Há uma polêmica entre os cristãos
sobre se Jesus Cristo teria tido irmãos de sangue, já que o Novo Testamente
cita Tiago como sendo "o irmão de Jesus", dentre outras citações
semelhantes. Este artigo procura mostrar que Jesus foi filho único de Maria, e
o que o termo "irmão", utilizado em toda a Bíblia, tem, quase sempre,
o significado de parente próximo. Isto acontece, ainda hoje, entre os próprios
evangélicos (que defendem que Jesus tenha tido irmãos de sangue!), quando se
chamam de "irmãos" embora, estejam se referindo a pessoas da mesma
comunidade ou crença, e não a irmãos de sangue.
AS LISTAS DOS APÓSTOLOS
Conforme as quatro versões do
Evangelho e os Atos dos Apóstolos, as listas dos doze apóstolos são como mostra
a tabela a seguir.
Mateus (10,2-4)
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Marcos (3,16-19)
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Lucas (6,14-16)
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João
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Atos (1,13)
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Simão Pedro
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Simão Pedro
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Simão Pedro
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Pedro
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Pedro
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André
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André
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André
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André
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André
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Tiago
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Tiago
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Tiago
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Tiago
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João
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João
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João
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João, o amado
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João
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Filipe
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Filipe
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Filipe
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Filipe
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Filipe
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Bartolomeu
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Bartolomeu
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Bartolomeu
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Natanael
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Bartolomeu
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Tomé
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Tomé
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Tomé
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Tomé Dídimo
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Tomé
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Mateus
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Levi, filho de Alfeu
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Mateus
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Mateus
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Tiago filho de Alfeu
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Tiago filho de Alfeu
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Tiago filho de Alfeu
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Tiago filho de Alfeu
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Tadeu
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Tadeu
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Judas irmão de Tiago
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Judas
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Judas irmão de Tiago
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Simão Cananeu
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Simão Zelador
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Simão Zelador
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Simão Zelador
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Judas Iscariotes
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Judas Iscariotes
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Judas Iscariotes
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Judas Iscariotes
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Matias
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O Evangelho de João não
apresenta, como os demais, uma lista com os nomes dos apóstolos. Os nomes colocados
na coluna correspondente ao evangelista João são, portanto, aqueles que
aparecem ao longo de sua narrativa sobre a Boa Nova. Os nomes faltantes nessa
coluna são aqueles não citados expressamente pelo Evangelista.
Os dois apóstolos, de nome Tiago,
são assim distinguidos: Tiago Maior (filho de Zebedeu e irmão de João) e Tiago
Menor (filho de Alfeu e cognominado "irmão do Senhor").
Já o nome de Tadeu, nas listas de
Mateus e Marcos, é mudado para Judas, nas listas de Lucas, João e Atos. Este
apóstolo passa, então, a ser conhecido como Judas Tadeu, já que são
considerados serem a mesma pessoa.
Simão Cananeu e Simão Zelador
são, também, reconhecidos como uma única pessoa: o apóstolo Simão.
Levi é o nome de Mateus, o
cobrador de impostos, na lista de Marcos. Normalmente se aceita que sejam a
mesma pessoa.
Matias é o apóstolo que substitui
Judas Iscariotes, o traidor, na lista dos Atos dos Apóstolos.
JESUS É FILHO ÚNICO DE MARIA
Embora no Novo Testamento da
Bíblia cristã se encontrem referências a irmãos de Jesus, inclusive dando-lhes
nomes, como no evangelho de Marcos, em que são citados nominalmente Simão,
Tiago, José e Judas (Mc 6,3), o conjunto da obra leva a crer que Jesus não
tenha tido irmãos de sangue (filhos de Maria e José). E a palavra irmãos era,
de fato, tanto no hebraico quanto no aramaico, usada para expressar os parentes
(primos, tios, etc.; parentes pertencentes à mesma tribo).
Os dois principais e decisivos
textos do Novo Testamento que deixam transparecer, de forma quase inequívoca,
que Jesus era filho único de Maria são: Lc 2,41-52 e Jo 19, 26s.
JESUS AOS 12 ANOS NO TEMPLO
Em Lc 1,41-52 se lê a narrativa
da viagem de Jesus, aos 12 anos, com seus pais a Jerusalém, para uma visita ao
Templo por ocasião da festa da Páscoa
judaica (Lc 2,43), como era comum entre os judeus da época. Acredita-se
que a viagem de ida e volta possa ter durado 15 dias. Sendo assim, pode-se
concluir que, sendo Jesus o mais velho, não haveria outros irmãos menores. Senão,
onde estariam? Se, como dizem alguns evangélicos, interpretando ao pé da letra
os textos bíblicos, Jesus tivesse 4 irmãos, além de algumas irmãs, onde e com
quem teriam ficados esses filhos menores? Supondo-se sete irmãos, os três
menores poderiam ter 6, 5 e 4 anos... Quem estaria por conta deles durante
tanto tempo? E os irmãos maiores, com 9, 10 ou 11 anos? Por que não teriam
acompanhado o irmão mais velho? Essas perguntas levam a concluir-se que a
Família de Nazaré fosse constituída, apenas, por Maria, José e Jesus.
JESUS CONFIA SUA MÃE AO DISCÍPULO
AMADO
Como que confirmando o texto
acima, o episódio da paixão (Jo 19, 26s), em que Cristo entrega sua Mãe aos
cuidados de um discípulo que não era seu parente (João, filho de Zebedeu),
deixa claro que Jesus não tenha tido irmãos de sangue. Pois se esses existissem,
não faria sentido nenhum Jesus preocupar-se com o destino de sua mãe Maria, já
que ela não estaria desamparada, mas seus outros filhos poderiam cuidar dela. E
é importante recordar que, de fato, uma mulher viúva não tinha como se manter
ao perder os filhos. Se estes morressem, a viúva ficaria em uma situação de
penúria, que só seria superada pela boa vontade de parentes e vizinhos da
família.
