quarta-feira, 30 de outubro de 2024

OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ (BATISMO, EUCARISTIA E CONFIRMAÇÃO/CRISMA)

 Neste texto, faço uma reflexão sobre os chamados sacramentos da iniciação cristã: o Batismo, a Confirmação (ou Crisma) e a Eucaristia. Apresento, inicialmente, alguns conceitos teológico-doutrinais do Catolicismo que contribuirão para melhor compreensão da reflexão sobre o tema.

Sacramentos: realizam o que significam; o símbolo da água que lava, purifica dos pecados, verdadeiramente realizam esse significado! O óleo no peito da criança (ou na testa do adulto, na crisma) simboliza a unção, a eleição do Senhor pela pessoa que, como Cristo, é ungida, e realiza efetivamente essa unção, essa missão; as palavras do sacerdote: “Eu te absolvo desses teus pecados confessados” simbolizam e significam o perdão de Deus e efetivamente o realiza; as palavras dos noivos, diante da testemunha oficial da Igreja, que se acolhem um ao outro como marido e mulher, por toda a vida, bem como as alianças, simbolizam um contrato perpétuo e o realizam verdadeiramente diante de Deus; os símbolos e os ritos usados na consagração do sacerdote, do padre (ou presbítero), em sua ordenação, simbolizam e efetivamente realizam o que simbolizam: o candidato à ordem recebe de Deus, verdadeiramente, tudo aquilo que os sinais significam; o óleo da unção dos enfermos, e os ritos dessa unção simbolizam as curas espiritual e física do doente e, efetivamente, de verdade, as realiza.

Sacramentos Indeléveis: No Batismo, na Crisma/Confirmação, e na ordenação diaconal/sacerdotal/episcopal (1°, 2° e 3° graus da Ordem, respectivamente) a marca do sacramento é indelével, isto é, para toda a vida da pessoa. Mesmo, portanto, que um sacerdote deixe de ser padre, voltando à condição de leigo (estado laico), ele não deixa de ser um sacerdote do Senhor, apenas fica afastado de suas funções; que podem ser retomadas em caso de risco de vida de alguma pessoa, quando, então, ele pode atuar como sacerdote. No caso de um casal, casado validamente diante de Deus, a marca indelével é para toda a vida do casal: um deles morrendo, essa marca desaparece e o sobrevivente poderá casar-se novamente (ou quando a união for, oficialmente, declarada nula pela Igreja). São como tatuagens espirituais que marcam para sempre a vida de uma pessoa (supondo que essas tatuagens não possam, de fato, ser removidas).

Graus espirituais: na vida espiritual, como na vida física, os dons de Deus, as graças, as bênçãos, as glórias, têm graus de quantidade ou de profundidade; no Batismo, a criança recebe também o Espírito Santo, mas como uma pequena dose, enquanto que para o adulto que recebe o Sacramento da Crisma, o dom do Espírito Santo é dado em plenitude (em grau pleno); Na domingo da Páscoa, Jesus sopra sobre os apóstolos dizendo: recebam o Espírito Santo, mas numa dose pequena, que somente será plena em Pentecostes; Os santos de Deus, no Céu, têm graus de glória diferentes; é como se diz: cada “copo” estará diante de Deus plenamente cheio, mas o tamanho do copo é diferente para cada alma; por isso, podemos rezar pelo nosso anjo da guarda, pedindo para ele um grau de glória maior, diante de Deus.

O tempo espiritual: existe, sim, um tempo espiritual para as almas que já estejam no Purgatório ou no Céu, é o chamado “evo”; somente Deus não muda, somente ele vive a eternidade, somente Ele é eterno; nós, criaturas de Deus, somos imortais, no sentido de que não morreremos para sempre, mas viveremos no evo, o tempo espiritual; explica-se: assim como o tempo físico supõe a mudança das coisas e das pessoas (que envelhecem), no tempo espiritual, as almas também supõem mudança, crescimento na santidade e nos graus de glória; por isso as almas do purgatório podem se santificar, se purificar e, em algum momento espiritual, estarem prontas para irem para o  Céu.

Disposição interior: é o estado de espírito e de consciência que a pessoa deve ter para que o Sacramento tenha efeito. Assim como somente pecamos, de verdade, com consciência e liberdade, também para a recepção válida e efetiva dos sacramentos precisamos demonstrar consciência e liberdade.

Batismo:

O Sacramento que torna uma criança cristã, que a integra à Igreja Católica, que lhe perdoa o pecado original e lhe dá uma “dose” do Espírito Santo; que torna o adulto (catecúmeno) um cristão, um filho de Deus, que lhe perdoa o pecado original e todos os pecados pessoais, preparando-o para a recepção dos Sacramentos da Crisma e da Eucaristia. (Sem necessidade do sacramento da penitência, mesmo porque o catecúmeno ainda não tem acesso a esse Sacramento!)

