O Governo brasileiro anunciou,
recentemente, o fim da fabricação de lâmpadas incandescentes para o ano 2017. Isto
é um grande erro contra a ecologia e a sustentabilidade, e esclareço, a seguir,
as razões desta afirmação.
Lâmp. incandescente |
Lâmp. Fluorescente compacta |
Reator de lâmp. Fluoresc. compacta |
Não sei com que base nossas
autoridades estão agindo de tal maneira, mas, como técnico da área – professor
de engenharia elétrica –, devo manifestar uma opinião técnica, que se contrapõe
a tal decisão, para o bem da sociedade brasileira e do nosso meio ambiente.
Parece que utilizaram um único critério: o que constata que as lâmpadas
fluorescentes compactas são mais eficientes, ou usam menos energia elétrica
para fornecer o mesmo nível de iluminação, do que uma lâmpada incandescente.
Ocorre que há outros critérios para a efetiva comparação entre essas lâmpadas,
incluindo o custo econômico individual, em que as incandescentes ganham de
longe, já que as fluorescentes compactas são, em média, cerca de cinco (5)
vezes mais caras que as incandescentes! E é de se admirar que o Governo tenha
ignorado esse critério! Pois o custo econômico costuma ser o critério mais decisivo em todas as decisões
técnico-econômicas sobre o uso ou a compra de equipamentos em geral.
USO PREFERENCIAL DAS LÂMPADAS
Inicialmente, devo esclarecer aos
leigos, incluindo, especialmente, nossas autoridades da área de energia
elétrica, que os diversos tipos de lâmpadas têm aplicações bem definidas.
Focando apenas nas lâmpadas incandescentes e nas suas alternativas, as lâmpadas
fluorescentes compactas (ou lâmpadas eletrônicas), pode-se definir o campo de
aplicação ou uso de cada uma delas. As lâmpadas incandescentes, levando em
conta todas as suas características funcionais e de fabricação, são indicadas
para ambientes cuja iluminação seja temporária, isto é, por breves intervalos
de tempo, podendo essas lâmpadas serem acendidas e apagadas (ou ligadas e
desligadas) com frequência, sem que isto afete a vida útil (ou vida prevista)
da lâmpada. Já as lâmpadas fluorescentes compactas (ou lâmpadas eletrônicas) são
indicadas para ambientes cuja iluminação seja contínua, ou de longos intervalos
de tempo, tendo em vista que esse tipo de lâmpada tem sua vida útil muito
dependente da frequência do liga-desliga.
Dando-se exemplos residenciais,
pode-se dizer que as lâmpadas incandescentes são indicadas para ambientes como:
banheiros e lavabos, quartos de dormir, depósitos, despensas, varandas, hall de
elevadores e de escadas, e escadarias de prédios. Ressalte-se a suposição de
que tais ambientes não necessitem de iluminação contínua, mas apenas por breves
momentos, durante os quais os usuários têm acesso aos mesmos. Quanto às
lâmpadas fluorescentes compactas, essas são indicadas para ambientes como:
salas de estar, cozinhas, corredores, salas de multimídia (onde ficam,
normalmente, TV, som e biblioteca), garagem e quintal ou jardim (esses últimos,
por motivos de segurança). Veja-se que tais ambientes estarão iluminados, a
partir do anoitecer, de forma contínua, pois sempre haverá alguém – numa
família média de três, quatro pessoas – circulando por eles. Uma cozinha, por
exemplo, é um lugar em que sempre alguém estará acessando, portanto, uma
lâmpada fluorescente é a mais indicada para esse ambiente.
PRIMEIRA CONCLUSÃO
Tendo em vista as aplicações
discutidas, o uso errado de tais lâmpadas, conduz a dois grandes erros: usar as
incandescentes em ambientes que exijam iluminação mais constante produzirá um
grande custo de energia elétrica, já que essas lâmpadas têm baixa eficiência
energética, exigindo muita energia elétrica para seu funcionamento; usar as
fluorescentes compactas em ambientes de iluminação temporária produzirá um
grande custo de reposição dessas lâmpadas, já que elas se queimarão mais
rapidamente nesses ambientes, pela elevada frequência do liga-desliga, e terão
de ser repostas muito antes do tempo previsto pelo fabricante, a um custo cinco
a seis vezes maior do que uma correspondente lâmpada incandescente.
CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS DAS
LÂMPADAS
As aplicações ou usos que se devem
fazer de certo tipo de lâmpada estarão baseados em suas características
funcionais.
O fabricante de uma lâmpada
incandescente afirma que tal lâmpada não é sensível à frequência do
liga-desliga, podendo, portanto, ser utilizada em ambientes que não necessitem
estar continuamente iluminados, mas apenas, temporariamente, por breves
intervalos de tempo. Essas lâmpadas têm uma vida útil (vida prevista pelo
fabricante, até queimar) de cerca de mil (1.000) horas, o que pode ser
aproximado para um (1) ano. As potências normais de utilização em uma residência
variam de 40 a 100 watts e o custo médio de uma lâmpada de 60 watts é cerca de
dois reais. Essas lâmpadas devem ser testadas no momento da compra, e não há
garantia explícita de tempo de duração, embora se diga que dure cerca de mil
horas.
O fabricante de uma lâmpada
fluorescente compacta afirma, implicitamente, que tal lâmpada é sensível à
frequência do seu liga-desliga, já que não recomenda, explicitamente, que seja
usada com minuterias ou sensores de presença: aqueles dispositivos que ligam e
desligam automaticamente a lâmpada em hall de elevadores, escadas, corredores e
similares, a partir da detecção da presença de um indivíduo. São lâmpadas
recomendadas, portanto, para ambientes em que não ocorra esse liga-desliga com
frequência e que devam permanecer acesas por longos períodos de tempo antes de
serem, novamente, desligadas. Alguns fabricantes afirmam que o ciclo ideal é
que permaneçam acesas por 2h45min e apagadas por 15min. Essas lâmpadas, usadas
nas condições recomendadas, têm uma vida útil, prevista pelo fabricante, de
cerca de cinco mil horas (5.000h), o que pode ser aproximado para cerca de
cinco (5) anos. Veja-se a diferença em termos de duração para as
incandescentes: essas lâmpadas compactas podem durar até cinco vezes mais que
as incandescentes! As potências usuais de utilização em residências variam de 9
a 30 watts e o custo médio de uma lâmpada eletrônica de 20 watts é cerca de dez
reais (o que dá cerca de cinco vezes mais cara que a incandescente
correspondente). Os fabricantes costumam explicitar uma garantia de
durabilidade muito longa, usando este argumento, inclusive, de forma
mercadológica, para atrair o consumidor. Costumam dar de dois a oito anos de
garantia de durabilidade (vida útil)!
SEGUNDA CONCLUSÃO
Tendo em vista as considerações
acima, pode-se concluir que o uso inadequado de uma lâmpada fluorescente
compacta (em vez de uma incandescente) num ambiente que não necessita estar
iluminado por longos períodos de tempo, fará com que essa lâmpada se queime em
tempo muito menor do que aquele previsto pelo fabricante: em cerca de um ano,
quando poderia durar até cinco anos! Isto tem como consequência desastrosa – e
não levada em conta pelas autoridades governamentais! – um elevado custo
ambiental associado ao fato de se jogar no lixo um equipamento que poderia
estar ainda em funcionamento, por muitos anos, se estivesse sendo utilizado no
ambiente correto e de forma correta.
Esclareça-se, ainda, que tais lâmpadas,
diferentemente das incandescentes, são constituídas por pequenos “reatores
eletrônicos”, com muitos e variados componentes eletrônicos que contêm metais,
plásticos, cerâmicas, além dos vidros e substâncias químicas (fósforo, fenol,
naftaleno, estireno, mercúrio, dentre outras) nos bulbos: tudo isto indo para
lixões, e muito antes do que o esperado e o possível. Um desperdício enorme de
material, recursos e dinheiro, e poluição desnecessária!
QUADRO COMPARATIVO COMPLETO
O erro do Governo, ao propor o
fim da fabricação das tradicionais lâmpadas incandescentes, baseia-se no pressuposto,
apressado e superficial, de que as lâmpadas fluorescentes compactas por serem
mais eficientes e, portanto, mais econômicas energeticamente, possam substituir
diretamente as incandescentes, com todos os benefícios possíveis. Ora, tal
conclusão é totalmente equivocada por ser, tecnicamente, incorreta e parcial a
comparação entre as lâmpadas. Listo, no quadro abaixo, as comparações que
deveriam nortear uma decisão tão importante para o presente e o futuro de nosso
País.
Lâmpada
incandescente
|
Lâmpada
fluorescente compacta
|
1.
Baixa eficiência energética
|
Alta eficiência energética
|
2. Baixo custo de aquisição
|
Elevado custo de aquisição (5
vezes +)
|
3. Duração não depende do liga-desliga
|
Duração
depende do liga-desliga
|
4. Tecnologia simples
|
Tecnologia
complexa (com reator eletr.)
|
5. Não polui o meio-ambiente
|
Polui
o meio-ambiente
|
6.
Garantia inexistente
|
Garantia enorme, mas não verificada#
|
7. População acostumada a usar
|
População
não sabe como usar**
|
8. Elevado fator de potência (1,0)*
|
Baixíssimo
fator de potência (0,5)
|
9. Não polui a rede elétrica
|
Polui
a rede elétrica (distorções)
|
10. Não interfere em aparelhos eletrônicos
|
Interfere
em aparelhos eletrônicos##
|
11. Funcionamento estável
|
Funcionamento
instável (oscilações e pisca-pisca ocasionais)
|
*Fator de potência é
um índice de qualidade da corrente elétrica drenada pela lâmpada da rede
elétrica.
# A
garantia não é facilmente verificada pelo usuário, pois este teria de
relacionar cada lâmpada à sua nota fiscal e guardá-la muito bem por muitos
anos, o que raramente é feito.
** A população tem o
hábito de apagar, constantemente, a lâmpada (incandescente) logo após tê-la
usado. No caso da lâmpada fluorescente, esta teria de ser mantida ligada, nos
ambientes em que estivesse corretamente instalada, e somente desligada após um
longo período de tempo (ciclo longo de funcionamento).
##Exemplo:
Interferência sobre controles remotos de TVs; os usuários das lâmpadas não têm
consciência de tal interferência, e ficam incomodados e sem saber o que
fazer...
No quadro comparativo aparecem,
em negrito, os pontos positivos (vantagens) de uma sobre a outra. Verifica-se
que a lâmpada incandescente ganha em nove (9) pontos contra dois (2) da lâmpada
fluorescente.
Como podem ser desconsideradas
tantas vantagens da lâmpada incandescente frente à fluorescente compacta? É uma
conclusão realmente precipitada, que tem de ser revista urgentemente para que
um grande prejuízo não decorra de tão infeliz decisão.
TERCEIRA CONCLUSÃO
A lâmpada fluorescente compacta
somente poderá substituir a lâmpada incandescente, em todas as aplicações
possíveis, se aquela apresentar – para além da melhor eficiência energética! –
um reator eletrônico que não seja sensível à frequência do liga-desliga, e que
dure, de fato, como consequência dessa nova robustez, pelo menos cinco (5)
vezes mais que uma lâmpada incandescente, portanto, cerca de cinco anos, antes
de ir para o lixo.
No entanto o desenvolvimento e a
fabricação e comercialização de tal reator de alta robustez e, também, de
elevado fator de potência, não é um processo simples nem barato. Isto exigirá
tempo e pesquisa dos fabricantes e redundará, certamente, em reatores ainda mais
caros, num primeiro momento, o que exigiria, para compensar, durabilidades (em anos) muito maiores.
COMPORTAMENTO DO USUÁRIO
Um grande equívoco que se pode
associar à aparente superioridade da lâmpada fluorescente compacta é a
desconsideração do comportamento habitual dos usuários das lâmpadas
incandescentes: tais usuários foram acostumados a uma regrinha muito prática e
adequada ao não desperdício de energia dessas lâmpadas, qual seja, “apagar a
lâmpada sempre que sair do ambiente”, mesmo que necessite retornar alguns
minutos depois. Ora, esse comportamento, adquirido já há décadas de intimidade
com as lâmpadas incandescentes, torna-se totalmente desastroso quando se aplica
às lâmpadas fluorescentes, porque estas, ao contrário das incandescentes, têm
sua vida útil (durabilidade) muito dependente dessa frequência de liga-desliga.
QUARTA CONCLUSÃO
Como é muito difícil impor-se
um novo comportamento à população, na eventual substituição universal das
lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes compactas, o resultado de tal troca
será totalmente infeliz e acarretará enormes prejuízos financeiros e
ambientais. Financeiros, porque, embora o País deixe de gastar tanta energia
elétrica, por conta da maior eficiência da fluorescente compacta, cada cidadão,
no entanto, terá de gastar muito mais dinheiro na reposição das lâmpadas
eletrônicas, que não durarão o quanto deveriam. Ambientais, porque tais
lâmpadas, queimando-se antes da hora prevista pelos fabricantes, vão poluir o
meio ambiente muitos anos antes do que deveriam.
CONCLUSÃO GERAL
Tendo em vista o acima exposto, é
de se lamentar uma decisão governamental – que deveria esta pautada em um
estudo aprofundado e muito bem realizado! – de troca universal das lâmpadas
incandescentes pelas fluorescentes compactas. A proibição da fabricação das
lâmpadas incandescentes levará ao uso das fluorescentes compactas em situações
para as quais não foram e não são previstas, redundando em sérios prejuízos para
o cidadão, para o meio ambiente e para o País.
A solução mais adequada, tendo em
vista a melhoria da eficiência no uso da energia elétrica para iluminação, e
enquanto não forem produzidas lâmpadas eletrônicas robustas, de alta
durabilidade e de custos compatíveis, seria a definição, clara e inequívoca,
dos usos mais adequados de cada tipo de lâmpada. Caberia aos órgãos
responsáveis tais definições – como analisadas no texto, acima – que deveriam
acompanhar as embalagens, de forma clara e inequívoca, sobre a aplicação de uma
ou outra lâmpada. As embalagens das lâmpadas eletrônicas deveriam estampar, de
forma claríssima, a PROIBIÇÃO (não uma simples recomendação!) do uso dessas
lâmpadas com sensores de presença e o seu frequente liga-desliga. E nessas
mesmas embalagens, o fabricante RECOMENDARIA, para essas situações, o uso de
lâmpadas incandescentes de potência adequada. Com o tempo, a população criaria
um novo hábito de compra e uso das lâmpadas fluorescentes compactas, para o seu
benefício e o do meio ambiente.
Não basta, então, reconhecer que
as lâmpadas fluorescentes compactas sejam mais eficientes e, que, portanto, possam
substituir universalmente as lâmpadas incandescentes. É obrigatório, também, o
reconhecimento de que o modo de uso (frequência de liga-desliga) e o lugar do
uso das fluorescentes compactas (longos períodos de funcionamento) são
importantíssimos para a decisão final quanto a uma possível substituição
universal das lâmpadas incandescentes e a proibição definitiva de sua
fabricação.
Uilso Aragono (Julho de 2012)