Neste texto, faço uma reflexão sobre os chamados sacramentos da iniciação cristã: o Batismo, a Confirmação (ou Crisma) e a Eucaristia. Apresento, inicialmente, alguns conceitos teológico-doutrinais do Catolicismo que contribuirão para melhor compreensão da reflexão sobre o tema.
Sacramentos: realizam o
que significam; o símbolo da água que lava, purifica dos pecados,
verdadeiramente realizam esse significado! O óleo no peito da criança (ou na
testa do adulto, na crisma) simboliza a unção, a eleição do Senhor pela pessoa
que, como Cristo, é ungida, e realiza efetivamente essa unção, essa missão; as
palavras do sacerdote: “Eu te absolvo desses teus pecados confessados”
simbolizam e significam o perdão de Deus e efetivamente o realiza; as palavras
dos noivos, diante da testemunha oficial da Igreja, que se acolhem um ao outro
como marido e mulher, por toda a vida, bem como as alianças, simbolizam um
contrato perpétuo e o realizam verdadeiramente diante de Deus; os símbolos e os
ritos usados na consagração do sacerdote, do padre (ou presbítero), em sua
ordenação, simbolizam e efetivamente realizam o que simbolizam: o candidato à
ordem recebe de Deus, verdadeiramente, tudo aquilo que os sinais significam; o
óleo da unção dos enfermos, e os ritos dessa unção simbolizam as curas
espiritual e física do doente e, efetivamente, de verdade, as realiza.
Sacramentos Indeléveis: No Batismo, na Crisma/Confirmação, e na ordenação diaconal/sacerdotal/episcopal (1°, 2° e 3° graus da Ordem, respectivamente) a marca do sacramento é indelével, isto é, para toda a vida da pessoa. Mesmo, portanto, que um sacerdote deixe de ser padre, voltando à condição de leigo (estado laico), ele não deixa de ser um sacerdote do Senhor, apenas fica afastado de suas funções; que podem ser retomadas em caso de risco de vida de alguma pessoa, quando, então, ele pode atuar como sacerdote. No caso de um casal, casado validamente diante de Deus, a marca indelével é para toda a vida do casal: um deles morrendo, essa marca desaparece e o sobrevivente poderá casar-se novamente (ou quando a união for, oficialmente, declarada nula pela Igreja). São como tatuagens espirituais que marcam para sempre a vida de uma pessoa (supondo que essas tatuagens não possam, de fato, ser removidas).
Graus espirituais: na vida
espiritual, como na vida física, os dons de Deus, as graças, as bênçãos, as
glórias, têm graus de quantidade ou de profundidade; no Batismo, a criança
recebe também o Espírito Santo, mas como uma pequena dose, enquanto que para o
adulto que recebe o Sacramento da Crisma, o dom do Espírito Santo é dado em
plenitude (em grau pleno); Na domingo da Páscoa, Jesus sopra sobre os apóstolos
dizendo: recebam o Espírito Santo, mas numa dose pequena, que somente será
plena em Pentecostes; Os santos de Deus, no Céu, têm graus de glória diferentes;
é como se diz: cada “copo” estará diante de Deus plenamente cheio, mas o
tamanho do copo é diferente para cada alma; por isso, podemos rezar pelo nosso
anjo da guarda, pedindo para ele um grau de glória maior, diante de Deus.
O tempo espiritual:
existe, sim, um tempo espiritual para as almas que já estejam no Purgatório ou
no Céu, é o chamado “evo”; somente Deus não muda, somente ele vive a eternidade,
somente Ele é eterno; nós, criaturas de Deus, somos imortais, no sentido de que
não morreremos para sempre, mas viveremos no evo, o tempo espiritual;
explica-se: assim como o tempo físico supõe a mudança das coisas e das pessoas
(que envelhecem), no tempo espiritual, as almas também supõem mudança,
crescimento na santidade e nos graus de glória; por isso as almas do purgatório
podem se santificar, se purificar e, em algum momento espiritual, estarem
prontas para irem para o Céu.
Disposição interior: é o estado de espírito e de consciência que a
pessoa deve ter para que o Sacramento tenha efeito. Assim como somente pecamos,
de verdade, com consciência e liberdade, também para a recepção válida e
efetiva dos sacramentos precisamos demonstrar consciência e liberdade.
Batismo:
O Sacramento que torna uma
criança cristã, que a integra à Igreja Católica, que lhe perdoa o pecado
original e lhe dá uma “dose” do Espírito Santo; que torna o adulto (catecúmeno)
um cristão, um filho de Deus, que lhe perdoa o pecado original e todos os
pecados pessoais, preparando-o para a recepção dos Sacramentos da Crisma e da
Eucaristia. (Sem necessidade do sacramento da penitência, mesmo porque o
catecúmeno ainda não tem acesso a esse Sacramento!)
A água do Batismo nos faz morrer para
os pecados e ressuscitar com Cristo para uma vida nova: a vida de ungidos, de
cristãos (vem da palavra Cristo = ungido = Messias). A Igreja nos ensina (Código
de Direito Canônico) que uma vez batizados na Igreja Católica, sempre
católicos, mesmo que abandonemos a Igreja e a troquemos por outra, ou passemos
a ser ateus. (É claro que para que retornemos à Igreja de Cristo, deveremos
fazer, por escrito, uma renovação da fé católica e das promessas do Batismo
diante de uma testemunha oficial da Igreja e buscar o Sacramento da Penitência
para estar em estado de graça e voltar a participar dos demais sacramentos.)
O Batismo nos tira da condição de
criaturas de Deus para a condição mais elevada de filhos de Deus. Embora Deus
ame todas as suas criaturas, ele tem um especial amor pelos seus filhos em
Cristo Jesus. Com o Batismo transformamo-nos em profetas, sacerdotes e reis: as
três dimensões da vida cristã do leigo.
Só se batiza uma vez! É um
sacramento indelével, uma “tatuagem” espiritual. Por isso, a Igreja Católica
aceita o Batismo de muitas igrejas protestantes. Mas não aceita o batismo,
dentre outras, da Igreja católica brasileira. Porque o Batismo válido deve
seguir a fórmula trinitária: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, uso
da água pura e a intenção de seguir a Cristo. Na dúvida, há o Batismo sob
condição: “Se você, fulano, não foi batizado, eu te batizo em nome ...”)
Por que batizar uma criança em
perigo de vida se a Igreja acredita que Deus tenha uma solução de salvação para
as que morrem sem Batismo? Porque, com o Batismo, a alma da criança terá uma
melhor situação diante de Deus: será uma cristã, uma filha de Deus, e não uma
mera criatura de Deus.
O Batismo ainda pede um
complemento... A Crisma.
Uilso Aragono. (outubro de 2024)