sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

FIDELIDADE E FELICIDADE NA VIDA E NA FAMÍLIA

 Tratamos, neste artigo, de um tema muito importante na nossa vida, tanto pessoal como social e familiar. É a questão da fidelidade à nossa vocação e da busca da felicidade, que marca a vida de todos nós. Quem não quer ser feliz? Mas, o que é a felicidade? E o que é a fidelidade? Ser fiel é importante? Fiel a quem? Vamos refletir sobre tais questões. É tema primeiramente oferecido pelo então Papa João Paulo II, através de suas catequeses.

 1.      Fidelidade e traição

Fidelidade é um termo que advém do latim “fides”, que quer dizer “fé”, “confiança”. Ter fidelidade a algo ou a alguém é ser fiel, é ter fé ou confiança nesse algo ou nesse alguém. É uma atitude ou postura muito comum no relacionamento humano, uma vez que todos nós demonstraremos, sempre, nossa fé, nossa fidelidade em muitos momentos da vida. Quando perguntamos sobre o nome, a profissão ou sobre a família de alguém, nunca pedimos provas a respeito. – Sempre acreditamos e colocamos fé no que diz a pessoa. É uma atitude de fé, de confiança nas pessoas. No passado, essa atitude – diferentemente de hoje, em que costumamos apresentar documentos para provar nossa afirmação – era muito mais comum, e uma palavra dada era suficiente para que fosse considerada fiel. São Paulo, por exemplo, em certa ocasião, tendo sido preso na Judeia, ao informar ao Tribuno romano que era um cidadão romano, aquele como que tremeu nas bases... Acreditou imediatamente e não colocou em dúvida a afirmação do Apóstolo. Teve fé em suas palavras. E tremeu porque um cidadão romano tinha direito a ser tratado de forma especial, e não como se costumava tratar um não romano.

Não ser fiel é ser um traidor. A traição é, portanto, o oposto da atitude de fidelidade. É a desconsideração do seguimento de um compromisso já acertado.

Há muitos exemplos sobre a atitude de fidelidade. Somos fieis, ou não, em vários ambientes da vida: na escola, no grupo de colegas ou amigos, com a gente mesmo, na família, na relação com as pessoas em geral, e na relação com Deus. Peco, portanto, quando não sou fiel a Deus ou aos irmãos (no sentido amplo do termo). A infidelidade conjugal é um exemplo de ruptura da fidelidade mútua do casal: um promete fidelidade ao outro por toda a vida. Trair esse compromisso é ser infiel, é ser um traidor. Trai, também, um amigo em relação ao outro. Trai um governante em relação aos seus eleitores ou aos compromissos de seu partido. Trai o pai em relação aos filhos. Mas fidelidade tem a ver com felicidade? É o que será visto em continuidade.

 2.      Fidelidade a Deus

Deus nos deu os dez mandamentos, e é fiel a Deus quem segue esses mandamentos, que devem ser vistos muito mais como orientações para um comportamento que contribua para a felicidade de todos do que como regras arbitrárias e impositivas de comportamento. Afinal, se pensarmos bem, toda e qualquer regra de comportamento humano visa – no final das contas – a garantir relacionamentos interpessoais positivos, respeitosos, amigáveis, igualitários e seguros. A regras (ou mandamentos) do trânsito, por exemplo, visam a este último aspecto: a segurança de todos os envolvidos com o trânsito.

Pode-se, então, indagar se é mais feliz aquele que segue a fidelidade a tais tipos de compromisso ou aqueles que os traem. Não parece difícil responder afirmativamente em relação àqueles que são fiéis: estes são, certamente, os mais felizes! A traição acaba por criar um ambiente relacional mais infeliz do que possa parecer, de início, ao traidor, quando pensa que por descumprir um compromisso (ou uma regra, ou uma palavra) esteja sendo feliz. Parece, desde já, que a fidelidade aos mandamentos de Deus e aos compromissos assumidos pelas pessoas seja a base da felicidade de todos.

