A convivência e a intimidade levam a
comportamentos mais diretos, sem máscaras, mais verdadeiros, que são as fontes, normalmente, das brigas
entre marido e mulher, entre irmãos, entre familiares próximos etc. Além dessa
natural dificuldade, fruto da intimidade na vivência familiar, surgem outras
como: fofocas, comentários indiscretos, antipatias, desconfianças. Que
influências negativas são essas? Como conviver com elas e neutralizá-las?
As influências positivas de sogros e
sogras, cunhados, tios, irmãos, na vida do casal, especialmente dos
recém-casados, são bem-vindas e acontecem quando dão bons conselhos nas
conversas da convivência familiar. A presença discreta por meio de visitas não
tão frequentes e o apoio concreto,
especialmente nos campos moral, financeiro, e com as crianças, constituem
influências das mais positivas. Isto é o que se espera, normalmente, da
convivência familiar envolvendo parentes dos recém-casados.
Quanto às influências negativas, as
principais, essas podem ser listadas como sendo as seguintes:
1. Telefonam demais: querem saber tudo;
informar sobre tudo;
2. Visitam demais: muita presença; todo
dia estão lá. Tiram a liberdade do casal;
3. Convidam demais: vêm almoçar; vêm
rezar; vêm pro aniversário...;
4. Brigam demais nos relacionamentos:
críticas frequentes; demonstram antipatias; desconfiam...
5. Pegam coisas emprestadas demais:
pegam e não devolvem...
E como cancelar ou neutralizar tais
influências negativas, que tanto atrapalham a vida dos recém-casados? Há dois
trabalhos a serem feitos: no nível
interior, na intimidade do casal e de cada cônjuge, e no nível exterior, nas relações com os
parentes.
Trabalho interior:
Quanto ao trabalho interior
recomenda-se, inicialmente, que cada um dos cônjuges reconheça que “nem todos
são obrigados a gostar da gente”. Isto, uma vez interiorizado e aceito, levará
o casal, e cada cônjuge em particular, a aceitar as críticas, as ofensas, e as
demonstrações de antipatia gratuitas, muito comuns nos relacionamentos
familiares marcados pela intimidade, como já visto. Afinal, cada um de nós tem
suas críticas e antipatias em relação a parentes e conhecidos – por que não
lhes dar, também, o direito de criticar-nos e não gostar da gente?...
Um segundo trabalho interior consiste
em decidir, após reflexão profunda e serena, entre “pagar na mesma moeda” e
“perdoar e amar” ou entre a “guerra” e a “paz” na família. Dê o direito de ele
ou ela (a sogra, o sogro, o tio, o irmão...) de não gostar de você, de não
tratá-lo bem... Mas você deverá tratá-los bem. Isto é bem cristão, na linha do
que ensina Jesus.
Seguindo ainda o que ensina Jesus, o
Mestre dos mestres, deve-se rezar pela paz na família. Oração frequente, em
momentos de fé, baseada na Bíblia, em livros próprios para oração, em livros de
meditação ou reflexão espiritual. O terço – para os que já descobriram o valor
desta tão simples e ao mesmo tempo tão completa oração cristã! – é um santo
remédio para muitos males de origens comportamentais, de relacionamentos
interpessoais, e tantos outros males. Experimentar jejuns e abstinências, nas
intenções das orações, também é algo muito recomendável na luta contra as
dificuldades da vida social/familiar.
Finalmente, neste trabalho interior,
recomenda-se refletir sobre a necessidade de se saber dizer não. O dizer não, de forma sincera, educada, amorosa, é
algo importantíssimo e que vai funcionar, também, como “guias de orientação”
para os parentes inconvenientes, que aprenderão – por meio desses “nãos” bem
dados – a não insistir em certos convites, intromissões, presenças inoportunas
etc. Quem não aprende a dizer não acaba ficando escravo do “sim”!... Se existe
o “não” é porque ele pode e deve ser usado no momento certo!
