quarta-feira, 30 de outubro de 2024

OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ (BATISMO, EUCARISTIA E CONFIRMAÇÃO/CRISMA)

 Neste texto, faço uma reflexão sobre os chamados sacramentos da iniciação cristã: o Batismo, a Confirmação (ou Crisma) e a Eucaristia. Apresento, inicialmente, alguns conceitos teológico-doutrinais do Catolicismo que contribuirão para melhor compreensão da reflexão sobre o tema.

Sacramentos: realizam o que significam; o símbolo da água que lava, purifica dos pecados, verdadeiramente realizam esse significado! O óleo no peito da criança (ou na testa do adulto, na crisma) simboliza a unção, a eleição do Senhor pela pessoa que, como Cristo, é ungida, e realiza efetivamente essa unção, essa missão; as palavras do sacerdote: “Eu te absolvo desses teus pecados confessados” simbolizam e significam o perdão de Deus e efetivamente o realiza; as palavras dos noivos, diante da testemunha oficial da Igreja, que se acolhem um ao outro como marido e mulher, por toda a vida, bem como as alianças, simbolizam um contrato perpétuo e o realizam verdadeiramente diante de Deus; os símbolos e os ritos usados na consagração do sacerdote, do padre (ou presbítero), em sua ordenação, simbolizam e efetivamente realizam o que simbolizam: o candidato à ordem recebe de Deus, verdadeiramente, tudo aquilo que os sinais significam; o óleo da unção dos enfermos, e os ritos dessa unção simbolizam as curas espiritual e física do doente e, efetivamente, de verdade, as realiza.

Sacramentos Indeléveis: No Batismo, na Crisma/Confirmação, e na ordenação diaconal/sacerdotal/episcopal (1°, 2° e 3° graus da Ordem, respectivamente) a marca do sacramento é indelével, isto é, para toda a vida da pessoa. Mesmo, portanto, que um sacerdote deixe de ser padre, voltando à condição de leigo (estado laico), ele não deixa de ser um sacerdote do Senhor, apenas fica afastado de suas funções; que podem ser retomadas em caso de risco de vida de alguma pessoa, quando, então, ele pode atuar como sacerdote. No caso de um casal, casado validamente diante de Deus, a marca indelével é para toda a vida do casal: um deles morrendo, essa marca desaparece e o sobrevivente poderá casar-se novamente (ou quando a união for, oficialmente, declarada nula pela Igreja). São como tatuagens espirituais que marcam para sempre a vida de uma pessoa (supondo que essas tatuagens não possam, de fato, ser removidas).

Graus espirituais: na vida espiritual, como na vida física, os dons de Deus, as graças, as bênçãos, as glórias, têm graus de quantidade ou de profundidade; no Batismo, a criança recebe também o Espírito Santo, mas como uma pequena dose, enquanto que para o adulto que recebe o Sacramento da Crisma, o dom do Espírito Santo é dado em plenitude (em grau pleno); Na domingo da Páscoa, Jesus sopra sobre os apóstolos dizendo: recebam o Espírito Santo, mas numa dose pequena, que somente será plena em Pentecostes; Os santos de Deus, no Céu, têm graus de glória diferentes; é como se diz: cada “copo” estará diante de Deus plenamente cheio, mas o tamanho do copo é diferente para cada alma; por isso, podemos rezar pelo nosso anjo da guarda, pedindo para ele um grau de glória maior, diante de Deus.

O tempo espiritual: existe, sim, um tempo espiritual para as almas que já estejam no Purgatório ou no Céu, é o chamado “evo”; somente Deus não muda, somente ele vive a eternidade, somente Ele é eterno; nós, criaturas de Deus, somos imortais, no sentido de que não morreremos para sempre, mas viveremos no evo, o tempo espiritual; explica-se: assim como o tempo físico supõe a mudança das coisas e das pessoas (que envelhecem), no tempo espiritual, as almas também supõem mudança, crescimento na santidade e nos graus de glória; por isso as almas do purgatório podem se santificar, se purificar e, em algum momento espiritual, estarem prontas para irem para o  Céu.

Disposição interior: é o estado de espírito e de consciência que a pessoa deve ter para que o Sacramento tenha efeito. Assim como somente pecamos, de verdade, com consciência e liberdade, também para a recepção válida e efetiva dos sacramentos precisamos demonstrar consciência e liberdade.

Batismo:

O Sacramento que torna uma criança cristã, que a integra à Igreja Católica, que lhe perdoa o pecado original e lhe dá uma “dose” do Espírito Santo; que torna o adulto (catecúmeno) um cristão, um filho de Deus, que lhe perdoa o pecado original e todos os pecados pessoais, preparando-o para a recepção dos Sacramentos da Crisma e da Eucaristia. (Sem necessidade do sacramento da penitência, mesmo porque o catecúmeno ainda não tem acesso a esse Sacramento!)

A água do Batismo nos faz morrer para os pecados e ressuscitar com Cristo para uma vida nova: a vida de ungidos, de cristãos (vem da palavra Cristo = ungido = Messias). A Igreja nos ensina (Código de Direito Canônico) que uma vez batizados na Igreja Católica, sempre católicos, mesmo que abandonemos a Igreja e a troquemos por outra, ou passemos a ser ateus. (É claro que para que retornemos à Igreja de Cristo, deveremos fazer, por escrito, uma renovação da fé católica e das promessas do Batismo diante de uma testemunha oficial da Igreja e buscar o Sacramento da Penitência para estar em estado de graça e voltar a participar dos demais sacramentos.)

O Batismo nos tira da condição de criaturas de Deus para a condição mais elevada de filhos de Deus. Embora Deus ame todas as suas criaturas, ele tem um especial amor pelos seus filhos em Cristo Jesus. Com o Batismo transformamo-nos em profetas, sacerdotes e reis: as três dimensões da vida cristã do leigo.

Só se batiza uma vez! É um sacramento indelével, uma “tatuagem” espiritual. Por isso, a Igreja Católica aceita o Batismo de muitas igrejas protestantes. Mas não aceita o batismo, dentre outras, da Igreja católica brasileira. Porque o Batismo válido deve seguir a fórmula trinitária: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, uso da água pura e a intenção de seguir a Cristo. Na dúvida, há o Batismo sob condição: “Se você, fulano, não foi batizado, eu te batizo em nome ...”)

Por que batizar uma criança em perigo de vida se a Igreja acredita que Deus tenha uma solução de salvação para as que morrem sem Batismo? Porque, com o Batismo, a alma da criança terá uma melhor situação diante de Deus: será uma cristã, uma filha de Deus, e não uma mera criatura de Deus.

O Batismo ainda pede um complemento... A Crisma.

Continua no próximo blogue.

Uilso Aragono. (outubro de 2024)

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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