sexta-feira, 29 de junho de 2012

O FIM DO MODO SUBJUNTIVO


São tantos os erros cometidos contra o bom uso do modo subjuntivo, seja na linguagem escrita, seja na falada, que me parece que esse modo verbal está morrendo!...

Abaixo, exemplos tirados de livros, jornais, revistas, etc., com alguns comentários.

  • Ele também acreditava que os judeus eram (fossem) inimigos.
A partícula (conjunção) ‘que’, normalmente, pede o verbo no subjuntivo. E o sentido da frase é, conforme a definição de modo subjuntivo, uma opinião (subjetiva, daí o nome do modo verbal) uma ideia, uma hipótese, uma crença, enfim uma afirmação com certo grau de incerteza. O modo indicativo, ao contrário, normalmente expressa ideias claramente afirmativas.

  • Não há dúvida de que realmente acreditava (acreditasse) no Nacional-Socialismo e que foi (fosse, ou tivesse sido) completamente devotado a Hitler.
  • O lugar deveria servir de retiro, um lugar onde ele poderia (pudesse) meditar com absoluta privacidade.
Aqui o modo futuro do pretérito (poderia) é totalmente inapropriado, pois a ideia é que “ele supostamente, pudesse meditar”. O uso do futuro do pretérito leva o leitor a acreditar que, naquele lugar, ele não pôde, efetivamente, meditar: ele poderia, mas não pôde, de fato... Mas a ideia não é esta, ao contrário, é claramente um plano (com alguma incerteza) para que “ele pudesse meditar no local”.
  • Os relatórios médicos fazem crer que ele não tinha (tivesse) problemas físicos ou psicológicos sérios.
Se os relatórios fossem afirmativos, então, sim, o modo indicativo (tinha) estaria correto. Seria o caso de se escrever: “Os relatórios médicos fazem crer: ele não tinha problemas”. Observe-se que a conjunção “que” é a principal responsável  pelo uso do subjuntivo (tivesse), passando a ideia de uma hipótese e não de uma afirmação clara. Será por causa disso que a gente aprende os verbos no modo presente do subjuntivo precedendo-os dessa partícula? “Que eu faça, que tu faças, etc.” Não só esta partícula, mas duas outras são utilizadas na memorização do modo subjuntivo: “se”, para o imperfeito (ou condicional), e “quando” (e ‘se’, novamente), para o futuro do subjuntivo: “Quando eu for, quando tu fores, ou, se eu for, se tu fores,...

  • Acredita-se que ele queria (quisesse) matar o embaixador alemão para protestar.
  • Acredita-se que R. iniciou (tenha iniciado) os tumultos com a aprovação do chefe.
Aqui é até mesmo uma questão de “ouvido”. A frase original (com o ‘iniciou’) é horrível de se ouvir; parece claramente errada! E a forma subjuntiva composta, formada com o verbo auxiliar ‘ter’, parece, claramente e auditivamente, a melhor. Mais uma vez, a conjunção ‘que’ pede, quase exige, essa formação de verbo composto no modo subjuntivo. Ainda: o modo indicativo no passado, só poderia ser  usado se fosse uma frase afirmativa: “R. iniciou os tumultos com a aprovação do chefe”.

  • Eles acreditavam sinceramente que a Alemanha poderia (pudesse) derrotar a União Soviética.
  • Ele acreditava que os soviéticos estavam (estivessem) nas últimas.
  • O sucesso foi tão grande que parecia confirmar a crença de Hitler de que os Estados  Unidos estavam (estivessem) totalmente despreparados para a guerra.
  • Imagine que cada aeroporto da Europa ou na América possui (possua) um conjunto de 30 a 40 cartas de pouso.
O verbo ‘imaginar’ passa, claramente, a ideia de uma hipótese, algo imaginário, incerto, por isso o uso obrigatório do modo subjuntivo (exatamente para ideias subjetivas). “O aeroporto X possui 30 cartas de pouso”. Esta é uma frase afirmativa em que cabe o modo indicativo. Mas não a frase original, acima.
  • Escravas também tinham direito: se um homem casava (casasse) com uma de suas servas, só poderia se divorciar se vendesse a mulher.
Será que o autor desse texto decorou o imperfeito do subjuntivo na sequência: se eu casava, se tu casavas, se ele casava?... Mas por que, então, ele utilizou corretamente o modo subjuntivo no final da mesma frase? Veja: “... se vendesse a mulher”. Se ele fosse coerente com o seu mau português, ele teria escrito: “... se vendia a mulher”.

É incrível como têm sido constantes e universais esses erros de uso do modo indicativo em lugar do correto modo subjuntivo! E se a gente acreditar, como defendem muitos linguistas, que a língua evolui pelo uso do seu povo falante, então, podemos concluir que o modo subjuntivo está acabando, está morrendo, está no fim.

Interessante observar, finalmente, que esse modo subjuntivo, se estiver (não ‘está’) morrendo, é porque, também, é muito difícil de ser assimilado, mesmo para escritores e pessoas de curso superior. E é por isso que eu admiro e divulgo a língua internacional – o Esperanto –: dentre muitos outros aspectos de maior facilidade que qualquer língua nacional, nesse caso específico do modo verbal  subjuntivo, verifica-se que tal modo não existe explicitamente no Esperanto, sendo substituído pelo modo imperativo, o que, dentro da dinâmica dos modos verbais do Esperanto,  faz todo o sentido e simplifica o idioma internacional. Simplicidade que todo falante gostaria de encontrar em sua língua nacional e que nem sempre encontra, mas que acaba sendo imposta pela Academia, quando esta é pressionada pela universalização de usos populares, ou até eruditos, mesmo que esses não se coadunem exatamente com a boa gramática. Será que um dia a Academia irá confirmar o fim do modo subjuntivo? Será que o uso universal do modo indicativo no lugar do modo subjuntivo vai se impor?

Uilso Aragono, junho de 2012.

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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