segunda-feira, 29 de abril de 2024

TEMAS COMPLEXOS PARA CRISTÃOS CATÓLICOS - PARTE II

Dando continuidade às reflexões sobre alguns temas complexos para nós, cristãos católicos, nesta Parte II abordo os assuntos Pena de morte, Eutanásia, Jejuns, Sacrifícios, e outros.

5.     PENA DE MORTE, EUTANÁSIA

 PENA DE MORTE:

            A pena de morte, embora legal em muitos países, e tolerada pela Santa Igreja, não é legítima, nem humana, visto que pune um ser humano sem dar-lhe qualquer chance de recuperação. E se a justiça que condenou alguém à morte falhar, não há como se consertar o erro! E vítimas comprovadamente inocentes, já foram condenadas e executadas, e muitas outras – só Deus sabe quantas! – devem ter igualmente sido executadas sendo inocentes. As estatísticas não são favoráveis à pena de morte: não há nada que comprove que sua existência tenha contribuído para a diminuição dos crimes. Um outro argumento contra tal pena é o reconhecimento de que a Sociedade tem culpa, é responsável, pela existência dos criminosos: a falta de oportunidade de muitos, as discriminações racial e social, a falta de educação básica de qualidade, a corrupção – que desvia dinheiro que poderia ser aplicado na verdadeira educação da população – etc. Esta parte na responsabilidade pelos crimes não autoriza a Sociedade a tomar uma decisão drástica, radical, sem volta, como se a única responsabilidade fosse do criminoso, por mais hediondo que seja o crime. Embora o Catecismo atual da Igreja Católica seja tolerante com a pena de morte, há uma tendência, na Igreja, de que seja modificado o texto relativo à pena de morte no Catecismo, no sentido acima ponderado.

 EUTANÁSIA:

            O significado de Eutanásia é “boa-morte”. Alguns argumentam que pessoas em estado terminal, por uma doença grave e irreversível, e que estão sofrendo, podem e devem ser ajudadas a morrer, para que seu sofrimento seja aliviado. No entanto, a vida é dom de Deus. Moralmente, ninguém tem o direito de tirar a vida de outro ou a própria vida. Mesmo o sofrimento não justifica qualquer ação, ou omissão, que leve um doente à morte. O sofrer é parte da vida humana. E se hoje, tem-se um horror à dor e ao sofrimento, já é isto um efeito negativo do hedonismo que atravessa a Sociedade atual: busque-se o prazer a todo custo; se algo faz bem, dá prazer, pode e deve ser curtido... Ora, isto cria a base para olhar-se para o sofrimento como algo que também deve ser evitado a todo custo! No entanto, o sofrimento tem grande valor para o ser humano, tanto no aspecto humano-social, tornando a pessoa mais madura e tolerante, quanto no campo espiritual, tornando-a mais humilde, mais piedosa. A Igreja não aprova a eutanásia, reconhecendo, no entanto, que a ortonásia é possível, entendido tal processo como a não-obrigatória utilização de recursos complexos e dispendiosos e que não contribuem para a recuperação ou para a melhoria do estado geral do doente. Isto significa que aparelhos especiais não obrigatoriamente precisam ser utilizados em um doente terminal, embora recursos como alimentação, soro e similares não devam ser negados ao doente, sob pena de realizar-se a indesejada ou não-recomendada eutanásia. ([1] 2276-2279)

 6.     JEJUNS, SACRIFÍCIOS, ABSTINÊNCIA

 JEJUNS:

            O jejum é uma grande arma na luta espiritual do cristão contra as tentações demoníacas. O próprio Jesus deu a entender que o jejum tem este poder ao iniciar a sua grande luta espiritual contra o mal no mundo, para a salvação da humanidade, por meio de um longo período de jejum: os quarenta dias e quarenta noites no deserto... Apesar de ser feito por meio do corpo, que se ressente da falta de alimento, o jejum é verdadeiramente um eficaz exercício espiritual! Fazendo o jejum, o cristão, pela graça de Deus, reúne mais forças espirituais para lutar contra todas as suas fraquezas, suas tentações. Como diz S. Paulo: “quando sou fraco, então é que sou forte”. Isto significa que quando o corpo padece, o espírito fica mais livre, mais independente, mais disposto a valorizar as “coisas do alto”. Ao contrário, a saciedade encontrada pelo exagero no comer e no beber, e nos prazeres mundanos em geral, tornam o espírito humano como que entorpecido, embriagado, drogado, enfraquecido para as coisas de Deus! O jejum é, também, um ótimo exercício de autocontrole, virtude muito importante para qualquer pessoa que deseja enfrentar a vida com sucesso. Por isto a Igreja tanto preza o jejum e o recomenda durante a quaresma, período de exercícios espirituais, sacrifícios e penitência.

 SACRIFÍCIOS:

            Sacrificar-se é, a exemplo de Jesus, doar-se pelo próximo, pela humanidade. O sacrifício é tudo aquilo que se faz sem prazer. Comer uma verdura, como um tomate, sem que se goste de tomate, é um sacrifício; visitar um doente, num ambiente que causa repugnância, é um sacrifício. Enfim, toda ação que envolva algum grau de desprazer pessoal é um sacrifício. Mas o sacrifício terá mais sentido se for feito com a consciência de que é uma ação praticada em nome de Deus, pelo bem dos irmãos, da família, dos amigos e da humanidade.  Os sacrifícios têm seu maior valor quando feitos com amor, na certeza de que isso contribui para o crescimento espiritual da própria pessoa e de todos os que a cercam. 

 ABSTINÊNCIA:

            Deixar de comer algo de que se gosta muito, como a carne ou uma gostosa moqueca capixaba, é um ato de abstinência. Tal palavra vem do verbo abster-se, significando deixar de fazer algo. A abstinência, como o jejum e os sacrifícios, ajuda o cristão a crescer na sua fé e no amor a Deus e aos irmãos. É um ato de amor e de nobreza, na medida em que, embora tendo o direito a algo de bom, a pessoa desiste de usufruir desse bem. É uma forma de agregar valor às orações oferecidas a Deus pelas nossas intenções. Orações feitas com um coração sincero, já são valiosas, mas envolvidas pelas práticas do jejum, da abstinência e de outros sacrifícios tornam-se ainda mais poderosas e agradáveis a Deus.

  7.     CONVITE À SANTIDADE

            No início da era cristã os cristãos eram chamados de “santos”, tal era a consciência de que todos somos chamados por Deus a ser santos: “Sede perfeitos como vosso Pai que está nos Céus é perfeito”, já nos recomendava Jesus. Santidade é a vocação de todo cristão! Somente sendo santos, poderão os cristãos santificar o mundo. A Igreja é sacramento de salvação para o mundo, realizando esta missão exatamente por meio dos cristãos que se santificam a cada dia, na sua vida familiar, profissional e social. A santificação pessoal de cada cristão se dá por meio da graça de Deus que é oferecida a ele em cada momento de vivência dos sacramentos: da Penitência, da Eucaristia, da Unção dos enfermos e dos demais sacramentos. Não há como santificar-se sem a graça que vem dos sacramentos e sem a prática da oração valorizada pelos sacrifícios pessoais.

Referências:

[1] Catecismo da Igreja Católica. Edição típica vaticana, São Paulo, Loyola, 2000.

[2] MOSER, Antônio. Biotecnologia e Bioética: para onde vamos? Petrópolis, Vozes, 2004.

 Uilso Aragono. (Abril de 2024)


Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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