Os milagres de Jesus,
descritos nos quatro Evangelhos, são obras maravilhosas e, verdadeiramente,
arrebatadoras! São capazes de nos encantar a todos e de provocar uma profunda
reflexão sobre quem é este Homem, capaz de tantos feitos impossíveis aos homens
comuns... O texto abaixo procura identificar, a partir de uma busca nos
Evangelhos, quais são esses milagres, e apresenta-os por meio de uma breve
descrição. Desta vez, em relação ao Evangelho de S. Marcos. Algum comentário
comparativo entre os Evangelhos é feito.
21. JESUS CURA UM SURDO-MUDO:
Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar
da Galileia, atravessando a região da Decápole. Levaram então a Jesus um homem
surdo e que falava com dificuldade, e pediram que Jesus pusesse a mão sobre
ele. Jesus se afastou com o homem para longe da multidão; em seguida, pôs os
dedos no ouvido do homem, cuspiu e com a sua saliva tocou a língua dele. Depois,
olhou para o céu, suspirou e disse: “Efatá”, que quer dizer: “Abra-se!”. Imediatamente
os ouvidos do homem se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem
dificuldade. Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém (Mc 7, 31-36a).
– Neste milagre de Jesus, não lhe pediram a cura do doente, mas que “pusesse a
mão sobre ele”. Daqui vemos não só o poder de curar os doentes que Senhor quis
demonstrar, mas que este poder estava associado a impor as mãos sobre alguém. Tão
associado que os discípulos lhe pediram – depois de terem visto, certamente
muitas vezes, o Senhor colocar as mãos e curar – que “pusesse a mão sobre ele”,
isto é, que o curasse. Portanto: o impor as mãos de Jesus é igual a curar
alguém, na experiência dos discípulos contemporâneos do Senhor. Mas com o tempo, passou a ser, também, para
além de uma expressão de bênção, expressão de cura entre todos os discípulos de
Jesus, por meio da Fé.
22. SEGUNDA MULTIPLICAÇÃO DE
PÃES E PEIXES: Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não
tinham o que comer. (...) Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão.
Depois, pegou os sete pães, agradeceu, partiu-os e ia dando aos discípulos, para
que os distribuíssem. Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção
sobre eles, mandou que os distribuíssem também. Comeram e ficaram satisfeitos,
e recolheram sete cestos dos pedaços que sobraram. Eram mais ou menos quatro
mil. E Jesus os despediu (Mc 8, 1. 6-9). – Este segundo episódio do milagre da
multiplicação dos alimentos – muito semelhante à primeira multiplicação (vide
número 17, no Blogue de Dez/19) – indica que, possivelmente, várias vezes tenha ocorrido essa
situação de carência de alimentos no meio da multidão de pessoas que acompanham
o Senhor. Naquele tempo, não havia a abundância de mercearias, supermercados, padarias
e lanchonetes, como temos hoje. E as multidões reuniam-se em lugares afastados
e silenciosos, para que pudessem ouvir bem o Enviado do Senhor. E tendo abençoado
os alimentos, Jesus os distribuía aos discípulos, e estes às pessoas esfomeadas.
E todos ficavam satisfeitos. Ainda hoje, Jesus quer nos alimentar por meio de
seu próprio corpo e de seu sangue, como ocorre na Eucaristia (Missa ou
Celebração Eucarística). Nesta, o sacerdote cristão oferece a Deus a renovação
do sacrifício redentor de Cristo, e os pães (partículas de pão ázimo ou hóstias)
são transformados em Seu Corpo e Seu Sangue, para nossa alimentação corporal e espiritual,
e para que nos tornemos, cada um de nós, comungantes, um outro Cristo para o
irmão.
23. JESUS CURA UM CEGO:
Chegaram a Betsaida. Algumas pessoas levaram um cego e pediram que Jesus tocasse
nele. Jesus pegou o cego pela mão levou-o para fora do povoado, cuspiu nos
olhos dele, pôs as mãos sobre ele e perguntou: “Você está vendo alguma coisa?”.
O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo homens; parecem arvores que
andam.”. Então Jesus pôs de novo as mãos sobre os olhos dele, e ele enxergou
claramente. Ficou curado e enxergava todas as coisas com nitidez, mesmo de
longe. Jesus mandou o homem ir para casa, dizendo: “Não entre no povoado.” (Mc
8, 22-26). – Uma pergunta surge, naturalmente: por que Jesus não curou o
cego imediatamente, mas em dois tempos? Talvez possamos entender desse episódio
que Jesus, como um novo Moisés, que bateu nas pedras três vezes para que a água
jorrasse para o povo, no deserto, quis identificar-se com ele e com todos os seus
futuros discípulos, que, ao pedirem uma cura a Deus, viessem a ter a humildade
de pedir repetidamente, com fé e insistência, até que a cura viesse a
acontecer. Ou talvez possamos entender, simplesmente, que Jesus tem
misericórdia e paciência até com a natureza morta (nosso corpo) que pode
insistir em permanecer em seu estado doentio...
24. A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS:
Sei dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou
sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E se transfigurou diante
deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira no mundo
as poderia alvejar. Apareceram-lhe Elias e Moisés, que conversavam com Jesus. Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre,
é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra
para Elias.”. Pedro não sabia o que dizer, pois eles estavam com muito medo.
