segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

DIFERENÇAS OBJETIVAS ENTRE CATOLICISMO E EVANGELISMO (PARTE II)

Dando continuidade ao texto anterior, mais alguns aspectos diferenciais são ressaltados nos tópicos a seguir.

5. SOBRE O USO DA BÍBLIA NOS CULTOS

No Catolicismo, ou uso da Bíblia é recomendado e incentivado nos Círculos Bíblicos e nos estudos pessoais, e para a oração pessoal. No entanto, nos cultos, os fiéis não são incentivados a terem um exemplar da Bíblia nas mãos, dando-se preferência a que a Palavra de Deus, lida do púlpito, seja ouvida pela assembleia. Isto se explica pelo fato de que existem várias edições da Bíblia Católica, com pequenas variações na tradução, o que levaria o fiel a confundir-se no acompanhamento da leitura, se esta não fosse igual à de sua versão, no momento. Além dessa justificativa, a Igreja Católica dá preferência à audição, com o objetivo de que os fiéis adquiram uma postura de maior atenção à Palavra proclamada.

No Evangelismo, a recomendação geral é que cada fiel leve consigo um exemplar da Bíblia Evangélica para que os textos possam ser acompanhados durante a celebração. Recomenda-se que tais exemplares sejam de uma mesma editora, para que os textos lidos e ouvidos sejam iguais. Existem, também, Escolas Bíblicas, em que são estudados os textos bíblicos. Igualmente ao que ocorre no Catolicismo, a oração com a Bíblia é muito incentivada.

6. SOBRE OS TEXTOS BÍBLICOS NOS CULTOS

No Catolicismo, os textos bíblicos de cada culto (missas e celebrações da Palavra) são previamente definidos no chamado Calendário Litúrgico – que é um instrumento preparado pela Igreja, e aprovado pelo Papa ou por Comissões Litúrgicas –, visando a garantir que a cada dia, em toda a Igreja Católica do mundo inteiro, os mesmos textos sejam lidos e meditados. Ao padre não é dada a liberdade de escolher os textos das missas e celebrações: o Calendário Litúrgico já os determina. Durante os dias da semana, são lidos dois textos do Antigo Testamento (um deles, sempre, um Salmo) e um texto do Novo Testamento (um dos quatro Evangelhos); aos domingos, são lidos dois textos do Antigo Testamento (um deles, sempre, um Salmo), e dois textos do Novo Testamento (uma das Cartas dos Apóstolos, ou dos Atos, ou do Apocalipse, e um dos Evangelhos). Durantes as leituras, os fiéis ficam sentados, à exceção da leitura do Evangelho, em que todos, ficam de pé, indicando prontidão e atenção máxima à Palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em seguida às leituras, o padre faz o que se denomina Sermão ou Homilia, com o objetivo de explicar e explicitar as principais mensagens dos textos lidos – os quais, por terem sido prévia e cuidadosamente escolhidos, articulam-se com muita perfeição no conteúdo das mensagens transmitidas. O Calendário Litúrgico articula as leituras da Bíblia de tal forma que, ao fim de três anos, praticamente todos os principais textos bíblicos terão sido lidos e meditados nas celebrações diárias. Ocorrem, especialmente, nas celebrações dominicais, procissões de entrada em que a Bíblia e levada, com muita veneração e respeito, até o altar da igreja.

No Evangelismo, não há textos previamente definidos, tendo os pastores total liberdade para escolher os textos a serem lidos. Embora a prática varie muito nas diversas Igrejas Evangélicas, ocorre, muitas vezes, que o pastor faz sua pregação com base em vários pequenos textos da Bíblia, procurando extrair deles o conteúdo da mensagem evangélica a ser transmitida. Quando os textos bíblicos são proclamados para a assembleia, os fiéis costumam ficar sentados, independentemente de serem textos lidos do Evangelho ou de outras partes da Bíblia.

