quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Ensino ou aprendizagem?


Minha experiência de professor convenceu-me: só existe aprendizagem! Há trinta e cinco anos acreditando que a dupla ensino-aprendizagem exista e, finalmente, encontrei a verdade: o ensino não existe; só existe a aprendizagem. Todo ser humano é autodidata, por natureza. Ou deveria sê-lo. O professor nada ensina: ele não tem esse poder tão propalado, tão acreditado, tão introjetado nos alunos e nos próprios professores!...

Se não existe o ensino, o que existe? A aprendizagem, eis a resposta. Há muitos argumentos para mostrar que o ensino é algo “virtual”, enquanto a aprendizagem é algo “concreto”. O cérebro humano foi desenhado para aprender o tempo inteiro. Deixado na natureza qualquer ser humano, depois dos cuidados básicos, aprenderá por si só: descobrirá a vida à sua volta, seus perigos, seus prazeres, seus encantos! O homem só deixa de aprender quando, finalmente, parte desta vida.

Há muitos exemplos, também, que nos ilustram o quanto aparente é o ensino e o quanto real é a aprendizagem. É só perguntar aos alunos – especialmente os jovens e adultos –, quando estudam, durante um curso que estejam fazendo, e a resposta honesta será: alguns dias ou algumas horas antes das provas. Não há alunos que aprendam como consequência do esforço de ensino do professor. Se assim fosse, não haveria a necessidade da dedicação de estudo intensivo, imediatamente antes das provas, por parte dos alunos, sem exceção. Por mais bem preparadas e bem dadas que sejam as aulas, não há perguntas pertinentes, como fruto de dúvidas verdadeiras durante uma aula: os alunos, simplesmente, assistem às aulas. Essas verdadeira perguntas só aparecem antes das provas. Se o professor der tempo, um pouco antes da aplicação da prova, para esclarecimentos de dúvidas, muitas perguntas aparecerão, pois houve estudo, alguma aprendizagem, e restaram dúvidas. Ao esclarecê-las o professor estará realizando uma dimensão de seu papel: a de orientador, auxiliador da aprendizagem. Muitas são as dimensões do papel do professor, menos a do “ensino”. A não ser que esclarecer uma dúvida, surgida como esforço pessoal do aluno, seja definido como ensino. Mas até mesmo um colega poderia ter esclarecido a dúvida do aluno. Ou um livro melhor que não fora consultado, ou um aluno mais avançado...

Qual é a missão, então, do professor se ele não tem o poder de ensinar, se o ensino é virtual e a aprendizagem, sim, é concreta? A resposta é simples e passa pela constatação de que o professor, historicamente, foi, sempre, um “orientador” da aprendizagem. Basicamente, esta é a missão e a função do professor: ser um orientador da aprendizagem. Complementarmente, ele é – ou deveria ser! – um incentivador dos alunos quanto ao valor do estudo, um avaliador de seu progresso, um esclarecedor de suas dúvidas, um planejador da sistemática do processo de aprendizagem, enfim, um “ajudador” nesse processo que, em vez de ser chamado – como tem sido, pelo pessoal da área pedagógica – de processo “ensino-aprendizagem”, deveria ser designado de processo de “orientação para a aprendizagem”.

Tomar consciência de que o ensino é aparente e que a aprendizagem é real é algo que fará com que os alunos abandonem uma histórica posição de passividade diante de um curso, quando acreditam que sua simples presença às aulas – aliás, como enfatiza a Lei – garanta a aprendizagem. Essa mesma tomada de consciência fará com que os professores passem a valorizar muito mais as atividades do aluno na busca da aprendizagem, por meio de projetos, exercícios, e práticas, do que basear-se em suas aulas e mais aulas exageradamente expositivas. Já passou da hora de nossa Escola antiquada e ineficaz dar um salto de qualidade, mudar de rumo, mudar de paradigma, e passar a orientar os alunos em sua busca da aprendizagem, em sua busca do conhecimento e de suas competências profissionais. Que, especialmente, os alunos, passem a ser os verdadeiros protagonistas desse processo de construção do seu conhecimento, de busca da aprendizagem real, deixando, finalmente, para trás o ensino aparente.

Uilso Aragono  (fev. de 2013)

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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