sábado, 30 de março de 2024

TEMAS COMPLEXOS PARA CRISTÃOS CATÓLICOS - PARTE I

 

O texto abaixo trata de alguns temas complexos que podem interessar aos cristão católicos. Sem grande profundidade, são dadas algumas ideias básicas sobre cada tema tratado.

1.     CASTIDADE, CELIBATO E HOMOSSEXUALIDADE

 CASTIDADE:

            É um termo que significa “pureza”. Não é igual a virgindade. Virgindade significa o estado físico de um corpo que nunca teve relação sexual (completa). Já Castidade pode incluir a virgindade ou não. Os padres, por exemplo, e os não-casados devem manter a virgindade pois esta é um sinal de castidade (de pureza). Mas os casados, devem ser castos, embora não sendo mais virgens. A castidade dos casados está relacionada à fidelidade ao esposo, à esposa.

            Todos os cristãos devem cultivar tal virtude. Devemos ser puros nas intenções, nos pensamentos e nas ações. Só com a Graça de Deus se consegue essa virtude.

 CELIBATO:

            Significa um estado social de não-casamento. Os padres, na nossa Igreja Ocidental, devem ser celibatários. Isto significa: comprometem-se a viver o sacerdócio abrindo mão da possibilidade de casar-se. O celibato supõe a virgindade, uma vez que o sacerdote, especialmente, é chamado à castidade e à santidade. Não casando-se, ele deve manter-se virgem e casto. O Celibato não tem fundo teológico, mas pastoral: a Igreja, seguindo o exemplo de Cristo, e ouvindo suas palavras, “Há muitos que se fazem 'eunucos' por amor ao Reino de Deus”, propõe aos seus padres, na Igreja Ocidental, a vida “indivisa”, totalmente dedicada à família dos filhos de Deus. O padre abre mão de ter esposa e filhos e torna-se “esposo” da Igreja e “pai” da multidão de seus fiéis, de seus paroquianos.

 HOMOSSEXUALIDADE:

            Do ponto de vista da Igreja Católica, a homossexualidade é um desvio de comportamento que indica algum nível de desajuste nos processos educacional e de desenvolvimento da personalidade do indivíduo. “Os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados” e “são contrários à lei natural”, assim registra o Catecismo da Igreja Católica.[1] 2357 A pessoa homossexual fica como que “desorientada” em termos de sua sexualidade. Deve ser ajudada, desde os primeiros sintomas do desvio, a superar tal situação, que não é considerada “natural” para o ser humano.

            O “casamento” de pessoas homossexuais não é aceito pela Igreja, pois, diferentemente do casamento comumente entendido (heterossexual), não é frutífero e não pode ser proposto como um modelo para a sociedade (como é o casamento homem-mulher). No casamento normalmente aceito e vivido pela Sociedade, os pais podem gerar filhos, educá-los, amá-los e garantir um ambiente sexualmente equilibrado, com a presença do pai e da mãe, para o necessário desenvolvimento da personalidade e da sexualidade dos filhos. Já o dito “casamento homossexual” é, em si mesmo, infrutífero, já que não permite a geração de filhos. Ora, tal modelo não é natural pois, se fosse aceito pela humanidade, levaria ao fim da sociedade humana, justamente pela não-procriação inerentemente associada a ele. “Os atos de homossexualidade fecham o ato sexual ao dom da vida” e “não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira” [1] 2357

 2.     ABORTO, CÉLULAS-TRONCO

 ABORTO:

