terça-feira, 31 de janeiro de 2017

JESUS NÃO TEVE IRMÃOS

Há uma polêmica entre os cristãos sobre se Jesus Cristo teria tido irmãos de sangue, já que o Novo Testamente cita Tiago como sendo "o irmão de Jesus", dentre outras citações semelhantes. Este artigo procura mostrar que Jesus foi filho único de Maria, e o que o termo "irmão", utilizado em toda a Bíblia, tem, quase sempre, o significado de parente próximo. Isto acontece, ainda hoje, entre os próprios evangélicos (que defendem que Jesus tenha tido irmãos de sangue!), quando se chamam de "irmãos" embora, estejam se referindo a pessoas da mesma comunidade ou crença, e não a irmãos de sangue.

AS LISTAS DOS APÓSTOLOS


Conforme as quatro versões do Evangelho e os Atos dos Apóstolos, as listas dos doze apóstolos são como mostra a tabela a seguir.

Mateus (10,2-4)
Marcos (3,16-19)
Lucas (6,14-16)
João
Atos (1,13)
Simão Pedro
Simão Pedro
Simão Pedro
Pedro
Pedro
André
André
André
André
André
Tiago
Tiago
Tiago

Tiago
João
João
João
João, o amado
João
Filipe
Filipe
Filipe
Filipe
Filipe
Bartolomeu
Bartolomeu
Bartolomeu
Natanael
Bartolomeu
Tomé
Tomé
Tomé
Tomé Dídimo
Tomé
Mateus
Levi, filho de Alfeu
Mateus

Mateus
Tiago filho de Alfeu
Tiago filho de Alfeu
Tiago filho de Alfeu

Tiago filho de Alfeu
Tadeu
Tadeu
Judas irmão de Tiago
Judas
Judas irmão de Tiago
Simão Cananeu
Simão Zelador
Simão Zelador

Simão Zelador
Judas Iscariotes
Judas Iscariotes
Judas Iscariotes
Judas Iscariotes
Matias

O Evangelho de João não apresenta, como os demais, uma lista com os nomes dos apóstolos. Os nomes colocados na coluna correspondente ao evangelista João são, portanto, aqueles que aparecem ao longo de sua narrativa sobre a Boa Nova. Os nomes faltantes nessa coluna são aqueles não citados expressamente pelo Evangelista.

Os dois apóstolos, de nome Tiago, são assim distinguidos: Tiago Maior (filho de Zebedeu e irmão de João) e Tiago Menor (filho de Alfeu e cognominado "irmão do Senhor").

Já o nome de Tadeu, nas listas de Mateus e Marcos, é mudado para Judas, nas listas de Lucas, João e Atos. Este apóstolo passa, então, a ser conhecido como Judas Tadeu, já que são considerados serem a mesma pessoa.

Simão Cananeu e Simão Zelador são, também, reconhecidos como uma única pessoa: o apóstolo Simão.

Levi é o nome de Mateus, o cobrador de impostos, na lista de Marcos. Normalmente se aceita que sejam a mesma pessoa.

Matias é o apóstolo que substitui Judas Iscariotes, o traidor, na lista dos Atos dos Apóstolos.

JESUS É FILHO ÚNICO DE MARIA

Embora no Novo Testamento da Bíblia cristã se encontrem referências a irmãos de Jesus, inclusive dando-lhes nomes, como no evangelho de Marcos, em que são citados nominalmente Simão, Tiago, José e Judas (Mc 6,3), o conjunto da obra leva a crer que Jesus não tenha tido irmãos de sangue (filhos de Maria e José). E a palavra irmãos era, de fato, tanto no hebraico quanto no aramaico, usada para expressar os parentes (primos, tios, etc.; parentes pertencentes à mesma tribo).

Os dois principais e decisivos textos do Novo Testamento que deixam transparecer, de forma quase inequívoca, que Jesus era filho único de Maria são: Lc 2,41-52 e Jo 19, 26s.

             JESUS AOS 12 ANOS NO TEMPLO

Em Lc 1,41-52 se lê a narrativa da viagem de Jesus, aos 12 anos, com seus pais a Jerusalém, para uma visita ao Templo por ocasião da festa da Páscoa  judaica (Lc 2,43), como era comum entre os judeus da época. Acredita-se que a viagem de ida e volta possa ter durado 15 dias. Sendo assim, pode-se concluir que, sendo Jesus o mais velho, não haveria outros irmãos menores. Senão, onde estariam? Se, como dizem alguns evangélicos, interpretando ao pé da letra os textos bíblicos, Jesus tivesse 4 irmãos, além de algumas irmãs, onde e com quem teriam ficados esses filhos menores? Supondo-se sete irmãos, os três menores poderiam ter 6, 5 e 4 anos... Quem estaria por conta deles durante tanto tempo? E os irmãos maiores, com 9, 10 ou 11 anos? Por que não teriam acompanhado o irmão mais velho? Essas perguntas levam a concluir-se que a Família de Nazaré fosse constituída, apenas, por Maria, José e Jesus.

            JESUS CONFIA SUA MÃE AO DISCÍPULO AMADO

Como que confirmando o texto acima, o episódio da paixão (Jo 19, 26s), em que Cristo entrega sua Mãe aos cuidados de um discípulo que não era seu parente (João, filho de Zebedeu), deixa claro que Jesus não tenha tido irmãos de sangue. Pois se esses existissem, não faria sentido nenhum Jesus preocupar-se com o destino de sua mãe Maria, já que ela não estaria desamparada, mas seus outros filhos poderiam cuidar dela. E é importante recordar que, de fato, uma mulher viúva não tinha como se manter ao perder os filhos. Se estes morressem, a viúva ficaria em uma situação de penúria, que só seria superada pela boa vontade de parentes e vizinhos da família.

