terça-feira, 31 de julho de 2012

O FIM DAS LÂMPADAS INCANDESCENTES?



O Governo brasileiro anunciou, recentemente, o fim da fabricação de lâmpadas incandescentes para o ano 2017. Isto é um grande erro contra a ecologia e a sustentabilidade, e esclareço, a seguir, as razões desta afirmação.


 

Lâmp. incandescente 
Lâmp. Fluorescente compacta

Reator de lâmp. Fluoresc. compacta
Não sei com que base nossas autoridades estão agindo de tal maneira, mas, como técnico da área – professor de engenharia elétrica –, devo manifestar uma opinião técnica, que se contrapõe a tal decisão, para o bem da sociedade brasileira e do nosso meio ambiente. Parece que utilizaram um único critério: o que constata que as lâmpadas fluorescentes compactas são mais eficientes, ou usam menos energia elétrica para fornecer o mesmo nível de iluminação, do que uma lâmpada incandescente. Ocorre que há outros critérios para a efetiva comparação entre essas lâmpadas, incluindo o custo econômico individual, em que as incandescentes ganham de longe, já que as fluorescentes compactas são, em média, cerca de cinco (5) vezes mais caras que as incandescentes! E é de se admirar que o Governo tenha ignorado esse critério!  Pois o custo econômico costuma ser o critério mais decisivo em todas as decisões técnico-econômicas sobre o uso ou a compra de equipamentos em geral.

USO PREFERENCIAL DAS LÂMPADAS

Inicialmente, devo esclarecer aos leigos, incluindo, especialmente, nossas autoridades da área de energia elétrica, que os diversos tipos de lâmpadas têm aplicações bem definidas. Focando apenas nas lâmpadas incandescentes e nas suas alternativas, as lâmpadas fluorescentes compactas (ou lâmpadas eletrônicas), pode-se definir o campo de aplicação ou uso de cada uma delas. As lâmpadas incandescentes, levando em conta todas as suas características funcionais e de fabricação, são indicadas para ambientes cuja iluminação seja temporária, isto é, por breves intervalos de tempo, podendo essas lâmpadas serem acendidas e apagadas (ou ligadas e desligadas) com frequência, sem que isto afete a vida útil (ou vida prevista) da lâmpada. Já as lâmpadas fluorescentes compactas (ou lâmpadas eletrônicas) são indicadas para ambientes cuja iluminação seja contínua, ou de longos intervalos de tempo, tendo em vista que esse tipo de lâmpada tem sua vida útil muito dependente da frequência do liga-desliga.
Dando-se exemplos residenciais, pode-se dizer que as lâmpadas incandescentes são indicadas para ambientes como: banheiros e lavabos, quartos de dormir, depósitos, despensas, varandas, hall de elevadores e de escadas, e escadarias de prédios. Ressalte-se a suposição de que tais ambientes não necessitem de iluminação contínua, mas apenas por breves momentos, durante os quais os usuários têm acesso aos mesmos. Quanto às lâmpadas fluorescentes compactas, essas são indicadas para ambientes como: salas de estar, cozinhas, corredores, salas de multimídia (onde ficam, normalmente, TV, som e biblioteca), garagem e quintal ou jardim (esses últimos, por motivos de segurança). Veja-se que tais ambientes estarão iluminados, a partir do anoitecer, de forma contínua, pois sempre haverá alguém – numa família média de três, quatro pessoas – circulando por eles. Uma cozinha, por exemplo, é um lugar em que sempre alguém estará acessando, portanto, uma lâmpada fluorescente é a mais indicada para esse ambiente.

PRIMEIRA CONCLUSÃO

Tendo em vista as aplicações discutidas, o uso errado de tais lâmpadas, conduz a dois grandes erros: usar as incandescentes em ambientes que exijam iluminação mais constante produzirá um grande custo de energia elétrica, já que essas lâmpadas têm baixa eficiência energética, exigindo muita energia elétrica para seu funcionamento; usar as fluorescentes compactas em ambientes de iluminação temporária produzirá um grande custo de reposição dessas lâmpadas, já que elas se queimarão mais rapidamente nesses ambientes, pela elevada frequência do liga-desliga, e terão de ser repostas muito antes do tempo previsto pelo fabricante, a um custo cinco a seis vezes maior do que uma correspondente lâmpada incandescente.  

CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS DAS LÂMPADAS

As aplicações ou usos que se devem fazer de certo tipo de lâmpada estarão baseados em suas características funcionais.

O fabricante de uma lâmpada incandescente afirma que tal lâmpada não é sensível à frequência do liga-desliga, podendo, portanto, ser utilizada em ambientes que não necessitem estar continuamente iluminados, mas apenas, temporariamente, por breves intervalos de tempo. Essas lâmpadas têm uma vida útil (vida prevista pelo fabricante, até queimar) de cerca de mil (1.000) horas, o que pode ser aproximado para um (1) ano. As potências normais de utilização em uma residência variam de 40 a 100 watts e o custo médio de uma lâmpada de 60 watts é cerca de dois reais. Essas lâmpadas devem ser testadas no momento da compra, e não há garantia explícita de tempo de duração, embora se diga que dure cerca de mil horas.

