Frases, palavras ou expressões que os pais usam
no relacionamento com seus filhos podem ser potencialmente educadoras ou
tremendamente deseducadoras. Pais e educadores têm de estar muito atentos sobre
a maneira como falam com seus educandos: eles são totalmente sensíveis ao que
veem e ao que ouvem, especialmente da parte dos pais e educadores, pois estes
são, para eles, os primeiros exemplos ou modelos que imitarão. Este é o tema da
reflexão deste mês.
“VAMOS EMBORA QUE EU TENHO MUITA COISA PARA
FAZER EM CASA”
No parque, outro dia, uma mãe dizia para seu
filho: “Vamos embora que eu tenho muita coisa para fazer em casa”. Esta não é
uma frase inocente. Ao contrário, é uma frase cheia de significado emocional e
totalmente inadequada, se for analisada do ponto de vista educativo. É uma
frase de grande poder deseducativo! Explica-se: a criança, desejosa de
continuar a brincar no parque, é interrompida pela mãe, que determina o fim das
brincadeiras e o necessário e imediato retorno para casa, mesmo a contragosto
da criança; e a explicação do retorno não é feita com base nas necessidades
educativas da criança, mas na necessidade da mãe, que tem “muito o que fazer em
casa”. O que fica no inconsciente da criança, com toda a carga emocional
associada à frustração natural de ter de interromper suas brincadeiras? Fica o
mau exemplo de uma ação baseada em razões egoísticas por parte da mãe... A criança
não está deixando de brincar porque ela precisa ir para casa para tomar banho e
almoçar, ou porque está na hora de fazer o dever de casa, ou por qualquer outra
razão objetiva, como porque o parque está fechando, naquele momento. Fica no
inconsciente da criança a lição deseducadora: devo agir de acordo com minhas
necessidades, e não com as necessidades do outro...
“QUE MENINO MAL EDUCADO!”
Frases de rotulagem são muito utilizadas por
pais e educadores quando querem cobrar da criança uma mudança de comportamento:
“Que menino mal educado!”; “Essa menina é muito preguiçosa!”; “Deixe de ser
porco menino!”. Essas frases são deseducativas porque levam a criança a
acreditar – pela força emocional da frase, dita por quem tem autoridade sobre
ela – que ela “é” assim. Acreditando, inconscientemente, nessa afirmação dos
pais, a criança tenderá, não a abandonar tal comportamento, mas, ao contrário,
a permanecer nele, a torna-lo realidade em sua vida... Rótulos devem ser absoluta
e conscientemente evitados pelos educadores, pois são mecanismos que conseguem,
exatamente, o contrário do que pretendem!
“PARE DE ASSISTIR TELEVISÃO, MENINO, E VÁ TOMAR
BANHO!”
Para levar uma criança a tornar-se, no futuro,
grossa, desrespeitosa, impositora, autoritária, é só utilizar, com frequência, expressões
tais como: “Pare de assistir televisão, menino, e vá tomar banho!”; “Largue o
computador, agora, e vá fazer o dever de casa!”. Essas expressões passam, para
o inconsciente da criança, lições de grosseria e desrespeito – pois não levam
em conta o direito de o outro ser tratado com carinho e paciência –, e de
imposição e autoritarismo – pois não levam em conta as necessidades do outro,
mas, tão somente, as necessidades e direitos de quem tem o poder! Quando a
criança se tornar adulta vai, com grande probabilidade, agir com autoritarismo
e imposição em relação aos seus subordinados...
FRASES EDUCATIVAS BASEADAS NO AMOR
Que frases, então, seriam mais adequadas e mais
educativas? A resposta está baseada na compreensão de que a criança deve ser
tratada, sobretudo, com amor! E este amor acarretará atitudes e gestos
correspondentes de amor, expressos por frases amorosas, carinhosas,
respeitosas, democráticas, e compreensivas. Em vez de expressar egoísmo, como
no primeiro exemplo acima, a mãe poderia ter utilizado uma necessidade da
criança: “Vamos para casa, agora, querido, porque você já brincou muito e tem
de fazer aquele dever de casa, lembra?”. Aqui é o interesse da criança que dita
a hora de terminar as brincadeiras no parque, e não o interesse (egoístico) da
mãe em fazer as coisas do seu interesse. Para não rotular uma criança, há que
se esforçar para acentuar aspectos positivos, que sempre existem – ou podem ser
buscados, ou até criados! – para chamar a atenção da criança. Em vez de
acentuar a ofensiva palavra “porco”, a mãe pode dizer: “Meu filho, você já
brincou muito e já está muito sujo, não é mesmo? Que tal agora fazer que nem
seu pai e sua mãe, que adoram um banho gostoso?”. Ou: “Meu filho, isso aí é muito
sujo e nojento, você não acha? Que tal fazer como todo mundo que nem mexe com
isso? E se mexe, vai, logo, lavar as mãos?
CONCLUSÕES
As crianças serão bem educadas se o ambiente em
que vivem for marcado por gestos e expressões de amor, de carinho, de respeito,
de consideração, de tolerância. Se quisermos nossos filhos bem educados,
devermos dar o exemplo. Sobretudo, que desenvolvamos um ambiente de respeito
mútuo. Sim, as crianças, também, devem ser respeitadas! Devem ser tratadas como
gostaríamos que elas nos tratassem no futuro, quando ficarem adultas e tiverem
poder. Devem se amadas, para que aprendam a lição do amor; devem ser
respeitadas, para que aprendam a lição do respeito; devem ser toleradas, para
que aprendam a lição da tolerância; devem ser compreendidas, para que aprendam
a compreender; devem ver exemplos de altruísmo, para que aprendam a não serem
egoístas... Ambiente de amor, de afeto, de carinho e de respeito, associado a
frases e expressões do dia a dia que transmitam os mais variados valores
humanos, religiosos e sociais, é o de que precisa uma criança para crescer bem
educada!
Uilso Aragono. (Setembro de 2014)
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