O texto abaixo visa a refletir sobre o processo
ensino-aprendizagem nos cursos de engenharia, particularmente. Mas aplica-se a
estudos de nível superior em qualquer área de estudo. É fruto de minha
experiência como professor de engenharia há mais de 35 anos.
INTRODUÇÃO
O processo ensino-aprendizagem é
algo muito complexo e exige, portanto, estratégias, igualmente complexas em sua
aplicação. Pode-se iniciar a reflexão sobre a melhor estratégia tendo-se em
vista que o termo ensino-aprendizagem denota um processo integrado, onde não há
ensino, propriamente dito, sem a correspondente aprendizagem: não se “ensina”,
simplesmente, embora se possa “aprender”, simplesmente...
O QUE É ENSINO-APRENDIZAGEM?
Entendemos, como o fazem os
professores da área didático-pedagógica, em sua maioria, que não se sabe, exatamente, o que seja o ensino e como
ele possa ocorrer, nem o que seja e como se dá, efetivamente, a aprendizagem. Daí denominar-se tal processo de ensino-aprendizagem, pois não se sabe, exatamente, onde termina um
e começa a outra. Conclui-se daqui, que, provavelmente, por envolver pessoas,
seres humanos, seres complexos, tais processos não possam ser simples,
matemáticos, exatos, inequívocos, automáticos ou objetivos. Mas, ao contrário,
tenham de ser, necessariamente, complexos, ambíguos, aproximados, subjetivos e
resultados de esforços sérios e sinceros de ambas as partes: professor e aluno.
NAS CIÊNCIAS EXATAS
Nas ciências exatas (engenharias),
como é o nosso caso, os professores somos tentados a ensinar automaticamente (considerando-nos,
às vezes, sem muita consciência, os donos da verdade, porque ela é exata como 2
+ 2 = 4). Então, segue-se, como consequência natural que o professor ensina,
explica, justifica, e o aluno, sem necessidade de qualquer questionamento, deve
aceitar a verdade matemática. O professor, portanto, ensina, e espera-se que o
aluno, ao final de uma aula de duas horas deva ter aprendido, isto é, aceito e entendido,
tudo aquilo que o professor apresentou. Conclui-se que, nas engenharias, o
professor seja aquele que detém o conhecimento exato da verdade científica, e o
aluno deva aceitá-lo passivamente. Daqui seguem-se as metodologias tradicionais
que se perpetuam nas salas de aula: o professor fala e o aluno, passivamente,
escuta. Não se prepara, desse modo, o verdadeiro profissional, pois este deverá
ser ativo, crítico, participativo, capaz de falar abertamente e de explicar suas ideias para um grupo de pessoas de forma firme e convicta. Nossos alunos terminam o curso de
engenharia, após cerca de cinco a seis anos de estudos individuais, solitários,
passivos e inseguros, e se espera que se tornem, logo após a formatura,
profissionais seguros e competentes.
NAS CIÊNCIAS HUMANAS
No caso das ciências humanas,
parte-se do pressuposto de que o conhecimento deva ser buscado como esforço
conjunto, em grupos, pois ninguém detém o conhecimento, ou pode ser considerado
o dono da verdade. Lá, a tendência, ao contrário do que ocorre nas ciências
exatas, é considerar o ensino-aprendizagem como um verdadeiro processo
partilhado, que deve ser enriquecido pela participação de todos os envolvidos.
SOBRE A AVALIAÇÃO
Quanto ao aspecto da avaliação do
processo ensino-aprendizagem, que é muito mais ampla do que uma simples
aplicação de prova escrita, acreditam, educadores como Hamilton Werneck Sodré e
Paulo Freire, que, nela, tudo deva ser ponderado: não devem ser avaliados
somente conhecimentos adquiridos, mas, especialmente, as mudanças de atitude
diante da vida, que, possivelmente, tais conhecimentos tenham propiciado. É a
pessoa que deve ser avaliada e não, simplesmente, as respostas corretas de um conjunto
de questões arbitrária e subjetivamente escolhidas. Para tais pessoas serem
avaliadas, elas devem ser conhecidas
pelo professor. Para isto, elas teriam de se manifestar diante dele, o que
raramente ocorre. Prefere-se, na nossa área das ciências exatas, simplificar o
procedimento e resumir a avaliação a um processo pontual e binário: a prova escrita, com questões que somente
estarão certas ou erradas (relativamente à verdade matemática e técnico-científica
ensinada pelos doutos professores). A
avaliação de uma prova, de forma binária, não é humana e se reveste de
características computacionais, como
se quem avalia fosse um computador.
O ALUNO SERÁ UM PROFISSIONAL
Sobre o argumento de que o aluno
tenha de desenvolver a questão corretamente, pois “o engenheiro não poderá
errar o seu projeto”, temos a dizer que é um aluno que está sendo avaliado, e
não o profissional do futuro. Este será formado como resultado de médias iguais
ou superiores ao valor definido pela instituição de ensino, como conhecimentos
suficientes e supostamente adquiridos em cada disciplina. Como ilustração, seja
citado o aluno que, nada sabendo de italiano, após estudar durante um mês e ser
submetido a uma prova, tenha uma questão considerada totalmente errada (num
sistema binário de correção) porque teria errado o tempo verbal de uma frase
cujos demais elementos estariam corretos. Seria uma avaliação justa e humana?
Não estaria o aluno conseguindo comunicar-se, mesmo que imperfeitamente, por
meio da frase que escrevera?
Não se pode exigir ou avaliar um
aluno como se ele tivesse que acertar suas questões como se espera que o
profissional, já formado, acerte. Este estará numa situação totalmente
diferente do aluno: estará trabalhando possivelmente com o apoio de uma equipe
técnica, sem a pressão psicológica de uma prova, e com todos os mecanismos
possíveis de verificação de suas soluções. Já o aluno, numa prova, estará
totalmente solitário, isolado, psicologicamente pressionado, e sem
possibilidades de testar suas soluções por meio de outros recursos, que não sua
cabeça estressada... Avaliação é um processo complexo, que não deveria ser
reduzido à simples e pura determinação de resultados numéricos de provas,
intrinsecamente falhas, ou falhas pela própria natureza.
CONCLUSÃO
Uilso Aragono (dezembro de 2015)