O fabricante de uma lâmpada fluorescente compacta afirma, implicitamente, que tal lâmpada é sensível à frequência do seu liga-desliga, já que não recomenda, explicitamente, que seja usada com minuterias ou sensores de presença: aqueles dispositivos que ligam e desligam automaticamente a lâmpada em hall de elevadores, escadas, corredores e similares, a partir da detecção da presença de um indivíduo. São lâmpadas recomendadas, portanto, para ambientes em que não ocorra esse liga-desliga com frequência e que devam permanecer acesas por longos períodos de tempo antes de serem, novamente, desligadas. Alguns fabricantes afirmam que o ciclo ideal é que permaneçam acesas por 2h45min e apagadas por 15min. Essas lâmpadas, usadas nas condições recomendadas, têm uma vida útil, prevista pelo fabricante, de cerca de cinco mil horas (5.000h), o que pode ser aproximado para cerca de cinco (5) anos. Veja-se a diferença em termos de duração para as incandescentes: essas lâmpadas compactas podem durar até cinco vezes mais que as incandescentes! As potências usuais de utilização em residências variam de 9 a 30 watts e o custo médio de uma lâmpada eletrônica de 20 watts é cerca de dez reais (o que dá cerca de cinco vezes mais cara que a incandescente correspondente). Os fabricantes costumam explicitar uma garantia de durabilidade muito longa, usando este argumento, inclusive, de forma mercadológica, para atrair o consumidor. Costumam dar de dois a oito anos de garantia de durabilidade (vida útil)!

SEGUNDA CONCLUSÃO

Tendo em vista as considerações acima, pode-se concluir que o uso inadequado de uma lâmpada fluorescente compacta (em vez de uma incandescente) num ambiente que não necessita estar iluminado por longos períodos de tempo, fará com que essa lâmpada se queime em tempo muito menor do que aquele previsto pelo fabricante: em cerca de um ano, quando poderia durar até cinco anos! Isto tem como consequência desastrosa – e não levada em conta pelas autoridades governamentais! – um elevado custo ambiental associado ao fato de se jogar no lixo um equipamento que poderia estar ainda em funcionamento, por muitos anos, se estivesse sendo utilizado no ambiente correto e de forma correta. 

Esclareça-se, ainda, que tais lâmpadas, diferentemente das incandescentes, são constituídas por pequenos “reatores eletrônicos”, com muitos e variados componentes eletrônicos que contêm metais, plásticos, cerâmicas, além dos vidros e substâncias químicas (fósforo, fenol, naftaleno, estireno, mercúrio, dentre outras) nos bulbos: tudo isto indo para lixões, e muito antes do que o esperado e o possível. Um desperdício enorme de material, recursos e dinheiro, e poluição desnecessária!

QUADRO COMPARATIVO COMPLETO

O erro do Governo, ao propor o fim da fabricação das tradicionais lâmpadas incandescentes, baseia-se no pressuposto, apressado e superficial, de que as lâmpadas fluorescentes compactas por serem mais eficientes e, portanto, mais econômicas energeticamente, possam substituir diretamente as incandescentes, com todos os benefícios possíveis. Ora, tal conclusão é totalmente equivocada por ser, tecnicamente, incorreta e parcial a comparação entre as lâmpadas. Listo, no quadro abaixo, as comparações que deveriam nortear uma decisão tão importante para o presente e o futuro de nosso País.

Lâmpada incandescente
Lâmpada fluorescente compacta
1.       Baixa eficiência energética
Alta eficiência energética
2.       Baixo custo de aquisição
Elevado custo de aquisição (5 vezes +)
3.       Duração não depende do liga-desliga
Duração depende do liga-desliga
4.       Tecnologia simples
Tecnologia complexa (com reator eletr.)
5.       Não polui o meio-ambiente
Polui o meio-ambiente
6.       Garantia inexistente
Garantia enorme, mas não verificada#
7.       População acostumada a usar
População não sabe como usar**
8.       Elevado fator de potência (1,0)*
Baixíssimo fator de potência (0,5)
9.       Não polui a rede elétrica
Polui a rede elétrica (distorções)
10.   Não interfere em aparelhos eletrônicos
Interfere em aparelhos eletrônicos##
11.   Funcionamento estável
Funcionamento instável (oscilações e pisca-pisca ocasionais)
*Fator de potência é um índice de qualidade da corrente elétrica drenada pela lâmpada da rede elétrica.
# A garantia não é facilmente verificada pelo usuário, pois este teria de relacionar cada lâmpada à sua nota fiscal e guardá-la muito bem por muitos anos, o que raramente é feito.
** A população tem o hábito de apagar, constantemente, a lâmpada (incandescente) logo após tê-la usado. No caso da lâmpada fluorescente, esta teria de ser mantida ligada, nos ambientes em que estivesse corretamente instalada, e somente desligada após um longo período de tempo (ciclo longo de funcionamento).
##Exemplo: Interferência sobre controles remotos de TVs; os usuários das lâmpadas não têm consciência de tal interferência, e ficam incomodados e sem saber o que fazer...

