A questão da deficiência e dos talentos é uma questão ligada à natural “desigualdade” entre as pessoas humanas. Podemos afirmar que todos somos, em grau maior ou menor, deficientes e talentosos, ao mesmo tempo. Deficiências e talentos que podem ser naturais ou adquiridos. Uma deficiência pode surgir de um acidente, enquanto um talento pode ser desenvolvido por meio de um curso específico. Vamos refletir um pouco sobre essa questão.
Todos somos deficientes
Sobre a PCD (Pessoa Com Deficiência),
gostaria de lembrar aqui uma reflexão que fazia com meus alunos. Dizia-lhes que,
na verdade, todos nós somos deficientes, em grau maior ou menor. Uns, como eu,
enxergam mal e usam óculos. Outros (como muitos) têm deficiência auditiva
parcial; outros ainda não conseguem cantar afinados. Uns não cresceram o
suficiente, enquanto outros cresceram demais (espécie de gigantismo). Muitos
são gordos, e muitos outros são magérrimos. Há aqueles que não conseguem ler ou
falar em público. Muitos não conseguem tirar carteira de motorista, porque têm
dificuldades de visão espacial ou controle motor. Muitos outros não identificam
as cores corretamente (o daltônico, em alto grau) e nesse pormenor, dizem que
as mulheres enxergam milhares de cores, enquanto os homens, somente as cores
básicas... E há aqueles que sofrem de mais de uma dessas “deficiências”. (Aliás,
antes, o “politicamente correto” indicava o termo PNE — Portador de Necessidades
Especiais—, para evitar o termo “deficiência”, e, agora, voltamos a usá-lo: tentativa
de “controle social”?... ).
Todos somos talentosos
Por outro lado, todos somos “talentosos”,
em maior ou menor grau. Senão, vejamos. Uns conseguem tocar um instrumento
musical, ou vários, com facilidade, enquanto outros—não, necessariamente os
mesmos —, conseguem cantar com facilidade. Alguns têm o talento da pintura, enquanto
outros desenham com perfeição. Alguns leem ou falam em público, fotografam ou escrevem
bem, sem qualquer curso específico. Outros aprendem idiomas com muita
facilidade e tornam-se poliglotas, enquanto outros, ainda, embora não falem
várias línguas (intérpretes) têm grande facilidade para fazerem excelentes traduções
(os tradutores). Muitos têm uma natural facilidade
para cozinhar bem, e outros tornam-se especialistas em apreciar e identificar
bons vinhos. As boas e más fragrâncias são facilmente identificadas por alguns,
enquanto outros tornam-se excelentes artistas das cores e seus matizes.
O talento como compensação de uma
deficiência
E há aqueles que apresentam uma deficiência
grande em uma área (por exemplo, na intelectual) mas foram dotados, pela
natureza, de um talento enorme para tocar um instrumento musical (o piano, por
exemplo). Outros, ainda, vivenciam uma deficiência visual séria, mas desenvolvem
uma acuidade auditiva invejável! Alguns sofrem de gagueira em sua língua nativa,
mas falam fluentemente em uma língua estrangeira (sem gagueira) ou cantam sem
problemas. Outros não têm mãos, mas desenvolvem uma capacidade maravilhosa de
”pintar com os pés”. Há alguns que nunca foram bons nos estudos de matemática
na escola, mas descobriram-se talentosos nos cálculos de cabeça, para espanto
dos matemáticos.
Conclusão
Podemos concluir essa reflexão sobre
deficiências e talentos, naturais ou adquiridos, reconhecendo que, de fato, todos
nós, humanos, somos PCD (ou PNE) em graus variados. E que uma marca intrínseca
dos seres humanos é a sua fundamental originalidade: ninguém é igual a nenhum
outro; todos somos, naturalmente, desiguais. Mas é claro que, para aqueles que apresentam
deficiências em alto grau, a Sociedade deve ter, por uma questão de caridade e justiça,
uma atenção especial para compensar as suas dificuldades inerentemente maiores.
O mesmo aplicando-se aos talentosos em alto grau.
Uilso Aragono. (jun./2023)
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