sexta-feira, 30 de junho de 2017

PESQUISA CIENTÍFICA NA ENGENHARIA

O texto a seguir trata de um assunto de interesse dos estudantes de engenharia e foi objeto de palestra por mim feita a convite de uma faculdade de engenharia. Explico os significados de pesquisa cientifica, método cientifico, artigos científicos, bancos de dados on-line, cursos de pós-graduação Lato Sensu e Stricto Sensu e títulos de mestre e doutor.

INTRODUÇÃO

A pesquisa científica supõe dois requisitos fundamentais: uma pessoa curiosa e métodos científicos. O estudante de engenharia deverá, então, desenvolver sua natural curiosidade e aprender, ao longo do curso, o que é o método científico. E as perguntas são: o que é ciência? o que é o método científico? O que é e como escrever um trabalho científico? A pesquisa é só para a pós-graduação? Ou cabe, também, na graduação? O que é uma pós-graduação, um Mestrado, um doutorado? O que é uma monografia, uma dissertação, uma tese? O que é um bom ou um mau orientador de uma pesquisa científica? Perguntas e mais perguntas que o texto a seguir buscará responder.

O QUE É CIÊNCIA? O QUE É TECNOLOGIA?

Ciência, no sentido atual do termo, pode ser definida, simplesmente, como conhecimento. Mas um conhecimento adquirido de forma sistemática, de forma rigorosa ou metódica. É um conhecimento, portanto, buscado por meio do "método científico", isto é: método empírico ou experimental. E em que consiste este método científico? Consiste em um método que se pauta pela seguinte sequência básica de ações: definição de um assunto, formação de um questionamento, elaboração de uma hipótese, realização de experimentos para testes, avaliação dos resultados e elaboração da conclusão final (definição de nova teoria ou hipótese falseada).

Tecnologia, no sentido atual, pode ser entendida como um conhecimento científico capaz de viabilizar a produção – normalmente industrial – de equipamentos, serviços e produtos que facilitem a vida em sociedade e permitam a evolução, dessa mesma sociedade, de forma mais rápida do que antes da existência desses bens tecnológicos.

O QUE É PESQUISA?

Pesquisa é a busca por novos conhecimentos científicos ou a busca por soluções para os problemas da vida humana. Sendo feita tal busca por meio do método científico obtém-se a pesquisa científica, objeto deste blogue.

CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA CIENTÍFICA

A pesquisa científica, na engenharia, pode ser dividida, basicamente, em pesquisa teórica e pesquisa aplicada. A teórica está baseada em estudos matemáticos, estatísticos, lógicos ou levantamento de dados em campo que se dão, normalmente, por meio de computadores e softwares profissionais que tornam mais ágeis os estudos e dão grande poder de pesquisa aos pesquisadores. Já a pesquisa aplicada baseia-se em conhecimentos científicos que estão voltados à possibilidade de realização de experimentos de laboratório com vistas à produção de novos equipamentos ou soluções tecnológicas.

A natureza da pesquisa científica pode ser de duas classes: a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa. A primeira se caracteriza pelo estudo de um ou de poucos objetos visando, sobretudo, à análise de conteúdo ou à análise descritiva. A pesquisa quantitativa já se caracteriza por um estudo sobre muitos objetos visando à análise estatística ou numérica.

Na engenharia, normalmente, a pesquisa tende a ser pesquisa aplicada e qualitativa, resultando em relatórios técnicos (ou artigos científicos) que apresentam, não só a teoria científica, mas, sobretudo, os resultados experimentais – às vezes sob a forma de um novo equipamento ou, mesmo, de um protótipo de um novo produto tecnológico.

ESTUDANTE: SEJA UM AUTODIDATA!

Tendo-se em vista os estudantes de engenharia que se interessem por pesquisa científica, esses devem ser incentivados a tornarem-se, desde os primeiros anos do curso, verdadeiros "autodidatas", isto é, estudantes que busquem o conhecimento não só a partir das aulas, mas, sobretudo, pelo desenvolvimento de um hábito salutar e inteligente de auto estudo.

Este incentivo ao estudante autodidata baseia-se – como já escrevi em outros textos – no fato de que o professor não tem condições de "ensinar", isto é, de transmitir conhecimentos aos alunos. O professor pode fazer muitas coisas importantes, menos "ensinar". Pode-se dizer que o ensino é "virtual", "etéreo", "fluido", enquanto a aprendizagem é, verdadeiramente, "real", "concreta" e "palpável". O aluno é quem deve assumir, desde cedo, uma atitude (posicionamento intelectual, interior) de autonomia diante do professor, superando toda passividade e dependência diante do mestre para alcançar, para além de um simples e passivo aluno, a posição de um verdadeiro estudante. Este estará no bom caminho para tornar-se um futuro pesquisador, pois estará desenvolvendo em si a atitude de todo bom pesquisador: curiosidade científica e busca constante de novos conhecimentos. É o estudante pesquisador que se está formando...

