sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ASSÉDIO MORAL E ISONOMIA NA APLICAÇÃO DE PROVAS


Uma aluna consultou-me sobre a legitimidade e a legalidade de aplicar-se prova com questões diferenciadas para uma mesma turma,  sobre uma mesma matéria, no mesmo horário. Esta questão está ligada ao princípio da isonomia quanto ao padrão de provas. 

Esse princípio assegura a igualdade de conteúdos e questões de uma mesma prova aplicada a um grupo de alunos/candidatos e é ponto pacífico entre os especialistas e entendidos em direito do cidadão. Admira-me que pessoas ligadas a uma faculdade de direito insistam em negar tal direito/princípio! É um caso típico de terrorismo psicológico ou assédio moral do professor contra os alunos.

Alguns sítios da internet que pesquisei rapidamente, mostram a preocupação com esse direito à isonomia. São eles:

“A Profª Cleonice, locutora oficial do CESPE para ditados em provas de taquigrafia, que no sábado havia feito os ditados de 110 palavras por minuto, em corajosa atitude, saiu em defesa dos candidatos e foi aplaudida ao revelar que há meses havia chamado a atenção da instituição gestora do concurso para as conseqüências que poderiam advir da aplicação de provas com conteúdos diferenciados.” [1] (O grifo é meu.)

“O conjunto de modelos matemáticos da teoria permite que exames aplicados em datas diferentes tenham o mesmo grau de complexidade e dificuldade, de forma a manter a isonomia das provas.” [2] (O grifo é meu.)

“Aliás, logística e segurança são binômios que buscam garantir a materialização do princípio maior que pauta tais procedimentos, ou seja, a isonomia e a moralidade administrativa.” [3]

De acordo com minha experiência de 35 anos como professor (na maior parte, universitário) nunca vi ou ouvi dizer que colegas professores avaliassem seus alunos, através das corriqueiras provas parciais, por meio de questões diferenciadas, para uma mesma turma, na mesma hora, sobre a mesma matéria! Quem faz isto sistematicamente está praticando, sem dúvida, assédio moral, já que estará discriminando injustamente alunos de uma mesma turma.

Só se admite que uma prova tenha questões diferenciadas quando se tratar de uma prova de segunda chamada, isto é, aplicada a alunos que faltaram à prova na data fixada (primeira chamada). Nesses casos, no entanto, o professor deverá tomar todo o cuidado para assegurar que as questões sejam aproximadamente de mesmo grau de dificuldade, caso contrário os alunos, diante de possível flagrante diferença em relação às questões da primeira chamada, poderão recorrer e, certamente, terão seu direito assegurado, quando forem comparadas as provas. Veja-se, a propósito a seguinte sentença de um juiz sobre o caso em discussão: 


Ementa

ADMINISTRATIVO. ENSINO. APLICAÇÃO DE PROVA. AUTONOMIA DIDÁTICO-CIENTÍFICA. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA. INEXISTÊNCIA.
1. É questão atinente à autonomia didático-científica a forma com que a instituição de ensino irá avaliar os seus alunos, seja por trabalho, seja por provas.
2. Ao aluno que falta a avaliação, é assegurada a realização de uma segunda chamada, porém, esta não deve, obrigatoriamente, ser idêntica a que foi inicialmente aplicada aos demais discentes. Nesse sentido, não há violação do princípio da isonomia.” [4].
Observe-se que, se  um aluno perdeu uma prova por motivos justificados, pode e deve requisitar uma prova de segunda chamada. Esse juiz reconhece tal direito à segunda chamada... Direito que alguns terroristas psicológicos costumam negar a seus alunos.
Aliás, se é “normal”, como defendem alguns membros de comissão de investigação, que um docente aplique provas diferenciadas, pergunte-se a eles, num caso específico: por que a professora não entrega as provas aos alunos? A resposta é fácil e óbvia: porque ela tem medo de que as questões sejam comparadas e surjam diferenças gritantes entre os níveis de dificuldade, favorecendo a uns e prejudicando a outros...

A prática mais saudável, e que eu procuro vivenciar, é que a prova seja aplicada de forma isonômica, seja oportunamente corrigida em sala de aula – para explorar a forte dimensão de aprendizagem da prova! – e seja entregue definitivamente ao aluno, para que este possa, com tranqüilidade, acompanhar a correção e pedir ao professor a legítima revisão de prova, se ele se achar injustiçado em alguma correção. Os valores das questões também devem estar claramente anotados na prova, para guiar o aluno no seu esforço durante a realização da prova. Comportamentos muito diferentes podem caracterizar assédio moral contra os alunos.