No quadro comparativo aparecem, em negrito, os pontos positivos (vantagens) de uma sobre a outra. Verifica-se que a lâmpada incandescente ganha em nove (9) pontos contra dois (2) da lâmpada fluorescente.

Como podem ser desconsideradas tantas vantagens da lâmpada incandescente frente à fluorescente compacta? É uma conclusão realmente precipitada, que tem de ser revista urgentemente para que um grande prejuízo não decorra de tão infeliz decisão.

TERCEIRA CONCLUSÃO

A lâmpada fluorescente compacta somente poderá substituir a lâmpada incandescente, em todas as aplicações possíveis, se aquela apresentar – para além da melhor eficiência energética! – um reator eletrônico que não seja sensível à frequência do liga-desliga, e que dure, de fato, como consequência dessa nova robustez, pelo menos cinco (5) vezes mais que uma lâmpada incandescente, portanto, cerca de cinco anos, antes de ir para o lixo.

No entanto o desenvolvimento e a fabricação e comercialização de tal reator de alta robustez e, também, de elevado fator de potência, não é um processo simples nem barato. Isto exigirá tempo e pesquisa dos fabricantes e redundará, certamente, em reatores ainda mais caros, num primeiro momento, o que exigiria, para compensar, durabilidades (em  anos) muito maiores.

COMPORTAMENTO DO USUÁRIO

Um grande equívoco que se pode associar à aparente superioridade da lâmpada fluorescente compacta é a desconsideração do comportamento habitual dos usuários das lâmpadas incandescentes: tais usuários foram acostumados a uma regrinha muito prática e adequada ao não desperdício de energia dessas lâmpadas, qual seja, “apagar a lâmpada sempre que sair do ambiente”, mesmo que necessite retornar alguns minutos depois. Ora, esse comportamento, adquirido já há décadas de intimidade com as lâmpadas incandescentes, torna-se totalmente desastroso quando se aplica às lâmpadas fluorescentes, porque estas, ao contrário das incandescentes, têm sua vida útil (durabilidade) muito dependente dessa frequência de liga-desliga.

QUARTA CONCLUSÃO

Como é muito difícil impor-se um novo comportamento à população, na eventual substituição universal das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes compactas, o resultado de tal troca será totalmente infeliz e acarretará enormes prejuízos financeiros e ambientais. Financeiros, porque, embora o País deixe de gastar tanta energia elétrica, por conta da maior eficiência da fluorescente compacta, cada cidadão, no entanto, terá de gastar muito mais dinheiro na reposição das lâmpadas eletrônicas, que não durarão o quanto deveriam. Ambientais, porque tais lâmpadas, queimando-se antes da hora prevista pelos fabricantes, vão poluir o meio ambiente muitos anos antes do que deveriam.

CONCLUSÃO GERAL

Tendo em vista o acima exposto, é de se lamentar uma decisão governamental – que deveria esta pautada em um estudo aprofundado e muito bem realizado! – de troca universal das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes compactas. A proibição da fabricação das lâmpadas incandescentes levará ao uso das fluorescentes compactas em situações para as quais não foram e não são previstas, redundando em sérios prejuízos para o cidadão, para o meio ambiente e para o País.

A solução mais adequada, tendo em vista a melhoria da eficiência no uso da energia elétrica para iluminação, e enquanto não forem produzidas lâmpadas eletrônicas robustas, de alta durabilidade e de custos compatíveis, seria a definição, clara e inequívoca, dos usos mais adequados de cada tipo de lâmpada. Caberia aos órgãos responsáveis tais definições – como analisadas no texto, acima – que deveriam acompanhar as embalagens, de forma clara e inequívoca, sobre a aplicação de uma ou outra lâmpada. As embalagens das lâmpadas eletrônicas deveriam estampar, de forma claríssima, a PROIBIÇÃO (não uma simples recomendação!) do uso dessas lâmpadas com sensores de presença e o seu frequente liga-desliga. E nessas mesmas embalagens, o fabricante RECOMENDARIA, para essas situações, o uso de lâmpadas incandescentes de potência adequada. Com o tempo, a população criaria um novo hábito de compra e uso das lâmpadas fluorescentes compactas, para o seu benefício e o do meio ambiente.

Não basta, então, reconhecer que as lâmpadas fluorescentes compactas sejam mais eficientes e, que, portanto, possam substituir universalmente as lâmpadas incandescentes. É obrigatório, também, o reconhecimento de que o modo de uso (frequência de liga-desliga) e o lugar do uso das fluorescentes compactas (longos períodos de funcionamento) são importantíssimos para a decisão final quanto a uma possível substituição universal das lâmpadas incandescentes e a proibição definitiva de sua fabricação.

Uilso Aragono (Julho de 2012)

Quem sou eu

Minha foto
Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

Seguidores