A água do Batismo nos faz morrer para os pecados e ressuscitar com Cristo para uma vida nova: a vida de ungidos, de cristãos (vem da palavra Cristo = ungido = Messias). A Igreja nos ensina (Código de Direito Canônico) que uma vez batizados na Igreja Católica, sempre católicos, mesmo que abandonemos a Igreja e a troquemos por outra, ou passemos a ser ateus. (É claro que para que retornemos à Igreja de Cristo, deveremos fazer, por escrito, uma renovação da fé católica e das promessas do Batismo diante de uma testemunha oficial da Igreja e buscar o Sacramento da Penitência para estar em estado de graça e voltar a participar dos demais sacramentos.)

O Batismo nos tira da condição de criaturas de Deus para a condição mais elevada de filhos de Deus. Embora Deus ame todas as suas criaturas, ele tem um especial amor pelos seus filhos em Cristo Jesus. Com o Batismo transformamo-nos em profetas, sacerdotes e reis: as três dimensões da vida cristã do leigo.

Só se batiza uma vez! É um sacramento indelével, uma “tatuagem” espiritual. Por isso, a Igreja Católica aceita o Batismo de muitas igrejas protestantes. Mas não aceita o batismo, dentre outras, da Igreja católica brasileira. Porque o Batismo válido deve seguir a fórmula trinitária: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, uso da água pura e a intenção de seguir a Cristo. Na dúvida, há o Batismo sob condição: “Se você, fulano, não foi batizado, eu te batizo em nome ...”)

Por que batizar uma criança em perigo de vida se a Igreja acredita que Deus tenha uma solução de salvação para as que morrem sem Batismo? Porque, com o Batismo, a alma da criança terá uma melhor situação diante de Deus: será uma cristã, uma filha de Deus, e não uma mera criatura de Deus.

O Batismo ainda pede um complemento... A Crisma.

Continua no próximo blogue.

Uilso Aragono. (outubro de 2024)

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

SETEMBRO: O MÊS DA BÍBLIA SAGRADA

 Neste blogue, a propósito do mês de setembro, em que se celebra o mês da Bíblia na Igreja Católica, vou apresentar um resumo e um esquema dos seus vários livros. Em vários textos dos próximos meses, creio que ainda esteja apresentando esses resumos e esquemas.

1. GÊNESIS (Gn; 50 capítulos) [Estes primeiros 5 livros são chamados: Pentateuco]

Essa palavra quer dizer “começo”. É um livro que conta como tudo foi criado e tudo o que se passou no início da vida humana na Terra: como Deus, no começo, apareceu às pessoas e mostrou como deveriam ser obedientes a Ele.

                Esquema:

                A criação do Universo e da raça humana;

                O começo do pecado e do sofrimento;

                De Adão até Noé;

                Noé e o dilúvio;

                A torre de Babel;

                De Sem até Abrão;

                Isaque e Jacó;

                Os descendentes de Esaú;

                José e os seus irmãos;

                Os israelitas no Egito.


2. ÊXODO (Êx; 40 capítulos)

Essa palavra quer dizer “saída”, e esse livro fala do evento mais importante da história do povo de Israel: a saída deles do Egito, onde eram escravos.

                Esquema:

                Os israelitas são libertados da escravidão do Egito;

                                1. A escravidão no Egito

                                2. O nascimento de Moisés e a primeira parte de                                       sua vida

                                3. Moisés e Arão, e o rei do Egito

                                4. A Páscoa e a saída do Egito

                Do mar Vermelho ao monte Sinai;

                A Lei e a Aliança;

                A Tenda Sagrada e as instruções para a adoração.

               

3. LEVÍTICO (Lv; 27 capítulos)

Nesse livro estão as leis e os mandamentos que Deus ordenou a Moisés dar ao povo de Israel. A principal lição é esta: o Deus do povo de Israel é santo e seu povo deve também ser santo!

                Esquema:

                Leis e a respeito de ofertas e sacrifícios;

                A ordenação de Arão e dos seus filhos para serem

                    sacerdotes;

                Leis a respeito de pureza e impureza cerimoniais;

                O Dia do Perdão;

                Leis a respeito da vida santa e da adoração santa.


4. NÚMEROS (Nm; 36 capítulos)

Chama-se “números” porque foram feitas duas contagens do povo israelita: quando saíram do Egito e antes de entrarem na terra de Canaã. Conta a história de um povo hesitante, com medo e revoltoso, que, no entanto, contava com a firmeza e a dedicação de Moisés e com o cuidado constante de Deus, através desse seu Escolhido.