BANCOS DE DADOS NA REDE

Há na Internet, a grande rede, muitos sites de bancos de dados para pesquisa científica. Três (gratuitos) podem ser citados, a título de exemplo: Scielo (Scientific Electronic Library Online), Spell (Scientific Periodical Electronic Library) e ICAP (Indexação Compartilhada de Periódicos).  Diferentemente de uma pesquisa tipo "Google", através do buscador Google ou equivalentes (Bing, Yahoo, Ask, etc.) o método da pesquisa científica envolve muito mais seriedade. E isto significa, portanto, que a pesquisa inicial – denominada, normalmente, pesquisa bibliográfica ou referencial teórico – deve basear-se em bancos de dados de trabalhos científicos, como os citados. Neles o pesquisador poderá ler ou baixar arquivos de artigos técnico-científicos de congressos e, às vezes, de revistas científicas (também chamadas de periódicos) . Estas poderão oferecer gratuitamente alguns artigos ou cobrar pelo seu acesso. O fato é que a pesquisa oferecerá todos os títulos e resumos (normalmente em inglês) dos artigos constituintes do banco de dados. Pelos títulos e resumos o estudante pesquisador já poderá ter uma boa ideia dos conteúdos dos artigos.

PUBLICAÇÃO DOS RESULTADOS

A publicação dos resultados da pesquisa poderá ocorrer por meio dos seguintes recursos, numa sequencia crescente de complexidade e responsabilidade: relatórios técnicos, artigos científicos ou técnicos (papers, em inglês), monografias, dissertação de mestrado, tese de doutorado e livros.

Os artigos científicos são, normalmente, publicados em congressos, conferências, seminários ou equivalentes, tendo, antes, passado pelo crivo de avaliação prévia de um grupo de pesquisadores doutores da área. São os instrumentos mais atuais de divulgação de resultados de pesquisa. As revistas científicas recolhem e publicam alguns desses artigos apresentados em congressos, ocorrendo isto alguns meses depois do congresso, o que já torna a publicação menos atualizada.

As monografias são, normalmente, os textos produzidos por alunos no fim de seu curso, trabalhos denominados TCC (trabalho de conclusão de curso) ou PG (projeto de graduação), ou, ainda, outras denominações semelhantes. Em geral, tais monografias são individuais, podendo ser, no entanto, em duplas ou triplas. São, quase sempre, submetidas a uma banca de dois professores do curso, além do orientador. São, também, denominadas monografias aqueles trabalhos de conclusão de cursos de pós-graduação tais como: aperfeiçoamento, especialização e MBA. Este último é um termo inglês que significa Master of Business Administration (Mestre em Administração de Negócios) e tem origem americana. Diferentemente do que o nome leva a crer, não é um curso de "mestrado", como entendido no Brasil.

A dissertação de mestrado é o texto preparado pelo estudante de pós-graduação no nível de mestrado enquanto a tese de doutorado é o texto preparado pelo estudante de pós-graduação no nível de doutorado. A diferença fundamental entre os dois textos é que somente a tese de doutorado deve ser um trabalho absolutamente original. Mais detalhes das diferenças entre mestrado e doutorado encontram-se no item a seguir.

O livro é uma produção de um ou mais autores e costuma ser uma divulgação de estudos ou conhecimentos adquiridos pelo autor ao longo de sua experiência de professor e pesquisador. Pode, também, ser uma publicação de dissertações de mestrado ou de teses de doutorado que foram colocadas sob a forma de livro. Uma diferença básica entre artigo científico e livro é que este último é, normalmente, a visão do único autor – ou do grupo de autores –, enquanto o artigo científico costuma envolver a visão do autor em comparação, quase que obrigatória, com a visão de vários outros pesquisadores da área em foco.

               
Livro x Artigo:  Artigo científico -- leitura mais difícil, visão de vários autores;
                                      Livro -- leitura mais fácil, visão particular do autor.


MESTRES E DOUTORES

A pós-graduação nos níveis de Mestrado e Doutorado é dita pós-graduação STRICTO SENSU (do latim: sentido restrito), ao passo que a pós-graduação nos níveis de Aperfeiçoamento e Especialização é dita LATO SENSU (do latim: sentido amplo). Fazem sentido tais termos pelo fato de significarem a amplitude ou a profundidade dos estudos envolvidos. A amplitude (largueza) dos assuntos estudados é a maior no caso da Graduação e vai diminuindo à medida que se avança nos estudos de pós-graduação. No nível de doutorado tem-se a menor amplitude ou, de outro modo, o foco mais apertado, em que o escopo do objeto pesquisado é bem mais restrito do que nos níveis de estudo anteriores.

