O sacramento da Confissão é hoje mais bem denominado sacramento da Penitência (ou da Conversão ou da Reconciliação). Neste texto vamos refletir um pouco sobre esse importantíssimo sacramento da Igreja Católica.
1. INTRODUÇÃO
O sacramento da Penitência (ou da
Reconciliação) é um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Os demais são:
Batismo, Confirmação (ou Crisma), Eucaristia, Ordem, Matrimônio e Unção dos
enfermos. É um sacramento de cura, como também o é o da Unção dos
enfermos. Veremos que o sacramento da Penitência perdoa, reconcilia e santifica
aquele que se converte do pecado à vida da graça. E quem precisa de perdão, de
reconciliação? – Aquele que é inclinado ao pecado, como todos nós, que nos reconhecemos
‘pecadores’... mas que podemos nos tornar ‘santos’ depois de uma boa
experiência de conversão e de penitência através do sacramento da Penitência.
2. O QUE É O PECADO?
O pecado é tudo o que provoca
ruptura no relacionamento entre o homem e Deus e com os irmãos. Opõe-se à virtude,
que nos leva à santidade, enquanto aquele nos afasta de Deus... Mas, ensina-nos
a Igreja que há três condições para que alguém, verdadeiramente, cometa um
pecado: a matéria (do pecado), a consciência (de que é pecado) e a liberdade
(para cometê-lo). Portanto, não é tão fácil que se cometa um pecado, não? Esta
é uma boa notícia!
O cristão tem sua vida de graça
(vida em Cristo) como que num vaso de argila. A quebra desse vaso se compara ao
cometimento de um pecado, que destrói a vida da graça pelo derramamento de seu
conteúdo (a graça). O vaso é de argila, porque somos inclinados, pelas nossas
fraqueza e natureza humanas, ao pecado. Tendo sido quebrado o vaso de nossa
vida de graça, há que se buscar consertá-lo, reconstruí-lo: é o sacramento da
Reconciliação, da Penitência!
Uma oração poderosa e que sempre é
rezada na Missa vale a pena ser lembrada aqui. É o “confiteor” (do latim: eu
confesso...): Confesso a Deus, todo poderoso, e a vós, irmãos e irmãs, que pequei
muitas vezes por pensamentos, palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha
tão grande culpa. E peço à Virgem Maria, aos anjos e santos, e a vós irmãos e
irmãs, que rogueis por mim a Deus, nosso Senhor.
3. CLASSIFICAÇÃO E EXEMPLO DE PECADO
Os pecados podem ser graves (ou
mortais) e leves (ou veniais). Nosso vaso se quebra nos pecados mortais e se racha
nos pecados veniais. Um pecado mortal é aquele que nos priva totalmente da
graça de Deus (que foi derramada na quebra do vaso e se perdeu). E é muito
perigoso estarmos privados da graça de Deus, pois sem ela nada podemos, nada
somos; estaremos à mercê de novos pecados graves. Essa situação exige do cristão
a busca imediata da reconciliação com Deus. E isto só é possível pelo
sacramento da Reconciliação, da Penitência, da Conversão.
Um exemplo fácil de pecado mortal
é quando alguém tem a consciência de que matar um irmão (matéria grave pois está
proibido pela Lei de Deus) é pecado e ele, com toda a liberdade, sem qualquer
coação, decide eliminar o outro em seu próprio benefício. Como houve matéria
grave, consciência do pecado e liberdade, houve um verdadeiro pecado mortal! Em
geral, os dez mandamentos contêm matéria de pecado grave (mortal) se forem
praticados com consciência e liberdade.
Os pecados veniais (leves) já são
comparados ao vaso que se racha, pois é mais facilmente recomposto: basta, talvez,
uma cola, um remendo. E o conteúdo (a graça) não se perde totalmente. Nesses casos,
de pecados leves, o cristão pode mais facilmente encontrar o perdão de Deus e a
sua reconciliação com Ele e com os irmãos. Isto pode acontecer, com verdadeiro
arrependimento e contrição (dor por tê-lo cometido), em um momento de oração diante
de Deus. E a Igreja ensina que o sacramento da Eucaristia (não havendo pecado mortal)
nos perdoa desses pecados veniais já previamente identificados, com contrição e
arrependimento.
4. CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
O pecado cria o estado de desgraça
para o cristão. Palavra considerada por muitos como muito feia, é de fato
assim: porque o cristão fica privado, total ou parcialmente, da graça de Deus,
o que pode levá-lo a uma situação de cometimento de novos pecados, já que a
graça deixa de protegê-lo contra as tentações do Maligno. O desgraçado é aquele
cristão que está em situação de pecado e não totalmente favorecido pela graça
divina. Por isso é um termo feio e indesejado por nós, cristãos.
