JORNAL DO BRASIL - 13/julho/2007
ESPERANTISTAS DO BRASIL E DO MUNDO, UNI-VOS!
Congresso no Rio comemora 120 anos de criação do esperanto e um século
da chegada do idioma ao país.
Uma das camisetas que Amarílio Carvalho vende em sua barraquinha tem estampa com motivos cariocas: Pão de Açucar, Corcovado, calçadão e os dizeres "Urbo Mirinda". Outra exibe o desenho de uma florzinha brejeira, com uma declaração de amor: "Mi amas vin". Em meio a mais de uma dezena de modelos, um cartaz anuncia o desconto camarada: "Prezo de banano". O leitor talvez não entenda, mas as frases fazem todo o sentido para o público-alvo de Amarílio: os frequentadores do 42o Congresso Brasileiro de Esperanto que, desde segunda-feira (09/julho), reúne centenas de adeptos do idioma internacional na sede das faculdades SUESC, na Praça da República.
Realizado anualmente, o congresso tem motivo duplo para festa em 2007. Os esperantistas celebram 120 anos da criação do idioma e um século da chegada do movimento ao Brasil. Amarílio é adepto há mais de 50 anos, desde que leu pela primeira vez, ainda nos bancos escolares, sobre a língua que o polonês L.L.Zamenhof criou para tentar aproximar a Humanidade: "Aquilo tocou meu coração", recorda.
- Idioma tem dois milhões de falantes no mundo -
Assim como Amarílio, mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo foram tocadas pelo ideal de Zamenhof e praticam o esperanto. No Brasil, não há estatísticas seguras, mas só a Liga Brasileira de Esperanto (BEL: sigla para Brazila Esperanto-Ligo) tem cerca de seis mil associados. O presidente da entidade, Pedro Cavalheiro, lamenta o pouco alcance do idioma no país: "É caviar cultural num país em que falta feijão com arroz cultural", compara.
A quixotesca história do esperanto no Brasil começou em 1907, no prédio vizinho à SUESC, primeira sede da BEL. Hoje radicada em Brasília, a entidade faz o que pode para divulgar os ensinamentos de Zamenhof. Além do congresso, que termina hoje, oferece cursos, seminários e promove intercâmbios com outros países.
Cavalheiro aponta a fonética simples e a gramática enxuta como as grandes vantagens do esperanto. E reage se alguém sugere que o inglês já ocupa o posto de idioma internacional do século XXI: " Tem gente que acha que somos um bando de malucos! Mas, ao contrário do inglês, o esperanto não ofende brios nacionalistas. É uma língua que, em tese, é tanto minha quanto sua, não é de país algum".
Cavalheiro evoca a história heróica do esperanto, cujos praticantes foram perseguidos por regimes totalitários do século passado (muitos morreram nas câmaras de gás nazistas) para revelar a grande aspiração do movimento: a paz mundial. Conta que a Associação Universal de Esperanto envia emissários a zonas de conflito, como a Faixa de Gaza, para transmitir aos rivais noções do idioma e lições de convivência. Mas hesita: "Se você escrever isso no jornal vão dizer que os esperantistas são sonhadores...".
Será?
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