Vivemos, no Brasil, uma neurose
com relação à violência e à necessidade de se combatê-la. Fala-se, muito, na
necessidade de se investir cada vez mais nos recursos humanos e materiais para
o combate à criminalidade. E já se gasta muito com recursos tecnológicos de
última geração, como os vant (veículo
aéreo não tripulado) recém adquiridos pela polícia do Rio, com investimentos da
ordem de 80 milhões de reais. Mas se esquece de que tão importante – ou mais – seria a caça aos talentos humanos,
isto é, às pessoas talentosas, em todas as áreas do conhecimento, que possam contribuir para um Brasil maior!
Quanto tem gasto nosso Governo nacional com relação a esta causa?...
Um caso exemplar é o do mineiro
Nélio José Nicolai, que inventou o identificador de chamada (conhecido, também,
como Bina) e nunca ganhou nada por
isso. Nem mesmo reconhecimento nacional. Ele mesmo diz, numa reportagem de A
Tribuna, em 11/set/2012: “Lutei praticamente sozinho. Não foram poucas as
pessoas que, nesse período, diante da indiferença dos sucessivos governos
brasileiros e das ameaças que recebi, me aconselharam a desistir”. Aqui aparece
um aspecto importantíssimo, que precisa ser urgentemente revertido:
“indiferença dos sucessivos governos brasileiros”. Ora, se nosso Governo
tivesse a consciência da importância de ter uma agência, ou o que for, que se
disponha a caçar os “talentos” brasileiros – como esse nosso mineirinho! – seriam
encontradas muitas pessoas que, como ele, se fossem auxiliadas em sua luta,
normalmente, solitária, renderiam, certamente, muitos frutos para nosso País,
tanto financeiros quanto de prestígio internacional. Veja-se que a Bina foi inventada por um brasileiro e está sendo usada mundialmente,
sem que tal fato seja reconhecido. E nosso próprio Governo não percebe o quanto
está perdendo, também ele, por não dar nenhum apoio à luta do Inventor.
Muitos outros casos existem,
tanto na história recente, quanto nos dias de hoje, de pessoas talentosas que
poderiam ter recebido apoio de nossas autoridades e não o tiverem, para
prejuízo de todos. Pode ser citado, dentre muitos casos, o do Padre Roberto
Landel de Moura, que pode ser considerado o Pai brasileiro do rádio, e poderia
ter sido reconhecido como o primeiro a utilizar as ondas eletromagnéticas para
transmissão de voz, não lhe fosse a absoluta falta de apoio do Governo
brasileiro e até dos jornais e do povo de sua época. Já Guilherme Marconi,
inventor italiano, foi mais feliz no apoio de seu país, sendo hoje considerado
o Pai da rádio comunicação.
Os Estados Unidos da América são
um bom exemplo do que pode fazer um país que saiba reconhecer, caçar e
incentivar seus bons talentos científicos. Do estrangeiro atraiu nomes como
Wernher Von Braun (alemão, responsável pelo aperfeiçoamento das bombas voadoras
V-2), Albert Einstein (outro nome alemão que não precisa de apresentação) e
Enrico Fermi (prêmio Nobel italiano, inventor do reator nuclear), dentre muitos
outros, em várias áreas do conhecimento. Por que não faz o mesmo nosso querido
Brasil Varonil? Quando acordaremos para essa necessidade de identificar, valorizar
e apoiar nossos talentos, nossos cérebros?
Já passou da hora de nossas
autoridades nacionais darem a atenção devida aos solitários cérebros, inventores,
talentos, artistas, etc., para que, apoiados em suas necessidades financeiras,
possam evoluir em seus conhecimentos ou habilidades para o bem maior de nosso
Brasil. Investir em talentos é investir no País! Quando aprenderemos esta lição
tão básica e tão verdadeira? A Copa do mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016
estão aí para desafiar o Governo brasileiro a mostrar sua capacidade de
gerenciar tais eventos mundiais. Já se fala em um bilhão de reais para incentivar
os atletas que se destaquem... Será que, depois da Olimpíada, acordarão para a
necessidade de valorizar a meritocracia, também, em outras áreas tão ou mais
importantes que a área do esporte?
Meritocracia: esta é a palavra.
Há que se caçarem talentos, sem se descuidar, no entanto, dos que, ao
contrário, apresentem necessidades especiais. Mas mais importante do que caçar
bandidos é, sem dúvida, caçar os talentos, e isto terá como consequência um
país mais inteligente, mais produtivo, mais rico e, provavelmente, com menos
bandidos...
Uilso Aragono (setembro de 2012)
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