Este artigo visa a dar, de uma
forma bem resumida, mas bem verdadeira, uma visão da origem histórica do livro
mais lido e traduzido no mundo: a Bíblia Cristã. Pois a Bíblia, embora sendo
considerada pelos cristãos como sendo Palavra de Deus, não caiu do Céu, mas foi
escrita por homens mortais, limitados ... mas inspirados por Deus, segundo as
crenças judaicas e cristãs. Esta "inspiração" não é considerada uma
imposição divina sobre a mente humana do escritor sagrado, mas como que uma
miraculosa orientação divina que levava o autor sagrado a escrever as verdades
reveladas por Deus sob uma forma totalmente humana e inculturada (isto é,
seguindo a mentalidade e a cultura da época).
O QUE É A BÍBLIA CRISTÃ
A Bíblia é um conjunto de livros
(Byblos, do grego = biblioteca) que
foi estruturado a partir das escrituras sagradas dos Judeus – tais livros
constituindo o denominado Antigo Testamento – e das escrituras sagradas dos
cristãos – tais livros constituindo o denominado Novo Testamento. Esses últimos
livros foram escritos a partir do ano 50 da era cristã (Primeira Carta de Paulo
aos Tessalonicenses), quando o Apóstolo, depois de anos pregando (oralmente) o
Evangelho de Cristo e fundando comunidades, pelas cidades do Império Romano de
então, passou a escrever aos fiéis dessas mesmas comunidades para lhes
confirmar a Fé.
A PREGAÇÃO DOS APÓSTOLOS
Após a vinda do Espírito Santo os
apóstolos, cheios desse mesmo Espírito, sentiram-se fortalecidos e encorajados
a cumprirem a missão que o Senhor lhes dera: "Ide por todo o mundo,
proclamai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15). A Igreja de Cristo,
fundada sobre Pedro, conforme as palavras do próprio Cristo ("Tu és Pedro
e sobre esta Pedra erguerei a minha
Igreja") começava a existir e a atuar na evangelização por meio da
pregação dos apóstolos.
Observe-se, no entanto, que a
pregação inicial dos apóstolos não se baseava na Bíblia, pois esta,
simplesmente, não existia como definida acima. Existiam, tão somente, as
escrituras sagradas dos judeus, citadas pelos apóstolos, que, ainda, se consideravam,
também, eles judeus. Mas não existiam, ainda, os escritos do Novo Testamento.
Estes, como visto acima, só começaram a serem escritos, pelos apóstolos e seus
discípulos, a partir do ano 50 da era Cristã: a primeira carta de S. Paulo aos
Tessalonissenses. Antes dessa data, o Evangelho já vinha sendo pregado desde
Pentecostes, portanto, já há cerca de dezessete anos ...
ORIGEM DO ANTIGO TESTAMENTO
A primeira parte da Bíblia Cristã
– o Antigo Testamento – é constituída pelos escritos sagrados dos judeus que
foram reconhecidos, pela Igreja Católica, desde os primeiros séculos da Era
Cristã: o Pentatêuco (ou a Torá, como é conhecida no meio judaico), os livros
Proféticos e os livros chamados de Escritos. A Igreja Católica, desde suas
origens aceitou todos os livros sagrados reconhecidos pelos judeus (escritos em
hebraico) e, além desses, aqueles escritos em grego: cerca de sete: Baruc,
Eclesciástico, Judite, I e II Macabeus, Tobias e Sabedoria, além de trechos de
Ester e Daniel (escritos em aramaico). Estes, por terem sido alvos de alguns
questionamentos sobre sua origem divina, isto é, se teriam sido inspirados por
Deus, só passaram a fazer parte do Cânon Bíblico Cristão mais tarde que
os demais. Foram, assim, denominados de dêutero-canônicos, o que significa:
canônicos tardiamente. Mas foram reconhecidos como canônicos, de qualquer
forma, pela Igreja Cristã Católica, desde os primeiros séculos da Era Cristã.
ORIGEM DO NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento é a parte da
Bíblia constituída por livros sobre a história e a doutrina cristã. Foram
escritos, como já dito acimo, a partir do ano 50 da Era Cristã, isto é: a
partir de cerca de duas décadas após a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Os
Evangelhos foram escritos a partir do ano 64 – quando foi escrito o Evangelho de
Marcos –, sendo os demais, escritos até o ano 70, embora possa ser aceito que
tenham sido escritos até, no máximo, no final do primeiro século (Ano 100 DC).
Os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse, também, são aceitos como tendo sido
escritos até essa data.