JESUS É CITADO COMO O FILHO DE MARIA

Os evangelhos nunca citam filhos de Maria e José. Lucas cita que "Jesus era tido por filho de José..." (Lc 3,23), isto é: era suposto ser filho do carpinteiro. Ao contrário, citam, expressamente, "Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria e o irmão de Tiago (...)?" (Mc 6,3), e não, simplesmente, "filho de Maria", que seria mais apropriado se ela tivesse outros filhos. O artigo ("o filho") tem o seguinte significado: a mãe só tem esse único filho. Se ela tivesse outros filhos, o artigo "o" não seria utilizado. Falar-se-ia: "Não é ele o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago (...)?".

Em outro texto, o Evangelho cita: "Chegaram sua mãe e seus irmãos (...)" (Mc 3,31). Por que não escreveu o evangelista: "Chegaram sua mãe e seus (outros) filhos (...)"?

 Ainda: "... entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele" (At 1,14). Por que não foi escrito: "(...) entre elas Maria, mãe de Jesus, e seus outros filhos"?

Se a palavra parentes (ou primos) fosse comumente utilizada, os textos acima citados seriam: "Chegaram sua mãe e seus primos/parentes (...)"; e "(...) entre elas Maria, mãe de Jesus, e seus primos/parentes". Portanto, a palavra "irmãos" está sendo usada para significar os primos/parentes de Jesus.

IRMÃOS E PRIMOGÊNITO

Para explicar os termos "irmãos" e "primogênito" utilizados nos Evangelhos, há que se estudar e buscar entender seus significados no costume do povo hebreu da época de Jesus.

Irmãos era um termo usado para significar irmãos de sangue e, também, primos e parentes: todos os parentes de um clã, de uma tribo eram chamados de irmãos, entre si.
Há vinte passagens no Antigo Testamento (AT) que confirmam esse significado amplo de irmãos [Bettencourt, p. 24]. Abraão chama seu sobrinho Lot de irmão: "Somos irmãos (...)" (Gn 13,8). Jacó, embora sendo sobrinho de Labão, se declara seu irmão: "E Jacó anunciou a Raquel que era irmão de seu pai (...)" (Gn 29,12).

Primogênito era utilizado para o primeiro filho, independentemente de haver outros filhos após o primeiro. Era um título atribuído ao primeiro filho, mesmo que este fosse o único! Era o filho que deveria ser consagrado ao Senhor: "consagrarás ao Senhor todo primogênito" (Ex 13,12). Não se utilizava o termo "unigênito", como querem alguns estudiosos evangélicos no afã de provar que Jesus não era filho único de Maria.

TIAGO, IRMÃO DE JESUS

Tiago Menor é chamado de o "o irmão de Jesus": "Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs?" (Mc 6,3).

No entanto, tal expressão deve ser vista com um título: "irmão de Jesus", "irmão do Senhor", etc. Como acontece com outros títulos: "filhos de Zebedeu", "Iscariotes", "o Cananeu", "o Zelador", "o Nazareno", etc. Entenda-se que naquele tempo, não havia, como hoje há, os sobrenomes. Eram as pessoas referenciadas pela sua profissão, sua descendência ("Filho de Davi"), seu parentesco, etc.

No caso de Tiago, "irmão do Senhor" (Gl 1,19), este é filho de Alfeu, que, por outro lado, é o mesmo que Cleofas pois são formas gregas de um único nome aramaico: Clapai [Bettencourt, p.25]. Isto é confirmado por um historiador antigo, de nome Hegesipo, que relata que Cleofas era irmão de José, pai de Jesus. Daqui se conclui que Cleofas e Maria de Cleofas (Jo 19,25) eram os pais de Tiago, José, Judas e Simão. Estes, portanto, eram primos de Jesus, já que esta Maria de Cleofas é citada, também, como irmã de Maria, a Mãe de Jesus.

RAZÃO TEOLÓGICA OU MÍSTICA

Tendo José recebido uma mensagem divina sobre sua paternidade adotiva em relação ao filho que Maria iria ter, e sendo um homem justo, conforme os evangelhos, teria ele a coragem ou a ousadia de buscar ter relações com aquela que gerara o Filho de Deus pela força do Espírito Santo de Deus? Ser justo equivale, nos dias de hoje, a ser uma pessoa reconhecidamente santa. José, pleno da certeza de que Maria estava grávida por ação divina, certamente assumiu a missão de ser Pai do menino Jesus, mas abriu mão, por santos respeito e veneração, de ter qualquer contato sexual com sua Esposa, que, também era, de certa forma, a Esposa do Espírito Santo!

CONCLUSÃO

Jesus, o Filho de Deus, e o Filho de Maria, esposa castíssima de José, o Justo, foi, com certeza filho único de Maria e filho adotivo de José. E Maria, por misteriosa graça do Senhor quis e conservou-se virgem durante toda a sua vida ao lado do santo José. E os chamados irmãos do Senhor eram, na verdade, seus parentes próximos, muito provavelmente seus primos, como hoje falamos.

Ref.: BETTENCOURT, Estevão. Católicos perguntam. Mensageiro de Santo Antônio, São Paulo, 1997.

Uilso Aragono. (Jan. de 2017)

























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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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