Então desceu uma nuvem e os cobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este
é o meu Filho amado. Escutem o que ele diz!”. E, de repente, eles olharam em
volta e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles (Mc 9, 2-8). –
Este episódio é poderoso para nos ensinar que Jesus é, verdadeiramente,
nosso Deus e Senhor. Pois sua transfiguração – rosto e roupas brilhantes, como Moisés
no deserto, depois de ter visto Deus – mostra-nos a verdadeira natureza de
Jesus, o Filho de Deus encarnado! Ele, sendo um homem-Deus, deveria aparecer
aos demais homens como um homem diferente: com um rosto brilhante, luminoso,
totalmente diferente dos demais... pois Ele é Deus com o Pai e o Espírito
Santo! Mas Jesus não queria que sua natureza divina fosse revelada claramente,
por isso, com humildade, abrindo mão de sua natureza divina – como nos ensina
São Paulo – oculta-se diante dos homens. Mas, neste episódio, revela-se aos
seus discípulos preferidos como Ele verdadeiramente é. E lhes dá um presente de
Fé.
25. A CURA DE UM MENINO
ENDEMONIADO: Alguém da multidão respondeu: “Mestre, eu trouxe a ti meu
filho que tem um espírito mudo. Cada vez que o espírito o ataca, joga-o no chão
e ele começa e espumar, range os dentes e fica completamente rijo. (...) E
levaram o menino. Quando o espírito viu Jesus, sacudiu violentamente o menino,
que caiu no chão e começou a rolar e a espumar pela boca. Jesus perguntou ao
pai: “Desde quando ele está assim?”. O pai respondeu: “Desde criança. E muitas
vezes já o jogou no fogo e na água para matá-lo. Se podes fazer alguma coisa,
tem piedade de nós e ajuda-nos”. Jesus disse: “Se podes!... Tudo é possível
para quem tem fé”. O pai do menino gritou: “Eu tenho fé, mas ajuda a minha
falta de fé”. Jesus viu que a multidão corria para junto dele. Então ordenou ao
espírito mau: “Espírito mudo e surdo, eu lhe ordeno que saia do menino e nunca
mais entre nele”. O espírito sacudiu o menino com violência, deu um grito e
saiu. O menino ficou como morto e por isso todos diziam: “Ele morreu!”. Mas
Jesus pegou a mão do menino, levantou-o e o menino ficou de pé (Mc 9, 17-18a.
20-27). – Este episódio nos ensina, pelo menos, duas coisas muito importantes:
a necessidade da fé em Deus e a realidade dos anjos decaídos ou demônios. Sobre
a fé, todos nós aprendamos a repetir com o pai do menino: Eu creio, Senhor; mas
aumenta a minha fé! Sobre os demônios, ser angélico espiritual que rejeitou a
Deus e tem inveja dos homens, são uma realidade, são uma verdade, que eles
mesmos gostariam de ver rejeitada pelos homens. E muitos não creem na
existência do diabo, de satanás. Mas se não fosse verdade, como é que se pode
aceitar que Jesus, a Verdade – como Ele mesmo se proclama: “Sou o Caminho, a
Verdade e a Vida” – tenha falado com o espírito mau e ordenado a ele que saísse
do menino? Se os demônios não existissem, Jesus teria corrigido essa suposta
falsa interpretação ou superstição e ensinado às pessoas a considerarem tais
problemas simples doenças. E teria curado a surdez e o mutismo do menino
impondo-lhe as mãos, como fez inúmeras outras vezes.
26. A CURA DO CEGO DE JERICÓ:
Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. Na beira
do caminho havia um cego que se chamava Bartimeu, o filho de Timeu; estava
sentado, pedindo esmolas. Quando ouviu dizer que era Jesus Nazareno que estava
passando, o cego começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”.
Muitos o repreenderam e mandaram que ficasse quieto. Mas ele gritava mais
ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!”. Então Jesus parou e disse: “Chamem
o cego!”. Eles chamaram o cego e disseram: “Coragem, levante-se, porque Jesus
está chamando você”. O cego largou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. Então
Jesus lhe perguntou: “O que você quer que eu faça por você?”. O cego respondeu:
“Mestre, eu quero ver de novo”. Jesus disse: “Pode ir, a sua fé curou você”. No
mesmo instante o cego começou a ver de novo e seguia Jesus pelo caminho (Mc 10,
46-52). – Assim como no episódio dos dois cegos de Jericó, relatado por Mateus
(20, 29-34), aqui Jesus cura a cegueira, mas de somente um cego, e identificado
como Bartimeu, o filho de Timeu. Mas em ambos os episódios evangélicos, os
cegos são curados imediatamente: num caso Jesus toca os olhos, no outro, o cego
Bartimeu é curado pela simples ordem de Jesus: pode ir, a sua fé o curou.
Interessante notar que os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) coincidem
essencialmente, mas não nos detalhes dos relatos. E isto é muito bom! Porque se
coincidissem em tudo, seriam apenas cópias uns dos outros, e seriam reduzidos a
um único relato evangélico. Mas, ao contrário, os detalhes revelam maneiras ligeiramente
diferentes de se contar os fatos verdadeiros, mas contados por pessoas que,
embora inspiradas por Deus, mantêm a sua individualidade, a sua humanidade e, por
isso, revelam detalhes um pouco diferentes uns dos outros, de acordo com a
tradição oral e, talvez, escrita, que lhes chegava aos ouvidos. Daí a riqueza
de relatos evangélicos que muito nos ensinam.
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Uilso Aragono. (Janeiro de
2020)
(CONTINUA NO PRÓXIMO BLOGUE)