Os conflitos de relacionamento no meio familiar e entre amigos são
muito comuns, tanto hoje como há muito tempo. Ferimo-nos, sobretudo com
palavras e ações, por alguns motivos que – com a cabeça fria – podem ser
listados, apreciados, meditados e assumidos, com vistas a uma melhoria geral
nos relacionamentos e no alcance das tão desejadas harmonia e paz entre os que
se amam.
1. TODOS
ERRAMOS, NAS PALAVRAS E AÇÕES
Em primeiro lugar, temos de
considerar que todos nós erramos nos relacionamentos interpessoais,
simplesmente porque não somos seres humanos perfeitos e porque as complexidades
das relações interpessoais, sobretudo no mundo de hoje, são enormes.
Falamos o que não devíamos ter
falado; calamos quando devíamos ter falado; falamos no momento impróprio;
falamos e agimos sob o influxo de zonas de estresse, isto é, com a “cabeça
quente”; falamos precipitadamente; tomamos decisões precipitadas e não bem
pensadas; ofendemo-nos mutuamente, sem, no entanto, desejar ofender... Quem já
não passou por esses erros de relacionamento?
2. MAS
NOS AMAMOS...
Em segundo lugar, devemos nos
conscientizar – numa atitude de quem busca enfrentar os problemas, de forma
adulta e esclarecida – de que se nos ofendemos é porque, de fato, erramos, mas,
no fundo, nos amamos: na verdade, nas palavras e ações, estamos procurando o
bem do outro. É o paradoxo, a contradição do amor humano. Queremos o bem,
porque amamos o outro, mas na tentativa de protegê-lo, orientá-lo,
interessar-se por ele, enredamo-nos nos nossos próprios limites, fraquezas e
ignorâncias, e conseguimos, exatamente, o contrário do que, no fundo,
desejamos. Ou será que ofendemos nossos próximos, nossos queridos, com a
intenção de destruí-lo?...
É o amor do pai e da mãe que, ao
superproteger os filhos, acaba por sufocá-los e deixá-los indefesos diante dos
desafios da modernidade. São as expressões de amor do homem e da mulher que –
pelo fato de serem totalmente diferentes – são mal interpretadas e causam
brigas e desentendimentos conjugais, entre namorados, etc. No fundo das brigas
e desentendimentos entre os próximos, estará, sempre, o amor! Você sabe amar
com toda a propriedade? Com toda a perfeição, a ponto de não ofender ou ferir
ninguém?
A intimidade e a proximidade,
entre os que se amam, são outros dois fatores que podem jogar luz nas causas
dos seus desentendimentos e conflitos. Porque esses dois fatores – intimidade e proximidade – favorecem a
retirada das “máscaras nossas de cada dia”... Estas são, consciente ou inconscientemente,
usadas durante todo o dia de trabalho e nas relações sociais, mas são retiradas
em casa, juntamente com as vestes formais: já com as roupas de casa, aparecem
nossos rostos sem máscaras. Vendo-nos, uns aos outros, com transparência,
comportamo-nos de forma mais autêntica, mais sem freios, mais sem censura, e,
infelizmente, menos delicada e, portanto, sujeita aos mútuos ferimentos
relacionais. Quem consegue controlar-se para pensar o que fala, e, ao
contrário, não falar o que pensa? Quem pensa o que fala é um adulto; quem fala
o que pensa, é a criança.
3. E
QUEM AMA PERDOA...
Em terceiro lugar, conscientes de
que todos somos vítimas da contradição do amor humano (em todos os seus
níveis), precisamos nos lembrar de que, da mesma maneira que agimos para curar
uma ferida na pele, temos que, igualmente, agir para curar a ferida na alma.
Mas, neste caso, o remédio e o curativo estão na capacidade de compreender e
perdoar o outro. Afinal, tudo ocorreu “por amor”. Na verdade, sabemos que a
famosa frase de Shakespeare – “Amar é não ter, jamais que pedir perdão” – não
passa de ficção romântica! A realidade é marcada, exatamente, pelo contrário:
Amar é estar sempre disposto a perdoar, ou: o verdadeiro amor é o que sempre
perdoa... Seu amor é capaz de perdoar?
4. E
QUEM AMA PEDE PERDÃO...
Mas cada uma das partes em
conflito deve conscientizar-se de que se deve perdoar, também deve pedir perdão.
O perdão deve ser mútuo, além de sincero e verdadeiro. E o pedido de perdão,
sincero, deverá vir acompanhado do verdadeiro arrependimento e da verdadeira
conversão, da verdadeira mudança de atitude. E como arrepender-se sem se
decidir por enfrentar esses fantasmas que assombram nossos relacionamentos?