JESUS É CITADO COMO O FILHO DE
MARIA
Os evangelhos nunca citam filhos
de Maria e José. Lucas cita que "Jesus era tido por filho de José..."
(Lc 3,23), isto é: era suposto ser filho do carpinteiro. Ao contrário, citam,
expressamente, "Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria e o irmão de
Tiago (...)?" (Mc 6,3), e não, simplesmente, "filho de Maria",
que seria mais apropriado se ela tivesse outros filhos. O artigo ("o
filho") tem o seguinte significado: a mãe só tem esse único filho. Se ela
tivesse outros filhos, o artigo "o" não seria utilizado. Falar-se-ia:
"Não é ele o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago (...)?".
Em outro texto, o Evangelho cita:
"Chegaram sua mãe e seus irmãos (...)" (Mc 3,31). Por que não
escreveu o evangelista: "Chegaram sua mãe e seus (outros) filhos (...)"?
Ainda: "... entre elas Maria, mãe de
Jesus, e os irmãos dele" (At 1,14). Por que não foi escrito: "(...)
entre elas Maria, mãe de Jesus, e seus outros filhos"?
Se a palavra parentes (ou primos)
fosse comumente utilizada, os textos acima citados seriam: "Chegaram sua
mãe e seus primos/parentes (...)"; e "(...) entre elas Maria, mãe de
Jesus, e seus primos/parentes". Portanto, a palavra "irmãos"
está sendo usada para significar os primos/parentes de Jesus.
IRMÃOS E PRIMOGÊNITO
Para explicar os termos
"irmãos" e "primogênito" utilizados nos Evangelhos, há que
se estudar e buscar entender seus significados no costume do povo hebreu da
época de Jesus.
Irmãos era um termo usado para significar irmãos de sangue e,
também, primos e parentes: todos os parentes de um clã, de uma tribo eram
chamados de irmãos, entre si.
Há vinte passagens no Antigo
Testamento (AT) que confirmam esse significado amplo de irmãos [Bettencourt, p.
24]. Abraão chama seu sobrinho Lot de irmão: "Somos irmãos (...)" (Gn
13,8). Jacó, embora sendo sobrinho de Labão, se declara seu irmão: "E Jacó
anunciou a Raquel que era irmão de seu pai (...)" (Gn 29,12).
Primogênito era utilizado para o primeiro filho, independentemente
de haver outros filhos após o primeiro. Era um título atribuído ao primeiro filho,
mesmo que este fosse o único! Era o filho que deveria ser consagrado ao Senhor:
"consagrarás ao Senhor todo primogênito" (Ex 13,12). Não se utilizava
o termo "unigênito", como querem alguns estudiosos evangélicos no afã
de provar que Jesus não era filho único de Maria.
TIAGO, IRMÃO DE JESUS
Tiago Menor é chamado de o "o
irmão de Jesus": "Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão
de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas
irmãs?" (Mc 6,3).
No entanto, tal expressão deve
ser vista com um título: "irmão de Jesus", "irmão do
Senhor", etc. Como acontece com outros títulos: "filhos de
Zebedeu", "Iscariotes", "o Cananeu", "o
Zelador", "o Nazareno", etc. Entenda-se que naquele tempo, não
havia, como hoje há, os sobrenomes. Eram as pessoas referenciadas pela sua
profissão, sua descendência ("Filho de Davi"), seu parentesco, etc.
No caso de Tiago, "irmão do
Senhor" (Gl 1,19), este é filho de Alfeu, que, por outro lado, é o mesmo
que Cleofas pois são formas gregas de um único nome aramaico: Clapai [Bettencourt,
p.25]. Isto é confirmado por um historiador antigo, de nome Hegesipo, que
relata que Cleofas era irmão de José, pai de Jesus. Daqui se conclui que
Cleofas e Maria de Cleofas (Jo 19,25) eram os pais de Tiago, José, Judas e
Simão. Estes, portanto, eram primos de Jesus, já que esta Maria de Cleofas é
citada, também, como irmã de Maria, a Mãe de Jesus.
RAZÃO TEOLÓGICA OU MÍSTICA
Tendo José recebido uma mensagem
divina sobre sua paternidade adotiva em relação ao filho que Maria iria ter, e
sendo um homem justo, conforme os evangelhos, teria ele a coragem ou a ousadia
de buscar ter relações com aquela que gerara o Filho de Deus pela força do
Espírito Santo de Deus? Ser justo equivale, nos dias de hoje, a ser uma pessoa
reconhecidamente santa. José, pleno da certeza de que Maria estava grávida por
ação divina, certamente assumiu a missão de ser Pai do menino Jesus, mas abriu
mão, por santos respeito e veneração, de ter qualquer contato sexual com sua
Esposa, que, também era, de certa forma, a Esposa do Espírito Santo!
CONCLUSÃO
Jesus, o Filho de Deus, e o Filho
de Maria, esposa castíssima de José, o Justo, foi, com certeza filho único de
Maria e filho adotivo de José. E Maria, por misteriosa graça do Senhor quis e
conservou-se virgem durante toda a sua vida ao lado do santo José. E os
chamados irmãos do Senhor eram, na verdade, seus parentes próximos, muito
provavelmente seus primos, como hoje falamos.
Ref.: BETTENCOURT, Estevão. Católicos perguntam. Mensageiro de
Santo Antônio, São Paulo, 1997.
Uilso Aragono. (Jan. de 2017)
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