sexta-feira, 30 de abril de 2010

Relacionamento familiar inteligente

A propósito de difíceis relacionamentos intrafamiliares, ofereço uma proposta de reflexão, abaixo.


Supondo um relacionamento difícil, em que a filha é considerada pela mãe uma preguiçosa, uma pessoa egoísta, que só pensa nela, só “olha para o seu umbigo”, pergunta-se: qual seria o melhor comportamento ativo da mãe para que a filha mude, para que ela se transforme numa pessoa mais abnegada, mais prestativa, o contrário do que é agora, pelo menos aos olhos dessa mãe?

Uma possibilidade seria a mãe enfrentar a filha, chamando a atenção dela para essa sua falha de comportamento, e exortando-a a fazer algo para ajudar na casa, já que nada ou pouco tem feito. Nesta tentativa de corrigir a filha, a mãe usa palavras pouco delicadas, na verdade, até, ofensivas, insultuosas, mas sempre na intenção de levar a filha a converter-se, a mudar para melhor.

Que tipo de reação terá a filha, muito provavelmente? Ao se sentir atacada, ela reagirá contra-atacando: procurará atingir a mãe com acusações semelhantes, insultando-a, também, acerca de algum comportamento da mãe, que, para ela, é criticável e não parece ser o melhor. Vê-se, facilmente, que tal possibilidade escolhida pela mãe, na tentativa de corrigir a filha, tem consequências muito negativas, logo de imediato, visto que a filha reage com agressividade à agressividade inicial da mãe.

Não parece ser esta opção de comportamento da mãe, portanto, muito inteligente, visto que terá sido gerado um desentendimento mútuo, que poderá transformar-se em ataques e contra-ataques contínuos, numa discussão que tem tudo para provocar feridas emocionais em ambas, com consequências para o presente e o futuro do relacionamento amoroso que se espera de mãe e filha.

Uma outra possibilidade, esta já mais inteligente, seria a mãe, demonstrando respeito e carinho pela filha amada, e deixando de lado todo preconceito que tenha em relação ao seu comportamento negativo, propor, e não impor, que a filha, tendo em vista uma necessidade da mãe, ou da casa, tente ajudar em alguma tarefa doméstica. Uma proposta poderia ser como: "Hoje, quando você puder, dá para fazer isto pelo bem da casa?"; ou: "Hoje, estou precisando disso, quando você pode me ajudar?".

Que tipo de reação da filha pode ser prevista para uma tal proposta? Ora, não sendo nenhuma imposição, certamente não será um contra-ataque. Não tendo havido qualquer agressividade da mãe, mas tendo sido apenas uma proposta normal em um relacionamento doméstico, pouco provável será uma reação agressiva da filha.

A inteligência da proposta está em dois aspectos:

1) Foi dada à filha uma margem de flexibilidade: ela pode escolher o momento em que poderá dar a ajuda.

2) A mãe, em momento algum, chamou a atenção da filha para o fato de que ela a considera preguiçosa, ou que ajuda pouco em casa.

A mãe fez, simplesmente, uma proposta, muito natural, para que a filha se coloque à disposição, em algum momento de sua agenda, para contribuir com os afazeres domésticos.

Esta possibilidade de relacionamento inteligente, terá como efeito, muito provavelmente, e diferentemente do relacionamento agressivo e não-inteligente, uma reação semelhante, igualmente inteligente: a filha poderá definir o momento em que dará a ajuda, tendo em vista não só a necessidade da casa, mas, também, de suas próprias necessidades. Ela se sentirá desafiada a dar uma ajuda, demonstrando que não tem preguiça de ajudar em casa, e se sentirá, também, valorizada, pois a mãe reconhece nela capacidades, que, no entanto, precisam ser praticadas e aprimoradas. A filha vai entendendo que as contribuições nos afazeres domésticos são exercícios importantes para o crescimento pessoal da filha.

A opção da mãe por um relacionamento inteligente, na busca de corrigir algum comportamento negativo na filha, só tem aspectos positivos, visto que não provocará conflito, discussões, e nem xingamentos mútuos, ao contrário, terá como consequências o aumento na confiança mútua, na parceria entre mãe e filha, e, claro, no amor que as une.

(Uilso Aragono - abril de 2010)

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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