É, em geral, aceito, portanto,
que todos os livros do Novo Testamento tenham sido escritos durante a segunda
metade do primeiro século da Era Cristã. Verifica-se, assim, que os Apóstolos e
os Evangelistas – autores sagrados do Novo Testamento – não tenham conhecido a
Bíblia Cristã, como a conhecemos desde o fim do primeiro século da Era Cristã.
O anúncio (o Kérigma) da doutrina cristã, portanto, foi feito, inicialmente, de
forma oral, e somente depois de cerca de 20 anos é que essa pregação passou a
ser, lentamente, colocada por escrita pelos próprios apóstolos ou seus
discípulos.
Quanto aos Evangelhos – que são
aceitos por todos os cristãos, bem como o Novo Testamento, em geral – esses
foram escritos por Mateus, Marcos (discípulo de Pedro), Lucas (discípulo de
Paulo) e João. No entanto, pelo segundo século da Era Cristão foram aparecendo
outros evangelhos, que, no entanto, não foram aceitos pela Igreja Cristã.
Acredita-se que sejam mais de 50. Alguns desses, denominados evangelhos
apócrifos, são: Natividade de Maria, Proto-Evangelho de Tiago, Evangelho Copto
de Tomé, Evangelho apócrifo de João, Evangelho de Pedro, Evangelho de Maria
Madalena, Evangelho de Felipe, Evangelho de Judas e Evangelho da infância de
Jesus (54 perguntas sobre Jesus Cristo, Universidade de Navarra).
CÂNON DA BÍBLICA CRISTÃ
Como visto acima, a Bíblia Cristã
é constituída por livros judeus (Antigo Testamento) e por livros cristãos (Novo
Testamento). Mas a definição de quais são esses livros foi sendo elaborada, em
meio a questionamentos, legítimos ou não, ao longo da vida mesma da Igreja
Cristã. Assim, já no final do segundo século (Séc. II, Era Cristã) o Bispo
Ireneu de Lyon, em seu livro Contra os Hereges (Adversus Haraeses 3.11.8-9). Nessa época havia muitos escritos que
se propunham como evangelhos cristãos, que, no entanto, desde cedo foram
rejeitados como sendo inspirados. Suas principais características rejeitadas
eram: fantasiosos, com revelações secretas de Jesus, com doutrinas claramente
heréticas, etc. Já naquela época, o cristão Orígenes de Alexandria (†245) escrevia: " A Igreja tem quatro
evangelhos, os hereges, muitíssimos" (54 perguntas sobre Jesus Cristo,
Universidade de Navarra).
Até a Reforma Protestante, o
Cânon oficialmente aceito pela Igreja Católica para os livros que compunham a
Bíblia Cristã era constituído de 66 livros do Antigo Testamento (incluídos os
denominados dêutero-canônicos, acima citados) e 27 livros do Novo Testamento,
totalizando 73 livros sagrados. Essa lista completa (Cânon) de
livros do Novo Testamento (livros cristãos) somente foi definitivamente
finalizada no II Concílio de Cartago (417 DC)
Logo após a Reforma Protestante, que procurava
eliminar os livros dêutero-canônicos (e até mesmo alguns do Novo Testamento,
como Lutero desejava, em relação à Carta de S. Tiago), a Igreja Católica se
reuniu no Concílio de Trento (1545-1563) e ratificou o Cânon tradicional da
Bíblia Cristã Católica.
CONCLUSÃO
A origem da Bíblia Cristã está
associada ao nascimento e ao florescimento da Igreja Cristã dos Apóstolos. A
Igreja nascente, formando-se por meio da pregação oral dos apóstolos, tanto na Palestina,
quanto na Ásia Menor e em Roma, não possuía a Bíblia, ainda. Os únicos escritos
sagrados, citados pelos apóstolos (e até por Cristo) na sua pregação, eram aqueles
do Antigo Testamento: livros judaicos. A Bíblia, conforme definida acima, ainda
não existia. Os livros do Novo Testamento foram aparecendo à medida que a
pregação e a formação de comunidades cristãs ia espalhando-se. O primeiro
escrito do Novo Testamento, isto é, da Era Cristã, foi produzido pelo Apóstolo
Paulo, em cerca do ano 50 DC. A Bíblia Cristã, como existe hoje, só tomou corpo
definitivo, nos primeiros séculos da Era Cristã, quando então, todos os livros reconhecidos
como sagrados e inspirados por Deus foram combinados e listados no Cânon
Oficial da Igreja Católica, deixando para trás muitos outros escritos,
propostos como sagrados pelos seus autores, que foram considerados como
escritos apócrifos, isto é: não-autênticos ou, até mesmo, heréticos.
Uilso Aragono (Setembro de 2016)
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