quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

OS MILAGRES DE JESUS NO EVANGELHO DE MARCOS – PARTE V


Os milagres de Jesus, descritos nos quatro Evangelhos, são obras maravilhosas e, verdadeiramente, arrebatadoras! São capazes de nos encantar a todos e de provocar uma profunda reflexão sobre quem é este Homem, capaz de tantos feitos impossíveis aos homens comuns... O texto abaixo procura identificar, a partir de uma busca nos Evangelhos, quais são esses milagres, e apresenta-os por meio de uma breve descrição. Desta vez, em relação ao Evangelho de S. Marcos. Algum comentário comparativo entre os Evangelhos é feito.

21. JESUS CURA UM SURDO-MUDO: Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. Levaram então a Jesus um homem surdo e que falava com dificuldade, e pediram que Jesus pusesse a mão sobre ele. Jesus se afastou com o homem para longe da multidão; em seguida, pôs os dedos no ouvido do homem, cuspiu e com a sua saliva tocou a língua dele. Depois, olhou para o céu, suspirou e disse: “Efatá”, que quer dizer: “Abra-se!”. Imediatamente os ouvidos do homem se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém (Mc 7, 31-36a). – Neste milagre de Jesus, não lhe pediram a cura do doente, mas que “pusesse a mão sobre ele”. Daqui vemos não só o poder de curar os doentes que Senhor quis demonstrar, mas que este poder estava associado a impor as mãos sobre alguém. Tão associado que os discípulos lhe pediram – depois de terem visto, certamente muitas vezes, o Senhor colocar as mãos e curar – que “pusesse a mão sobre ele”, isto é, que o curasse. Portanto: o impor as mãos de Jesus é igual a curar alguém, na experiência dos discípulos contemporâneos do Senhor.  Mas com o tempo, passou a ser, também, para além de uma expressão de bênção, expressão de cura entre todos os discípulos de Jesus, por meio da Fé.

22. SEGUNDA MULTIPLICAÇÃO DE PÃES E PEIXES: Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinham o que comer. (...) Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois, pegou os sete pães, agradeceu, partiu-os e ia dando aos discípulos, para que os distribuíssem. Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre eles, mandou que os distribuíssem também. Comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos dos pedaços que sobraram. Eram mais ou menos quatro mil. E Jesus os despediu (Mc 8, 1. 6-9). – Este segundo episódio do milagre da multiplicação dos alimentos – muito semelhante à primeira multiplicação (vide número 17, no Blogue de Dez/19) – indica que, possivelmente, várias vezes tenha ocorrido essa situação de carência de alimentos no meio da multidão de pessoas que acompanham o Senhor. Naquele tempo, não havia a abundância de mercearias, supermercados, padarias e lanchonetes, como temos hoje. E as multidões reuniam-se em lugares afastados e silenciosos, para que pudessem ouvir bem o Enviado do Senhor. E tendo abençoado os alimentos, Jesus os distribuía aos discípulos, e estes às pessoas esfomeadas. E todos ficavam satisfeitos. Ainda hoje, Jesus quer nos alimentar por meio de seu próprio corpo e de seu sangue, como ocorre na Eucaristia (Missa ou Celebração Eucarística). Nesta, o sacerdote cristão oferece a Deus a renovação do sacrifício redentor de Cristo, e os pães (partículas de pão ázimo ou hóstias) são transformados em Seu Corpo e Seu Sangue, para nossa alimentação corporal e espiritual, e para que nos tornemos, cada um de nós, comungantes, um outro Cristo para o irmão.

23. JESUS CURA UM CEGO: Chegaram a Betsaida. Algumas pessoas levaram um cego e pediram que Jesus tocasse nele. Jesus pegou o cego pela mão levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele, pôs as mãos sobre ele e perguntou: “Você está vendo alguma coisa?”. O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo homens; parecem arvores que andam.”. Então Jesus pôs de novo as mãos sobre os olhos dele, e ele enxergou claramente. Ficou curado e enxergava todas as coisas com nitidez, mesmo de longe. Jesus mandou o homem ir para casa, dizendo: “Não entre no povoado.” (Mc 8, 22-26). – Uma pergunta surge, naturalmente: por que Jesus não curou o cego imediatamente, mas em dois tempos? Talvez possamos entender desse episódio que Jesus, como um novo Moisés, que bateu nas pedras três vezes para que a água jorrasse para o povo, no deserto, quis identificar-se com ele e com todos os seus futuros discípulos, que, ao pedirem uma cura a Deus, viessem a ter a humildade de pedir repetidamente, com fé e insistência, até que a cura viesse a acontecer. Ou talvez possamos entender, simplesmente, que Jesus tem misericórdia e paciência até com a natureza morta (nosso corpo) que pode insistir em permanecer em seu estado doentio...