            O aborto é um verdadeiro crime! Pois embora a vítima possa estar escondida na barriga de sua mãe, e ter um tamanho de alguns milímetros ou centímetros, é um verdadeiro ser humano em potencial: se deixassem o embrião continuar a sua evolução (que só depende dele e da sua carga genética), ao final de apenas cinco (5) meses ele já estaria totalmente formado! Os 4 últimos meses são apenas necessários para o estágio final de amadurecimento da criança. A Igreja, e muitos cientistas, não têm dúvida: o momento da concepção (união do óvulo e do espermatozóide) marca o início da vida humana e o momento em que Deus cria a alma do novo ser humano, conforme acredita o cristão. Alguns cientistas, como o Dr. Drauzio Varella no programa Fantástico, da TV Globo), afirmam: “após quarenta (40) dias, a vida humana começa e existir...”, querendo fazer acreditar, de forma totalmente arbitrária e não-científica, que a vida só começa algum tempo depois da concepção... Alguns “cientistas” afirmam que é no décimo quarto (14º) dia, outros, que é com trinta (30) dias, e seguem outras afirmativas totalmente equivocadas, pois não há razão nenhuma para Deus criar a alma da pessoa na dependência de estar o cérebro ou o coração já formados ou com certo padrão de funcionamento... A verdade é uma só: abortar é assassinar um ser humano totalmente indefeso e anular a possibilidade de desabrochamento de toda uma vida humana única, original, irrepetível, inigualável: uma obra-prima de Deus! ([1], 2270-2274; [2], p.383-386)

 CÉLULAS-TRONCO:

            São células obtidas de um embrião, mas que podem, também, ser obtidas de outras partes do corpo humano, como do cordão umbilical. As diferenças existem, mas, potencialmente podem produzir os mesmos efeitos em termos de pesquisa científica. Por que usar o embrião, que é um ser humano em potencial? Embriões nunca deveriam ser produzidos, como têm sido, para obter gestações em mulheres com problemas de fertilidade! Com a vida humana não se deveria brincar! Produzir dois, três embriões para implantar apenas um é um comportamento não-ético, pois ignora que a vida humana, a alma humana, já esteja presente no embrião. A Lei que permite a utilização de embriões para fins científicos, embora com fins nobres, não é legítima, pois destrói a vida de um ser humano, mesmo que em potencial. O argumento de que os embriões estão congelados, e nunca serão implantados e, portanto, não poderão desenvolver-se como um ser humano completo, não se justifica, pois, ainda que minúsculos, são criaturas de Deus, têm uma alma, e se estão na situação de embriões congelados, já é uma situação que pecou contra a ética, contra a dignidade do ser humano, contra a vida sagrada, e que é dom de Deus! ([1], 2275-2295; [2], p.383-386)       

 3.     DROGAS, VÍCIOS, TATUAGEM, CULTO AO CORPO

 DROGAS:

            As drogas são tudo aquilo que pode causar dependência com o seu uso regular. O álcool e o fumo, e alguns remédios, embora legais, de uso autorizado, não deixam de ser drogas. Mas o termo é especialmente utilizado para indicar substâncias como a maconha, a cocaína, o craque, o ecstasy, dentre outras. Tais drogas são consideradas ilegais e têm efeitos comprovadamente viciantes e altamente destrutivos para o corpo humano. E, por isto mesmo, são utilizadas de forma criminosa para obtenção de lucros ilícitos. Os jovens, especialmente, são vítimas das drogas, também, como fruto da desestruturação familiar do mundo de hoje. Com a educação familiar em crise e com menor influência na educação dos filhos, os pais acabam falhando na formação da personalidade dos filhos, que ficam mais expostos às influências, nem sempre saudáveis, do mundo: na rua, na escola, na televisão, no cinema, na Internet... Para proteger os filhos contra a atração das drogas, a Sociedade deveria investir maciçamente na educação básica de qualidade para todos, inclusive na dimensão religiosa, e no apoio à família estruturada. Pois a melhor proteção contra os descaminhos da vida sob a influência das drogas é o caminho do afeto familiar, da religião bem vivida, dos amigos bem cultivados e de uma educação universalmente eficaz! ([1], 2291)

 VÍCIOS:

