobreaquecimento de fiação e nem mesmo de um sobreaquecimento de uma conexão mal feita. E se viesse a acontecer um curto-circuito, por qualquer outra razão plausível, o circuito seria imediatamente desligado pelo disjuntor de proteção, e o risco de incêndio, nesse caso, estaria totalmente eliminado.

AQUECIMENTO DE FIAÇÃO NÃO É CAUSA DE INCÊNDIOS PREDIAIS

Sobre a afirmação de que esse “consumo de energia” a mais do fio irregular causaria também “incêndios”, pode-se considerá-la totalmente despropositada! O sobreaquecimento, em função do aumento da resistência total da fiação do circuito, ao longo do fio, como já visto, é mínimo e, por si só, não pode ser considerado causa de qualquer incêndio. A propósito, o que, normalmente, é identificado como possíveis causas de incêndio em IE, na atualidade, está associado aos seguintes eventos:

a)     pontos de conexão com alto grau de elevação de temperatura, causada por má conexão (frouxa, por exemplo), e próximos a materiais combustíveis e sensíveis a altas temperaturas, podendo, então, acontecer o início de um incêndio (ponto de autoignição);

b)     curtos-circuitos que não sejam prontamente desligados pelos dispositivos de proteção (disjuntores de proteção) e que provoquem muita faísca e aquecimento localizados;

c)     falhas de disjuntores DR que, não protegendo contra elevadas e contínuas fugas de corrente, possam permitir o surgimento de aquecimentos pontuais, ao longo do tempo, vindo a ser causa de fogo em materiais combustíveis vizinhos.

Enfim, se quisermos identificar alguns fatores básicos para a irrupção de um incêndio de uma IE predial, poderíamos dizer que são pontos de elevada temperatura (não ao longo dos fios) e proximidade de materiais combustíveis (papel, madeira, tecidos, plásticos, etc.). No entanto, se o sistema de proteção (sobrecargas, curtos-circuitos, correntes de fuga, basicamente) estiver bem dimensionado, o risco de acontecer algum incêndio é muito baixo.

PROVIDÊNCIAS PARA COMPENSAR O USO DE FIOS IRREGULARES

Tendo em vista tudo o que foi apresentado acima – definições, exemplos, considerações, argumentações – podem-se indicar algumas providências para a superação dos problemas que o uso de fios irregulares possa causar.

A primeira providência, diante da descoberta do uso de fio irregular na IE, é verificar se, pelo menos, a isolação (a capa isolante do fio) é de bom material: PVC, 70°C de temperatura máxima e não propagador de chama. Para testar esse último ponto é só aplicar uma chama num ponto de uma pequena amostra do fio e verificar se a chama se espalha ou não pelo condutor. Não se espalhando, tem-se a certeza de que o fio segue a norma, nesse quesito. Se o fio se queimar e transmitir a chama, a necessidade de troca da fiação torna-se mais imperiosa.

A segunda providência é trocar os disjuntores existentes no quadro de distribuição de energia da IE (apartamento, prédio, etc.), de acordo com a “nova” capacidade dos fios da instalação. Como exemplo, tomando os fios dos circuitos de tomadas, que deveriam ser da bitola 2,5mm2, e são, na verdade, de 1,75mm2 (hipoteticamente), uma bitola não padronizada, os disjuntores originais de 20A deveriam ser trocados por equivalentes, mas de 15A ou 16A. Dessa forma, os fios irregulares estarão protegidos adequadamente contra sobrecargas e curtos-circuitos. E assim deve ser feito para todos os demais disjuntores, de acordo com a nova bitola do fio irregular. Para os circuitos de iluminação, que normalmente são protegidos por disjuntores de 15A, deveriam passar a ser protegidos por disjuntores de 10A ou 12A. Esta providência cancela o risco do uso de um fio irregular, e é mais econômica do que a simples substituição de toda a fiação da IE. Essa substituição, além de cara, poderia vir a ser fonte de outros problemas, se não for muito bem feita e se não seguir o projeto original.

A terceira providência é garantir o uso adequado do disjuntor ou interruptor Diferencial-Residual, o DR, como foi explicado na 1ª parte deste artigo. E esse uso adequado significa: testar o seu funcionamento, mensalmente, por meio do seu botão de teste, conforme recomenda o fabricante. Ao apertar o botão, o disjuntor deve atuar, desligando o circuito associado a ele. Se o disjuntor não atuar, deverá ser imediatamente trocado.

A quarta providência tem a ver com as tomadas específicas: chuveiros e condicionadores de ar. No caso do chuveiro, se os pontos de conexão estiverem esquentando demais, a ponto de provocar derretimento no fio, recomenda-se trocá-lo para 220V, adaptando-se a proteção de monopolar para bipolar. O fio mais fino, portanto, estará conduzindo agora, cerca de metade da corrente original em 127V! Portanto, mantém-se a fiação, mas agora o chuveiro estará drenando uma corrente bem menor (de acordo com o fio também de menor seção) e a proteção estará de acordo com essa fiação. Se esse fio irregular for equivalente a 4mm2, o disjuntor recomendado será aquele de 28 a 32A. No caso do aparelho de ar-condicionado, se ele estiver funcionando bem, sem maiores aquecimentos nas conexões dos fios, basta que o disjuntor seja adaptado, conforme já explicado acima, para o caso dos circuitos de tomadas.

CONCLUSÃO

As instalações elétricas prediais (residenciais e comerciais) são projetadas com base em fatores de segurança elevados (fios mais grossos do que o estritamente necessário, por exemplo) e sistemas de proteção cuidadosamente calculados para garantir a integridade da fiação e a proteção contra choques elétricos e correntes de fuga, denunciadoras de instalação com baixa qualidade na execução ou na manutenção.  

As IE são projetadas com base, ainda, em circuitos separados para iluminação (em geral, disjuntores de 15A e fio de 1,5mm2), tomadas de uso geral (disjuntores de 20A e fio de 2,5mm2) e tomadas de uso específico (chuveiros e aparelhos de ar-condicionado, entre outros). O quadro de distribuição contará com dispositivos de proteção da fiação contra sobrecarga e curto-circuito (disjuntores termomagnéticos), com dispositivos de proteção da instalação contra correntes de fuga elevadas e proteção dos usuários contra choques elétricos (disjuntor Diferencial-Residual – DR) bem como, mas não obrigatoriamente, com dispositivos para proteção contra surtos de tensão, popularmente conhecidos como “picos de tensão” (dispositivos de proteção contra surtos – DPS).

As normas da ABNT preveem condutores (ou fios) de dimensões superiores às estritamente necessárias para os diversos circuitos da IE. E em virtude da Lei do Consumidor, essas normas têm força de lei, obrigando os projetistas a seguirem as orientações técnicas das diversas normas relacionadas a instalações elétricas prediais. No caso de um descumprimento dessas normas – como seria o caso de uso de condutores fora das normas (“desbitolados”) – o direito do consumidor, uma vez constatada tal infração, é processar o construtor do prédio, que por sua vez, teria o direito de processar o fornecedor (comerciante ou fabricante) dessa hipotética fiação fora dos padrões.  

No entanto, como visto acima, e com base numa análise de uma hipotética fiação com bitola inferior à prevista pelas normas, há a possibilidade de o consumidor, ou usuário da IE, abrir mão de processo judicial e colocar em prática as orientações acima apresentadas, o que garantiria, igualmente, a segurança da IE, mesmo com fiação irregular, pois essa não é o único, nem o mais importante fator de segurança, como visto acima, para a existência de uma adequada instalação elétrica predial.

Uilso Aragono (agosto/2023).

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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