sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Celebração de Natal - 2010

NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO - 2010

GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS E PAZ NA TERRA AOS HOMENS POR ELE AMADOS!

Natal é tempo de reviver o significado mais profundo da PAZ!... Pois quem nasce é o Príncipe da Paz, que disse: “Eu vou dou a minha PAZ, eu vos deixo a minha PAZ...”

Ele ainda esclarece que sua PAZ não é como a paz do mundo. Em que consiste, então, a PAZ de Jesus? O que é a paz que o mundo dá?... É o tema de nossa reflexão desta noite de Natal.

(1) ________: A paz do mundo, a paz entre as pessoas, é um momento em que as armas são baixadas, e os ataques mútuos são suspensos. É muitas vezes, nada mais que isso: um armistício...

(2) ________: A PAZ do Senhor Jesus já é outra coisa bem diferente: é presença de AMOR, expressa no sorriso sincero, no desejo de bem e felicidade para o outro, no desejo de servir, mais do que ser servido!

TODOS – O mundo precisa da PAZ VERDADEIRA!

(3) ________: No mundo, estamos em paz quando vivemos e deixamos viver; quando não atrapalhamos a vida dos que nos cercam, seja na familia, no trabalho, no condomínio residencial e em todo e qualquer relacionamento humano.

(4) ________: Mas Jesus nos ensina que a sua PAZ é fruto do desejo sincero e profundo de “dar vida” ao outro. A PAZ de Jesus cura os corações, pelo perdão oferecido; consola a solidão, pela amizade sincera e desinteressada; afasta a depressão pela felicidade compartilhada!

TODOS – Nós precisamos da PAZ DE JESUS!

(5) ________: Deixar alguém em paz, neste mundo, é abandoná-la à própria sorte! É deixá-la sozinha, com seus problemas, com seus dramas pessoais e familiares. É não se intrometer em sua vida! Esta é a paz que o mundo dá e quer: cada um no seu quadrado!...

(6) ________: A PAZ de Jesus nos é dada, nos é renovada, sempre que ouvimos sua Palavra, que não está só na Bíblia, mas é viva e está sempre sendo pronunciada pelos corações de pessoas que se deixam AMAR por Ele, por pessoas de boa vontade, por pessoas que vivem sua PAZ: esta PAZ é solidária, é comunitária, é inclusiva, é participativa, é criadora de mais PAZ...

TODOS – Precisamos viver a PAZ, ouvir a PAZ, distribuir a PAZ do Senhor!

(7) ________: Quando as pessoas não estão brigando, acham que estão em paz. Assim é a paz do mundo: uma paz negativa; uma paz não-guerra; uma paz não-briga; uma paz não-discussão; uma paz não-maiúscula!

(8) ________: A verdadeira PAZ, com letras maiúculas, é a PAZ positiva, é a PAZ pró-ativa, é a PAZ fruto de decisão por vidas felizes. É a PAZ que vem do alto. É a PAZ resultado da GRAÇA e do ESFORÇO, da bênção e da decisão, do AMOR de Deus e do coração do homem.

TODOS – Precisamos DECIDIR pela PAZ, buscar a PAZ, multiplicar a PAZ!

(9) ________: Cabe então, a cada um de nós, DECIDIR pela PAZ verdadeira, pela PAZ que vem de Jesus, pela PAZ que é o próprio JESUS, pela PAZ que é LUZ para o mundo, pela PAZ que ilumina o mundo: o meu mundo, o nosso mundo, as nossas relações, que devem tornar-se, a cada dia, relações mais pacíficas e pacificadoras, mais cheias de PAZ e multiplicadoras de PAZ, por um mundo mais feliz e abençoado.

FELIZ NATAL!... PAZ E BEM!...

TODOS – E QUE A PAZ VERDADEIRA, DE JESUS, INVADA O ANO NOVO!

domingo, 31 de outubro de 2010

Porque votei em Dilma

Embora o voto seja considerado secreto, nada impede que se divulgue o próprio voto. Todos os que se empenham na defesa de um determinado candidato o fazem explicitamente. Muitos colocam em seus carros adesivos do seu candidato, usam camisetas da campanha, tentam convencer parentes e amigos, e até sobem em palanques. Não pertenço a esses grupos, mas declaro, agora, revisando este texto, em 2016, minha frustração por ter votado em Dilma: fui enganado politicamente!...

Minha opção política, em harmonia com minha consciência política, tem sido tomada em função da defesa da democracia e dos direitos sociais da maioria da população, em particular da população mais pobre e menos favorecida socialmente: educação, emprego, salário mínimo digno, saúde, e transporte, basicamente.

Em relação aos três últimos presidentes, minha experiência identifica enorme frustração geral se forem citados os Fernandos (Collor e Henrique Cardoso), enquanto percebia sinceridade e clara sensibilidade social no caso do presidente Lula.

Fernando Collor deixou a desejar pelas promessas ligadas à sua juventude e pelo fato de ser um político menos tradicional, tendo, no entanto, naufragado por características, segundo minha avaliação, de imaturidade e certa desonestidade.

Fernando Henrique frustrou a nação pela promessa, embutida em toda a sua formação intelectual e cultural e pelo fato de ser um sociólogo, quando não conseguiu melhorar o salário mínimo e nem valorizar as universidades e a educação, em geral, como poderia e deveria: fez muito pouco em função de toda a sua propalada “capacidade” intelectual e política. As greves dos professores nas universidades ­– justamente ele, um ex-professor universitário! – proliferaram e transtornaram a vida das comunidades universitárias, durante anos, e não tiveram dele o tratamento que poderia e deveria dar em função de toda a sua esperada competência como sociólogo, ex-professor e político respeitado.

O presidente Lula, tão criticado por sua baixa escolaridade – especialmente se comparado aos dois últimos presidentes! – apresentou, no entanto, uma grande sensibilidade social, conseguindo resgatar o valor do salário-mínimo (que passou de cerca de US$ 70,00, no período de Fernando Henrique, para US$ 270,00, no final de seu governo), acabar com as greves de professores nas universidades – trazendo paz para os ‘campi’ universitários! – aperfeiçoar os tímidos e pouco eficazes programas sociais anteriores, aumentar enormemente o número de empregos, com carteira assinada, e retirar da pobreza, efetivamente, milhões de brasileiros, dentre muitas outras ações sociais surgidas ou aperfeiçoadas em seu governo: o PROUNI e as cotas sociais (ou até raciais) das universidades, em particular. Estes aspectos de resgate da sociedade brasileira vieram ao encontro de minhas expectativas, bem como ao de milhões de outros brasileiros, como podem demonstrar os elevadíssimos índices de popularidade do Pres. Lula (83% de aprovação em outubro/2010).

Mas razões, justificadas, para críticas ao Pres. Lula existem. O fato de ele falar demais, em seus pronunciamentos, o expõe a falar o que não deve, ou de forma precipitada, dando aos seus adversários, para além das críticas ao seu português ruim, motivos de críticas reais. Alguns de seus principais assessores foram pegos em tramoias, foram investigados e perderam o cargo. O Mensalão, negado por ele, num momento, reconhecido por ele, em outro momento (quanto diz que foi “traído” pelos seus companheiros...), está depondo, muito negativamente, contra o presidente Lula.

Ao escolher o nome de uma mulher, ministra de seu governo, mas nome pouco conhecido nacionalmente, para ser sua candidata à presidência da república, Lula demonstra muita coragem e independência, pois fazer de uma pessoa com tais características, uma presidenciável capaz de enfrentar um nome muito mais conhecido como o do ex-governador de São Paulo e ex-candidato a presidente, José Serra, não seria uma tarefa das mais fáceis. Mas estará ele com a razão? Será, verdadeiramente, um bom nome para ocupar um cargo tão importante?

Lula acreditou que fosse capaz de transferir sua popularidade a uma mulher-candidata, que não o decepcionou, pois logo as pesquisas demonstraram que ela seria um nome de peso na disputa presidenciável. Dilma Roussef demonstrou, apesar de algumas deficiências políticas iniciais, uma incrível capacidade de superação e de enfrentamento dos desafios à frente. Tão logo as pesquisas já a apontavam como um dos favoritos à presidência, demonstrando, claramente, que o Presidente Lula tinha acertado em sua escolha pessoal, apesar de toda a temeridade certamente apontada pelos seus companheiros de partido.