            O contrário da virtude é o vício. Desenvolver virtudes, isto é, boas qualidades da personalidade, é um desafio que deve fazer parte da vida de toda pessoa humana. Pois são as virtudes, e não os vícios, que contribuem efetivamente para o bem comum. Vícios são desvios da personalidade, que, por não ter tido condições adequadas para o seu bom desenvolvimento – falhas educacionais –, enveredou por hábitos e costumes que não ajudam a colocar a pessoa no caminho da felicidade. Tais vícios são caracterizados, em geral, por um desequilíbrio no investimento do tempo e dos recursos da pessoa. Ela dedica, por exemplo, muito tempo à navegação na Internet (MSN, Orkut, jogos on-line, etc), ou a falar ao telefone com os amigos, ou aos bares da vida, ou à televisão, ou à assistência de filmes, ou à escuta de som... Tais hábitos acabam tornando-se vícios comportamentais e criam muitos problemas para a pessoa,  que perde o controle da sua própria vida, tem o seu poder de decisão afetado, ficando dependente dos vícios que foram cultivados por ela a partir do momento em que passou a dedicar tempo excessivo a tais ocupações. Este desequilíbrio pode vir a comprometer totalmente a vida futura, em todos os seus aspectos. ([1], 2290:  temperança.)

 TATUAGEM;

            A marcação do corpo por meio de figuras pintadas e de forma definitiva é muito parecida com a mutilação do corpo. Pois nesta, que pode acontecer por acidente ou por questões culturais, arranca-se parte de ou altera-se profundamente o corpo humano. Ora, tal corpo é um dom da Natureza, ou, para nós, cristãos, um dom maravilhoso dado por Deus para nosso benefício e da Sociedade. Do ponto de vista ético, não temos o direito de alterar essa “máquina”, tão bem feita e tão bem adaptada ao meio em que vivemos, por mera questão de capricho ou vaidade. A tatuagem marca definitivamente o corpo com símbolos que têm significados! Quais são estes? Significam uma filosofia de vida? Um compromisso? Se for para Deus, ainda se poderia aceitar. Mas para quem? Ou para quê?... A tatuagem, se não for muito bem pensada, ponderada, levando-se em conta que é para toda a vida, pode acarretar muito sofrimento moral depois que a pessoa se arrepende de tal decisão, tomada, às vezes, sem muita reflexão ou sem muita maturidade.

 CULTO AO CORPO:

            É a exagerada valorização do aspecto físico, do corpo humano, que leva a pessoa a dedicar tempo e recursos ao seu embelezamento, seja por ginástica, seja por operação plástica. Traduz um desequilíbrio de personalidade que se baseia numa vaidade desregrada, como se a beleza exterior fosse decisiva para a felicidade do ser humano. Ora, conforme um velho ditado popular, “beleza não põe mesa”, isto é: a beleza não é fundamental nem mesmo para um bom casamento, quanto mais para garantir a felicidade. Há beleza muito mais fundamental que deve ser cultivada: a beleza de um interior formado por valores tais como a simpatia, a fé, o amor a Deus e aos irmãos e a busca sincera da Verdade! É claro que o cuidado normal do corpo, a preocupação com sua saúde é um direito e um dever de todo ser humano, na medida em que o corpo é presente de Deus e deve, como forma de gratidão, ser cuidado e até amado, mas sem exagero, sem endeusamento, sem uma vaidade desequilibrada. O amor, o respeito e o cuidado do próprio corpo constituem um exercício saudável para que o ser humano se torne igualmente um cuidador, um zelador do corpo do seu próximo ([1], 2289)

 4.     SEITAS, ESPIRITISMO, REENCARNAÇÃO, HORÓSCOPO

 SEITAS:

