Há certa classe de pessoas ou funções que são irreconciliáveis... Senão, vejamos: juiz de futebol e torcida; professor e alunos; genro e sogra; fazendeiro e posseiro... E pais e filhos! A solução nesses casos todos é uma só: respeito mútuo! E, para os cristãos, respeito baseado na fé e na oração. Para alcançar-se esse objetivo, no entanto, algumas reflexões e dicas são dadas a seguir.
1.1
Os pais
Os pais são aqueles que têm a
responsabilidade e o desafio de gerar, educar e apoiar os filhos que lhe são
concedidos pela natureza e pela graça de Deus.
Acham que já têm a competência para exercer
essa responsabilidade e enfrentar esse desafio! No entanto, a realidade é bem
outra...
As ansiedades próprias dos pais
estão relacionadas, justamente, ao atingimento desses objetivos. Serão eles
capazes?
1.2
Os filhos
Os filhos são aqueles que, ao nascerem,
dependem, totalmente dos pais, mas que, com o tempo e o crescimento físico,
mental e espiritual, vão se tornando mais autônomos e, portanto, questionadores
da autoridade dos pais sobre eles.
Acham que, com a chegada,
especialmente, da adolescência, podem autonomear-se “independentes” dos pais,
considerando-se, então, quase adultos.
As ansiedades próprias dos filhos
relacionam-se ao fato de que eles, embora acreditem já estarem em condições de
plena emancipação, veem seu presente e futuro como algo sombrio, ameaçador, o
que lhes causa muito desconforto e os leva a buscar soluções junto aos seus “pares”
e, nem sempre, juntos a seus “pais”.
2.
Entender a “visão” de cada parte
2.1 Os pais
Os pais veem os filhos como pessoas inocentes e expostas a um mundo ameaçador,
perigoso, e assustador...
2.2 Os filhos
Já os filhos veem os pais como gente maliciosa, que não é capaz de entender nem
a cabeça nem o mundo dos filhos, que, para estes é excitante e animador...
3.
Reconhecer outras diferenças
A idade e a experiência dos pais
devem ser vistas pelos filhos (mais jovens) como algo que merece ser valorizado
e respeitado; algo que eles – os filhos – poderão, um dia, também reivindicar
junto a seus próprios filhos.
O conhecimento, adquirido pelos pais
ao longo do tempo, por meio de muito esforço, dedicação e, às vezes, custos de
tempo e dinheiro, é algo que, também, merece ser valorizado pelos filhos, que
ainda não puderam adquirir esse patrimônio intelectual, moral, religioso e
profissional.
A animação e a energia dos filhos,
que os leva a dedicar-se a esportes, estudos, amizades, viagens etc., e que os
coloca, ao mesmo tempo, diante de perigos e riscos à sua saúde física, mental e
espiritual.
Os modelos comportamentais de pais e
filhos, que são muito distintos e devem ser levados em conta nos desafios da
boa convivência: temperamentos, talentos e limitações pessoais.
4.
O que há em comum entre os diferentes
Certamente, o amor que une pais e
filhos é algo que há em comum entre eles e deve ser usado a favor do bom
relacionamento pais-filhos. O amor cristão, particularmente, é aquele que está
associado às práticas da oração, do perdão, do acolhimento, da compreensão e da
busca da santidade.
Há também a dependência, ou melhor,
a “interdependência” que envolve pais e filhos. Não somente os filhos dependem
dos pais, mas estes, por outro lado, dependem dos filhos para sua realização,
sua felicidade e para sua tranquilidade. Como diz um velho ditado popular: “Filho
criado é trabalho dobrado” ...
5.
Solução para o entendimento mútuo
A compreensão é a primeira dimensão
para o entendimento mútuo, pais-filhos. Compreender que ninguém é melhor do que
o outro, mas que são todos muito diferentes, mesmo entre os filhos de um mesmo
casal! Compreender que “cada um é um”, embora convivendo em uma mesma
comunidade familiar de valores bem conhecidos. Compreender que cada um dos filhos
absorverá esses valores conforme a sua própria cabeça e o seu próprio coração. Compreender
que os pais têm uma responsabilidade grande diante dos filhos, da sociedade e
de Deus.
O respeito mútuo é o maior desafio
entre pais e filhos. Para os pais, respeitar é aceitar que o outro seja, de
fato, “um outro”, e não uma extensão de seu corpo ou de sua mente ou de seu
espírito. Para os filhos, respeitar é aceitar o fato de que os pais não são
seus “pares”, isto é, seus coleguinhas, mas têm grande responsabilidade sobre eles.
Respeitar, enfim, é uma importante dimensão do “amor cristão”, que nos leva a valorizar
o outro, que, como nós, é uma pessoa que merece toda a compreensão e todo o
respeito de nossa parte.
6.
Dicas práticas para exercer o respeito
Consideração: praticar a
consideração em relação ao outro (pais ou filhos ou irmãos), entendendo que a “consideração”
é levar em conta a existência do outro em minha vida, em minha comunidade familiar.
Dizer, então, para onde se vai, quando se pretende voltar, com quem se vai etc.
é um importante exemplo da prática da consideração, que muito ajuda na convivência
familiar.
Diálogo: praticar o diálogo não deve
ser confundido com dizer “todas as verdades” ao outro; mas colocar diante do
outro sua vida, suas ansiedades, seus projetos: é falar com amor, com desejo de
construir o outro.
Amizades comuns: pais e filhos podem
e devem ter amizades comuns! Os pais dos amigos dos filhos, por exemplo. Essas
amizades ajudarão a estabelecer relacionamentos saudáveis envolvendo pais e filhos.
Cooperação: pais e filhos devem dar-se
as mãos nas tarefas da casa, nos desafios familiares. Praticar a cooperação nas
dimensões das compras, da limpeza e da ordem da casa, nos estudos etc.
Oração em comum: finalmente, mas não
menos importante, vem a oração em comum, envolvendo todos os membros da família.
Os pais não deveriam obrigar – com força bruta! –, por exemplo, que os filhos
os acompanhem à Missa ou a um culto religioso; mas deveriam, sim, convidar
sempre, e até com insistência, seus filhos a os acompanharem. E os filhos, por
seu lado, não deveriam deixar de acompanhar os pais – mesmo que nem sempre o
façam – a essas funções religiosas, que eles tanto valorizam. E, de preferência,
que os pais – o marido e a mulher – estejam de acordo com essa prática de
participação em assembleias religiosas, para que possam ter mais força diante
dos filhos.
Conclusão
Pais
e filhos, embora bem diferentes entre si, têm a base do amor e da interdependência
para alcançarem o bom relacionamento familiar, que pode ser incrementado se os
dois lados procurarem, sinceramente, a convivência baseada na compreensão e no
respeito, e suportados pela fé, pela oração e pela prática religiosa.
Uilso
Aragono. (fev. de 2024)
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