O Mestrado é um curso de pós-graduação Stricto Sensu em que o estudante, ao final do curso, apresenta uma dissertação de mestrado. Esta deverá ser avaliada, em defesa pública, por uma banca examinadora constituída de três (3) a quatro (4) professores ou pesquisadores, com, no mínimo, o título de mestre. Um desses será o orientador do mestrando. Tendo sido aprovada a sua defesa, o candidato tem direito a receber o título de Mestre. Por exemplo: Mestre em Engenharia (M.Eng.), Master of Science (M.Sc.), ou outro título equivalente que a instituição possa lhe atribuir.

A dissertação de mestrado não é, obrigatoriamente, um trabalho original, mas deve apresentar uma contribuição significativa ao avanço do conhecimento científico sobre o tema no País, seja no aprofundamento do assunto seja na sua melhor compreensão e atualização.

O Doutorado é um curso de pós-graduação Stricto Sensu em que o estudante, ao final do curso, apresenta uma tese de doutorado. Esta deverá ser avaliada, em defesa pública, por uma banca examinadora constituída de quatro (4) a seis (6) professores ou pesquisadores, com, no mínimo, o título de doutor. Um desses será o orientador do doutorando. Tendo sido aprovada a sua defesa, o candidato tem direito a receber o título de Doutor. Por exemplo: Doutor em Engenharia (D.Eng.), Doctor of Science (D.Sc.), Docteur Ingenieur (D.Ing.) ou outro título equivalente que a instituição possa lhe atribuir. Vale destacar que o título Ph.D. vem de Philosophy Doctor (Doutor em filosofia, em português) e é um dos títulos de doutorado que algumas universidades atribuem aos seus doutores. Por exemplo, a Universidade americana do Tennessee nos EUA.

A tese de doutorado deve ser, obrigatoriamente, um trabalho original. Por isto o nome de TESE, o que significa a apresentação e defesa de uma nova teoria, um novo procedimento técnico ou científico, um novo equipamento ou produto tecnológico. E é tão sério este quesito que, normalmente, a tese a ser defendida em banca deve, antes, ser avaliada por um doutor na área – o Relator da tese – que emitirá um parecer (ou relato) a respeito da originalidade e da validade do trabalho. Caso este constate que o assunto já tenha sido objeto de estudo e defesa de tese por algum outro pesquisador o trabalho estará invalidado, não podendo ser levado para defesa de tese.

O pós-doutorado é um estágio para o doutor. Consiste de um período de cerca de um ano em que o pesquisador doutor estabelece parceria com outros doutores na área, com suposta maior ou diferenciada experiência, para fins de atualização dos conhecimentos do doutor. Sendo um professor, o doutor em Pós-Doc (ou Post-Doc) poderá fazer palestras, orientar trabalhos de doutorado escrever artigos técnico-científicos e livros. Importante ressaltar que o Pós-Doc não confere nenhum  título extra ao pesquisador, a não ser uma melhora em seu currículo.

O BOM ORIENTADOR

Nos estudos de pós-graduação é normal a figura de um orientador. Este será um professor ou pesquisador com título de Mestre ou Doutor e com experiência no assunto da pesquisa. Alguns critérios para a escolha ou definição de um bom e eficaz orientador podem ser indicados. O primeiro, sem dúvida, é a sintonia que deve haver entre o orientado (o estudante pesquisador) e o orientador. Havendo dificuldades de relacionamento entre os envolvidos, o andamento e a eficácia do trabalho de pesquisa ficarão seriamente comprometidos. Outro critério é que o orientador participe efetivamente, pelo menos no tocante à engenharia, da definição do assunto ou do problema a ser pesquisado. Por fim, que haja um acompanhamento efetivo do orientado por parte do orientador, tanto por meio de reuniões periódicas quanto por meio de discussões sobre o material escrito ou produzido pelo orientado.

CONCLUSÕES


O cientista pesquisador na engenharia é o estudante pesquisador que terá desenvolvido uma curiosidade aguçada e que buscará esclarecer-se e adquirir conhecimento de forma metódica e sistemática. A partir da identificação de um assunto e um problema correlato o estudante elaborará uma hipótese e vai tentar confirmá-la por meio de estudos teóricos, práticos ou de levantamento de dados em campo, e de tal forma que os resultados possam ser repetidos, testados e verificados por outros cientistas. Alguns pesquisadores, tendo passado por cursos de pós-graduação stricto sensu, como o mestrado e o doutorado, poderão alcançar os títulos respectivos de Mestre e Doutor. Com tais títulos, e com alguma experiência acumulada, tais pesquisadores, mestres e doutores, estarão capacitados a serem orientadores de novos estudantes pesquisadores. Os resultados são divulgados por meio de relatórios científicos e metodicamente rigorosos e contribuem para a divulgação da ciência, da tecnologia e, por fim, para o avanço da própria sociedade.

Uilso Aragono. (junho de 2017)

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Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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