Uma boa metodologia, proposta
pelo Dr. Augusto Cury, psiquiatra e autor de ótimos livros sobre bons
relacionamentos intra e interpessoais, é a técnica DCD: Duvidar, Criticar e
Determinar estrategicamente. Ensina ele: devemos DUVIDAR de nossos “fantasmas”.
E estes podem ser nossos “impulsos” inconscientes que nos levam a falar e agir
de forma errada diante de nossos entes queridos. Podem ser, portanto, nossas
agressividades, nossos maus comportamentos (que irritam os próximos), nossas
palavras mal ponderadas, etc. Duvidar significa dizer a esses fantasmas: vocês
não têm domínio sobre mim [Cury, 2013*].
Em seguida, devemos CRITICAR a
provável ilogicidade de nossas motivações inconscientes que nos levam a ferir o
outro. E isto significará, após a ponderação de que tais impulsos e razões são
ilógicos, a dizer para esses fantasmas: vocês não têm razão de existir.
Normalmente, tais fantasmas ou monstros são como aquela barata que se
transforma num “monstro assustador” para aquela pessoa que tem “pavor” de
baratas. Uma crítica lógica e racional pulverizará esse monstro e o tornará o
que é: nada! Você arranja tempo para duvidar e criticar os seus fantasmas?
Finalmente, DETERMINAR,
estrategicamente, uma nova atitude, novas posturas, novos comportamentos, novas
ações, enfim, uma nova vida, não dominada por tais fantasmas ilógicos. Decidir
e determinar que o autor de sua própria existência seja você mesmo, e não seus
temores, fobias, fantasmas e demais impulsos inconscientes. A decisão, fria e
calculista, após boa reflexão e meditação, é comum em sua vida?
5. E
FOGE DA ZONA DE ESTRESSE...
Erramos, também, porque muitas
vezes falamos e tomamos decisões durante o que podemos chamar de “zona de
estresse”. Dr. Augusto Cury, mais uma vez, nos orienta a evitar aqueles 30
segundos de fúria, de estresse, de tensão, calando-nos, respirando fundo, e
conscientizando-nos de que grandes estragos e até tragédias ocorrem em
relacionamentos humanos, durante esse pequeno período de tempo. Você consegue
fugir dessas zonas de estresse?
É importantíssima tal sabedoria
dos nossos avós: “conte até 10 durante o nervosismo”. De fato, praticar o não
responder ou agir, durante a zona de tensão, ou zona de estresse, representará
um grande salto de qualidade em nossos relacionamentos. Foi ofendido? Não
responda na hora... Deixe passar algum tempo. Afinal, quem nunca ofendeu o próximo,
consciente ou inconscientemente, que “atire a primeira pedra”! Portanto, em
nome, também, dessa humildade – reconhecer que somos alguém que também
ofendemos – devemos aceitar e, até, permitir que sejamos ofendidos... Sabendo,
no entanto, que, muito provavelmente, ouviremos um pedido de perdão
oportunamente. E você? nunca teve de pedir perdão por uma palavra dita num
momento de explosão?
6. E
NÃO SE DEIXA DOMINAR POR PRECONCEITOS
E em último lugar, podemos citar
um dos impulsos inconscientes que nos movem a ofender e a produzir
relacionamentos de baixa qualidade afetiva: são os preconceitos que criamos em
relação aos outros. No momento em que tais preconceitos se estabeleceram dentro
de nós, eles passam a tentar nos dominar (como um impulso inconsciente) em
nossos relacionamentos. Quando alguém já considera que o outro seja grosseiro,
qualquer palavra mais dura que ele venha a proferir será encarada como
“grosseria” e merecerá, de sua parte, uma resposta, talvez, igualmente grossa.
No entanto, pode não ter havido, de fato, qualquer intenção de grosseria da
parte da pessoa. É o chamado estar de “pé atrás” diante de alguém.
Que outros exemplos de
preconceito, próprios ou de terceiros, você consegue lembrar-se? Não são, de
fato, uma verdade nos relacionamentos?
Tendo em vista esses seis pontos
de reflexão acima, muito provavelmente os conflitos de relacionamento entre
familiares e amigos possam ser superados, possam ser vencidos e a verdadeira
harmonia, tão desejada pelo amor que os move, possa vir a ser, finalmente,
vivenciada.
*CURY, A. Armadilhas da mente. São Paulo: Arqueiro, 2013, p.162.
Uilso Aragono. (fevereiro de 2014)
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