quinta-feira, 30 de maio de 2013

MUNDO DE ILUSÕES (Segunda Parte)

São tantas as ilusões que permeiam a vida humana em sociedade que um só artigo não é suficiente! Nesta segunda parte outras considerações são feitas para mostrar outras tantas ilusões e mentiras que se propagam por toda a parte como sendo verdades inquestionáveis...

Partidos de mentira

Recentemente o Ministro Joaquim Barbosa, num debate em meio universitário, criticou o Congresso Nacional – como estando, quase sempre, a reboque do poder Executivo –, e os partidos políticos – como sendo “de mentirinha”. Particularmente, ao criticar o sistema partidário brasileiro e a cultura política brasileira (e não somente os partidos) o Ministro tenta, exatamente, chamar a atenção dos universitários para a necessidade de se ter uma visão crítica e cuidadosa de tudo aquilo que envolve a sociedade e que não é o que parece ser ou o que se propõe como verdade. Ao designar os partidos brasileiros de “partidos de mentirinha” o Ministro desmascara uma das quase incontáveis ilusões que fazem parte da vida dos brasileiros. Recebeu críticas de toda parte como se estivesse falando algo absurdo, quando, ao  contrário, estava falando, nada mais nada menos do que a mais pura verdade. E coincide, felizmente, com aquilo que grande parte da população brasileira, mais atenta e mais crítica, também crê.  Partidos que não convencem, Congresso que não se afirma como poder independente: verdades contra as ilusões. Parabéns ao Sr. Ministro Joaquim Barbosa por mais esta contribuição ao povo brasileiro!

O professor não tem o poder de ensinar

Outra ilusão largamente propagada como verdade absoluta é aquela ligada a um suposto “poder” de ensinar que teria o professor. Embora já tenha discutido sobre esta questão em outro artigo neste blogue (“Ensino ou aprendizagem?”, fev. de 2013) vale a pena, neste artigo, destacar este aspecto como sendo mais uma das ilusões aceitas, sem maiores questionamentos, pela sociedade, de modo geral. Se o professor tivesse o poder de ensinar a seus alunos, e supondo turmas razoavelmente homogêneas, todos os alunos seriam aprovados na sua disciplina (ou unidade curricular, para usar um termo mais moderno).

 Como professor universitário que sou, tenho esta experiência: diante das mesmas aulas e diante do mesmo professor, e supondo garantida a presença mínima, cada aluno responde de uma forma peculiar, não dependente de quais recursos metodológicos sejam usados. E alguns passam com boas notas, enquanto outros chegam a ficar reprovados. Na área pedagógica costuma-se usar a expressão “ensino-aprendizagem”, como a se reconhecer que o “ensino” está intimamente ligado à aprendizagem. Mas é uma meia-verdade. A verdade inteira é que o ensino é apenas um termo vazio ao qual foi dado conteúdo e associado ao professor, para designar de forma mais simples sua função ou sua missão. Prega-se, então, que ao professor cabe ensinar, quando, na realidade, quem tem o poder é o aluno: é ele quem tem o verdadeiro poder de aprender. E se esta verdade fosse divulgada, e se os professores a vivessem, a aprendizagem dos alunos, em todos os níveis, seria muito mais efetiva. Ao professor, cabe, na realidade, a missão complexa e nobilíssima de ser um orientador (plano de curso), um tira-dúvidas, um avaliador, um incentivador, enfim, uma referência para o aluno. Ensino é ilusão; aprendizagem é real!

O inglês não é língua internacional

Ilusão das mais deletérias e financeiramente prejudiciais é a crença de que falar inglês – a (suposta) língua internacional – é culturalmente necessário, importante para a carreira e, graças a métodos dos mais eficazes, acessível a qualquer pessoa. Crença apoiada já há décadas pelo Governo federal, e plenamente aceita pela sociedade brasileira (bem como a de outros países, igualmente iludidos), constitui-se numa mentira deslavada e que tem como beneficiários, unicamente, os povos anglófonos: Inglaterra e Estados Unidos, em especial. Para começar, o inglês não é único, mas são muitos idiomas “ingleses” no mundo, e das línguas mais difíceis de serem aprendidas. Deveria ser ilustrativo o fato de que o Brasil, apesar de impor o ensino de inglês a suas crianças, nos níveis de ensino fundamental e médio, já há, pelo menos, quatro décadas, não tenha formado brasileiros falantes de inglês. O ensino de inglês nesses níveis é – constata-se facilmente na prática – absolutamente inútil! Qualquer estudante que queira aprender inglês, de fato, e raramente superando o nível básico, terá, necessariamente, de entrar, e pagar caro, em um curso particular de língua inglesa.  

As perguntas finais são: quem ganha com tal ilusão? Por que os americanos e os ingleses, em contrapartida pelo fato de o Brasil estar estudando a língua deles, oficialmente, em todas as escolas, não obriga, também, a seus alunos a aprenderem o português? Por que o Governo não avalia, após tantos anos de tentativa, o nível de eficácia do ensino de inglês no sistema de ensino brasileiro e, concluindo que para nada serve, não o cancela? Que espírito de submissão infantil é este que leva toda uma sociedade a cultuar e a louvar uma língua estrangeira, verdadeiramente inacessível para o comum dos mortais, e a gastar tanto tempo e dinheiro na ilusão de sua aprendizagem?

Finalmente, língua internacional, de fato, é a língua já com falantes em cerca de 120 países no mundo e que, de fato, reúne as características para ser uma língua franca, uma língua para as relações internacionais, uma língua para ser como que a segunda língua de todo povo: é a língua internacional de nome Esperanto. Lançada em 1887, já há 126 anos, é hoje uma língua viva, com cultura internacional, já testada e aprovada por todos aqueles que a adotaram como língua ponte, ou língua auxiliar, para as comunicações internacionais. Língua planejada para ser internacional, apresenta características de facilidades gramatical e fonética, além de economia de memória do aprendiz e rapidez de aprendizagem efetiva.  Com congressos regionais e um universal a cada ano, o Esperanto é usado em músicas, livros, filmes, sítios da internet, além de publicações em quase todas as áreas de interesse social. Esta é uma língua que vale a pena ser aprendida e que, de fato, até idosos a aprendem com eficácia. Isto acontece com o inglês ou com outras línguas nacionais?

Conclusão
São tantas as ilusões e mentiras espalhadas na sociedade, como sendo verdades indiscutíveis, que precisamos, todos os que são capazes de identificá-las, lutar para que a “luz da verdade brilhe nas trevas das ilusões”. Como já disse o Mestre dos mestres, Jesus, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. A luta de todos, nesse sentido, de denunciar as mentiras e ilusões, como fez nosso Ministro Joaquim Barbosa, é uma tarefa necessária, nobre e urgente e para a qual todos deveriam considerar-se convocados.

Uilso Aragono (maio de 2013)

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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