domingo, 30 de setembro de 2012

CAÇAR TALENTOS, EM VEZ DE BANDIDOS


Vivemos, no Brasil, uma neurose com relação à violência e à necessidade de se combatê-la. Fala-se, muito, na necessidade de se investir cada vez mais nos recursos humanos e materiais para o combate à criminalidade. E já se gasta muito com recursos tecnológicos de última geração, como os vant (veículo aéreo não tripulado) recém adquiridos pela polícia do Rio, com investimentos da ordem de 80 milhões de reais. Mas se esquece de que tão importante – ou  mais – seria a caça aos talentos humanos, isto é, às pessoas talentosas, em todas as áreas do conhecimento,  que possam contribuir para um Brasil maior! Quanto tem gasto nosso Governo nacional com relação a esta causa?...

Um caso exemplar é o do mineiro Nélio José Nicolai, que inventou o identificador de chamada (conhecido, também, como Bina) e nunca ganhou nada por isso. Nem mesmo reconhecimento nacional. Ele mesmo diz, numa reportagem de A Tribuna, em 11/set/2012: “Lutei praticamente sozinho. Não foram poucas as pessoas que, nesse período, diante da indiferença dos sucessivos governos brasileiros e das ameaças que recebi, me aconselharam a desistir”. Aqui aparece um aspecto importantíssimo, que precisa ser urgentemente revertido: “indiferença dos sucessivos governos brasileiros”. Ora, se nosso Governo tivesse a consciência da importância de ter uma agência, ou o que for, que se disponha a caçar os “talentos” brasileiros – como esse nosso mineirinho! – seriam encontradas muitas pessoas que, como ele, se fossem auxiliadas em sua luta, normalmente, solitária, renderiam, certamente, muitos frutos para nosso País, tanto financeiros quanto de prestígio internacional. Veja-se que a Bina foi inventada por um brasileiro e está sendo usada mundialmente, sem que tal fato seja reconhecido. E nosso próprio Governo não percebe o quanto está perdendo, também ele, por não dar nenhum apoio à luta do Inventor.

Muitos outros casos existem, tanto na história recente, quanto nos dias de hoje, de pessoas talentosas que poderiam ter recebido apoio de nossas autoridades e não o tiverem, para prejuízo de todos. Pode ser citado, dentre muitos casos, o do Padre Roberto Landel de Moura, que pode ser considerado o Pai brasileiro do rádio, e poderia ter sido reconhecido como o primeiro a utilizar as ondas eletromagnéticas para transmissão de voz, não lhe fosse a absoluta falta de apoio do Governo brasileiro e até dos jornais e do povo de sua época. Já Guilherme Marconi, inventor italiano, foi mais feliz no apoio de seu país, sendo hoje considerado o Pai da rádio comunicação.

Os Estados Unidos da América são um bom exemplo do que pode fazer um país que saiba reconhecer, caçar e incentivar seus bons talentos científicos. Do estrangeiro atraiu nomes como Wernher Von Braun (alemão, responsável pelo aperfeiçoamento das bombas voadoras V-2), Albert Einstein (outro nome alemão que não precisa de apresentação) e Enrico Fermi (prêmio Nobel italiano, inventor do reator nuclear), dentre muitos outros, em várias áreas do conhecimento. Por que não faz o mesmo nosso querido Brasil Varonil? Quando acordaremos para essa necessidade de identificar, valorizar e apoiar nossos talentos, nossos cérebros?

Já passou da hora de nossas autoridades nacionais darem a atenção devida aos solitários cérebros, inventores, talentos, artistas, etc., para que, apoiados em suas necessidades financeiras, possam evoluir em seus conhecimentos ou habilidades para o bem maior de nosso Brasil. Investir em talentos é investir no País! Quando aprenderemos esta lição tão básica e tão verdadeira? A Copa do mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 estão aí para desafiar o Governo brasileiro a mostrar sua capacidade de gerenciar tais eventos mundiais. Já se fala em um bilhão de reais para incentivar os atletas que se destaquem... Será que, depois da Olimpíada, acordarão para a necessidade de valorizar a meritocracia, também, em outras áreas tão ou mais importantes que a área do esporte?
Meritocracia: esta é a palavra. Há que se caçarem talentos, sem se descuidar, no entanto, dos que, ao contrário, apresentem necessidades especiais. Mas mais importante do que caçar bandidos é, sem dúvida, caçar os talentos, e isto terá como consequência um país mais inteligente, mais produtivo, mais rico e, provavelmente, com menos bandidos...

Uilso Aragono (setembro de 2012)

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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