Sobre a discussão moral relativa à descriminalização do aborto, a posição da candidata mudou, de fato? Seria bom se fosse verdade! As pessoas devem ser flexíveis. Mas as práticas do Governo mostram-se, furtivamente, favoráveis ao aborto.

Mas, finalmente, o que tem sido de grande frustração para o povo brasileiro, é, sem dúvida, o PT, o partido dos trabalhadores, que se transformou, totalmente – provocando, inclusive, a saída de muitos de seus fundadores – desde que assumiu o poder. Desde então, a ordem é manter-se, a todo custo, no poder: perpetuar-se no poder. Para isto, todos os esforços (como disse Lula: “vamos fazer o diabo” para conseguirmos vencer as eleições de 2015,2º mandato de Dilma) têm sido despendidos – com muita corrupção!

Votei em Dilma, em 2010 porque fui enganado! E em 2015, embora não tenha mais votado nela, nem no PT, o povo brasileiro, tendo votado, mais uma vez, na dupla Dilma-PT, sofreu o que se chama, com razão, um calote eleitoral! Que o Brasil possa ver-se livre de Dilma e do PT o quanto antes! Que Deus nos abençoe!

Uilso Aragono (revisado em março/2016)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ecumenismo: respeito entre os cristãos

O artigo abaixo busca fazer uma reflexão sobre o verdadeiro espírito ecumênico, que deveria presidir as relações respeitosas e amorosas entre todos os que se dizem e acreditam "cristãos".
Ecumenismo é um esforço sincero de aproximação mútua que deve dirigir todos os gestos e atitudes de um cristão autêntico. Envolve princípios baseados na tolerância e no amor, no respeito e na valorização das diferentes formas de viver a fé cristã, sinceramente professada.
O espírito ecumênico não deveria, portanto, “protestantizar” a fé católica e nem “catolicizar” a fé protestante. Uns não deveriam “escandalizar-se” diante da fé professada e vivida pelos outros. Na base do espírito ecumênico está a certeza de que mais vale esforçarmo-nos, como cristãos, para vivermos e propagarmos a fé em Cristo diante do mundo, para sua salvação e santificação, do que tentarmos uma talvez impossivel unificação de formas de vivenciar a fé.
Com base em tais premissas, podem ser explicitadas algumas práticas que, embora aparentemente contribuam para uma vivência mais “ecumênica” entre as diferentes igrejas cristãs, na verdade acabam por empobrecer ou distorcer a autêntica forma de vivência cristã desta ou daquela igreja. Igreja aqui entendida como a reunião de cristãos sob uma mesma maneira particular de entender e vivenciar a fé cristã, incluídas a Igreja católica e as variadas denominações evangélicas.
Inicialmente, utilizar-se o termo “escândalo” para justificar-se alguma alteração na maneira própria ou tradicional de viver-se a fé não parece muito apropriado, pois chocar-se-ía com a idéia básica da tolerância entre aqueles cristãos que visam, com sinceridade, a abraçar uma forma ecumênica de vivência cristã. Ora, quem vive o espírito da tolerância, deve ser capaz de aceitar, e até acolher, sem quaisquer estranhezas, formas diferentes de comportamento cristão, público ou particular. Não deveria escandalizar um evangélico o fato de que um católico ajoelhe-se diante de uma imagem de Maria, mesmo que ele (o evangélico) não partilhe de tal maneira de vivência cristã; mesmo que ele possa considerar tal gesto uma atitude condenável de “adoração”. O escândalo não se justifica porque um e outro aprenderam, ou formaram-se em “escolas cristãs” diferentes, embora ambos busquem, com sinceridade, cada um à sua maneira, o crescimento na própria fé, a santificação pessoal e do mundo.
Outros exemplos serão dados, a seguir, para melhor caracterizar esta importante faceta do ecumenismo, para que todos os cristãos, independentemente das variadas formas de seguimento doutrinário ou de vivências concretas, possam dar ao mundo, testemunho eficaz e verdadeiro de amor a Deus e ao próximo, para que se realizem as palavras do Divino Mestre: “... para que eles, vendo que vocês se amam, sejam atraídos à sua fé”.
Os católicos não deveriam escandalizar-se, diante dos evangélicos que não batizam crianças! Estes têm justificativas teológicas e doutrinárias para tal procedimento... Já os evangélicos não deveriam estranhar a adoração eucarística dos católicos, pois o mesmo acontece em termos doutrinários!
Até o ano 1500 da era cristã os cristãos eram todos católicos e aceitavam a Bíblia cristã como constituída por 73 livros sagrados. Os evangélicos, a partir da Reforma Luterana, lentamente, com o processo de sua reflexão doutrinária e teológica, decidiram aceitar apenas 66 livros, rejeitando os restantes 7 livros como não sendo autêntica Palavra de Deus. Tal fato, diferentemente de atitudes antigas, não deveria provocar os ânimos dos católicos, e nem vice-versa, já que sob os auspícios de um novo espírito ecumênico, tais diferenças serão absorvidas com maturidade, respeito e tolerância entre todos aqueles que, apesar das diferenças e contrariedades das doutrinas seguidas, ainda se dizem cristãos.
Por que escandalizar-se diante do fato de que os sacerdotes católicos devem optar pela vida celibatária (ou vida indivisa), não podendo casar-se? Se os pastores evangélicos, de acordo com a sua maneira de crer e viver a fé cristã, podem casar-se sem prejuízo de suas funções de líderes de sua igreja, por que estrahar tal fato? Devem os católicos escandalizarem-se diante do fato de um evangélico ou não-cristão passar diante do Cristo eucarístico e não o adorarem? Para aqueles, o Cristo está verdadeiramente presente no pão eucarístico, é o Sacramento mais Sublime de sua maneira de viver a fé, o que os leva a ajoelharem-se diante da hóstia consagrada e adorarem o seu Deus! Para os evangélicos, a ceia do Senhor é apenas um símbolo que evoca a presença divina e o compromisso, diante de Deus, de amar em Cristo Jesus. As diferenças de modos de crer, associadas a pensamentos teológicos diversos, faz com que uns e outros tenham comportamentos religiosos também diferenciados. Ora, o espírito ecumênico deve guiar a todos em direção a uma convivência harmoniosa, baseada no respeito, na tolerância e no amor recíproco.
Um outro exemplo de diferença comportamental entre os cristãos das diferentes igrejas é a maneira com que se relacionam com Maria, a Mãe de Jesus. Uns a têm como a Mãe de Deus, “bendita entre todas as mulheres”, digna de toda a veneração, admiração e amor; como aquela que é a “porta da salvação”, e por isso, merecedora de toda a consideração, cuja história e tradição os ensinam a pedir sua intercessão junto a Seu Filho. Outros a consideram uma simples mulher, como todas as outras, apenas agraciada pelo dom de ser escolhida para Mãe do Salvador. Tais diferenças de percepção da importância de Maria na vida do cristão, o fará ter comportamentos bem distintos. O espírito ecumênico deverá fazê-los entenderem-se, respeitarem-se mutuamente, de tal forma que uns e outros não se condenem, mas aceitem tais diferenças, que somente Deus poderá julgar.
Muitas outras diferenças comportamentais existem entre os cristãos das diferentes igrejas, advindas de suas diferentes formas de interpretar e viver a sua fé. O importante, dentro de um moderno espírito ecumênico, é a aceitação do fato de que todos se consideram cristãos e querem, com sinceridade, caminhar nos caminhos do Senhor, sendo todos, a seu modo, testemunhas de Jesus, compromissados a levarem Sua Mensagem “até os confins do mundo”.

Atitudes ou comportamentos tendentes a “evangelizar” a fé católica ou a “catolicizar” a fé protestante não estão, portanto, de acordo com o espírito ecumênico. Encontram-se, ao contrário, em rotas de colisão com tudo aquilo que busca o verdadeiro ecumenismo: maiores e efetivas tolerância e amor entre os cristãos de diferentes igrejas “para que o mundo creia”!

(Uilso Aragono - setembro de 2010)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Consciência Segura

Refletir sobre a necessidade de que o cidadão tenha uma consciência de segurança proativa, com vistas a evitar acidentes no trabalho, em casa, e em qualquer dimensão da vida, é o objetivo do presente artigo. O termo consciência segura está sendo proposto, para significar justamente isto: uma consciência esclarecida quanto aos riscos de acidentes, tão comuns na vida em sociedade, e alerta quanto aos cuidados necessários para evitá-los.

