Lendo o livro “Summa Daemoniaca – Tratado de demonologia e manual de exorcistas”,
do sacerdote e teólogo espanhol, José Antônio Fortea, pertencente ao
presbitério da Diocese de Alcalá de Henares (Madri), deparei-me com um capítulo
impressionante, cujo título é igual ao do presente artigo. O livro é de 2010 e
altamente recomendável pela profundidade e clareza teológicas, mesmo para
leitores leigos.
QUAL FOI A CRIATURA MAIS
MAGNÍFICA CRIADA POR DEUS, A VIRGEM OU LÚCIFER?
Este é, na verdade, o título do
capítulo 59, ou melhor, da Questão 59 colocada pelo Autor. Um católico
responderia, sem titubear, que tal criatura magnífica seria a Virgem..., No
entanto, a resposta é surpreendente: na verdade, a criatura mais magnífica criada
por Deus, segundo o Teólogo e Autor, foi Lúcifer!
EXPLICAÇÃO DO AUTOR
“A palavra Lúcifer
é originária do latim e significa “Estrela
da manhã”. Ninguém deve estranhar que um ser maligno tenha um nome tão
belo, pois este foi o nome que Pai dos anjos colocou na criatura ao criá-la. O
certo é que este era seu nome antes de cair. (Anotação no pé da página do livro
sobre este tópico: Eu, o autor, não
intento julgar os valores sobre as questões que escrevi, mas esta é a minha
favorita dentre todas as encontradas em Summa Daemoniaca.)
É preciso entender
que a natureza mais magnífica criada por Deus foi a de Lúcifer. A Virgem se
santificou dia a dia, com esforço. Ela, com seu sacrifício, seus atos e a Graça
de Deus, conseguiu ser a criatura mais magnifica. Mas sua magnificência não foi
um ato da criação de Deus, e, sim, de santificação. Tanto que a criatura mais
magnífica que Deus criou foi a maior de todas as criaturas angélicas. Deus
criou Lúcifer magnífico em sua natureza, e ele se corrompeu. Deus criou Maria
humilde em sua natureza, uma simples mulher e, portanto, inferior aos anjos,
mas foi ela que se santificou. Como se vê, há um grande paralelo entre ambas as
figuras, mas um paralelo inverso:
- Uma delas é a criatura mais perfeita por natureza, a outra pela graça;
- Uma delas se corrompe; a outra se santifica;
- Uma delas quer ser rei e não servir, e, ao final, não é nada; a outra quer ser nada e servir e, no final é rainha.
Além disso, inclusive
com relação aos nomes, há um paralelo entre a estrela da manhã (Lúcifer) e a
estrela da manhã da redenção (Maria):
- A primeira estrela caiu do firmamento angélico; a segunda estrela se elevou;
- A primeira estrela, que era espírito, caiu na Terra; a segunda estrela, que era corpo, ascendeu aos Céus;
- Lúcifer não quis aceitar o Filho de Deus feito Homem; a Virgem não somente O aceitou como O acolheu em seu ventre;
- Lúcifer era um ser espiritual que, finalmente, se tornou pior do que uma Besta (sem deixar de ser espiritual); ela era um ser material que, finalmente, se fez melhor do que um anjo (sem deixar de ser material);
- Lúcifer se bestializou; ela, se espiritualizou;
Agora existe apenas
uma estrela da manhã, que é a Virgem. Pois, embora a primeira estrela tenha
caído, a segunda brilhou com a luz da graça, muito mais bela e intensamente que
a primeira estrela, que brilhou somente com a luz de sua natureza.”
CONCLUSÃO
A luz da graça
– e este termo poderia e deveria ser escrito com maiúscula! (como o Autor faz, na primeira vez que o usa,
acima) – é uma luz que vem da Graça de Deus, que é, constantemente, derramada
sobre os corações abertos e desejosos de recebê-la. Maria, pelo fato mesmo de
ter sido concebida sem pecado original, foi uma criatura de Deus cujo coração
esteve totalmente aberto e desejoso de ser preenchido e iluminado pela Graça.
Que sejamos, um pouquinho, como Maria: corações abertos e desejosos de receber
a Graça e a luz que dela vem sobre nós, para nossa santificação e nosso crescimento
espiritual. Para que, como Ela, nos espiritualizemos e, não, ao contrário, como
Lúcifer, nos bestializemos.
Referência: FORTEA, J. A. Summa Daemoniaca – Tratado de demonologia e
manual de exorcistas. Palavra & Prece, São Paulo, 2010. Tradução: Ana
Paula Bertolini. (E-mail da editora: editora@palavraeprece.com.br. Site:
www.palavraeprece.com.br.)
Uilso Aragono. (Abril de 2019.)