            São “grupos religiosos” iniciados por pessoas ou grupos não ligados a qualquer denominação protestante (ou evangélica) e caracterizados por absoluto autoritarismo do líder e por total submissão do membro da seita. A Maranata é um exemplo de seita: fundada por uma pessoa que se diz iluminada, moradora de uma cidade do Brasil. Essas seitas distinguem-se das igrejas evangélicas tradicionais pelo fato de serem derivadas, oriundas, de outras igrejas protestantes anteriores, a partir de descontentamentos de uma parte de seus membros. Mas esse processo de surgimento de novas igreja evangélicas ocorreu desde o início da chamada Reforma Protestante, ocorrida em 1517, quando Martinho Lutero iniciou um cisma (ruptura) na Igreja Católica, fundando a igreja Luterana. Desta, por desdobramentos, vieram as igrejas Calvinista (presbiterianos), Anglicana, Zwingliana, Batista, Metodista, etc. (não, necessariamente, nessa ordem). A seita do Reverendo Moon é outro exemplo, mas de seita não-cristã, antiga e ainda atuante no mundo, tendo provocado o sofrimento de muitas famílias pela atração e lavagem cerebral realizadas sobre indivíduos dessas famílias que acabam abandonando-as.

 ESPIRITISMO:

            Movimento iniciado nos Estados Unidos, a partir de fenômenos atribuídos a “espíritos” de pessoas mortas – hoje já declarados como de origem fraudulenta, pelas próprias irmãs que os divulgaram! Trata-se da crença na manifestação dos espíritos de pessoas mortas e na reencarnação de tais espíritos ditos “desencarnados” (isto é, mortos). O espiritismo foi “codificado”, isto é, descrito como um corpo teórico de doutrinas por Alan Kardec, um francês que se interessou pelos fenômenos (fraudulentos) divulgados a partir dos Estados Unidos. É uma doutrina confusa, pois apregoa a contínua reencarnação dos espíritos (ou das almas) sob o argumento básico de que não haveria justiça divina diante do nascimento de pessoas com deficiências físicas ou mentais, ou submetidas a grandes sofrimentos morais, a não ser que estejam pagando por “pecados” cometidos em vidas anteriores. Este argumento é totalmente falho por alguns motivos: 1) Há animais que também nascem com deficiências – estarão eles pagando por “pecados” cometidos em vidas anteriores?... 2) Não haveria justiça, na verdade, justamente no fato de uma pessoa estar pagando pecados de uma vida anterior da qual não tem qualquer lembrança! Ora, quem aceita ser castigado por um erro que não cometeu, sem se sentir tremendamente injustiçado?... 3) Teriam sido os primeiros seres humanos perfeitos e com uma vida sem sofrimentos morais? Pois eles não teriam tido “vidas anteriores” e, portanto, não poderiam estar pagando qualquer pecado... E assim, todas as demais almas criadas por Deus seriam seres humanos perfeitos e sem sofrimentos, e não teriam de pagar nada. Seguindo este raciocínio, nunca haveria qualquer necessidade de “reencarnação”... Mas qualquer um sabe que o ser humano é, por sua natureza, imperfeito e sujeito a todo o tipo de sofrimento. 4) Finalmente, a crença na reencarnação anula, por completo, os méritos do Sacrifício de Cristo, que morreu na Cruz para a remissão de nossos pecados... Se as pessoas, por meio de reencarnações sucessivas, podem alcançar a santidade, não há nenhuma necessidade da Salvação de Cristo.

 HORÓSCOPO:

            Acreditar em horóscopo é aceitar o fato de que os objetos materiais (planetas e outros astros) têm influência marcante sobre a vida e o futuro das pessoas. Ora, tal crença é antiquíssima e baseia-se em interpretação totalmente não-científica de fenômenos naturais ocorridos na Terra e suas relações com as órbitas e posições de planetas e estrelas. A Astronomia, verdadeira ciência, já constatou que, devido a um fenômeno hoje comprovado, denominado de precessão dos equinócios (lenta oscilação do eixo da terra), a posição das constelações que deram nome ao Zodíaco (12 famosas constelações) é hoje muito diferente daquela em que estavam há cerca de 3000 anos. Isto significa que a pessoa que hoje acredita ter nascido sob um determinado signo, nasceu, na verdade, sob outro... Que consequências teriam tal fato sobre as previsões astrológicas?... Elas seriam totalmente erradas!...