                Esquema:

                Os israelitas se preparam para sair do monte Sinai;

                               1. A primeira contagem do povo

                               2. Várias leis e regulamentos

                               3. A segunda Páscoa

                Do monte Sinai até Moabe;

                O que aconteceu em Moabe;

                Resumo da viagem do Egito até Moabe;

                Deus prepara o povo antes da travessia do rio Jordão.

 

5. DEUTERONÔMIO (Dt; 34 capítulos)

Nesse livro estão os discursos que Moisés fez quando o povo de Israel estava na terra de Moabe. Moisés recorda ao povo o que Deus fez por eles nesses quarenta anos de travessia do deserto. O livro mostra o amor de Deus pelos israelitas, a quem Deus escolheu como seu povo. É muito importante o versículo 5° do capítulo 6°, pois foi citado pelo próprio Senhor Jesus: “Amem o Senhor, nosso Deus, com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças”.

                Esquema:

                O primeiro discurso de Moisés;

                O segundo discurso de Moisés;

                O terceiro discurso de Moisés;

                Os últimos conselhos de Moisés;

                A bênção de Moisés;

                A morte de Moisés.

Esses 5 primeiros livros da Bíblia Sagrada também são conhecidos como o Pentateuco, e pelos judeus, como a Torá.

No próximo blogue, darei continuidade a outros livros da sequência da Bíblia, conforme essa edição da Editora Paulinas.

 

Referência: Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Paulinas Editora, São Paulo, 2011.

Uilso Aragono (setembro de 2024)

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

MITRA E CÚRIA: QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS

 Os termos “Mitra” e “Cúria” são, muitas vezes, mal compreendidos. Quais são as diferenças entre eles? Este artigo busca tentar esclarecer essas diferenças, conceituando cada um deles em termos teóricos e práticos. Importante, desde logo, esclarecer que o bispo de uma diocese (ou arquidiocese) católica é, pela natureza da função, ao mesmo tempo: pastor, juiz, administrador e ecônomo da diocese. Por isso os três grandes pilares de apoio ao bispo, que não pode cuidar, sozinho, de todos esses aspectos de sua missão episcopal: a Mitra, a Cúria e o Tribunal Eclesiástico.

MITRA

O termo Mitra pode estar associado a dois conceitos: 1) É o paramento litúrgico utilizado por um bispo em cerimônias religiosas (aquele “chapéu” grande e pontudo que o bispo usa em suas funções litúrgicas, na Missa, por exemplo); 2) É uma entidade jurídica responsável pela administração dos bens materiais da diocese.

Este segundo significado é o que nos interessa, neste artigo. A Mitra cuida do patrimônio da diocese, incluindo paróquias, seminários e outros bens. É uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, e com finalidade religiosa. É, portanto, a parte administrativa e econômico-financeira da diocese.

CÚRIA

O termo Cúria é um órgão administrativo-pastoral da diocese. Este termo deriva do latim medieval e significa “corte”, como uma “corte real”. A Cúria é composta pelas principais autoridades da diocese e auxilia o bispo no governo da Igreja local. Inclui o vigário-geral (ou os vigários-gerais), os vigários episcopais, o chanceler, os notários, o diretor financeiro e outros funcionários designados pelo bispo.  Inclui também um conjunto de organismos administrativos e pastorais de auxílio ao bispo.

DIFERENÇAS ENTRE MITRA E CÚRIA

As principais diferenças, portanto, entre Mitra e Cúria podem ser assim destacadas:

A Mitra é uma entidade mais administrativa e econômico-financeira do que pastoral, enquanto a Cúria é, ao contrário, mais pastoral do que administrativa.

A Mitra é responsável por aspectos econômico-financeiros e administrativos dos bens materiais da diocese, envolvendo o ecônomo da diocese (às vezes um presbítero na função de vigário episcopal para assuntos econômicos), o possível Conselho para Assuntos Econômicos, e visando ao apoio ao bispo no que tange ao patrimônio geral da diocese.

A Cúria é responsável por aspectos mais pastorais, envolvendo o Colégio de Consultores (o antigo Cabido de cônegos), o Conselho Presbiteral, o Departamento de Pastoral e várias coordenações e comissões pastorais.