Esta expressão consciência segura, ainda não é comum, mas, assim como já é comum a expressão “consciência ecológica”, espera-se que esta nova consciência de segurança em geral – na família, no trabalho, no trânsito, enfim, na vida –, seja a cada dia mais divulgada e vivenciada. Estou propondo este termo, consciência segura, como rotulador para um tipo de consciência que envolva “atitudes” proativas contra os potenciais acidentes da vida atual.

Vale aqui uma distinção, também oportuna, entre “consciência intelectual” e “consciência vivencial”.

Consciência intelectual é aquela que está associada a conceitos teóricos adquiridos por uma pessoa. Esta é capaz de definir, explicar e argumentar a favor ou contra determinado conceito. Por exemplo: consciência contra a violência por armas de fogo. Alguém pode ter uma consciência intelectual totalmente antiviolência, expressando-a através de argumentos até emotivos.

Consciência vivencial corresponde àquela que uma pessoa apresenta em suas relações interpessoais, em suas ações concretas. É, muitas vezes, distinta da consciência intelectual, a ponto de uma pessoa, tendo consciência intelectual antiviolência, ser capaz de agir violentamente contra o outro pelo uso de uma arma de fogo... Pode-se citar o exemplo de um jornalista brasileiro que, tendo dado uma entrevista pela paz e contra a violência, pouco tempo depois foi capaz de assassinar sua namorada a tiros...

A consciência deve iluminar-se de tal forma que passe, naturalmente, de um nível intelectual para o mais profundo, o vivencial. Ou, dito de outra forma, talvez mais poética, de um nível mental para o emocional, do nível da teorização para o nível do coração!...

A consciência segura, então, deverá ser esclarecida por conceitos teóricos e intelectuais, mas, sobretudo, deverá procurar atingir o nível mais profundo da consciência vivencial. Isto se dá, normalmente, quando se vivenciam acontecimentos dramáticos em relação a algum assunto. No caso de acidentes, estes devem ser avaliados, discutidos e visualizados a ponto de serem tiradas conclusões importantes para a própria vida. Uma consciência segura torna-se assim se, e somente se, ela atingir aquele nível do coração, da vivência. Somente assim a pessoa que cultivou tal consciência terá atitudes naturalmente seguras e proativas, sendo capaz de “anular” possíveis acidentes potenciais.

Para o alcance de níveis bons de consciência segura, o cidadão deveria ter contato com o assunto “segurança na vida” desde a infância, desde, portanto, os primeiros anos de escola. Sendo expostos à temática por meio de abordagens variadas e inteligentes, tais como filmetos, teatralizações, histórias interessantes, passeios com abordagem crítica em relação às condições de segurança ou insegurança existentes nos bairros da cidade, dentre outras, a criança, o adolescente e o jovem estariam tornando-se pessoas, cidadãos, mais conscientes em relação ao problema dos acidentes na vida. A consciência segura estaria sendo formada, desde cedo, no cidadão, com consequências das mais positivas para a sociedade.

Em particular podem ser citados os filmetes divulgados na TV sob títulos como “vídeo-cassetadas” ou semelhantes, em que são expostas situações engraçadas, em geral, mas que contêm muitos ensinamentos sobre segurança na vida, pois não deixam de constituir verdadeiros acidentes. Sendo expostos a tais vídeos, o jovem será levado a analisar criticamente os riscos envolvidos na cena, suas consequências negativas e, por outro lado, as possibilidades de anular tais acidentes. Como a emoção estará ativada, por serem cenas engraçadas, os ensinamentos daí decorrentes tendem a entrar mais profundamente na consciência da pessoa, criando nelas atitudes proativas de segurança e tornando-a mais segura. E uma pessoa com consciência segura torna-se multiplicadora, por exemplos e palavras, dessa mesma consciência.

(Uilso Aragono, agosto de 2010)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Educar com Amor

Alguns pais ficam desesperados diante do desafio de educar seus filhos adolescentes, especialmente diante de um mundo que não favorece a educação dos filhos. Para enfrentar esse desafio sempre busquei a orientação da Igreja Católica. Sim, apesar das falhas do “pessoal da Igreja”, sempre dei muito crédito à “pessoa da Igreja”, que é o Cristo mesmo: Eis que estarei convosco até o fim dos tempos... Lendo, assistindo palestras, refletindo sobre o tema em encontros e, mais tarde, fazendo palestras sobre o assunto, posso dizer que aprendi muito. E gostaria, com humildade, mas com certa autoridade de quem conseguiu educar bem os filhos – graças a Deus! –, de partilhar com os leitores os meus conhecimentos e minha experiência.

1. O amor conjugal educa

Uma das primeiras lições que aprendi com os livros do Pe. João Mohana (também médico e psicólogo, já falecido) é que a melhor maneira de educar os filhos, desde pequenos, resulta da prática do amor entre os pais: “Pais, querem educar bem a seus filhos? – amem-se profundamente !”. Esta é uma verdade que pude compreender ao longo do tempo de minha experiência de pai. De fato, se os pais se amam, e expressam esse amor diante dos filhos, esses só têm a se beneficiar, porque, no ambiente de amor criado pelo amor dos pais, eles se sentem , também, amados pelos pais; sentem-se seguros do amor dos pais, que ao expressarem o amor mútuo, passam aos filhos, naturalmente, a tão importante sensação de segurança psicológica de sentir-se amados.

No caso de pais separados, como é o caso de muitas pessoas, hoje, é muito importante que esses se comportem, diante dos filhos, ainda que vivendo separados, como verdadeiros “pais”! Os filhos, que certamente sentem tristeza pela separação dos pais – e o sentem de forma confusa!– precisam, mais do que nunca, do conforto e da certeza de que os pais, embora separados, se respeitam e ainda se interessam, solidariamente, pela educação deles e pelo seu futuro. Esta verdade deve guiar os pais no seu relacionamento de pais separados: não pode e não deve haver comportamentos de crítica negativa ou de desprezo de um pelo outro diante dos filhos! Estes sentirão profundamente o desamor dos pais e, em consequência, sentir-se-ão perdidos, inseguros e desamados pelos pais: o processo educativo deles fica totalmente comprometido, e as dificuldades naturais de educar agravam-se de forma especial.

2. Educação pelo amor

“O Amor é tudo” (Love is all), como já cantava uma antiga música! De fato, o amor, especialmente o amor cristão – capaz de perdoar, de se doar, de compreender... –, é fundamental para que a educação seja de boa qualidade e possa produzir os frutos desejados: filhos bem educados, em todos os sentidos! Os pais, portanto, não podem esquecer-se de que vale mais o Amor do que o rigor!; mais a compreensão do que a punição (especialmente aquela exagerada); mais o diálogo (em que “os dois” falam!) do que o sermão... Não estarão, muitos pais, deixando-se guiar mais pelo rigor, do que pelo Amor?... O rigor excessivo pode produzir o efeito contrário àquele desejado. O pai deseja o bem do filho, mas o trata com rigor militar!... E esquece de dar o carinho, a atenção, a amizade de que o filho precisa. Ora, punição exagerada, e sem que o filho tenha clara a razão da punição, e, além disso, feita com expressões de raiva e decepção, provocam no filho sentimentos confusos em relação ao amor dos pais. Será que isto é amor? – pensa o adolescente. Mas que amor é este que faz sofrer e entristece a quem errou?... Toda punição deve ser aplicada “com amor”, sem expressões de raiva, de decepção, de cansaço diante do filho. Que cada pai, cada mãe, faça sua autoavaliação. Estou apenas chamando a atenção para esse aspecto negativo da punição, quando é feita associada à raiva e não ao amor.

O papel do carinho, expresso especialmente por meio do afeto, do aconchego, dos beijos frequentes, é fundamental para a boa educação dos filhos e para o seu equilíbrio psíquico. As expressões de amor, realizadas de tempos em tempos por meio de pequenos “presentes” inesperados, por meio de conversas sobre amenidades, por meio da presença dos pais na vida dos filhos, e tantas outras formas práticas de “educação natural pelo amor”, são fundamentais para o sucesso na educação dos filhos.

