segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇÃO

 O sacramento da Confissão é hoje mais bem denominado sacramento da Penitência (ou da Conversão ou da Reconciliação). Neste texto vamos refletir um pouco sobre esse importantíssimo sacramento da Igreja Católica.

1. INTRODUÇÃO

O sacramento da Penitência (ou da Reconciliação) é um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Os demais são: Batismo, Confirmação (ou Crisma), Eucaristia, Ordem, Matrimônio e Unção dos enfermos. É um sacramento de cura, como também o é o da Unção dos enfermos. Veremos que o sacramento da Penitência perdoa, reconcilia e santifica aquele que se converte do pecado à vida da graça. E quem precisa de perdão, de reconciliação? – Aquele que é inclinado ao pecado, como todos nós, que nos reconhecemos ‘pecadores’... mas que podemos nos tornar ‘santos’ depois de uma boa experiência de conversão e de penitência através do sacramento da Penitência.

2. O QUE É O PECADO?

O pecado é tudo o que provoca ruptura no relacionamento entre o homem e Deus e com os irmãos. Opõe-se à virtude, que nos leva à santidade, enquanto aquele nos afasta de Deus... Mas, ensina-nos a Igreja que há três condições para que alguém, verdadeiramente, cometa um pecado: a matéria (do pecado), a consciência (de que é pecado) e a liberdade (para cometê-lo). Portanto, não é tão fácil que se cometa um pecado, não? Esta é uma boa notícia!

O cristão tem sua vida de graça (vida em Cristo) como que num vaso de argila. A quebra desse vaso se compara ao cometimento de um pecado, que destrói a vida da graça pelo derramamento de seu conteúdo (a graça). O vaso é de argila, porque somos inclinados, pelas nossas fraqueza e natureza humanas, ao pecado. Tendo sido quebrado o vaso de nossa vida de graça, há que se buscar consertá-lo, reconstruí-lo: é o sacramento da Reconciliação, da Penitência!

Uma oração poderosa e que sempre é rezada na Missa vale a pena ser lembrada aqui. É o “confiteor” (do latim: eu confesso...): Confesso a Deus, todo poderoso, e a vós, irmãos e irmãs, que pequei muitas vezes por pensamentos, palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa. E peço à Virgem Maria, aos anjos e santos, e a vós irmãos e irmãs, que rogueis por mim a Deus, nosso Senhor.

3. CLASSIFICAÇÃO E EXEMPLO DE PECADO

Os pecados podem ser graves (ou mortais) e leves (ou veniais). Nosso vaso se quebra nos pecados mortais e se racha nos pecados veniais. Um pecado mortal é aquele que nos priva totalmente da graça de Deus (que foi derramada na quebra do vaso e se perdeu). E é muito perigoso estarmos privados da graça de Deus, pois sem ela nada podemos, nada somos; estaremos à mercê de novos pecados graves. Essa situação exige do cristão a busca imediata da reconciliação com Deus. E isto só é possível pelo sacramento da Reconciliação, da Penitência, da Conversão.

Um exemplo fácil de pecado mortal é quando alguém tem a consciência de que matar um irmão (matéria grave pois está proibido pela Lei de Deus) é pecado e ele, com toda a liberdade, sem qualquer coação, decide eliminar o outro em seu próprio benefício. Como houve matéria grave, consciência do pecado e liberdade, houve um verdadeiro pecado mortal! Em geral, os dez mandamentos contêm matéria de pecado grave (mortal) se forem praticados com consciência e liberdade.

Os pecados veniais (leves) já são comparados ao vaso que se racha, pois é mais facilmente recomposto: basta, talvez, uma cola, um remendo. E o conteúdo (a graça) não se perde totalmente. Nesses casos, de pecados leves, o cristão pode mais facilmente encontrar o perdão de Deus e a sua reconciliação com Ele e com os irmãos. Isto pode acontecer, com verdadeiro arrependimento e contrição (dor por tê-lo cometido), em um momento de oração diante de Deus. E a Igreja ensina que o sacramento da Eucaristia (não havendo pecado mortal) nos perdoa desses pecados veniais já previamente identificados, com contrição e arrependimento.

4. CONSEQUÊNCIAS DO PECADO

O pecado cria o estado de desgraça para o cristão. Palavra considerada por muitos como muito feia, é de fato assim: porque o cristão fica privado, total ou parcialmente, da graça de Deus, o que pode levá-lo a uma situação de cometimento de novos pecados, já que a graça deixa de protegê-lo contra as tentações do Maligno. O desgraçado é aquele cristão que está em situação de pecado e não totalmente favorecido pela graça divina. Por isso é um termo feio e indesejado por nós, cristãos.