NA PRÁTICA               

Para dar exemplo de estruturação de uma diocese que contempla a Mitra e a Cúria, seja a Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo – AVES (site: www.aves.org.br):

A MITRA da AVES apresenta os seguintes organismos:

1.  Gerente Administrativo;

2.  Departamento de Suprimento;

3.  Departamento de Tesouraria;

4.  Departamento de Pessoal;

5.  Departamento de Contabilidade;

6.  Ecônomo ou Vigário Episcopal para assuntos Econômicos;

7.  Colégio de Consultores.

                A CÚRIA da AVES, por sua vez, apresenta os seguintes organismos:

1.   Bispo Auxiliar (ou Bispado Auxiliar);

2.   Vigários Gerais (ou Vicariato Geral);

3.  Clero secular e religioso;

4.   Comissão Arquidiocesana de Pastoral;

5.   Departamento de Pastoral;

6.   Chancelaria e Centro de Documentação;

7. Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ecumênica;

8.  Vicariato Episcopal para a Comunicação;

9.  Áreas Pastorais;

10.  Seminário Nossa Senhora da Penha;

11.  Centro de Treinamento Dom João Batista;

12.  Paróquias (91) e Comunidades Eclesiais (1022);

13.  Revista Vitória;

14.  Rádio América;

15.  Pastorais Sociais (11);

16.  Projetos Sociais (21);

17. Santuários (N. S. da Penha, S. Antônio, Divino E. Santo, N. S. do Rosário de Fátima e Bom Pastor);

18. Reitoria N. S. das Graças;

19. Conselho Presbiteral;

20. Tribunal Eclesiástico.

Em resumo, enquanto a Mitra se concentra na administração econômico-financeira dos bens materiais da Diocese, a Cúria é responsável pela administração geral e apoio ao bispo no governo pastoral da Diocese. 

Uilso Aragono (agosto de 2024)

quarta-feira, 31 de julho de 2024

VIGÁRIO GERAL, VIGÁRIO EPISCOPAL E BISPO AUXILIAR

 Neste bloque apresento os conceitos fundamentais relativos aos cargos de Vigário Geral, Vigário Episcopal e Bispo Auxiliar em uma diocese católica. O que são e o que fazem na diocese?

1. Vigário Geral

O Vigário Geral é um sacerdote nomeado pelo Bispo diocesano para auxiliá-lo na administração da diocese, desempenhando várias tarefas administrativas e judiciais, além de representar o bispo em suas ausências. O Vigário Geral tem poder ordinário (isto é, de Bispo) e ajuda o Bispo no governo de toda a diocese.  

Idade mínima

Segundo o Código de Direito Canônico (CDC), o Vigário Geral deve ser um sacerdote com pelo menos trinta anos de idade, doutor ou licenciado em direito canônico ou teologia, ou pelo menos verdadeiramente perito nessas disciplinas, e recomendado pela sã doutrina, probidade e experiência.

O Vigário Geral é único, mas...

Em tese, deve existir somente um Vigário Geral na diocese. No entanto, tendo em vista a dimensão da diocese, a quantidade de fiéis ou outras razões pastorais, o Bispo pode nomear um segundo, como ocorre, por exemplo, na Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo, em que existem dois padres nomeados como Vigários Gerais: os padres Ivo Ferreira de Amorim e Jorge de Campos Ramos.

Nomeação e remoção

A nomeação do Vigário Geral, ou a sua remoção, é de livre decisão do Bispo diocesano, dentre os presbíteros (padres) de sua diocese. No entanto é obrigatória a nomeação de pelo menos um Vigário Geral, segundo o CDC.

Sem parentesco com o Bispo titular

Interessante notar que o cargo de Vigário Geral não pode ser confiado a padres que sejam parentes do Bispo até o quarto grau de consanguinidade, o que na prática popular é chamado de primos de primeiro grau.

Responsabilidades do Vigário Geral

Algumas  responsabilidades possíveis do Vigário Geral incluem:

Ø  Administração Diocesana:

Supervisionar o funcionamento geral da diocese, incluindo questões financeiras, recursos humanos e propriedades.

Coordenar a implementação das políticas diocesanas.

Ø  Justiça Eclesiástica:

                Atuar como juiz ou promotor em casos de direito canônico, como anulações matrimoniais ou disputas sobre propriedades da igreja.

                Supervisionar tribunais eclesiásticos diocesanos.

Ø  Representação do Bispo:

                Representar o bispo em reuniões, eventos e visitas pastorais.

                Agir como delegado do bispo em assuntos específicos.

Ø  Coordenação Pastoral:

                Colaborar com os vigários paroquiais e outros líderes pastorais para promover a missão da igreja.

                Auxiliar na implementação de programas pastorais.

Ø  Administração de Pessoal:

                Supervisionar o clero e os funcionários leigos da diocese.

                Gerenciar nomeações e transferências de sacerdotes.

Enfim, “em virtude de seu ofício, compete ao Vigário Geral, na diocese toda, o poder executivo que, por direito, pertence ao Bispo diocesano, para praticar todos os atos administrativos, exceto aqueles que o Bispo tenha reservado a si, ou que, pelo direito, requeiram mandato especial do Bispo” (Cân. 479 do CDC).