3. Educação por imitação

A educação se dá por imitação, muito mais do que por sermões ou regras a serem seguidas, ou por “ameaças”, mesmo que educativas. Quando o pai chama a atenção de um filho ou uma filha de forma agressiva, violenta, raivosa, a lição que o filho aprende não se relaciona ao conteúdo “educativo” da advertência, mas à sua forma: ele “aprende” a ser agressivo, raivoso, violento... É o efeito contrário sendo atingido: busca-se educar por meio da advertência verbal (ou mesmo, ainda pior!, violenta), mas dá-se o “mau exemplo” do relacionamento agressivo e raivoso... Onde está o amor, nessa situação? Sem amor, a educação se perde... Pode-se concluir, que a educação se torna muito mais efetiva e eficaz – especialmente com crianças a partir dos sete a oito anos – por meio dos “exemplos”. Um mau exemplo de agressividade ensinará a ser agressivo; um mau exemplo de violência, ensinará a ser violento... Por outro lado, “bons exemplos” de compreensão, de diálogo, de carinho, de amor, serão imitados, naturalmente, pelos filhos. Se um pai quer ensinar um filho a pedir desculpas, peça-lhe desculpas por algum eventual erro seu!... Não existe melhor ensinamento do que este: o pai, com humildade, reconhece seu erro, diante do filho, e, com olhos lacrimejantes, pede-lhe perdão! – O filho está tendo uma lição de vida inestimável! Não existe melhor recurso educacional para formar os filhos, do que os bons exemplos!

Explorando um pouco mais o tema do bom exemplo, poderíamos citar:

1. Quer ensinar o filho a não jogar lixo no chão? – deixe-o vê-lo guardar um papel de bala no bolso, se não há por perto uma lixeira!

2. Quer ensinar o filho a respeitar os mais velhos? – deixe-o vê-lo cedendo o lugar em um banco a uma pessoa idosa!

3. Quer ensinar o filho a ir à igreja? – vá você, com frequência à igreja, e o convide – sem forçar! – a acompanhá-lo!

4. Quer ensinar seu filho a estudar, a valorizar a leitura? – deixe-o vê-lo estudar, pesquisar, ler, buscar o conhecimento e usufruí-lo em família.

5. Quer ensinar o seu filho a ser honesto? – deixe-o vê-lo devolver um troco em excesso!

6. Quer ensinar seu filho a ser caridoso? – deixe-o vê-lo fazer a caridade, levando-o a visitar um asilo, um amigo doente!...

7. Quer ensiná-lo a amar as pessoas? – demonstre claramente esse amor por meio de gestos concretos de tolerância, de compreensão, de carinho, de amizade, de fraternidade.

8. Quer seu filho uma pessoa otimista? – demonstre otimismo em suas posições e atitudes diante da vida...

Estou convencido de que os nossos exemplos, bons ou maus, têm o poder de influenciar as outras pessoas, seja na família, seja no trabalho, seja no trânsito... Especialmente dentro do ambiente familiar, devido ao ambiente de amor preexistente, os bons exemplos terão, certamente, efeitos educativos muito positivos. Ah se os pais conhecessem e praticassem a metodologia do bom exemplo!... Quanto sofrimento seria evitado! Quantas vidas adolescentes seriam mais bem encaminhadas, para o bem de todos! Como a educação seria mais eficaz e produtiva!

Todo adolescente, toda criança, naturalmente identifica-se com seus “heróis”, seus “ídolos”. E os pais, preferencialmente, devem ocupar esses papéis. Se os pais não conseguirem, os filhos tenderão a buscar, inconscientemente, outras pessoas para esses papéis. Mas os pais já têm uma grande vantagem: a vantagem do amor paterno, do amor materno... Com base em relações familiares amorosas os pais podem desenvolver relações de companheirismo, de confiança, e até de amizade com os filhos, de tal forma a “conquistá-los”, a fazer deles seus aliados, seus fãs, seus amigos de verdade! Esta amizade com os filhos, embora questionada por alguns psicólogos e educadores, é possível de existir sem abrir-se mão da sadia autoridade dos pais. Autoridade que não se confundirá com autoritarismo! Os filhos precisam, tanto da amizade dos pais quanto de sua autoridade! Esta acontece, por exemplo, quando o pai, estando brincando com seu “amigo”, interrompe a brincadeira e, com autoridade respeitosa e amorosa, coloca a criança para dormir, porque deu a hora...

4. Educar com amor incondicional

O amor aos filhos deve ser um amor “incondicional”! Os pais amem seus filhos não pelo que eles dizem ou façam, mas, sobretudo, pelo que eles “são”: em primeiro lugar, filhos dados por Deus para aprenderem a amar, a partir do amor dos pais, que devem ser como que imagens de Deus, que é, ao mesmo tempo, Pai e Mãe. Um amor incondicional, como o do Pai do Céu, é aquele, afinal, que ama “apesar de” e não “se”... Os pais amam o filho apesar de ele assumir uma orientação sexual inesperada; apesar de ele pensar diferente em muitos aspectos e campos da vida: política, religião, etc.; apesar de ele não demonstrar uma sintonia perfeita com os pais; apesar, até mesmo, de ele seguir caminhos éticos questionáveis pelos pais... E como demonstrar esse amor incondicional? Não há alternativa: são demonstrações inequívocas de compreensão, de respeito, de solidariedade, de amizade. Afinal, os amigos não merecem nosso respeito? Apesar de não seguirem, exatamente, nosso sistema educacional, ou nossos princípios, nossos pontos de vista?... Se os amigos merecem esse respeito, muito mais os filhos, “carne de nossa carne”!

Os pais nunca devem desistir dos filhos, abandoná-los à própria sorte! Como na parábola do filho pródigo, o pai está lá, dia após dia, olhando na distância – não abandonou a esperança! –, na expectativa do retorno do filho... E ele não só esperou o filho voltar e pedir-lhe perdão, mas antecipou-se e foi, apressadamente, ao seu encontro e só teve palavras de amor e compreensão diante daquele que tanto o decepcionara... Assim é o Amor do Pai! Assim deve ser o amor dos pais! Se o filho errar e acabar arrependendo-se, ele precisa ter a certeza da presença silenciosa e esperançosa dos pais, sempre na torcida, sempre na oração por ele... Até essa consciência de que os pais estão ali, amando apesar de tudo, será um fator misterioso, mas eficaz, a trabalhar pela conversão do filho, pela volta do “filho pródigo”, do filho rebelde, do filho ingrato, do filho desviado... Sem a certeza do amor incondicional dos pais, tudo poderá tornar-se fator de ainda maior desagregação para o filho, que poderá perder-se totalmente no mundo. Diante de alguma luz repentina de arrependimento, voltar para quem?... voltar para onde?... se não há os pais a esperarem! se não há um lar para onde retornar! E a luz do arrependimento pode apagar-se, definitivamente...

Para ajudar um pouco na missão dos pais, e para que estes acreditem que o mais importante nessa missão é o amor, vale a pena (re)ler a poesia de Gibran Khalil Gibran:

“Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.”

( Gibran Khalil Gibran )

Um pensamento-chave nessa poesia vale a pena ser retomado: “Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós”. Esta é uma grande verdade! Se pensarmos profundamente, constataremos que, de fato, não poderemos “fazê-los como nós”, fazê-los semelhantes a nós, mesmo que nos consideremos um bom modelo de pessoa. Na verdade, não há modelos para ninguém. Cada ser humano é uma obra originalíssima de Deus! Todas as outras pessoas serão apenas, e no máximo, fontes de inspiração para sua vida. Uns terão mais importância como “inspiradores” do que outros; mas, sobretudo, os pais deverão estar entre aqueles que mais contribuem para as opções e os caminhos a serem percorridos por alguém. E nada como ter consciência do conteúdo maravilhosamente verdadeiro da poesia de Khalil Gibran: “Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, porque eles têm seus próprios pensamentos...”. Sim, o Amor faz a diferença! E só pelo amor incondicional os pais poderão educar verdadeira e eficazmente os seus filhos apesar de todas as dificuldades do mundo de hoje.

Mas se o amor é a chave do sucesso na educação dos filhos, e considerando-se que Deus é Amor, nada mais sensato do que pedir a Ele forças para amar, forças no amor! A oração, então, torna-se igualmente fator-chave no processo educativo. Como já ensinava Sto Agostinho: Fazei tudo como se tudo dependesse de vós; e confiai, como se tudo dependesse de Deus. Confiemos, diariamente, a Deus nossas lutas e dificuldades, especialmente na missão de amar nossos filhos, e Ele nos ajudará, com certeza, por meio de suas luzes, sua bênção, sua proteção, seu Amor!

Uilso Aragono, julho de 2010

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Lógica da Reencarnação??