Referências:

Uilso Aragono  (15/dez/2011)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

RECÉM-CASADOS: SUPERANDO PROBLEMAS COM FAMILIARES


A convivência e a intimidade levam a comportamentos mais diretos, sem máscaras, mais verdadeiros,  que são as fontes, normalmente, das brigas entre marido e mulher, entre irmãos, entre familiares próximos etc. Além dessa natural dificuldade, fruto da intimidade na vivência familiar, surgem outras como: fofocas, comentários indiscretos, antipatias, desconfianças. Que influências negativas são essas? Como conviver com elas e neutralizá-las?

As influências positivas de sogros e sogras, cunhados, tios, irmãos, na vida do casal, especialmente dos recém-casados, são bem-vindas e acontecem quando dão bons conselhos nas conversas da convivência familiar. A presença discreta por meio de visitas não tão  frequentes e o apoio concreto, especialmente nos campos moral, financeiro, e com as crianças, constituem influências das mais positivas. Isto é o que se espera, normalmente, da convivência familiar envolvendo parentes dos recém-casados.

Quanto às influências negativas, as principais, essas podem ser listadas como sendo as seguintes:

1.       Telefonam demais: querem saber tudo; informar sobre tudo;
2.       Visitam demais: muita presença; todo dia estão lá. Tiram a liberdade do casal;
3.       Convidam demais: vêm almoçar; vêm rezar; vêm pro aniversário...;
4.       Brigam demais nos relacionamentos: críticas frequentes; demonstram antipatias; desconfiam...
5.       Pegam coisas emprestadas demais: pegam e não devolvem...

E como cancelar ou neutralizar tais influências negativas, que tanto atrapalham a vida dos recém-casados? Há dois trabalhos a serem feitos: no nível interior, na intimidade do casal e de cada cônjuge, e no nível exterior, nas relações com os parentes.

Trabalho interior:
Quanto ao trabalho interior recomenda-se, inicialmente, que cada um dos cônjuges reconheça que “nem todos são obrigados a gostar da gente”. Isto, uma vez interiorizado e aceito, levará o casal, e cada cônjuge em particular, a aceitar as críticas, as ofensas, e as demonstrações de antipatia gratuitas, muito comuns nos relacionamentos familiares marcados pela intimidade, como já visto. Afinal, cada um de nós tem suas críticas e antipatias em relação a parentes e conhecidos – por que não lhes dar, também, o direito de criticar-nos e não gostar da gente?...

Um segundo trabalho interior consiste em decidir, após reflexão profunda e serena, entre “pagar na mesma moeda” e “perdoar e amar” ou entre a “guerra” e a “paz” na família. Dê o direito de ele ou ela (a sogra, o sogro, o tio, o irmão...) de não gostar de você, de não tratá-lo bem... Mas você deverá tratá-los bem. Isto é bem cristão, na linha do que ensina Jesus.

Seguindo ainda o que ensina Jesus, o Mestre dos mestres, deve-se rezar pela paz na família. Oração frequente, em momentos de fé, baseada na Bíblia, em livros próprios para oração, em livros de meditação ou reflexão espiritual. O terço – para os que já descobriram o valor desta tão simples e ao mesmo tempo tão completa oração cristã! – é um santo remédio para muitos males de origens comportamentais, de relacionamentos interpessoais, e tantos outros males. Experimentar jejuns e abstinências, nas intenções das orações, também é algo muito recomendável na luta contra as dificuldades da vida social/familiar.

Finalmente, neste trabalho interior, recomenda-se refletir sobre a necessidade de se saber dizer não. O dizer não, de forma sincera, educada, amorosa, é algo importantíssimo e que vai funcionar, também, como “guias de orientação” para os parentes inconvenientes, que aprenderão – por meio desses “nãos” bem dados – a não insistir em certos convites, intromissões, presenças inoportunas etc. Quem não aprende a dizer não acaba ficando escravo do “sim”!... Se existe o “não” é porque ele pode e deve ser usado no momento certo!