Finalmente, o poder do Vigário Geral expira por término de mandato, por renúncia, por destituição ou pela vacância da Sé episcopal. Portanto, ficando a diocese, definitivamente, sem o seu Bispo, por qualquer motivo, cessa o poder do Vigário Geral.

2. Vigário Episcopal

O Vigário Episcopal, na Igreja Católica, é um padre ou, mais frequentemente, um Bispo. Assim como o Vigário Geral, ele possui poder executivo concedido pelo Bispo diocesano.

Podem existir vários Vigários Episcopais

Mas neste caso, podem ser constituídos vários Vigários Episcopais numa mesma diocese, porque cada um terá autoridade restrita a uma região da diocese, ou a uma espécie de questão (para a comunicação, por exemplo), ou quanto a fiéis de um determinado rito ou certa classe de pessoas (Cân. 476 do CDC).

Podem existir em uma diocese, portanto, e como exemplos, vários Vigários Episcopais: para assuntos econômicos, para comunicação, para ações e projetos sociais, para políticas públicas etc.

No mais, o que foi dito em relação ao Vigário Geral, aplica-se ao Vigário Episcopal.

3. Bispo Auxiliar

É um bispo titular que auxilia o Bispo diocesano. Pode ser designado para servir uma parte específica da diocese ou atender a uma população específica e não tem direito a sucessão, a não ser que seja um Bispo Coadjutor (ou Auxiliar com direito a sucessão).

Bispo Coadjutor com direito a sucessão

Como um exemplo cite-se o caso do Bispo Auxiliar de Vitória do Espírito Santo, D. Silvestre Luís Scandian, quando foi nomeado pelo Papa João Paulo II para ser auxiliar do então Bispo D. João Batista da Mota e Albuquerque, e com direito à sua sucessão, após a idade de 75 anos, quando o Bispo titular deve apresentar sua renúncia ao Papa, ou quando do seu falecimento.

No caso exemplar, D. João Batista da Mota e Albuquerque, então primeiro Arcebispo da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo, faleceu antes de completar a idade limite, na data de 27 de abril de 1984. Nesse mesmo dia, tomou posse, automaticamente, o seu Bispo Auxiliar (com direito a sucessão) D. Silvestre Luís Scandian, como o segundo Arcebispo da Arquidiocese.

Bispo Auxiliar de uma região da diocese

A exemplo do Vigário Episcopal, o Bispo Auxiliar pode ser designado para servir uma parte específica da diocese ou atender a uma população específica, como é o caso da Arquidiocese de São Paulo, que tem vários bispos auxiliares para as várias regiões da Metrópole.

O Bispo Auxiliar é, sempre, um Bispo Titular

O Bispo Auxiliar é sempre um Bispo Titular de alguma diocese já extinta da Igreja católica. Como exemplo, seja o Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo, Dom Andherson Franklin Lustoza de Souza, que é Bispo Titular dos Títulos de Numídia.

Esses são os conceitos fundamentais relativos a Vigário Geral, Vigário Episcopal e Bispo Auxiliar, conforme as diretrizes do Direito Canônico da Igreja Católica.

Uilso Aragono. (julho de 2024)

sexta-feira, 28 de junho de 2024

O QUE FAZ O CHANCELER DE UMA DIOCESE, NA IGREJA CATÓLICA

 

A função do Chanceler diocesano, na igreja católica, não é muito conhecida pelos fiéis, mas é um cargo obrigatório dentro da Igreja, previsto pelo CDC – Código de Direito Canônico (cânones 482 a 491). E o que faz um Chanceler?

O Chanceler é um notário e um secretário da Cúria. Sua função principal é redigir e despachar documentos, como nomeações, provisões, decretos, portarias e atas, autorizações, licenças de proibições e impedimentos matrimoniais, cartas e atas de ordenação etc., todos com efeito jurídico-canônico. Para que sejam válidos, esses atos precisam ser assinados tanto pelo Bispo (ou pelo vigário geral) quanto pelo Chanceler. Também é responsável pela correspondência oficial do Bispo diocesano.

O Chanceler pode ser padre, diácono, religioso ou leigo, tanto homem quanto mulher, supondo-se, naturalmente que seja pessoa acima de qualquer suspeita. No entanto, quando a questão trata da reputação de um sacerdote, o CDC prevê que o Chanceler seja um outro sacerdote.