Circula pela Internet uma apresentação de eslaides, de autoria do Grupo Espírita Allan Kardec, defendendo a “lógica” da reencarnação e levantando algumas questões. Proponho-me, neste artigo, a respondê-las e mostrar que, ao contrário, a reencarnação carece da verdadeira lógica humana.

A apresentação inicia-se pelo conceito de lógica aristotélica. Logo em seguida apresenta a primeira pergunta sobre a justiça de Deus, e seguem-se outras questões ou afirmações (numeradas e em itálico). Abaixo delas, minhas reflexões.

1. Deus é Justo?

O conceito humano de justiça é limitado se comparado ao de Justiça Divina. Este é, certamente, muito mais amplo do que simplesmente “dar a cada um o que é seu”.

A justiça humana se baseia na capacidade limitada do ser humano de buscar as fontes e os fatores que a concretizem. Ora, Deus tem infinita capacidade para identificar todos os fatores que levem à justiça! A apresentação conclui:

Se existisse apenas uma vida, então Deus estaria impondo a alguns, desde o nascimento, sofrimentos terríveis, sem que os mesmos tenham merecido. Deus estaria, assim, sendo injusto

A falha deste argumento “lógico” é justamente este “tentar” analisar o comportamento de Deus do ponto de vista humano e lógico! Ora, Deus ultrapassa toda lógica humana. Deus, além de toda justiça humana tem um “Plano”, que está para além de qualquer tentativa humana de apreendê-lo. É este plano de Deus que nos desconcerta...

Pode-se citar Jesus (“espírito de Luz, como aceitam os próprios espíritas) que afirma, entre outras coisas: “Os últimos serão os primeiros” (Mt 20,16) – é lógica humana?...; “Eu porém vos digo: amai os vossos inimigos e rezai pelos que os perseguem” (Mt 5,44) – é lógica humana?... Jesus “revela” pelas suas palavras, aspectos do “Plano de Deus”.

2. Por que algumas pessoas já nascem defeituosas ou doentes e outras não?

Deus, seguindo esta “lógica” humana de análise, seria mais injusto ainda ao permitir uma pessoa viver uma “nova” vida de sofrimento sem ter qualquer consciência de pecados que tenha cometido numa vida pregressa... Isto sim seria, humana e logicamente falando, uma injustiça tremenda! Quem aceita alguma punição sem que a mereça, sem ter consciência, sem ter claro o que fez para merecê-lo?... E Deus estaria sendo injusto, com base na reencarnação!...

E há muitas pessoas deficientes de nascimento que não se consideram “infelizes” pela sua deficiência em si mesma, mas enfrentam a vida com alegria, com ânimo e com vontade de vencer, muito mais do que outras pessoas que nasceram perfeitas...

Esta lógica humana aplicada ao Criador falha, novamente, quando se verifica, facilmente, que os animais irracionais também nascem com deficiências! Terão eles também pecado em uma vida anterior? Terão sido malvados? pouco caridosos?... Sim, pois se Deus, por meio do nascimento de gente defeituosa, está dando nova oportunidade ao espírito humano para corrigir pecados e defeitos morais de vida pregressa, estaria fazendo o mesmo com os animais! Mas estes não têm consciência, não têm “espírito humano”... Por que nasceriam defeituosos?... Não deveria existir nenhum animal defeituoso por nascimento. E existem!

A resposta mostra, mais uma vez, que o Plano de Deus está muito além das limitadas consciência e lógica humanas. Se nenhum animal nascesse com defeito, a lógica humana poderia estar valendo para a lógica divina. Mas não é o caso...

3. Qual a explicação para as pessoas que nascem defeituosas, paralíticas, doentes, ou cegas, enquanto outras nascem perfeitas e saudáveis?

A Natureza é criação de Deus e tem suas leis. Aplicam-se tanto para seres humanos quanto para animais. Se há sofrimentos provocados pela maldade humana, os humanos são os culpados, e não Deus! Como já visto: nem sempre uma pessoa com necessidades especiais de nascimento é infeliz e sofredora.

Há sofrimentos físicos e morais. E todos eles devem-se ou à Natureza, que tem suas leis (terremotos, acidentes, etc) ou aos relacionamentos humanos, marcados pelo pecado e pela inclinação egoística do ser humano. Todas as pessoas sofrem, de uma forma ou de outra, culpados ou inocentes, merecedores ou não de tal sofrimento. É a lei da Natureza, da Criação de Deus, cujo plano, nunca seremos capazes de entender completamente. As condições da existência humana devem-se aos próprios humanos e à Natureza que os rodeia.

4. Se houvesse apenas uma vida, e tivéssemos como objetivo atingir a chamada “salvação”, por que então alguns nascem com mais condições para atingir esse objetivo do que outros?

Se as condições humanas não são tão boas, a causa está nas más relações estabelecidas pelos próprios humanos, que são os únicos culpados pelos próprios sofrimentos.

A morte, por exemplo, de dezenas de pessoas, no morro do Bumba, no Rio de Janeiro, por ocasião de chuvas foi consequência da má administração urbana, que, por razões difíceis de se avaliar, falhou ao permitir que famílias construíssem suas casas em uma região de morro que havia sido despejo de lixo, um antigo lixão! Se as autoridades tivessem agido de maneira mais correta, mais consciente, sendo mais justas em suas relações humanas, não teriam permitido que famílias mais pobres morassem em uma região totalmente imprópria para a habitação.

As favelas, as famílias desestruturadas, a pobreza, a miséria, e todos os males das sociedades humanas, são frutos naturais dos relacionamentos humanos inadequados, marcados pela inclinação natural do espírito humano ao egocentrismo, à busca egoística do prazer e do bem-estar próprios, em detrimento da vida dos outros.

É interessante notar-se a crítica ao conceito de “salvação” cristã, trazida e proposta por Jesus, e, ao mesmo tempo, a louvação ao “Espírito de Luz” que é Jesus, o Cristo. Ora se este Espírito de Luz, que é, de fato, Jesus, fala de salvação, seria normal que se lhe desse crédito, ou não?

O conceito de salvação está ligado à vinda de Cristo e à necessidade que os seres humanos têm dessa salvação, já que, por eles próprios, não seriam capazes de alcançá-la. E Jesus, propondo isto, exclui qualquer ideia de nova vida terrena, novas reencarnações. Ele, aliás, nunca cita tal conceito, ao contrário, propõe, claramente, o julgamento final, baseado na vida de cada um e nas suas circunstâncias. Ele fala, claramente, apenas, em ressurreição! Importa notar, a bem da verdade, que o Espiristimo, com a recusa da doutrina da salvação cristã, exclui-se do Cristianismo! Para o Espiritismo, não há necessidade de “salvação”, pois o próprio ser humano se salva, por meio das sucessivas reencarnações... Não se pode ser espírita e cristão, ao mesmo tempo!

5. Como explicar o caso de pessoas que, mesmo tendo sido boas durante toda sua vida, são surpreendidas com doenças terríveis? ou ainda são vítimas de terríveis acidentes?

Não há explicação humana definitiva. Pois se houvesse, Deus não seria Deus! Seria um ser limitado como nós somos. Há um plano de Deus, inacessível à limitada mente humana. Por isto a necessidade da salvação. Seremos salvos de nossas próprias limitações, ignorâncias, fraquezas, maldades, etc.

Mas o fato de não haver uma explicação definitiva não significa que tal explicação – para além de toda lógica humana! –, não exista.

Há no entanto, algumas tentativas humildes, de se explicar tais acontecimentos. O sofrimento de uma pessoa tem grande potencial para seu crescimento moral, humano e espiritual. E muitos aproveitam esta verdade! Além disto, tal sofrimento também afeta a vida dos parentes e amigos, que podem tirar grandes lições para a própria vida, sendo causa, muitas vezes, de verdadeiras conversões de vida: de uma vida moralmente fraca para uma nova vida de amor e doação mais intensos.

6. Qual seria o critério que o criador usaria para escolher quem seria saudável, perfeito e quem seria deficiente, cego, etc? A única explicação então seria sorte ou azar? não haveria uma explicação mais coerente?

O critério utilizado por Deus é o seu Plano de Amor – incompreensível para qualquer ser humano! Tentar entender o Criador ou exigir que seu comportamento siga a lógica humana é reduzir Deus a um mero deusinho humano...