Referências:

[1] Catecismo da Igreja Católica. Edição típica vaticana, São Paulo, Loyola, 2000.

[2] MOSER, Antônio. Biotecnologia e Bioética: para onde vamos? Petrópolis, Vozes, 2004.

UILSO ARAGONO (Março de 2024)



quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

FAMÍLIA – CONVIVÊNCIA ENTRE PAIS E FILHOS

 Há certa classe de pessoas ou funções que são irreconciliáveis... Senão, vejamos: juiz de futebol e torcida; professor e alunos; genro e sogra; fazendeiro e posseiro... E pais e filhos! A solução nesses casos todos é uma só: respeito mútuo! E, para os cristãos, respeito baseado na fé e na oração. Para alcançar-se esse objetivo, no entanto, algumas reflexões e dicas são dadas a seguir.

 1. Conhecer a situação de cada parte

1.1 Os pais

            Os pais são aqueles que têm a responsabilidade e o desafio de gerar, educar e apoiar os filhos que lhe são concedidos pela natureza e pela graça de Deus.

    Acham que já têm a competência para exercer essa responsabilidade e enfrentar esse desafio! No entanto, a realidade é bem outra...

          As ansiedades próprias dos pais estão relacionadas, justamente, ao atingimento desses objetivos. Serão eles capazes?

1.2 Os filhos

           Os filhos são aqueles que, ao nascerem, dependem, totalmente dos pais, mas que, com o tempo e o crescimento físico, mental e espiritual, vão se tornando mais autônomos e, portanto, questionadores da autoridade dos pais sobre eles.

      Acham que, com a chegada, especialmente, da adolescência, podem autonomear-se “independentes” dos pais, considerando-se, então, quase adultos.

         As ansiedades próprias dos filhos relacionam-se ao fato de que eles, embora acreditem já estarem em condições de plena emancipação, veem seu presente e futuro como algo sombrio, ameaçador, o que lhes causa muito desconforto e os leva a buscar soluções junto aos seus “pares” e, nem sempre, juntos a seus “pais”.

2. Entender a “visão” de cada parte

2.1 Os pais

    Os pais veem os filhos como pessoas inocentes e expostas a um mundo ameaçador, perigoso, e assustador...

2.2 Os filhos

    Já os filhos veem os pais como gente maliciosa, que não é capaz de entender nem a cabeça nem o mundo dos filhos, que, para estes é excitante e animador...

3. Reconhecer outras diferenças

            A idade e a experiência dos pais devem ser vistas pelos filhos (mais jovens) como algo que merece ser valorizado e respeitado; algo que eles – os filhos – poderão, um dia, também reivindicar junto a seus próprios filhos.

            O conhecimento, adquirido pelos pais ao longo do tempo, por meio de muito esforço, dedicação e, às vezes, custos de tempo e dinheiro, é algo que, também, merece ser valorizado pelos filhos, que ainda não puderam adquirir esse patrimônio intelectual, moral, religioso e profissional.

            A animação e a energia dos filhos, que os leva a dedicar-se a esportes, estudos, amizades, viagens etc., e que os coloca, ao mesmo tempo, diante de perigos e riscos à sua saúde física, mental e espiritual.

            Os modelos comportamentais de pais e filhos, que são muito distintos e devem ser levados em conta nos desafios da boa convivência: temperamentos, talentos e limitações pessoais.

4.  O que há em comum entre os diferentes

            Certamente, o amor que une pais e filhos é algo que há em comum entre eles e deve ser usado a favor do bom relacionamento pais-filhos. O amor cristão, particularmente, é aquele que está associado às práticas da oração, do perdão, do acolhimento, da compreensão e da busca da santidade.