Além dessas funções acima, o Chanceler também é ou pode ser responsável por:

1. Lavrar a ata da posse do Bispo;

2. Solicitar a lista tríplice, que é um documento, solicitado ao Bispo, que contém três nomes de sacerdotes para o caso de impedimento ou vacância do Bispo da diocese, renovada a cada três anos. Essa lista contém nomes de possíveis administradores diocesanos, caso a diocese fique sem governo, e deve ser mantida em sigilo pelo Chanceler;

3. Zelar pelo arquivo diocesano, que deverá ser fonte histórica e disponível para pesquisa por estudiosos, historiadores ou qualquer pessoa interessada;

4. Assessorar canonicamente o Bispo e os membros da Cúria, dependendo, naturalmente, da formação do Chanceler;

5. Coordenar liturgicamente a diocese, se essa for a opção do planejamento diocesano;

6. Redigir e manter os livros de tombo da Cúria, a cada ano, livros em que são registrados todos os mais importantes atos da Cúria, com termos de abertura e fechamento, para cada um deles;

7. Recolher dados estatísticos das paróquias, instituições e organismos da diocese e transmiti-los à Secretaria de Estado da Santa Sé, para compor a Estatística anual da Igreja Católica no mundo.

Como é escolhido o Chanceler? O Chanceler é escolhido diretamente pelo Bispo diocesano (autoridade máxima na diocese), nomeando-o por um decreto de nomeação, que já deverá ser assinado pelo Bispo e pelo próprio Chanceler nomeado; podendo, alternativamente, ser assinado pelo Vigário Geral (como Chanceler ad hoc (para a ocasião) juntamente com o Bispo.

O chanceler pode ser removido do cargo pelo Bispo diocesano, mas não pelo administrador diocesano, a não ser com o consentimento do colégio de consultores (Cân. 485).

Interessante notar que o Chanceler não perde seu cargo durante a mudança do Bispo titular, diferentemente dos demais cargos na Cúria e na Mitra: diretor geral, vigários gerais, vigários episcopais, reitores etc., justamente porque é atribuição do Chanceler receber a documentação do novo Bispo e exarar a ata de sua posse. Uma vez tendo tomado posse, o Bispo poderá confirmar ou não os responsáveis pelo cargos citados, por meio de provisões e decretos elaborados pelo Chanceler e assinados por ambos.

Quais as competências esperadas de um Chanceler? Na atualidade, o trabalho na chancelaria pressupõe conhecimentos em: informática, legislação civil e canônica e algum conhecimento arquivístico (por conta dos arquivos diocesanos a serem mantidos), além de primar por um bom inter-relacionamento pessoal, especialmente com o Bispo e com os funcionários de apoio ao Bispo.

Em conclusão, a Chancelaria e o Chanceler constituem um organismo e um cargo essenciais dentro da estrutura da Igreja Católica, pois estão, obrigatoriamente, presentes em todas as dioceses e no próprio Vaticano.

Uilso Aragono (junho de 2024).


quinta-feira, 30 de maio de 2024

SÃO JOSÉ NÃO FALHA: PRECISAMOS DE CEM RENAS!

O texto abaixo é tirado da Referência citada (ao final) e conta um milagre ocorrido em 1917 numa estação missionária chamada São José, do norte do Canadá, por intercessão do Santo.

Um vento tremendamente gelado sopra por sobre o Grande Lago dos Escravos, no norte do Canadá, e uiva furioso em torno da estação missionária São José. Centenas de crianças índias, porém, recolhidas no orfanato dos Oblatos, pouco se preocupam com o companheiro selvagem lá fora. Estão acostumadas ao frio e às tempestades.

Muito mais que o rugir dos elementos, incomoda-as o ronco de sua barriguinha vazia. Em março de 1917, a missão enfrentou uma grande provação. A pescaria do outono havia sido muito magra, a caça às renas foi nula, uma vez que os rebanhos se retiraram para outras paragens. As pobres Irmãzinhas não sabem mais com que matar a fome de seus pupilos.

À tarde, os garotos sentam-se no refeitório, e engolem ávidos o pedaço de peixe que a Irmã lhes distribui.

– Por que os Irmãos não apanharam mais peixes? – Resmunga um deles, que já dera cabo de sua porção, mas a fome continuava reclamando.

– Não é culpa dos Irmãos, menino, explica Pe. Duport. A culpa é de vocês, se as panelas estão vazias.

– Nossa culpa, como? – admira-se o pequeno índio.

– Sim, a culpa é de vocês. E eu estou zangado com vocês. Por quê vocês não rezam com mais devoção a São José, nosso padroeiro? Pensam que ele iria deixar vocês com fome, se lhe gritassem bem forte nos ouvidos?

Os garotos arregalaram os olhos, olhando-se perplexos, e prometeram reparar a falta e rezar com toda força a São José.