3.      Fidelidade entre os casados

A promessa de fidelidade que ocorre entre aqueles que se casam na Igreja Católica (e em muitas outras) é uma promessa que não visa a acorrentar, a prender o marido à sua mulher e vice-versa. Mas visa, sobretudo, a garantir que, pela fidelidade a um compromisso de mútua entrega – em amplos sentidos – alcance-se uma família feliz, integrada, plena de afeto e amor, capaz de proporcionar aos filhos um padrão de educação favorável ao seu crescimento humano integral: em corpo e alma, no individual e no social, no público e no privado, na política e na religião, etc.

E longe de ser uma perda de liberdade, a fidelidade, especialmente baseada no amor-doação, amplia a liberdade, conforme nos ensina S. Agostinho: “Ama e faze o que quiseres!”. A vivência interpessoal do verdadeiro amor ilumina a vida, amplia a liberdade e lhe dá sentido, ficando evidente que qualquer coisa diferente não será a liberdade, mas a libertinagem, com todas as suas consequências nefastas.

4.      Fidelidade aos filhos

O casal mutuamente fiel é a garantia da felicidade da família! E os filhos, ao chegarem, exigem a fidelidade familiar: prometemos amar e educar os filhos que Deus nos der! E amar e educar na fé cristã! E essa educação humano-cristã dos filhos dar-se-á com cada vez mais perfeição quanto maior for a fidelidade mútua do casal e em relação a esse compromisso de educação da prole. A vivência dessa fidelidade familiar é, certamente, a base para a felicidade de todos na célula da sociedade! É como se diz por aí: “Filhos, ou os formamos ou os sofremos!”.

5.      Fidelidade aos irmãos

A sociedade humana carece de nossa fidelidade! Cada indivíduo, à medida que assume sua atuação profissional vai sendo desafiado a ser fiel aos compromissos assumidos. Portanto, políticos, juízes, médicos, engenheiros, advogados, árbitros de futebol, religiosos, policiais, etc., sendo fiéis à sua vocação social, certamente contribuirão para a “felicidade geral da pátria”. E, ao contrário, quando não somos fiéis à nossa vocação social, muitos problemas serão criados, tanto para nós próprios, quanto para os outros. Quando um médico, por exemplo, que jura com Hipócrates, lutar pela defesa da vida, passa a usar seus conhecimentos para provocar abortos, essa infidelidade será fonte de sofrimento para muitos. E se é fonte de felicidade para alguns, o é apenas aparente e temporariamente...                             

6.  6.   Felicidade: verdadeira e falsa

Pode-se, então, a partir da última afirmação, questionar sobre a felicidade: haverá uma falsa felicidade? E a resposta é sim. Muitas vezes, quando se pensa estar sendo feliz, essa felicidade pode ser apenas uma ilusão, uma felicidade falsa! Um exemplo é quando alguém, vivendo a infidelidade conjugal, em uma aparente felicidade com o parceiro secreto, vê tudo desmoronar diante da descoberta da infidelidade – que cedo ou tarde acaba por se revelar. E a infelicidade se concretiza não apenas para o cônjuge infiel, mas para toda a família! A verdadeira felicidade, baseada na fidelidade, foi carcomida pela traição conjugal, base de uma falsa felicidade. Como é infeliz aquele que busca a felicidade através da infidelidade!...

7. 7.   Conclusão

O então Papa João Paulo II, atual São João Paulo II, foi muito inteligente e feliz ao propor esta reflexão sobre a relação entre a fidelidade e a felicidade. Reflexão que conduz à conclusão de que não haverá verdadeira felicidade se não se trilharem os caminhos da fidelidade, seja qual for a dimensão de que se trate na vida humana:  individual, profissional, familiar, política, religiosa, etc. Que Deus nos abençoe nessa luta pela vivência da fidelidade nos relacionamentos da vida, para que a felicidade possa ser uma consequência natural e desejada desses relacionamentos.

Uilso Aragono. (dez. de 2021)

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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