            Há também a dependência, ou melhor, a “interdependência” que envolve pais e filhos. Não somente os filhos dependem dos pais, mas estes, por outro lado, dependem dos filhos para sua realização, sua felicidade e para sua tranquilidade. Como diz um velho ditado popular: “Filho criado é trabalho dobrado” ...

5. Solução para o entendimento mútuo

            A compreensão é a primeira dimensão para o entendimento mútuo, pais-filhos. Compreender que ninguém é melhor do que o outro, mas que são todos muito diferentes, mesmo entre os filhos de um mesmo casal! Compreender que “cada um é um”, embora convivendo em uma mesma comunidade familiar de valores bem conhecidos. Compreender que cada um dos filhos absorverá esses valores conforme a sua própria cabeça e o seu próprio coração. Compreender que os pais têm uma responsabilidade grande diante dos filhos, da sociedade e de Deus.

            O respeito mútuo é o maior desafio entre pais e filhos. Para os pais, respeitar é aceitar que o outro seja, de fato, “um outro”, e não uma extensão de seu corpo ou de sua mente ou de seu espírito. Para os filhos, respeitar é aceitar o fato de que os pais não são seus “pares”, isto é, seus coleguinhas, mas têm grande responsabilidade sobre eles. Respeitar, enfim, é uma importante dimensão do “amor cristão”, que nos leva a valorizar o outro, que, como nós, é uma pessoa que merece toda a compreensão e todo o respeito de nossa parte.

6. Dicas práticas para exercer o respeito

            Consideração: praticar a consideração em relação ao outro (pais ou filhos ou irmãos), entendendo que a “consideração” é levar em conta a existência do outro em minha vida, em minha comunidade familiar. Dizer, então, para onde se vai, quando se pretende voltar, com quem se vai etc. é um importante exemplo da prática da consideração, que muito ajuda na convivência familiar.

            Diálogo: praticar o diálogo não deve ser confundido com dizer “todas as verdades” ao outro; mas colocar diante do outro sua vida, suas ansiedades, seus projetos: é falar com amor, com desejo de construir o outro.

            Amizades comuns: pais e filhos podem e devem ter amizades comuns! Os pais dos amigos dos filhos, por exemplo. Essas amizades ajudarão a estabelecer relacionamentos saudáveis envolvendo pais e filhos.

            Cooperação: pais e filhos devem dar-se as mãos nas tarefas da casa, nos desafios familiares. Praticar a cooperação nas dimensões das compras, da limpeza e da ordem da casa, nos estudos etc.

            Oração em comum: finalmente, mas não menos importante, vem a oração em comum, envolvendo todos os membros da família. Os pais não deveriam obrigar – com força bruta! –, por exemplo, que os filhos os acompanhem à Missa ou a um culto religioso; mas deveriam, sim, convidar sempre, e até com insistência, seus filhos a os acompanharem. E os filhos, por seu lado, não deveriam deixar de acompanhar os pais – mesmo que nem sempre o façam – a essas funções religiosas, que eles tanto valorizam. E, de preferência, que os pais – o marido e a mulher – estejam de acordo com essa prática de participação em assembleias religiosas, para que possam ter mais força diante dos filhos.

Conclusão

Pais e filhos, embora bem diferentes entre si, têm a base do amor e da interdependência para alcançarem o bom relacionamento familiar, que pode ser incrementado se os dois lados procurarem, sinceramente, a convivência baseada na compreensão e no respeito, e suportados pela fé, pela oração e pela prática religiosa.

Uilso Aragono. (fev. de 2024)

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

INTERRUPTOR DR DESLIGANDO CONTINUAMENTE

 

Diante do problema de desligamento contínuo do Interruptor DR de uma instalação elétrica residencial, o que fazer? Como identificar a causa desse problema, que impede que a residência fique energizada? O método abaixo é eficaz para tal identificação.