– O que a Irmã acha? Quantas renas precisaríamos para enfrentar a época mais dura da fome? – perguntou o padre à superiora.

– Uma centena pelo menos! responde categoricamente a religiosa.

– Então São José precisa nos arranjar cem renas! Estou convencido de que ele há de atender à oração das crianças. Amanhã começamos a novena!

Ao nono dia da oração, o Superior manda chamar dois índios da tribo da Faca Amarela, caçadores práticos, e lhes ordena secamente:

– Atrelem os cães e se mandem logo à caça! Tragam cem renas!

 – Renas? Onde há renas por aqui, padre? – sacodem os ombros os incrédulos índios. – Não mataremos é nenhuma, isto sim!

– Deixem de lero-lero, gente. Aprontem-se e toquem pra frente! As crianças sofrem fome!

– O Grande Espírito deve ter transtornado a cabeça do padre branco! – dizem entre si os Facas Amarelas, ao encilharem os cães aos trenós.

– Não vamos ver nem rabo de rena.

Mas vão. A umas milhas do convento topam realmente com enorme manada de animais, que vem se dirigindo para o lago gelado. Os índios empunham as armas e desandam a disparar o quanto der. Dos espécimes que tombaram, contam 103.

Depressa carregam nos trenós, retornando à estação missionária, onde a petizada os recebe com estrondosa algazarra.

– Encomendamos cem. Três São José acrescentou de lambuja, conferem todos, radiantes de satisfação. Primeira vez, desde semanas, que os garotos comeram à vontade e com a barriguinha farta foram para a cama, sem se esquecerem de antes ir agradecer, do fundo do coração, a São José pelo bondoso milagre. (Revista Stadt Gottes.)

Referência: Livro:  Weigl, A. M. São José não falha: 100 histórias de São José, Edições Rosário, Curitiba, 1994, p.8.

Uilso Aragono (maio de 2024)

segunda-feira, 29 de abril de 2024

TEMAS COMPLEXOS PARA CRISTÃOS CATÓLICOS - PARTE II

Dando continuidade às reflexões sobre alguns temas complexos para nós, cristãos católicos, nesta Parte II abordo os assuntos Pena de morte, Eutanásia, Jejuns, Sacrifícios, e outros.

5.     PENA DE MORTE, EUTANÁSIA

 PENA DE MORTE:

            A pena de morte, embora legal em muitos países, e tolerada pela Santa Igreja, não é legítima, nem humana, visto que pune um ser humano sem dar-lhe qualquer chance de recuperação. E se a justiça que condenou alguém à morte falhar, não há como se consertar o erro! E vítimas comprovadamente inocentes, já foram condenadas e executadas, e muitas outras – só Deus sabe quantas! – devem ter igualmente sido executadas sendo inocentes. As estatísticas não são favoráveis à pena de morte: não há nada que comprove que sua existência tenha contribuído para a diminuição dos crimes. Um outro argumento contra tal pena é o reconhecimento de que a Sociedade tem culpa, é responsável, pela existência dos criminosos: a falta de oportunidade de muitos, as discriminações racial e social, a falta de educação básica de qualidade, a corrupção – que desvia dinheiro que poderia ser aplicado na verdadeira educação da população – etc. Esta parte na responsabilidade pelos crimes não autoriza a Sociedade a tomar uma decisão drástica, radical, sem volta, como se a única responsabilidade fosse do criminoso, por mais hediondo que seja o crime. Embora o Catecismo atual da Igreja Católica seja tolerante com a pena de morte, há uma tendência, na Igreja, de que seja modificado o texto relativo à pena de morte no Catecismo, no sentido acima ponderado.

 EUTANÁSIA:

            O significado de Eutanásia é “boa-morte”. Alguns argumentam que pessoas em estado terminal, por uma doença grave e irreversível, e que estão sofrendo, podem e devem ser ajudadas a morrer, para que seu sofrimento seja aliviado. No entanto, a vida é dom de Deus. Moralmente, ninguém tem o direito de tirar a vida de outro ou a própria vida. Mesmo o sofrimento não justifica qualquer ação, ou omissão, que leve um doente à morte. O sofrer é parte da vida humana. E se hoje, tem-se um horror à dor e ao sofrimento, já é isto um efeito negativo do hedonismo que atravessa a Sociedade atual: busque-se o prazer a todo custo; se algo faz bem, dá prazer, pode e deve ser curtido... Ora, isto cria a base para olhar-se para o sofrimento como algo que também deve ser evitado a todo custo! No entanto, o sofrimento tem grande valor para o ser humano, tanto no aspecto humano-social, tornando a pessoa mais madura e tolerante, quanto no campo espiritual, tornando-a mais humilde, mais piedosa. A Igreja não aprova a eutanásia, reconhecendo, no entanto, que a ortonásia é possível, entendido tal processo como a não-obrigatória utilização de recursos complexos e dispendiosos e que não contribuem para a recuperação ou para a melhoria do estado geral do doente. Isto significa que aparelhos especiais não obrigatoriamente precisam ser utilizados em um doente terminal, embora recursos como alimentação, soro e similares não devam ser negados ao doente, sob pena de realizar-se a indesejada ou não-recomendada eutanásia. ([1] 2276-2279)