Não existe sorte ou azar! O que existe são consequências da interação de fenômenos da natureza: fenômenos humanos e naturais. Cada gesto tem uma consequência natural; cada decisão, cada ação, cada palavra dita... tudo tem consequências. Nós gostamos de rotular de sorte ou azar as consequências positivas ou negativas, respectivamente.

Deus criou a Natureza, com sua próprias leis. Respeitá-las garante vida; o contrário, a morte. Se alguém desrespeita a lei da gravidade, pulando de um alto prédio, certamente encontrará a morte... Os acidentes, que levam ao sofrimento e à morte, acontecem, frequentemente, porque as pessoas desrespeitam as leis da natureza: pneu careca (lei do atrito); câncer de pele (leis da radiação solar); etc. Um milagre divino não é nada mais nada menos que uma suspensão de uma lei da natureza! E estes acontecem!

Jesus nos ajudou a entender muitas “leis” ainda não bem compreendidas naquela época. Uma delas é a lei do Amor! Quem desrespeita esta lei, faz mal a si e aos outros. Mas a liberdade para agir é o maior dom que Deus deu ao ser humano: o livre arbítrio. E o ser humano é totalmente livre para respeitar ou desobedecer a qualquer lei da natureza...

7. Seria justo (que um pai trate seus filhos de formas diferentes)? é claro que não. Ora, se não é justo que um pai proceda desta maneira, será que Deus, sendo infinitamente sábio, poderia agir assim?

Deus trata a cada um de seus filhos e filhas com todo o amor e com toda a justiça! Muito mais do que imagina nossa vã filosofia.

O que acontece é que Deus, dentro de seu Plano de Amor, inacessível ao ser humano, permite que cada um viva de acordo com sua liberdade, suas decisões e nas circunstâncias da realidade da época e do lugar em que nasceu. Mas ele julgará cada um de acordo com o conhecimento pleno que somente Deus tem de cada pessoa.

Mais uma vez: quem provoca os sofrimentos são os próprios humanos. Quem vive no pé de um vulcão, tem consciência de que corre grande risco de um desastre. Ele aceita viver sob este risco.

8. Outros dizem que sofremos devido ao que nossos pais ou antepassados fizeram. Ou até mesmo pelo "pecado original" cometido por Adão!!! Teria sentido alguém pagar pelo que outra pessoa fez?

Esta pergunta, com uma resposta naturalmente negativa, confirma o argumento, anteriormente citado, de que Deus também não estaria sendo justo se tivesse planejado a reencarnação como forma de uma pessoa pagar pelo que ela teria feito em vida anterior. Ora, não tendo ela consciência nenhuma sobre seus pecados ou falhas morais, estaria se sentindo como se estivesse pagando pelo que fez outra pessoa, e não ela!...

Sobre a questão da doutrina do pecado original, não faz sentido simplificar e dizer que é o pecado cometido pelo primeiro homem e que todos herdam. Esta doutrina, baseada em uma história bíblica criada pelo autor sagrado, quer apenas mostrar que cada ser humano carrega consigo, pela sua origem mesma de humano, criatura de Deus, uma “inclinação natural para o egocentrismo”, com suas consequências ligadas a atos e atitudes que levam ao mal, e não ao bem. Este deve ser buscado com esforço, com consciência esclarecida e com o suporte da bênção de Deus. Essa tendência ou inclinação ao mal é que é denominada “pecado original”. E alguém duvida desta natural tendência do ser humano para exercitar mais o mal do que o bem?...

9. Imagine uma pessoa sendo presa porque seu pai cometeu um crime e a polícia não conseguiu prendê-lo. Então o filho, que seria inocente, teria que pagar pelo crime do pai. Seria Deus assim tão injusto?

Seria Deus tão injusto ao imaginar uma solução (a reencarnação) que faz qualquer pessoa sentir-se assim? Pois cada ser humano reencarnado estaria pagando por um crime que não cometeu, porque não tem consciência nenhuma sobre tal ou tais crimes!!

Se a reencarnação é uma doutrina verdadeira, ela torna Deus um deus injusto, pois este faz uma pessoa pagar por um crime que não cometeu, pois esta não tem consciência nenhuma de qualquer crime de uma suposta vida anterior!...

E se a reencarnação é uma doutrina verdadeira, por que o Espírito de Luz, Jesus, tão amado pelos espíritas, nunca se referiu, nem direta nem indiretamente, sobre esta verdade? Jesus apenas se referiu às verdades do Céu e do inferno. O Apóstolo Paulo é claro: “Para os homens está estabelecido morrerem uma vez e logo em seguida virá o juízo.” (Hb 9,27).

10. Deus jamais impõe sofrimentos a quem quer que seja, e ninguém sofre sem merecer.

Que Deus jamais impõe sofrimento a quem quer que seja, é uma verdade!

Mas afirmar que ninguém sofre sem merecer não corresponde à verdade dos fatos da vida! É uma afirmativa que parte do pressuposto da existência da reencarnação. Pois sem este pressuposto, a vida está cheia de exemplos de que o ser humano sofre sem merecer, sem ter culpa, estando inocente. É a vida como ela é!

Vejam-se as criancinhas vítimas de maus tratos de seus responsáveis! Vejam-se os idosos, igualmente sofrendo, sem qualquer culpa, a violência de seus cuidadores! Vejam-se pessoas honestas, trabalhadoras, sendo sequestradas, abusadas sexualmente, roubadas, humilhadas, sem qualquer culpa claramente definida!

11. Deus determinou aos espíritos a necessidade de encarnar para alcançar a perfeição e de colaborarem na criação. Tudo no universo caminha para a evolução. Seja no mundo mineral, vegetal, animal ou espiritual.

Esta é uma afirmação que já pressupõe aceitar algumas verdades:

  1. Deus criou “espíritos”, e não seres humanos carnais (corpo-espírito)...
  2. E teria criado a Terra para que aqui, encarnados, tais espíritos pudessem evoluir.

Dizer que “tudo” no universo caminha para a evolução é uma afirmativa pouco lógica: não combina com a realidade da Terra e do cosmo.

No mundo mineral não há evolução: há apenas mudanças de estado, seguindo leis naturais. Uma estrela, como o Sol, cientificamente, depois de bilhões de anos produzindo luz e calor, finalmente morre, passando a ser uma massa fria... Isto é “evolução”?

O mesmo acontece nos mundos vegetal e animal. Apenas no mundo humano-espiritual pode-se falar em evolução: o ser humano, realmente, pode evoluir nas suas dimensões intelectual, social, cultural e espiritual.

12. Cada um tem o seu próprio livre arbítrio, ou seja, o poder de escolher quais caminhos deverá seguir. Nem deus interfere neste direito

O livre arbítrio é uma verdade. E é verdade, também, que nem Deus interfere nos caminhos a serem escolhidos por alguém.

Mas como harmonizar, logicamente, o pressuposto da reencarnação destinada à punição de alguém (um espírito), pelo sofrimento? Ora, Deus deveria poder interferir na vida das pessoas, para que elas viessem a sofrer para pagar suas dívidas passadas!

Se Deus não interfere – o que é uma verdade! – pode ocorrer que alguém, reencarnado para pagar suas dívidas e evoluir, venha a ter escolhas que façam sua vida ser boa, feliz, confortável, sem qualquer sofrimento. Como ela estaria pagando suas dívidas?

13. Ao fazermos nossas escolhas na vida, nós recebemos os resultados, positivos ou negativos, das mesmas.

Como já dito, muitas pessoas poderão passar suas vidas colhendo resultados mais positivos que negativos, tendo mais sucesso e prazer nesta (nova) vida do que sofrimentos. Onde estará o sofrimento “purificador” dos pecados da vida pregressa? Ou esta pessoa não tem o que pagar, o que sofrer? Mas se não tem o que pagar, o que ela faz aqui na terra? Já que aqui é “lugar de evolução espiritual e de purificação”!?...

Explicar as condições difíceis de vida de muitos miseráveis deste mundo como sendo fruto de erros, pecados ou maldades realizadas em vidas pregressas exclui toda a responsabilidade das sociedades organizadas!

Isto é científico? Isto é lógico? As sociedades, organizações dos seres humanos em épocas e locais determinados, não têm qualquer responsabilidade sobre tais condições difíceis das pessoas?...

14. Então assim se explica, de forma bastante coerente, a situação de pessoas que já iniciam a vida sob condições difíceis. Na verdade, elas estão colhendo os frutos de ações erradas cometidas em outras vidas.