24. A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS: Sei dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E se transfigurou diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira no mundo as poderia alvejar. Apareceram-lhe Elias e Moisés, que conversavam com Jesus.  Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.”. Pedro não sabia o que dizer, pois eles estavam com muito medo. Então desceu uma nuvem e os cobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutem o que ele diz!”. E, de repente, eles olharam em volta e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles (Mc 9, 2-8). – Este episódio é poderoso para nos ensinar que Jesus é, verdadeiramente, nosso Deus e Senhor. Pois sua transfiguração – rosto e roupas brilhantes, como Moisés no deserto, depois de ter visto Deus – mostra-nos a verdadeira natureza de Jesus, o Filho de Deus encarnado! Ele, sendo um homem-Deus, deveria aparecer aos demais homens como um homem diferente: com um rosto brilhante, luminoso, totalmente diferente dos demais... pois Ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo! Mas Jesus não queria que sua natureza divina fosse revelada claramente, por isso, com humildade, abrindo mão de sua natureza divina – como nos ensina São Paulo – oculta-se diante dos homens. Mas, neste episódio, revela-se aos seus discípulos preferidos como Ele verdadeiramente é. E lhes dá um presente de Fé.

25. A CURA DE UM MENINO ENDEMONIADO: Alguém da multidão respondeu: “Mestre, eu trouxe a ti meu filho que tem um espírito mudo. Cada vez que o espírito o ataca, joga-o no chão e ele começa e espumar, range os dentes e fica completamente rijo. (...) E levaram o menino. Quando o espírito viu Jesus, sacudiu violentamente o menino, que caiu no chão e começou a rolar e a espumar pela boca. Jesus perguntou ao pai: “Desde quando ele está assim?”. O pai respondeu: “Desde criança. E muitas vezes já o jogou no fogo e na água para matá-lo. Se podes fazer alguma coisa, tem piedade de nós e ajuda-nos”. Jesus disse: “Se podes!... Tudo é possível para quem tem fé”. O pai do menino gritou: “Eu tenho fé, mas ajuda a minha falta de fé”. Jesus viu que a multidão corria para junto dele. Então ordenou ao espírito mau: “Espírito mudo e surdo, eu lhe ordeno que saia do menino e nunca mais entre nele”. O espírito sacudiu o menino com violência, deu um grito e saiu. O menino ficou como morto e por isso todos diziam: “Ele morreu!”. Mas Jesus pegou a mão do menino, levantou-o e o menino ficou de pé (Mc 9, 17-18a. 20-27). – Este episódio nos ensina, pelo menos, duas coisas muito importantes: a necessidade da fé em Deus e a realidade dos anjos decaídos ou demônios. Sobre a fé, todos nós aprendamos a repetir com o pai do menino: Eu creio, Senhor; mas aumenta a minha fé! Sobre os demônios, ser angélico espiritual que rejeitou a Deus e tem inveja dos homens, são uma realidade, são uma verdade, que eles mesmos gostariam de ver rejeitada pelos homens. E muitos não creem na existência do diabo, de satanás. Mas se não fosse verdade, como é que se pode aceitar que Jesus, a Verdade – como Ele mesmo se proclama: “Sou o Caminho, a Verdade e a Vida” – tenha falado com o espírito mau e ordenado a ele que saísse do menino? Se os demônios não existissem, Jesus teria corrigido essa suposta falsa interpretação ou superstição e ensinado às pessoas a considerarem tais problemas simples doenças. E teria curado a surdez e o mutismo do menino impondo-lhe as mãos, como fez inúmeras outras vezes.

26. A CURA DO CEGO DE JERICÓ: Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. Na beira do caminho havia um cego que se chamava Bartimeu, o filho de Timeu; estava sentado, pedindo esmolas. Quando ouviu dizer que era Jesus Nazareno que estava passando, o cego começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. Muitos o repreenderam e mandaram que ficasse quieto. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!”. Então Jesus parou e disse: “Chamem o cego!”. Eles chamaram o cego e disseram: “Coragem, levante-se, porque Jesus está chamando você”. O cego largou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. Então Jesus lhe perguntou: “O que você quer que eu faça por você?”. O cego respondeu: “Mestre, eu quero ver de novo”. Jesus disse: “Pode ir, a sua fé curou você”. No mesmo instante o cego começou a ver de novo e seguia Jesus pelo caminho (Mc 10, 46-52). – Assim como no episódio dos dois cegos de Jericó, relatado por Mateus (20, 29-34), aqui Jesus cura a cegueira, mas de somente um cego, e identificado como Bartimeu, o filho de Timeu. Mas em ambos os episódios evangélicos, os cegos são curados imediatamente: num caso Jesus toca os olhos, no outro, o cego Bartimeu é curado pela simples ordem de Jesus: pode ir, a sua fé o curou. Interessante notar que os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) coincidem essencialmente, mas não nos detalhes dos relatos. E isto é muito bom! Porque se coincidissem em tudo, seriam apenas cópias uns dos outros, e seriam reduzidos a um único relato evangélico. Mas, ao contrário, os detalhes revelam maneiras ligeiramente diferentes de se contar os fatos verdadeiros, mas contados por pessoas que, embora inspiradas por Deus, mantêm a sua individualidade, a sua humanidade e, por isso, revelam detalhes um pouco diferentes uns dos outros, de acordo com a tradição oral e, talvez, escrita, que lhes chegava aos ouvidos. Daí a riqueza de relatos evangélicos que muito nos ensinam.

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Uilso Aragono. (Janeiro de 2020)

(CONTINUA NO PRÓXIMO BLOGUE)

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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