 6.     JEJUNS, SACRIFÍCIOS, ABSTINÊNCIA

 JEJUNS:

            O jejum é uma grande arma na luta espiritual do cristão contra as tentações demoníacas. O próprio Jesus deu a entender que o jejum tem este poder ao iniciar a sua grande luta espiritual contra o mal no mundo, para a salvação da humanidade, por meio de um longo período de jejum: os quarenta dias e quarenta noites no deserto... Apesar de ser feito por meio do corpo, que se ressente da falta de alimento, o jejum é verdadeiramente um eficaz exercício espiritual! Fazendo o jejum, o cristão, pela graça de Deus, reúne mais forças espirituais para lutar contra todas as suas fraquezas, suas tentações. Como diz S. Paulo: “quando sou fraco, então é que sou forte”. Isto significa que quando o corpo padece, o espírito fica mais livre, mais independente, mais disposto a valorizar as “coisas do alto”. Ao contrário, a saciedade encontrada pelo exagero no comer e no beber, e nos prazeres mundanos em geral, tornam o espírito humano como que entorpecido, embriagado, drogado, enfraquecido para as coisas de Deus! O jejum é, também, um ótimo exercício de autocontrole, virtude muito importante para qualquer pessoa que deseja enfrentar a vida com sucesso. Por isto a Igreja tanto preza o jejum e o recomenda durante a quaresma, período de exercícios espirituais, sacrifícios e penitência.

 SACRIFÍCIOS:

            Sacrificar-se é, a exemplo de Jesus, doar-se pelo próximo, pela humanidade. O sacrifício é tudo aquilo que se faz sem prazer. Comer uma verdura, como um tomate, sem que se goste de tomate, é um sacrifício; visitar um doente, num ambiente que causa repugnância, é um sacrifício. Enfim, toda ação que envolva algum grau de desprazer pessoal é um sacrifício. Mas o sacrifício terá mais sentido se for feito com a consciência de que é uma ação praticada em nome de Deus, pelo bem dos irmãos, da família, dos amigos e da humanidade.  Os sacrifícios têm seu maior valor quando feitos com amor, na certeza de que isso contribui para o crescimento espiritual da própria pessoa e de todos os que a cercam. 

 ABSTINÊNCIA:

            Deixar de comer algo de que se gosta muito, como a carne ou uma gostosa moqueca capixaba, é um ato de abstinência. Tal palavra vem do verbo abster-se, significando deixar de fazer algo. A abstinência, como o jejum e os sacrifícios, ajuda o cristão a crescer na sua fé e no amor a Deus e aos irmãos. É um ato de amor e de nobreza, na medida em que, embora tendo o direito a algo de bom, a pessoa desiste de usufruir desse bem. É uma forma de agregar valor às orações oferecidas a Deus pelas nossas intenções. Orações feitas com um coração sincero, já são valiosas, mas envolvidas pelas práticas do jejum, da abstinência e de outros sacrifícios tornam-se ainda mais poderosas e agradáveis a Deus.

  7.     CONVITE À SANTIDADE

            No início da era cristã os cristãos eram chamados de “santos”, tal era a consciência de que todos somos chamados por Deus a ser santos: “Sede perfeitos como vosso Pai que está nos Céus é perfeito”, já nos recomendava Jesus. Santidade é a vocação de todo cristão! Somente sendo santos, poderão os cristãos santificar o mundo. A Igreja é sacramento de salvação para o mundo, realizando esta missão exatamente por meio dos cristãos que se santificam a cada dia, na sua vida familiar, profissional e social. A santificação pessoal de cada cristão se dá por meio da graça de Deus que é oferecida a ele em cada momento de vivência dos sacramentos: da Penitência, da Eucaristia, da Unção dos enfermos e dos demais sacramentos. Não há como santificar-se sem a graça que vem dos sacramentos e sem a prática da oração valorizada pelos sacrifícios pessoais.

Referências:

[1] Catecismo da Igreja Católica. Edição típica vaticana, São Paulo, Loyola, 2000.

[2] MOSER, Antônio. Biotecnologia e Bioética: para onde vamos? Petrópolis, Vozes, 2004.

 Uilso Aragono. (Abril de 2024)


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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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