Sabemos que Deus tem um plano de amor para cada um de nós, embora nem sempre tenhamos consciência disso. E, às vezes, por conta de muitos problemas e situações negativas da vida, alguns não acreditam nesse plano de Deus para nós. Mas, como afirma nosso Salvador, Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente”, e é esse o plano de Amor de Deus por nós – ter uma vida plena... no entanto, não necessariamente das coisas desta vida humana, terrena, mas, sim, plena da graça de Deus!

Sem a graça divina, o pecador fica doente espiritual, física e mentalmente, cheio de dores estranhas, infeliz, e, lá no fundo, com dor na consciência pesada. Diante de tal quadro, é conveniente que o pecador sinta contrição, tristeza, arrependimento dos pecados cometidos e busque a reconciliação pelo sacramento da Penitência. Que é, aliás, essencial para que o fiel possa estar em condições de receber o Cristo eucarístico!

5. O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA

O sacramento da Penitência é a aplicação da misericórdia de Deus em relação àquele que pecou e que está arrependido, contrito e deseja voltar à graça divina. A Igreja, sob a palavra de Cristo, tem a chave da absolvição dos pecados: “A quem perdoardes os pecados, esses lhe serão perdoados; a quem não os perdoar, esses lhes serão retidos”. E a fórmula que o sacerdote utiliza na expressão do perdão dos pecados do pecador arrependido é esta: “Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

O sacramento da Penitência (ou da Reconciliação) perdoa os pecados do cristão arrependido e lhe propõe uma penitência: a reparação dos efeitos negativos dos pecados perdoados. Porque embora perdoados, há que se fazer a reparação desses efeitos negativos, que se espalham em torno daquele que pecou. É como, simbolicamente, aquele vidro de janela quebrado pela criança, que o pai pede desculpas e é desculpado; mas que  deverá assumir a responsabilidade por reparar, consertar o vidro quebrado. É essa reparação que a Igreja denomina “pena temporal” (ou penalidade temporal), isto é, a penitência que o padre aplica ao penitente para que, além de estar perdoado, esteja livre de toda a culpa. Sem a penitência, o sacramento não estará completo. Portanto, não basta o perdão durante o sacramento da Reconciliação, mas é importante a prática da penitência recomendada pelo confessor.

A penitência pode se apresentar – como no tempo da Quaresma – sob três formas básicas: o jejum (ou abstinência), a oração e a esmola, correspondendo às três dimensões das relações humanas, respectivamente, dimensões interior (conversão), vertical (relação com Deus) e horizontal (reconciliação com os outros).

7. A BUSCA DA SANTIDADE

Embora a sacramento da Reconciliação (diante do sacerdote, confissão auricular) seja recomendado para os pecados mortais, pode-se indicá-lo também para os veniais. Para essa situação, o confessante buscará o perdão de seus pecados como exercício de humildade – de quem se reconhece inclinado ao pecado e necessitado da graça divina – e como expressão de fé nAquele que nos quer perdoar sempre e nos dar a Sua graça. E a confissão regular (semanal, mensal ou com alguma frequência) nos ajuda a formar a reta consciência, a lutar contra nossas más tendências e inclinações, a ver-nos curados por Cristo, a progredir na vida do Espírito e a nos aproximarmos mais do objetivo maior de sermos santos e misericordiosos como Ele é.

Como diz S. Agostinho, “Ama e faze o que quiseres”. Essa observação nos orienta a amarmos sempre, no verdadeiro amor cristão. Se assim agirmos, buscando “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, como ensina Jesus, poderemos fazer qualquer coisa, pois nada de mal faremos já que o amor só faz o bem! Enquanto estivermos numa vida de amor, teremos dificuldade de pecar! É o amor a Deus e o amor que vem de Deus (Sua graça) que têm o poder de nos proteger contra os pecados graves. E quem ama exerce as virtudes cristãs e atende à vocação (ao chamado) de Deus.

8. CONCLUSÃO

O sacramento da Penitência ou da Reconciliação é um sacramento que não deve ser esquecido pelo cristão, ao contrário, deve ser buscado com certa regularidade ao longo do ano para que a pessoa se sinta feliz, abençoada, mais protegida contra os ataques malignos, e mais capaz de amar, porque cheia da graça de Deus. E se é, sobretudo, indicado para os fiéis que tenham cometido pecados mortais, é, também, muito recomendado para os que queiram trilhar o caminho da busca contínua da santidade, pois nos garante a graça divina e nos fortalece contra nossas más inclinações.

Uilso Aragono. (fev. de 2022.)

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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