Trabalho exterior:
Com relação aos problemas ligados aos
telefonemas excessivos, uma boa tática é não dar todas as informações: omitir
não é mentir! Controlar as informações, omitindo o que for pertinente pode
evitar influências negativas tais como aquela da sogra que tem o maior medo de
excursões a montanhas e, sabendo que o neto irá numa dessas, manifesta todo o
seu descontentamento, às vezes com palavras fortes e podendo tornar-se até
ofensivas. Deixar de dar uma informação como essa à sogra que telefona torna-se
um meio inteligente de não “provocar” situações de conflito. Ao saber depois, o
fato já ocorreu... O uso de uma secretária eletrônica é de todo conveniente
para situações de telefonemas insistentes, impertinentes e em horas impróprias.
Afinal, o telefone deve ser bom para ambas as partes: a que chama e a que é
chamada. Se alguém está interessadíssimo em um assunto durante o telejornal e o
telefone toca, a secretária atenderá e o telejornal não será interrompido:
todos saem ganhando. Ficar escravo do telefone, de tal forma que, ao tocar o
telefone, a pessoa se veja impulsionada a atendê-lo, mesmo que isto signifique
incômodos, é algo que precisa ser superado, para o bem de toda a família.
Outra tática interessante para ser
colocada em prática pelo casal recém-casado, para neutralizar influências
negativas de parentes, tais como as visitas inoportunas, consiste em “colocar a
culpa” no outro cônjuge. Assim se explica: se um irmão da esposa é muito
“grudento” e está sempre aparecendo, sem ser convidado, nas tardes de domingo,
ela pode dizer a ele, como que em segredo, que o marido fica muito bravo quando
tem visita à tarde, porque ele gosta de dormir nesse horário. Ao falar assim, o
irmão acabará entendendo e aprendendo
que não é conveniente aparecer nesses momentos... É uma maneira delicada de
dizer não, sem ofender, porque a razão da negativa está no outro, cuja
intimidade é menor.
Não “bater de frente” nos
relacionamentos com os parentes, especialmente aqueles que incomodam, que
influenciam negativamente, é uma atitude altamente recomendável, na linha do
perdão e da compreensão. Afinal, críticas devem ser “absorvidas” e
não refutadas. Lembrar: as pessoas não são obrigadas a gostar da gente.
Uma tática muito inteligente nos
relacionamentos com pessoas que nos criticam é “não dar poder” às suas palavras
e ações. Não se deixar ofender! É como aquele apelido que pega justamente
porque a pessoa se mostra irritada e desgostosa quando a chamam por ele. É
exatamente esse tipo de comportamento que deve ser evitado, pois ele dá “poder”
ao apelido! Em geral, não dar poder a críticas, gozações, implicâncias daqueles
que nos incomodam é uma maneira muito eficiente de neutralizá-las: quem as faz,
acaba desistindo de fazê-las por não obter o resultado que desejariam: irritar
e provocar a pessoa. Aqui, para se ter força nessa reação não-violenta a
críticas e ofensas, vem em nosso auxílio a força que se consegue na Oração,
como já refletido.
Finalmente, com relação ao pegar
emprestado, comum entre pessoas de muita intimidade, quando uma pega um objeto
(uma vasilha ou uma bandeja, por exemplo) e não o devolve. Muitas vezes o ato
de não devolver não é simples esquecimento, mas uma atitude de implicância
consciente, para provocar, para magoar, para, às vezes, se vingar de algo. Ora,
a melhor atitude para neutralizar tal ação é, mais uma vez, não dar “poder” a
isto: não espere de volta! Se vier é lucro!... E não desenvolva raiva ou
antipatia desses nossos parentes ou de quem quer que seja, pois um sábio já
disse: o pior inimigo não é aquele que nos odeia, mas aquele a quem odiamos!...
Conclui-se que as influências negativas
dos familiares existem, independentemente da vontade do casal. Saber lidar com
elas é arte, técnica e dom de Deus. É Arte porque é jogo de cintura, é jeito de
tratar o outro; é perdoar e amar. É Técnica, ao saber dizer não, ao tratar bem
quando se é tratado mal. É Dom de Deus, pois Deus ajuda quem madruga! A quem
pede Deus dá!
Uilso Aragono, 30/novembro/2011.
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