Trabalho exterior:
Com relação aos problemas ligados aos telefonemas excessivos, uma boa tática é não dar todas as informações: omitir não é mentir! Controlar as informações, omitindo o que for pertinente pode evitar influências negativas tais como aquela da sogra que tem o maior medo de excursões a montanhas e, sabendo que o neto irá numa dessas, manifesta todo o seu descontentamento, às vezes com palavras fortes e podendo tornar-se até ofensivas. Deixar de dar uma informação como essa à sogra que telefona torna-se um meio inteligente de não “provocar” situações de conflito. Ao saber depois, o fato já ocorreu... O uso de uma secretária eletrônica é de todo conveniente para situações de telefonemas insistentes, impertinentes e em horas impróprias. Afinal, o telefone deve ser bom para ambas as partes: a que chama e a que é chamada. Se alguém está interessadíssimo em um assunto durante o telejornal e o telefone toca, a secretária atenderá e o telejornal não será interrompido: todos saem ganhando. Ficar escravo do telefone, de tal forma que, ao tocar o telefone, a pessoa se veja impulsionada a atendê-lo, mesmo que isto signifique incômodos, é algo que precisa ser superado, para o bem de toda a família.

Outra tática interessante para ser colocada em prática pelo casal recém-casado, para neutralizar influências negativas de parentes, tais como as visitas inoportunas, consiste em “colocar a culpa” no outro cônjuge. Assim se explica: se um irmão da esposa é muito “grudento” e está sempre aparecendo, sem ser convidado, nas tardes de domingo, ela pode dizer a ele, como que em segredo, que o marido fica muito bravo quando tem visita à tarde, porque ele gosta de dormir nesse horário. Ao falar assim, o irmão acabará entendendo  e aprendendo que não é conveniente aparecer nesses momentos... É uma maneira delicada de dizer não, sem ofender, porque a razão da negativa está no outro, cuja intimidade é menor.

Não “bater de frente” nos relacionamentos com os parentes, especialmente aqueles que incomodam, que influenciam negativamente, é uma atitude altamente recomendável, na linha do perdão e da compreensão. Afinal, críticas devem ser “absorvidas”  e não refutadas. Lembrar: as pessoas não são obrigadas a gostar da gente.

Uma tática muito inteligente nos relacionamentos com pessoas que nos criticam é “não dar poder” às suas palavras e ações. Não se deixar ofender! É como aquele apelido que pega justamente porque a pessoa se mostra irritada e desgostosa quando a chamam por ele. É exatamente esse tipo de comportamento que deve ser evitado, pois ele dá “poder” ao apelido! Em geral, não dar poder a críticas, gozações, implicâncias daqueles que nos incomodam é uma maneira muito eficiente de neutralizá-las: quem as faz, acaba desistindo de fazê-las por não obter o resultado que desejariam: irritar e provocar a pessoa. Aqui, para se ter força nessa reação não-violenta a críticas e ofensas, vem em nosso auxílio a força que se consegue na Oração, como já refletido.

Finalmente, com relação ao pegar emprestado, comum entre pessoas de muita intimidade, quando uma pega um objeto (uma vasilha ou uma bandeja, por exemplo) e não o devolve. Muitas vezes o ato de não devolver não é simples esquecimento, mas uma atitude de implicância consciente, para provocar, para magoar, para, às vezes, se vingar de algo. Ora, a melhor atitude para neutralizar tal ação é, mais uma vez, não dar “poder” a isto: não espere de volta! Se vier é lucro!... E não desenvolva raiva ou antipatia desses nossos parentes ou de quem quer que seja, pois um sábio já disse: o pior inimigo não é aquele que nos odeia, mas aquele a quem odiamos!...

Conclui-se que as influências negativas dos familiares existem, independentemente da vontade do casal. Saber lidar com elas é arte, técnica e dom de Deus. É Arte porque é jogo de cintura, é jeito de tratar o outro; é perdoar e amar. É Técnica, ao saber dizer não, ao tratar bem quando se é tratado mal. É Dom de Deus, pois Deus ajuda quem madruga! A quem pede Deus dá!

Uilso Aragono,  30/novembro/2011.

Quem sou eu

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Sou formado em Engenharia Elétrica, com mestrado e doutorado na Univ. Federal de Santa Catarina e Prof. Titular, aposentado, na Univ. Fed. do Espírito Santo (UFES). Tenho formação, também, em Filosofia, Teologia, Educação, Língua Internacional (Esperanto), Oratória e comunicação. Meu currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787185A8

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