7. SOBRE O USO DE IMAGENS

No Catolicismo, o uso e a veneração das denominadas “imagens” são incentivados e fazem parte do espírito religioso e devocional dos fiéis. As imagens (isto é: figuras impressas e estatuetas) podem representar, de forma respeitosa e, de preferência, bonita, a Santíssima Trindade, Maria e os demais santos, além de muitas cenas evangélicas e da História Sagrada. A Igreja Católica sempre utilizou imagens porque sempre acreditou que o texto bíblico do livro do Êxodo (Ex 20, 4 ou Ex 20:4) somente proíbe imagens com a intenção de idolatria. E porque Deus não se contradiz, e ordena fazer imagens (querubins de ouro), logo à frente no mesmo livro (Ex 25, 18-20 ou Ex 25: 18-20), e em outras partes da Bíblia (Num 21, 8-9 ou Num 21: 8-9; I Reis 6, 23-35 ou I Reis 6: 23-35). No início do Cristianismo, os primeiros cristãos pintavam nas catacumbas muitas imagens de cenas bíblicas do Antigo e do Novo Testamento, com objetivo tanto de culto quanto de catequese (para ensinar, especialmente, aos que não sabiam ler).

No Evangelismo, as imagens foram proibidas com base numa interpretação de que o texto do livro do Êxodo (Ex 20, 4 ou Ex20:4) tem valor absoluto, independentemente das ordens dadas, pelo próprio Deus, para a confecção de imagens (querubins, serpentes de bronze, etc.) como citados nos outros textos bíblicos acima referenciados. Os evangélicos acreditam que tais ordens, dadas por Deus, para a confecção de imagens, teriam sido exceções à regra geral da proibição de imagens.

8. SOBRE OS SACRAMENTOS

No Catolicismo, o termo sacramento (= mistério) é utilizado desde as origens do Cristianismo, com o significado de um sinal que carrega consigo a eficácia do seu simbolismo. Ao longo da vida da Igreja Católica, sete sacramentos foram definidos: Batismo, Crisma (ou Confirmação), Eucaristia, Ordem (sacerdotal), Matrimônio, Confissão (ou Reconciliação), e Unção dos Enfermos.

No Evangelismo, o único sacramento aceito e mantido, após a Reforma Protestante (ou Evangélica), foi o Batismo. E é aplicado, em geral, apenas para os fiéis adultos; pois as crianças não têm consciência do sacramento e, portanto, não podem recebê-lo.

9. SOBRE A EUCARISTIA

No Catolicismo, a Eucaristia é um sacramento, isto é, é um mistério que carrega consigo, particularmente, a verdade e a eficácia do seu simbolismo: o Corpo e o Sangue de Cristo estão, de fato, presentes na partícula de pão e no vinho, já consagrados pelo sacerdote católico. A Igreja Católica sempre acreditou na realidade e na verdade das palavras de Cristo: “Isto é o meu Corpo; este é o cálice do meu Sangue” (Mt 26, 26s ou Mt 26: 26s; Lc 22, 19s ou Lc 22: 19s; I Cor 11, 23s ou I Cor 11: 23s). Para o Catolicismo, tais palavras, também presentes em outros textos, proclamam, claramente, que Jesus estava instituindo um verdadeiro sacramento, dizendo – inclusive para espanto, constrangimento e escândalo dos que ouviam –, que “era” seu Corpo e seu Sangue, e não, “simbolizava” seu Corpo e seu Sangue! Os sacerdotes católicos, por receberem a Ordem (sacramento da Ordem Sacerdotal) do seu Bispo, recebem o poder espiritual de serem um “outro Cristo” durante o momento da celebração eucarística e o pão e o vinho transformam-se – embora mantendo as aparências! – em seu Corpo e em seu Sangue, verdadeiramente! Isto, para que “tenhais a vida em vós” (Jo 6, 53 ou Jo 6: 53).

No Evangelismo, os sacramentos da Eucaristia e da Ordem (conforme entendidos pelos católicos, acima), foram rejeitados como verdadeiros sacramentos. Para os evangélicos, as palavras de Cristo são entendidas como significando que o pão e o vinho sejam, apenas, “memória” da entrega redentora de Cristo pelos pecadores.  Realizar tal celebração, também denominada “comunhão”, para os evangélicos, é tão somente um ato piedoso de recordação daquele sublime momento e que por si só, lhes comunica sua graça divina, embora o Cristo não esteja presente, verdadeiramente, no pão e no vinho utilizados por eles nas celebrações.

(Continua ...)


Uilso Aragono (fev/2016)

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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