1. O QUE É UM INTERRUPTOR DR

               Um interruptor DR (existe também a versão Disjuntor DR) é um dispositivo de proteção contra excesso de correntes de fuga, visando à segurança da instalação elétrica e, ao mesmo tempo, à proteção contra choque elétrico em seres humanos e animais. Pode ser do tipo monopolar (fase-neutro) ou tetra-polar (fase-fase-fase-neutro), servindo esse último para circuitos alimentados por duas ou três fases na entrada da instalação.

               Seu funcionamento se baseia na identificação de correntes de fuga, isto é, correntes muito baixas (alguns miliamperes = milésimos de ampere) que escapam dos fios energizados, por falhas na sua isolação, e dos pontos de conexão (emendas) circulando, portanto, de fios energizados (fios fase) para a terra (sistema aterrado, com presença do fio “verde” de aterramento).

               Como exemplo, seja um circuito fase-neutro (dois fios) que alimenta um certo aparelho elétrico. A corrente, uma vez o aparelho ligado e em situação normal, circulará da fase para o neutro atravessando a circuitaria interna do aparelho. O DR monitora tal corrente e verifica se a corrente de retorno (pelo neutro, isolado do fio de aterramento) é igual àquela que passou pela fase em direção ao aparelho. Normalmente, haverá uma diferença mínima (de alguns miliamperes ou menos) entre a corrente de ida (pela fase) e a corrente de retorno (pelo neutro), que estará circulando, essencialmente, da circuitaria para o aterramento, caracterizando uma corrente de fuga de valor normal e aceitável. Se, no entanto, essa corrente de fuga, por motivos ligados, por exemplo, a algum defeito na isolação do aparelho (talvez associado ao fato de ser um aparelho antigo), poderá ser de valor elevado o suficiente para provocar a atuação (desligamento) do interruptor DR (este suporta, como valores aceitáveis, até cerca de 15 miliamperes de corrente de fuga).

               Importantíssimo lembrar aqui que na situação de um possível contato da mão de uma pessoa com o fio fase (energizado) da instalação, circulará uma corrente de choque elétrico (considerada de fuga) para a terra, que, normalmente será maior do que o limite aceitável pelo DR, provocando o seu desligamento e preservando a vida da pessoa. Portanto, o DR é, nos sistemas elétricos aterrados, o melhor meio de proteção contra choques elétricos e preservação da vida humana ou animal.

2. DR COLOCADO NA ENTRADA DO QUADRO DE DISTRIBUIÇÃO

               A análise em foco referir-se-á a uma instalação elétrica residencial em que o interruptor (ou o disjuntor) esteja colocado na entrada do Quadro de Distribuição (interruptor geral), protegendo todos os circuitos da residência.

Na hipótese de que o DR desligue a instalação e, ao ser ligado novamente, continue a desligar imediatamente, impedindo que a instalação seja energizada, há que se seguir os procedimentos do método a seguir descrito. Constata-se, inicialmente, que há excesso de corrente de fuga na instalação, devendo o método levar a identificar a causa do problema (corrente de fuga muito elevada, causando a atuação do DR).

3. MÉTODO PARA IDENTIFICAÇÃO DA ORIGEM DA CORRENTE DE FUGA

               3.1. Desligar todas as cargas (aparelhos) das tomadas

               Inicialmente, devem ser desligadas (desconectadas da tomada) todas as cargas da instalação, isto é, todos os aparelhos que possam ser desligados: aparelhos condicionadores de ar do tipo janela, computadores, TVs etc. No entanto, o chuveiro, que é ligado diretamente à sua caixa de ligação, deveria ser desligado como primeiro (desconectá-lo da caixa de ligação) e testado para ver se o problema estará resolvido, visto que os chuveiros são, em geral, fontes de correntes de fuga significativas. Continuando o DR a desligar o circuito apesar de esse estar sem o chuveiro (inicialmente) e, em seguida, “em vazio”, isto é, sem qualquer carga em suas tomadas, deve-se passar ao procedimento seguinte.