As pessoas não têm consciência nenhuma de terem cometido ações erradas em outras vidas passadas. É só perguntar a qualquer pobre ou miserável se ele se lembra de algum erro de sua vida passada!

Deus não condena ninguém nem nesta vida nem depois da morte! As pessoas é que colhem, na vida depois da morte, os frutos de suas boas ou más ações!

Deus é Amor, Misericórdia e Justiça e saberá julgar suas criaturas tendo em conta “todas” as circunstâncias da vida de cada um.

15. Porém, Deus, em sua infinita misericórdia, ao invés de condená-los ao fogo eterno do inferno, lhes dá sempre uma nova chance.

Inferno só é fogo numa visão figurada. Na verdade o inferno é o afastamento de Deus; do Deus que foi recusado, conscientemente, pela criatura amada por Ele. E este afastamento causa sofrimento.

16. Nossa vida atual é a chance que temos para pagarmos qualquer mal que tenhamos feito e reparar os mesmos.

E quem vive uma vida de sucesso e prazeres? E são milhões no mundo. Pessoas ricas, felizes e bem sucedidas. Como “pagarão” o mal que tenham feito em vidas passadas? Como “repararão” o mal-feito sem consciência do que foi feito?

A doutrina da reencarnação não tem como responder... Ela só tem sentido para aqueles seres humanos que venham a sofrer nesta Terra. Os bem sucedidos e felizes, estão aqui para quê?

A doutrina da reencarnação também não explica:

  1. O sentido da vida de gente que nem pôde nascer, tendo morrido no ventre da mãe;
  2. O sentido da vida de gente que morreu logo que nasceu;
  3. O sentido da vida de gente que nasce com, ou desenvolve, doenças mentais que tornam tais pessoas totalmente inconscientes de sua dignidade humana.

Se a reencarnação não pode explicar ou justificar o significado da vida desses seres humanos, ou desses “espíritos encarnados”, que doutrina é esta? A resposta: uma doutrina puramente humana!

Pela lógica humana, a doutrina da reencarnação exige que todo espírito encarnado esteja aqui para pagar e reparar suas más ações de vidas passadas. Mas isto não acontece com todos. Onde está a lógica?

17. E continuaremos nossa evolução em planos espirituais mais elevados.

Onde a lógica desta afirmação?

Se é possível continuar a evolução espiritual em “planos espirituais”, certamente criados por Deus, esses deveriam ser capazes de possibilitar as mesmas condições de evolução que na Terra.

Para que, então, teria Deus criado a Terra? Planos espirituais seriam muito mais naturais e próprios para espíritos! Para que Deus criaria um mundo em que um espírito deveria encarnar-se sucessivas vezes?

A suposta existência de planos espirituais, pela lógica, exclui a reencarnação. Esta é uma doutrina puramente humana e, correspondentemente, totalmente limitada e incapaz de dar explicações convincentes para os fantásticos mistérios da vida humana. Somente um Deus que se fez carne, Jesus, pode nos salvar de nossas fraquezas e nos “revelar” alguns aspectos de seu Plano de Amor para a humanidade!

domingo, 30 de maio de 2010

A Mãe de Jesus no Evangelho

Alguns cristãos dizem que Maria, a Mãe de Jesus, foi uma mulher como qualquer outra! Isto não deixa de ser verdade. No entanto, é apenas uma meia-verdade! Segundo se verifica nos textos dos quatro evangelistas, muitas passagens há que demonstram a mulher especial que foi e é Maria, a Mãe de Jesus.

1. A Cheia de Graça

Logo no início do Evangelho de Lucas, Maria recebe a visita do Anjo do Senhor que a saúda, não por seu nome, mas por um título especial: "Alegra-te Cheia de Graça"; e ainda completa: "O Senhor está contigo" (Lc 1,28 ou Lc 1:28). Ao final de suas palavras, o Anjo conclui: "Por isso o Santo que vai nascer de ti será chamado Filho de Deus" (Lc 1, 35 ou Lc 1:31). Ora, não deve ser difícil de perceber que uma pessoa que recebe uma visita do próprio Deus - pois o Anjo é mensageiro de Deus! – e recebe uma missão única e especial, não pode ser considerada uma pessoa qualquer, mas merece, no mínimo os títulos, atribuídos pelo próprio Senhor: Maria, "Cheia de Graça"; Maria, "Mãe do Filho de Deus".

2. A Mãe do Messias

No Evangelho de Mateus, observa-se que a descrição da genealogia de Jesus segue o esquema: "Jeconias foi o pai de Salatiel; Salatiel foi o pai de Zorobabel..." (Mt 1,12.13 ou Mt 1:12,13), isto é: um pai gerando um filho homem. No entanto, quando se chega a José, o esquema é rompido: não se diz "José, foi o pai de Jesus", mas sim: "José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Messias" (Mt 1,16 ou Mt 1:16). A importância de Maria é ressaltada pelo Evangelho, mais uma vez, quando lhe atribui mais um título: "Maria, Mãe do Messias". Ora, títulos são atribuídos a pessoas especiais...

3. A Bem-aventurada

Uma outra passagem evangélica é aquela em que Isabel, sua prima já idosa, e grávida de João Batista, ouve sua saudação e percebe que a criança pula de alegria em seu seio. E Isabel, "cheia do Espírito Santo" proclama, em alta voz, Maria, como a "bendita entre todas as mulheres" ( Lc 1,42 ou Lc 1:42), e se reconhece honrada, feliz, admirada pelo fato de que "a Mãe de meu Senhor venha visitar-me!" (Lc 1,43 ou Lc 1:43). Esta manifestação de Isabel, outra mulher tocada por uma graça especial de Deus, é claramente, uma manifestação de duas pessoas da Santíssima Trindade: de Jesus, que ainda no seio de Maria, e por meio de Maria, já transmite suas benevolências e suas graças a quem visita, a Isabel; e do Espírito Santo, que inspira Isabel a reconhecer, sem qualquer aviso humano prévio, a presença no seio de Maria, do "seu Senhor"! Esta passagem, por si só, já é um testemunho eloquente de que Maria é uma mulher especial, "bendita entre todas as mulheres". Ora, estas são palavras ditas, não por Isabel, não apenas por sua boca, mas palavras divinas, manifestação do Espírito Santo, para todos os futuros cristãos. Quem pode negar autoridade, ao "Espírito da Verdade", que nos revela, por boca de Isabel, a grandeza de Maria? Isabel, cheia do Espírito Santo, ainda proclama Maria como "Bem-aventurada, aquela que acreditou..." (Lc 1,45 ou Lc 1:45). Da mesma forma que Isabel, todo cristão, que se diz "cheio do Espírito Santo", deveria ser capaz de louvar Maria como a "Bem-aventurada", merecedora, portanto, de todo seu amor filial, com a mesma força de amor com que Jesus, sem qualquer dúvida, amou e ama sua Mãe Maria. Desta análise, pode-se concluir por mais um título dado a Maria, pelo Espírito Santo, pela boca de Isabel: "Maria, Mãe do (meu) Senhor".

4. Bendita por todas as gerações

E não bastando a manifestação dupla da divindade, a própria Maria, ainda uma jovem de seus quinze anos, cheia do Espírito de Deus, "cheia de graça", como afirmou o anjo Gabriel, explode num canto de louvação e de exaltação a Deus pelas maravilhas que realizava nela: "Minha alma glorifica o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador..." (Lc 2,46 ou Lc 2:46). Este canto, conhecido como "Magnificat" é, sem qualquer dúvida, divinamente inspirado e nele se lê e se ouve a proclamação extraordinária e profética em relação à humilde escrava do Senhor: "...doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada" (Lc 2,48 ou Lc 2:48). Maria, então, é proclamada pelo Espírito Santo, conforme o Evangelho, bendita e bem-aventurada entre todas as mulheres. Se Maria é uma mulher qualquer, ou comum, o é, de fato, por ser absolutamente humana e verdadeiramente mulher; mas é, ao mesmo tempo, como visto, uma Mulher superespecial! E sendo esta uma "palavra do Evangelho", uma "palavra de Deus", pode-se perguntar se não deveria estar sendo colocada em prática por todos os cristãos. Não seria o caso de "todos" os cristãos" estarem realizando esta profecia, nascida dos lábios de Maria, por influxo do próprio Espírito Santo? O que justifica que nem todos os cristãos coloquem em prática esta palavra do Evangelho?... O fato de alguém se dizer cristão e, apesar disto, não louvar Maria, proclamando-a "feliz", "bem-aventurada", deveria provocar nessa pessoa um sério questionamento: estou vivendo uma vida cristã verdadeira e completamente evangélica?...

