O QUE GANHAMOS? – NADA.
Mesmo sem fazermos uma pesquisa
científica aprofundada, baseando-nos, tão somente, naquilo que constatamos e
sentimos, podemos afirmar que a exploração da violência pela mídia –
particularmente pelos jornais impressos – não contribui, positivamente, para
que tenhamos uma sociedade mais pacífica, mais harmoniosa, mais humana.
A descrição detalhada de como
ocorreu este ou aquele crime, esta ou aquela ação violenta, não pode ser
“educativa” para a mente, especialmente, da infância, da adolescência e da
juventude, para ficar apenas nessa parte da Sociedade que está na fase do
desenvolvimento educacional. O que ganha um jovem ao ler os detalhes (às vezes,
macabros) de um assassinato? Se o jovem quiser ver violência, ele que procure
um filme violento, mas que lhe esteja dentro da sua faixa de idade recomendada.
Mas a violência expressa nos jornais, não está associada a qualquer
recomendação de faixa etária adequada. Qualquer criança está exposta a dar
curso à sua curiosidade diante de jornais impressos deixados livremente à sua
disposição... É a violência entrando na mente da criança e tornando-a, no
mínimo, algo natural, enquanto deveria ser, para qualquer cidadão, algo
totalmente antinatural, aberrante, e condenável!
O QUE PERDEMOS? – MUITO.
A Sociedade só tem a perder com a
descrição detalhada dos eventos violentos vividos em seu interior. As seguintes
consequências podem ser listadas, sem muito esforço:
1) O
cidadão acostuma-se com a ideia da violência, em todas as suas variedades,
encarando-a como “natural”;
2) O
cidadão desenvolve certa psicose do medo, o que o atrapalha a viver a sua vida
social, levando-o, muitas vezes a ter sérios problemas psicológicos, como
depressão, fobias, angústias, etc.;
3) O
jovem menos amparado educacionalmente pode sucumbir, mais facilmente, às
tentações das facilidades que o crime oferece e seguir as “orientações” que os
mais experientes passam por meio da descrição detalhada das “páginas
policiais”;
4) O
cidadão que sofra de qualquer mínima tendência ao desenvolvimento de aspectos
de psicopatia encontra, na violência expressa pelos jornais, “incentivos” a
exercitar esses aspectos doentios da personalidade. Alguns cientistas já
perceberam que alguns psicopatas cometem crimes para, dentre outras razões,
“aparecerem” como “heróis” – em sua mente distorcida –, e tornarem-se famosos,
nas páginas dos jornais;
5) O
cidadão que esteja envolvido com problemas familiares, financeiros, dentre
outros, fica estimulado por certos exemplos de violência, como é o caso do
suicídio, que é uma violência contra si próprio. É o caso, já cientificamente
constatado, de que a divulgação de suicídios (em seus detalhes), pelos jornais,
tem efeito contagiante sobre pessoas com tais tendências ou sob forte estresse
emocional. Não é à toa que já se estabeleceu, no âmbito de mídia impressa, uma
espécie de “compromisso” não escrito quanto a não divulgação, em seus detalhes,
de casos de suicídio. Sabe-se que, em Vitória – ES, não se divulgam nos
jornais, senão excepcionalmente, os casos de suicídio ocorridos na Terceira Ponte,
justamente para que outros casos não sejam “incentivados”. Por que não estender
tais conclusões, e tais compromissos, a todos os outros casos de violência
social?
O QUE FAZER?
A Sociedade deveria, em primeiro
lugar, tomar consciência quanto aos males, acima apontados, em relação à
violência diariamente divulgada pelos jornais impressos. Tomada esta consciência,
algumas alternativas mais produtivas e educativas, à violência jornalística
diária, poderiam ser pensadas por nossas autoridades, testadas e tornadas
prática constante. Algumas ideias podem ser listadas a seguir, embora os
jornalistas sejam aqueles que têm toda a
capacidade de identificar, criativa e eficazmente, as melhores opões.
1) Divulgar
na primeira página, no lugar das antigas e superadas notícias sobre violências,
chamativas e alarmantes, totalmente ao contrário, notícias sobre ações
positivas, pacíficas e pacificadoras ocorridas nas comunidades locais;
2) Divulgar
notícias sobre violência social, apenas naquilo que interesse ao conhecimento
da Sociedade, e de maneira absolutamente sumária, não revelando nomes de
pessoas nem de instituições envolvidas, na forma, talvez, de indicações
estatísticas. Estas poderiam ajudar à Sociedade a tomar providências quanto aos
índices que insistam em permanecer ruins;
3) Divulgar
ações humanitárias e educativas, de iniciativa de indivíduos, de associações e de
ONGs das comunidades locais, com descrição detalhada, aqui sim, sobre o que tem
sido e como têm sido feitas tais ações pró cidadania;
4) Divulgar
os índices positivos relativos à saúde, à educação e à qualidade de vida da
população ou, não existindo tais, divulgar os desafios a serem alcançados
nessas áreas de interesse maior da população;
5) Divulgar
as atividades, que surgem constantemente, e que busquem oferecer aos cidadãos
oportunidades de melhoria de suas competências profissionais, de sua qualidade
de vida, de sua participação política, etc.;
CONCLUSÕES
Reconhecer que a violência
costumeiramente divulgada pela mídia, particularmente pelos jornais impressos –
que ficam mais à disposição livre de qualquer pessoa, independentemente da
idade – tem sido, em vez de bênçãos, ocasião de grandes males para a Sociedade
e seus cidadãos, especialmente para aqueles que estejam em idade de formação
educacional (crianças, adolescentes e jovens), é uma das primeiras atitudes que
todos nós deveríamos tomar no sentido de superar a exploração da violência
pelos jornais impressos.
Buscar alternativas à costumeira
publicação de notícias de violência social é perfeitamente possível, e muitas
opções criativas existem e podem ser exploradas positivamente, tanto para os
jornais, quanto para a Sociedade. Se num primeiro momento cair a tiragem dos
jornais, há que se ter a paciência histórica para reconhecer que toda mudança
carece de algum tempo para ser digerida e aceita pela população.
Um mundo novo pode abrir-se para
a Sociedade cujos meios de comunicação impressos vençam a tentação da exploração
da violência social, para a venda fácil. Os cidadãos devem conscientizar-se da sua
própria avidez em relação ao interesse e ao consumo de notícias sobre violência
e passar a valorizar, para o bem, em especial, das futuras gerações, notícias
mais positivas, instrutivas, educativas, formativas e culturais.
Vencer o círculo vicioso de
divulgação jornalística de violência, que gera mais violência, não só é
possível, mas absolutamente necessário a uma Sociedade que queira tornar-se,
realmente, madura e com elevada qualidade de vida.
Uilso Aragono. (março de 2014)
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