               3.2. Desligar todos os disjuntores dos circuitos da instalação

               Neste segundo procedimento, todos os disjuntores devem ser desligados (tecla de ligação para baixo). Ao se realizar o teste de tentar religar o interruptor geral (DR), e esse continuar caindo, não permitindo a religação da instalação, então, provavelmente, o próprio DR estará com defeito, devendo ser trocado.

               No entanto, se o DR aceitar a religação da instalação, deve-se passar ao procedimento seguinte, pois o dispositivo DR não estará com defeito, devendo seguir-se com os testes.

               3.3. Religar, um por um, os disjuntores da instalação

               Agora, com o DR ligado, cada disjuntor da instalação deverá ser ligado, um por vez. Deve-se dar um tempo de cerca de 20 segundos para que todas as correntes de fuga relativas ao carregamento de capacitâncias parasitas da fiação sejam estabilizadas (atinjam o seu máximo). Se o primeiro disjuntor passou no teste, não provocando o desligamento do DR, passa-se, então, ao disjuntor seguinte. No entanto, se o DR, durante esse tempo de 20 segundos, cair, esse circuito, provavelmente estará sendo o causador da corrente de fuga elevada e causando o desligamento do DR. Tal circuito deverá ser objeto, então, de verificação para a identificação de possível descascamento de fiação, conexão mal isolada ou qualquer outra imperfeição que o eletricista possa identificar, o que será a provável fonte de elevada corrente de fuga da instalação. É aqui que se verifica a função do DR como “vigilante” da boa qualidade da instalação: se houver tais imperfeições, o DR desligará a instalação para protegê-la, visto que, tais correntes de fuga, permanecendo na instalação por muito tempo, podem levar a uma grande deterioração da fiação e provocar algum tipo de aquecimento indevido e, até mesmo, um princípio de incêndio.

               Após ter sido ligado o primeiro disjuntor, e tendo passado no teste, desliga-se esse e liga-se o próximo, repetindo-se o teste nesse último.

               3.4. Religar, um por um, os aparelhos da instalação

               Se todos os circuitos da instalação passaram no teste, não provocando o desligamento do DR, devem ser testados, agora, cada aparelho da instalação: cada um por sua vez, deve ser religado à tomada. Deixando-se passar, pelo menos, os 20 segundos do carregamento das capacitâncias parasitas do aparelho, e o DR não desligando, esse aparelho terá passado no teste. Todos os aparelhos, em sequência, um por um, devem ser adicionados ao teste, não havendo necessidade de desconectar o último aparelho testado, pois a corrente de fuga a ser acumulada não deverá fazer o DR atuar, a não ser que o aparelho sob teste, recém ligado, tenha, de fato, uma elevada corrente de fuga.

               Normalmente, pelo menos um desses aparelhos (talvez o mais antigo) não seja aprovado no teste, provocando o desligamento do DR, o que o elegerá a ser o causador da elevada corrente de fuga e do desligamento contínuo do DR. Desconectando-o da tomada, o DR deverá manter-se ligado, permitindo a continuidade do teste até o último aparelho a ser conectado.

Tendo-se concluído o teste, aqueles aparelhos que provocaram o desligamento do DR devem ser trocados por um novo ou levados à manutenção elétrica.

CONCLUSÃO

Como visto acima, o método é uma aplicação lógica e simples de um sequenciamento de ligação-desligamento de circuitos e aparelhos da instalação, com vistas a identificar a principal origem (ou principais) da corrente de fuga que está fazendo atuar o dispositivo DR. Inevitavelmente, se o DR em si não estiver com defeito, aparecerá claramente o circuito ou o aparelho causador de tal problema, pois nesse momento – da ligação (conexão) do circuito ou do aparelho – o DR desligará a instalação. A eliminação momentânea do circuito causador da corrente de fuga, ou do aparelho, permitirá que o DR não se desligue, sustentando a instalação.

Uilso Aragono. (jan. de 2024)

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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