São tantas as ilusões que permeiam a vida humana em sociedade que um só
artigo não é suficiente! Nesta segunda parte outras considerações são feitas
para mostrar outras tantas ilusões e mentiras que se propagam por toda a parte
como sendo verdades inquestionáveis...
Partidos de mentira
Recentemente o Ministro Joaquim
Barbosa, num debate em meio universitário, criticou o Congresso Nacional – como
estando, quase sempre, a reboque do poder Executivo –, e os partidos políticos
– como sendo “de mentirinha”. Particularmente, ao criticar o sistema partidário
brasileiro e a cultura política brasileira (e não somente os partidos) o Ministro
tenta, exatamente, chamar a atenção dos universitários para a necessidade de se
ter uma visão crítica e cuidadosa de tudo aquilo que envolve a sociedade e que
não é o que parece ser ou o que se propõe como verdade. Ao designar os partidos
brasileiros de “partidos de mentirinha” o Ministro desmascara uma das quase
incontáveis ilusões que fazem parte da vida dos brasileiros. Recebeu críticas
de toda parte como se estivesse falando algo absurdo, quando, ao contrário, estava falando, nada mais nada
menos do que a mais pura verdade. E coincide, felizmente, com aquilo que grande
parte da população brasileira, mais atenta e mais crítica, também crê. Partidos que não convencem, Congresso que não
se afirma como poder independente: verdades contra as ilusões. Parabéns ao Sr.
Ministro Joaquim Barbosa por mais esta contribuição ao povo brasileiro!
O professor não tem o poder de ensinar
Outra ilusão largamente propagada
como verdade absoluta é aquela ligada a um suposto “poder” de ensinar que teria
o professor. Embora já tenha discutido sobre esta questão em outro artigo neste
blogue (“Ensino ou aprendizagem?”, fev. de 2013) vale a pena, neste artigo,
destacar este aspecto como sendo mais uma das ilusões aceitas, sem maiores
questionamentos, pela sociedade, de modo geral. Se o professor tivesse o poder
de ensinar a seus alunos, e supondo turmas razoavelmente homogêneas, todos os
alunos seriam aprovados na sua disciplina (ou unidade curricular, para usar um
termo mais moderno).
Como professor universitário que sou, tenho
esta experiência: diante das mesmas aulas e diante do mesmo professor, e
supondo garantida a presença mínima, cada aluno responde de uma forma peculiar,
não dependente de quais recursos metodológicos sejam usados. E alguns passam
com boas notas, enquanto outros chegam a ficar reprovados. Na área pedagógica
costuma-se usar a expressão “ensino-aprendizagem”, como a se reconhecer que o “ensino”
está intimamente ligado à aprendizagem. Mas é uma meia-verdade. A verdade inteira
é que o ensino é apenas um termo vazio ao qual foi dado conteúdo e associado ao
professor, para designar de forma mais simples sua função ou sua missão. Prega-se,
então, que ao professor cabe ensinar, quando, na realidade, quem tem o poder é
o aluno: é ele quem tem o verdadeiro poder de aprender. E se esta verdade fosse
divulgada, e se os professores a vivessem, a aprendizagem dos alunos, em todos
os níveis, seria muito mais efetiva. Ao professor, cabe, na realidade, a missão
complexa e nobilíssima de ser um orientador (plano de curso), um tira-dúvidas,
um avaliador, um incentivador, enfim, uma referência para o aluno. Ensino é
ilusão; aprendizagem é real!
O inglês não é língua internacional
Ilusão das mais deletérias e financeiramente
prejudiciais é a crença de que falar inglês – a (suposta) língua internacional
– é culturalmente necessário, importante para a carreira e, graças a métodos
dos mais eficazes, acessível a qualquer pessoa. Crença apoiada já há décadas
pelo Governo federal, e plenamente aceita pela sociedade brasileira (bem como a
de outros países, igualmente iludidos), constitui-se numa mentira deslavada e
que tem como beneficiários, unicamente, os povos anglófonos: Inglaterra e
Estados Unidos, em especial. Para começar, o inglês não é único, mas são muitos
idiomas “ingleses” no mundo, e das línguas mais difíceis de serem aprendidas.
Deveria ser ilustrativo o fato de que o Brasil, apesar de impor o ensino de
inglês a suas crianças, nos níveis de ensino fundamental e médio, já há, pelo
menos, quatro décadas, não tenha formado brasileiros falantes de inglês. O ensino
de inglês nesses níveis é – constata-se facilmente na prática – absolutamente
inútil! Qualquer estudante que queira aprender inglês, de fato, e raramente
superando o nível básico, terá, necessariamente, de entrar, e pagar caro, em um
curso particular de língua inglesa.
As perguntas finais são: quem
ganha com tal ilusão? Por que os americanos e os ingleses, em contrapartida
pelo fato de o Brasil estar estudando a língua deles, oficialmente, em todas as
escolas, não obriga, também, a seus alunos a aprenderem o português? Por que o
Governo não avalia, após tantos anos de tentativa, o nível de eficácia do
ensino de inglês no sistema de ensino brasileiro e, concluindo que para nada
serve, não o cancela? Que espírito de submissão infantil é este que leva toda
uma sociedade a cultuar e a louvar uma língua estrangeira, verdadeiramente
inacessível para o comum dos mortais, e a gastar tanto tempo e dinheiro na ilusão
de sua aprendizagem?
Finalmente, língua internacional,
de fato, é a língua já com falantes em cerca de 120 países no mundo e que, de
fato, reúne as características para ser uma língua franca, uma língua para as
relações internacionais, uma língua para ser como que a segunda língua de todo
povo: é a língua internacional de nome Esperanto. Lançada em 1887, já há 126
anos, é hoje uma língua viva, com cultura internacional, já testada e aprovada
por todos aqueles que a adotaram como língua ponte, ou língua auxiliar, para as
comunicações internacionais. Língua planejada para ser internacional, apresenta
características de facilidades gramatical e fonética, além de economia de
memória do aprendiz e rapidez de aprendizagem efetiva. Com congressos regionais e um universal a cada
ano, o Esperanto é usado em músicas, livros, filmes, sítios da internet, além
de publicações em quase todas as áreas de interesse social. Esta é uma língua
que vale a pena ser aprendida e que, de fato, até idosos a aprendem com
eficácia. Isto acontece com o inglês ou com outras línguas nacionais?
Conclusão
São tantas as ilusões e mentiras
espalhadas na sociedade, como sendo verdades indiscutíveis, que precisamos,
todos os que são capazes de identificá-las, lutar para que a “luz da verdade
brilhe nas trevas das ilusões”. Como já disse o Mestre dos mestres, Jesus, “conhecereis
a verdade, e a verdade vos libertará”. A luta de todos, nesse sentido, de
denunciar as mentiras e ilusões, como fez nosso Ministro Joaquim Barbosa, é uma
tarefa necessária, nobre e urgente e para a qual todos deveriam considerar-se
convocados.
Uilso Aragono (maio de 2013)