Sabemos que Deus tem um plano de
amor para cada um de nós, embora nem sempre tenhamos consciência disso. E, às
vezes, por conta de muitos problemas e situações negativas da vida, alguns não
acreditam nesse plano de Deus para nós. Mas, como afirma nosso Salvador, Jesus:
“Eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente”, e é esse o plano de Amor
de Deus por nós – ter uma vida plena... no entanto, não necessariamente das
coisas desta vida humana, terrena, mas, sim, plena da graça de Deus!
Sem a graça divina, o pecador
fica doente espiritual, física e mentalmente, cheio de dores estranhas,
infeliz, e, lá no fundo, com dor na consciência pesada. Diante de tal quadro, é
conveniente que o pecador sinta contrição, tristeza, arrependimento dos pecados
cometidos e busque a reconciliação pelo sacramento da Penitência. Que é, aliás,
essencial para que o fiel possa estar em condições de receber o Cristo eucarístico!
5. O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA
O sacramento da Penitência é a
aplicação da misericórdia de Deus em relação àquele que pecou e que está
arrependido, contrito e deseja voltar à graça divina. A Igreja, sob a palavra
de Cristo, tem a chave da absolvição dos pecados: “A quem perdoardes os
pecados, esses lhe serão perdoados; a quem não os perdoar, esses lhes serão
retidos”. E a fórmula que o sacerdote utiliza na expressão do perdão dos
pecados do pecador arrependido é esta: “Eu te absolvo dos teus pecados, em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
O sacramento da Penitência (ou da
Reconciliação) perdoa os pecados do cristão arrependido e lhe propõe uma penitência:
a reparação dos efeitos negativos dos pecados perdoados. Porque embora
perdoados, há que se fazer a reparação desses efeitos negativos, que se espalham
em torno daquele que pecou. É como, simbolicamente, aquele vidro de janela
quebrado pela criança, que o pai pede desculpas e é desculpado; mas que deverá assumir a responsabilidade por reparar,
consertar o vidro quebrado. É essa reparação que a Igreja denomina “pena
temporal” (ou penalidade temporal), isto é, a penitência que o padre aplica ao penitente
para que, além de estar perdoado, esteja livre de toda a culpa. Sem a
penitência, o sacramento não estará completo. Portanto, não basta o perdão
durante o sacramento da Reconciliação, mas é importante a prática da penitência
recomendada pelo confessor.
A penitência pode se apresentar –
como no tempo da Quaresma – sob três formas básicas: o jejum (ou abstinência),
a oração e a esmola, correspondendo às três dimensões das relações humanas, respectivamente,
dimensões interior (conversão), vertical (relação com Deus) e horizontal
(reconciliação com os outros).
7. A BUSCA DA SANTIDADE
Embora a sacramento da Reconciliação
(diante do sacerdote, confissão auricular) seja recomendado para os pecados
mortais, pode-se indicá-lo também para os veniais. Para essa situação, o
confessante buscará o perdão de seus pecados como exercício de humildade – de
quem se reconhece inclinado ao pecado e necessitado da graça divina – e como
expressão de fé nAquele que nos quer perdoar sempre e nos dar a Sua graça. E a
confissão regular (semanal, mensal ou com alguma frequência) nos ajuda a formar
a reta consciência, a lutar contra nossas más tendências e inclinações, a
ver-nos curados por Cristo, a progredir na vida do Espírito e a nos aproximarmos
mais do objetivo maior de sermos santos e misericordiosos como Ele é.
Como diz S. Agostinho, “Ama e
faze o que quiseres”. Essa observação nos orienta a amarmos sempre, no
verdadeiro amor cristão. Se assim agirmos, buscando “amar a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo”, como ensina Jesus, poderemos fazer
qualquer coisa, pois nada de mal faremos já que o amor só faz o bem! Enquanto
estivermos numa vida de amor, teremos dificuldade de pecar! É o amor a Deus e o
amor que vem de Deus (Sua graça) que têm o poder de nos proteger contra os
pecados graves. E quem ama exerce as virtudes cristãs e atende à vocação (ao
chamado) de Deus.
8. CONCLUSÃO
O sacramento da Penitência ou da
Reconciliação é um sacramento que não deve ser esquecido pelo cristão, ao
contrário, deve ser buscado com certa regularidade ao longo do ano para que a
pessoa se sinta feliz, abençoada, mais protegida contra os ataques malignos, e
mais capaz de amar, porque cheia da graça de Deus. E se é, sobretudo, indicado
para os fiéis que tenham cometido pecados mortais, é, também, muito recomendado
para os que queiram trilhar o caminho da busca contínua da santidade, pois nos
garante a graça divina e nos fortalece contra nossas más inclinações.
Uilso Aragono. (fev. de 2022.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário