quinta-feira, 31 de março de 2016

ERROS COMUNS NO USO DO PORTUGUÊS


Toda língua nacional é muito difícil de ser totalmente dominada. Os erros se multiplicam, tanto na forma falada quanto na forma escrita. E são erros que não são percebidos como tais, mas, ao contrário, impõem-se como se fossem as expressões mais acertadas do idioma. Muitos deles têm ocorrido com tanta frequência que a forma correta, ao ser utilizada, parecerá, aos que a ouvirem ou a lerem, a forma errada! ...

Neste texto proponho explorar alguns desses erros comuns e generalizadamente utilizados, seja na forma falada, seja na forma escrita do idioma.

1. “SEJA ISTO, SEJA AQUILO”

Algumas expressões tais como “seja isto, seja aquilo”, “ou isto, ou aquilo”, têm sido deturpadas e utilizadas em forma mista. Exemplos:

                “Seja você um empreendedor, um microempresário, ou um simples empregado, a batalha é difícil”. Parece não haver erro. Mas há! O correto seria: “Seja você um empreendedor, um microempresário, seja um simples empregado...”. A expressão correta é: “seja isto, seja aquilo”.

2. SUBSTANTIVO NO SINGULAR, E NÃO NO PLURAL

Errar na concordância nominal deveria ser algo difícil de acontecer, já que é muito simples esta regra: um pão é gostoso; dois pães são gostosos... O termo “gostoso” varia em número (plural ou singular), conforme o sujeito! Veja-se o exemplo abaixo.

                “O Autor revela que o fracasso da economia russa e chinesa nos anos anteriores...”. Parece, de novo, um texto sem erros de português. No entanto, uma leitura mais atenta identificará que se trata de duas economias: a russa e a chinesa; e não de uma economia “russa-chinesa”! Portanto, o correto seria: “O Autor revela que o fracasso das economias russa e chinesa nos anos anteriores...”.

3. TRATA-SE E TRATAM-SE

“Trata-se de” significa: “fala-se de”, ou “comenta-se sobre”. Já “tratam-se de” significa: “cuidam-se de”. Vejam-se os exemplos abaixo.

                “Tratam-se de duas pessoas diferentes”. Se for o caso de um enfermeiro tratando de duas pessoas, o texto estará correto! Mas se o contexto mostrar que se fala de, que se comenta sobre duas pessoas diferentes, então o texto estará errado! O correto, neste caso, seria: “Trata-se de duas pessoas diferentes”.

4. ERRO DE SUBJUNTIVO (MUITÍSSIMO COMUM)

O subjuntivo é um caso particular de uso tão comumente errado – tanto na expressão escrita quanto na falada –, que merece (como já o fiz) um artigo à parte. Veja-se um exemplo abaixo.

                “É difícil encontrar um pesquisador cuja contribuição foi tão variada”. Embora aparentemente correta, um olhar mais atento revelará o erro de subjuntivo. Trata-se de distinguir os modos verbais INDICATIVO e SUBJUNTIVO. Este último passa ideia de incerteza e subjetividade. Aquele (o Indicativo) passa ideia de certeza e objetividade. Portanto, o correto seria: “É difícil encontrar um pesquisador cuja contribuição tenha sido tão variada”. Observe-se que, de fato, a frase passa ideia de incerteza: é difícil (embora, não impossível) encontrar... O modo INDICATIVO estaria correto se fosse: “A contribuição do pesquisador foi muito variada”. Neste caso: certeza e objetividade!

Outro exemplo:

                “Tudo leva a crer que esses quatro apóstolos já conheciam Jesus”. Aparentemente correta, a frase contém erro de subjuntivo. A incerteza é claríssima na frase: tudo leva a crer, embora não se tenha certeza... Portanto, a expressão correta seria: “Tudo leva a crer que esses quatro apóstolos já conhecessem Jesus”. A conjugação utilizada na frase “conheciam” só poderia ter sido utilizada se o modo fosse o indicativo (ou afirmativo): “Os quatro apóstolos já conheciam Jesus”.

Em resumo: os termos crer, ou acreditar, ou esperar, ou talvez exigem o uso do modo subjuntivo  já que são termos que passam a mensagem de incerteza e subjetividade.

 5. DE ou DAS ou DOS

A Utilização errada das preposições “de” (sentido indefinido) ou “das” ou “dos” (sentido definido e com marca de gênero) tem sido muito comum em textos, inclusive, revisados. Esses revisores que não identificam tais erros deveriam fazer uma boa revisão de seu próprio conhecimento...

Alguns exemplos:

                “Essa atitude, embora não resolva o problema do pai ou mãe emocionalmente doente...”. Verifica-se, aqui, que tal frase, embora, aparentemente correta, contém o tal erro acima descrito. O Correto seria escrever-se: “Essa atitude, embora não resolva o problema do pai ou da mãe emocionalmente doente...”. A explicação é simples: ou se utilize o “de”, com sentido genérico ou se especifica cada personagem (pai e mãe). Uma possibilidade alternativa poderia ser: “Essa atitude, embora não resolva o problema de pai ou mãe emocionalmente doente...”. Mas, ao escolher-se escrever “do pai”, fica a obrigação de se escrever “da mãe”, pois: de + o = do; e de + a = da. Escrita de outra forma, para o melhor entendimento da correção feita, tem-se: “Essa atitude, embora não resolva o problema de o pai ou (de) a mãe emocionalmente doente...”.
 

6. PRECISO OU NECESSÁRIO?

O uso dos verbos preciso e necessário é vítima de total confusão. Navegar não é preciso! É necessário! Portanto, a famosa expressão “Navegar é preciso, viver não é preciso” não utiliza um bom português. O verbo “precisar” irá supor, normalmente, um sujeito vivo que precisa fazer algo ou precisa de algo. O verbo “necessitar” já não carece de um tal sujeito. Portanto, “Navegar é necessário, viver não é necessário”. Mas: “Eu preciso navegar, eu preciso viver”.

Outros exemplos:

                Os alunos precisam de mais apoio nos seus estudos. O diretor precisa se relacionar melhor com os funcionários.

                Novos equipamentos são necessários ao laboratório. O laboratório necessita de novos equipamentos. Decisões mais ousadas são necessárias.
               

7. MEU CORAÇÃO E NOSSO CORAÇÃO

O uso, tanto em frases faladas quanto naquelas escritas, do plural de nosso coração é totalmente estranho, embora comumente usual. Padres e pastores costumam dizer “Nossos corações devem encher-se de paz! ”. Ora, no singular seria: “Meu coração deve encher-se de paz” ; no plural deveria ser: “Nosso coração deve encher-se de paz”. Por que utilizar-se o plural do que já é plural?

A regra é simples e lógica. Ouvidos, olhos, mãos, pés, rins, pernas, etc., o singular e o plural serão:

                Meus ouvidos; nossos ouvidos. Meus olhos; nossos olhos. Meus rins; nossos rins.

No caso de órgãos únicos: nariz, boca, coração, mente, inteligência, alma, etc., o singular e o plural serão:

Meu nariz; nosso nariz. Minha boca; nossa boca. Meu coração; nosso coração. Minha mente; nossa mente. Minha alma; nossa alma. Torna-se, portanto, tão estranho dizer “Nossos corações” quanto dizer “Nossos narizes”! ...

Igualmente, em relação a pertences. O correto é dizer, no singular e no plural: minha casa, nossa casa. Ao dizer-se “nossas casas”, a ideia passada é de que cada um de nós tem mais de uma casa, o que não é, normalmente, o caso.

8. USO DE ARTIGOS DEFINIDOS E INDEFINIDOS

Os artigos indefinidos (um, uma, uns, umas) e os definidos (o, a, os, as) devem ser usados com cuidado. Os indefinidos passam, justamente, a ideia de indefinição, de generalidade. Já os definidos, de fato definem as coisas. Assim, deve-se dizer:

                “Os conflitos, angústias e ansiedades são comuns ao homem de hoje”. A frase, aparentemente correta, está errada pela simples inclusão do artigo definido “os”.

Há duas possibilidades corretas:

“Conflitos, angústias e ansiedades são comuns ao homem de hoje”; ou “Os conflitos, as angústias, e as ansiedades são comuns ao homem de hoje”. Observe-se que a utilização do artigo inicial “Os”, definindo a palavra “conflitos”, exige a definição dos demais termos (angústias e ansiedades).

Este artigo deverá ter continuidade, pois os erros comuns do nosso português são quase infinitos... Que língua mais difícil! ...

Uilso Aragono. Março de 2016

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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