5. A Intercessora de Caná

No Evangelho de João, Maria é apresentada, no episódio das bodas de Caná, como uma mulher tão especial que é capaz de alterar a "hora" do Senhor, isto é, os planos de Deus para Jesus. Pois apesar de Jesus recusar fazer algo, diante do alerta de sua Mãe, esta dirige-se aos empregados e lhes pede: "façam o que ele mandar". E Jesus, rendendo-se ao desejo de sua Mãe, por seu grande amor filial, realiza o seu primeiro grande "sinal", seu primeiro milagre: transforma a água em vinho, num vinho de qualidade insuspeita. O Senhor alterou a "sua hora", a partir da intercessão de sua Mãe. Esta é apresentada por João Evangelista, portanto, como aquela que pode e quer colocar-se entre nós e seu Filho, em dupla missão: quer pedir por nós a Ele, e quer nos alertar, continuamente, a "fazer o que ele mandar". O Evangelho, então, claramente confere a Maria, um outro título: "Maria, Nossa Intercessora". Se Jesus é apresentado, pelo Evangelho, como nosso grande e único Intercessor diante do Pai, Maria é, por sua vez, apresentada como nossa intercessora diante de seu Filho. Que Mulher comum e especial é, ao mesmo tempo, a Mãe de Nosso Senhor Jesus! Um cristão que não reconheça esta verdade evangélica, pode se considerar um cristão de verdade? Pode se considerar um seguidor do Evangelho?...

6. A oração "Alegra-te Maria"

O Evangelho ensina aos cristãos algumas importantes orações, dentre elas o Pai-Nosso, considerada por muitos, como uma oração universal, isto é, que pode ser pronunciada por todos que creem em Deus. No entanto, outras orações existem, que se referem à sua Mãe: o "Magnificat " (Lc 2, 42-55 ou Lc 2:42-55) e – por que não? – a Ave Maria. Esta oração, embora muito rezada pelos cristãos católicos, é esquecida pelos demais cristãos. No entanto, ela é, em sua primeira parte, totalmente evangélica! Esta primeira parte baseia-se, inteiramente, no Evangelho de Lucas (Lc 1,28.42 ou Lc 1:28.42): "Ave (= Alegra-te) Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo! Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre". Se esta parte é uma oração totalmente evangélica, como entender que muitos que se dizem cristãos e se dizem seguir o Evangelho, ignoram, completamente, esta passagem, que é "palavra de Deus"?... Ou se é evangélico, totalmente, ou não se é evangélico... Escolher o que seguir do Evangelho, e excluir aquilo com que não se concorda ou não se aceita, não é próprio de quem se diz cristão.

7. Maria como exemplo para o cristão

Maria deve ser imitada? Pelo Evangelho de Lucas, parece que sim, pois lá se encontra uma afirmativa que pode e deve ser aplicada a todo cristão: "E sua mãe conservava no coração todas essas coisas". A expressão "Essas coisas" refere-se aos acontecimentos da vida de Jesus. Portanto, Maria, nesse seu comportamento exemplar, deve ser imitada por todo aquele que se diz cristão e segue o Evangelho de Jesus Cristo: devemos guardar "no coração", isto é, colocar em prática, todas as palavras do Filho de Maria, todos os significados da vida de Jesus.

8. O Amor que lhe deve todo cristão

Amar Maria significa, então, para todo o cristão, amar seu Filho Jesus! Pois não há dúvidas de que Este A ame com todas as suas forças: pois sendo um Deus de Amor, não falharia no seu dever de amar aquela que lhe serviu de porta para sua encarnação, que o acompanhou desde de seu nascimento, por toda a sua vida pública, passando pelos seus sofrimentos e morte “de pé junto à cruz” (Jo 19,25 ou Jo 19:25), testemunhando sua ressurreição e a vinda do Espírito Santo, junto dos apóstolos, sendo presença discreta e marcante junto à Igreja nascente. E amar Jesus plenamente, portanto, não será possível, sem um amor igualmente explícito à sua Mãe, a quem Ele tanto Ama...

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Relacionamento familiar inteligente

A propósito de difíceis relacionamentos intrafamiliares, ofereço uma proposta de reflexão, abaixo.


Supondo um relacionamento difícil, em que a filha é considerada pela mãe uma preguiçosa, uma pessoa egoísta, que só pensa nela, só “olha para o seu umbigo”, pergunta-se: qual seria o melhor comportamento ativo da mãe para que a filha mude, para que ela se transforme numa pessoa mais abnegada, mais prestativa, o contrário do que é agora, pelo menos aos olhos dessa mãe?

Uma possibilidade seria a mãe enfrentar a filha, chamando a atenção dela para essa sua falha de comportamento, e exortando-a a fazer algo para ajudar na casa, já que nada ou pouco tem feito. Nesta tentativa de corrigir a filha, a mãe usa palavras pouco delicadas, na verdade, até, ofensivas, insultuosas, mas sempre na intenção de levar a filha a converter-se, a mudar para melhor.

Que tipo de reação terá a filha, muito provavelmente? Ao se sentir atacada, ela reagirá contra-atacando: procurará atingir a mãe com acusações semelhantes, insultando-a, também, acerca de algum comportamento da mãe, que, para ela, é criticável e não parece ser o melhor. Vê-se, facilmente, que tal possibilidade escolhida pela mãe, na tentativa de corrigir a filha, tem consequências muito negativas, logo de imediato, visto que a filha reage com agressividade à agressividade inicial da mãe.

Não parece ser esta opção de comportamento da mãe, portanto, muito inteligente, visto que terá sido gerado um desentendimento mútuo, que poderá transformar-se em ataques e contra-ataques contínuos, numa discussão que tem tudo para provocar feridas emocionais em ambas, com consequências para o presente e o futuro do relacionamento amoroso que se espera de mãe e filha.

Uma outra possibilidade, esta já mais inteligente, seria a mãe, demonstrando respeito e carinho pela filha amada, e deixando de lado todo preconceito que tenha em relação ao seu comportamento negativo, propor, e não impor, que a filha, tendo em vista uma necessidade da mãe, ou da casa, tente ajudar em alguma tarefa doméstica. Uma proposta poderia ser como: "Hoje, quando você puder, dá para fazer isto pelo bem da casa?"; ou: "Hoje, estou precisando disso, quando você pode me ajudar?".

Que tipo de reação da filha pode ser prevista para uma tal proposta? Ora, não sendo nenhuma imposição, certamente não será um contra-ataque. Não tendo havido qualquer agressividade da mãe, mas tendo sido apenas uma proposta normal em um relacionamento doméstico, pouco provável será uma reação agressiva da filha.

A inteligência da proposta está em dois aspectos:

1) Foi dada à filha uma margem de flexibilidade: ela pode escolher o momento em que poderá dar a ajuda.

2) A mãe, em momento algum, chamou a atenção da filha para o fato de que ela a considera preguiçosa, ou que ajuda pouco em casa.

A mãe fez, simplesmente, uma proposta, muito natural, para que a filha se coloque à disposição, em algum momento de sua agenda, para contribuir com os afazeres domésticos.

Esta possibilidade de relacionamento inteligente, terá como efeito, muito provavelmente, e diferentemente do relacionamento agressivo e não-inteligente, uma reação semelhante, igualmente inteligente: a filha poderá definir o momento em que dará a ajuda, tendo em vista não só a necessidade da casa, mas, também, de suas próprias necessidades. Ela se sentirá desafiada a dar uma ajuda, demonstrando que não tem preguiça de ajudar em casa, e se sentirá, também, valorizada, pois a mãe reconhece nela capacidades, que, no entanto, precisam ser praticadas e aprimoradas. A filha vai entendendo que as contribuições nos afazeres domésticos são exercícios importantes para o crescimento pessoal da filha.

A opção da mãe por um relacionamento inteligente, na busca de corrigir algum comportamento negativo na filha, só tem aspectos positivos, visto que não provocará conflito, discussões, e nem xingamentos mútuos, ao contrário, terá como consequências o aumento na confiança mútua, na parceria entre mãe e filha, e, claro, no amor que as une.

(Uilso Aragono - abril de 2010)

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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